domingo, 22 de maio de 2022

Infecção e Álcool

Jessica estava com Emma sentada num banco em frente à pia do banheiro.

"Meu amor, quanto mais você se esquiva, pior pra colocar o remédio. Ele tem que ir lá dentro."

"Eu sei, mas é automático. Tá doendo muito!"

Emma estava com infecção no ouvido e o médico tinha passado um remédio que tinha que entrar com o cotonete fundo no ouvido e toda vez que Jessica ia colocar o cotonete na filha, era um verdadeiro parto.

"Eu sei, filha, mas a gente tem que fazer isso pra você ficar boa e eu preciso que você fique com a cabeça parada."

"Será que precisa disso mesmo? É horrível e dói muito!" Emma choramingou.

"Amanhã eu te levo em outro otorrino, tá bem? Mas hoje a gente coloca o remédio só pra garantir. Vamos lá. Eu vou colocar devagarinho e você tenta ficar parada. Tá bom, meu amor?" Jessica beijou a cabeça da filha morrendo de dó dela.

"Tá." Emma respirou fundo e fechou os olhos.

Jessica mergulhou o cotonete no remédio, inclinou a cabeça da filha e começou a adentrar o ouvido da filha com o cotonete encharcado.

Emma prendeu a respiração e espremeu os olhos tentando conter a dor, até que foi demais e ela começou a gritar. "Ai, ai, ai! Não consigo, dinda!" Emma desviou a cabeça e levantou do banco

O celular da advogada começou a tocar.

"Vou pedir pro Andrew fazer isso ou ligar pro Bradley." Jessica olhou o nome de George na tela do iPhone. "Eles devem ser melhor nisso do que eu." A ruiva jogou o cotonete com remédio fora.

"Posso ir?" Emma perguntou, esperançosa.

"Pode. Mas não fica tão animada não. A gente ainda vai fazer isso hoje, entendeu?"

"Entendi." Emma saiu do banheiro, tentando pensar num plano pra se livrar do remédio mais tarde. Jessica atendeu o telefone.

"Oi, George."

"Você precisa vir aqui na empresa agora." George falou sério.

Jessica escutou a voz de Jonathan no fundo.

"O que aconteceu?" Jessica perguntou preocupada.

"Seu protegido tá fazendo uma cena aqui. Ele chegou bêbado no expediente e tá falando um monte de m***a. Inclusive que comeu a chefe." 

"Não acredito!" Jessica falou nervosa.

"Ele tá falando a verdade?" George perguntou curioso.

"Eu já tô indo pra aí." Jessica desligou o celular e trocou de roupa correndo. "Vera, eu vou dar uma saída. Olha as crianças pra mim e não deixa a Emma aumentar muito o volume da tv."

"Pode deixar." Vera respondeu.

Jessica dirigiu até a empresa e foi até o andar que Jonathan trabalhava. Do elevador já dava pra escutar sua voz embriagada.

"Isso tudo é uma perda de tempo!" Jonathan jogou os papéis da mesa no chão.

"Jonathan." Jessica falou ao se aproximar dele.

"Jess! Fala pra eles que eu não consegui esse emprego porque eu comi você. Eu fiz por merecer, não foi?"

"Na cama." Um funcionário cochichou para o outro e os dois riram. 

Jessica escaneou o ambiente com os olhos e todos olhavam para ela. 

"Acabou o show. Todos voltando aos afazeres de vocês." A advogada pegou Jonathan pelo braço e ele a agarrou

"Não fica brava que eu contei nosso segredo." Jonathan apertou a advogada contra si. 

"Eu não tô brava." Jessica deu alguns passos para trás para guiá-lo para fora. 

"Eu não quero ver mais ele aqui. Tá demitido." George falou para a ruiva. 

"Por que você não acionou a segurança?" Jessica questionou o parceiro. 

"Achei melhor você ver o papelão que o seu amigo tava fazendo com os próprios olhos, pra depois não dizer que eu exagerei."

"Seu filho da p***!" Jonathan gritou para o George. 

"E você é um viciado que só sabe passar vergonha. Amanhã não quero mais ele aqui." George se repetiu e saiu. 

"Eu não gosto desse cara." Jonathan falou indignado. 

"Eu tô muito decepcionada com você." Jessica se desvencilhou de Jonathan. "Vem comigo. Eu vou te levar pra casa."

No carro Jessica começou a dirigir em silêncio. 

"Não acredito que você tá do lado deles!" Jonathan reclamou. 

"Não fala nada. Eu tô muito irritada com você. Não quero ouvir sua voz."

"O que eu fiz?" 

"O que você fez? Você se embebedou todo em plena luz do dia, apareceu no trabalho nesse estado deplorável, falou um monte de besteira para os meus funcionários, fez eu largar minha filha doente e meus filhos bebês em casa pra vir te buscar e depois explanou pra todo mundo que a gente tinha relações."

"Eu sabia que você tinha vergonha de mim."

"Hoje você realmente me fez ter vergonha de você."

"Para o carro. Me deixa sair." Jonathan tirou o cinto e ameaçou abrir a porta do carro. 

Jessica encostou depressa. 

"Coloca a p**** desse cinto agora!" 

Jonathan comecou a chorar e Jessica se comoveu. 

"O que aconteceu? Por que você bebeu? Você tava indo tão bem."

"Eu me sinto um m****, Jessica. Eu queria morrer."

O coração da ruiva acelerou ao ouvir aquela palavra.

"Você não é um m****." Ela alisou seu rosto. "Pelo contrário, você é muito especial. Eu vou te ajudar a melhorar, tá bom?"

"Eu não quero ser um estorvo."

"Você não é um estorvo pra mim. Eu juro."

"Eu não consigo parar de beber." Ele admitiu. 

"Tudo bem. O que acha de tentar reabilitação? Lá eles vão saber como te ajudar."

"Tá bom." Jonathan concordou. 

Jessica sorriu aliviada e abraçou o amigo. "Você vai ficar bem. Vai dar tudo certo."

Jonathan assentiu cansado demais.