sábado, 10 de setembro de 2022

Que falta me faz um xodó

“Sério, Calvin”, disse a Antonella rindo, tentando se desvencilhar dos beijos do pai de Jane e Jamie. “Eu preciso ir”.

Os dois estavam em pé no corredor mal iluminado do apartamento de Calvin, que dava para a porta principal do apartamento.

“Por quê?”

“Você sabe bem o porquê”.

“Sei?”, ele perguntou, indo beijar o pescoço da loira.

Era difícil resistir àquele homem.

“Calvin, eu realmente preciso ir”.

“Por que você não deixa as crianças dormirem na casa do padrinho delas? Elas já tão lá mesmo”.

“Porque...”, Antonella parou de repente. Sim, aquilo parecia uma boa ideia. Bradley provavelmente não se importaria. Ele gostava de crianças. 

Quando ela ia ceder, acabou se lembrando de um detalhe crucial. “A roupa! Eu não trouxe a roupa pra entrevista. Vou ter que ir mesmo”.

“Você pode usar uma minha! E por que você tem que fazer essa entrevista mesmo?”, ele reclamou manhoso.

“Eu realmente preciso explicar?”, A loira se afastou dele olhando-o seriamente, encostada na parede do corredor, de braços cruzados.

“Você sabe muito bem o que eu quis dizer. Você é dona de uma galeria, não precisa de outro emprego!”

“Uma galeria falida e, sim, eu preciso de um outro emprego. Cansei de ser caixa, garçonete, faz tudo, sei lá”.

“Você tá nesse emprego porque quer. Já disse que pode morar comigo! Nós dividiríamos as despesas”.

“E eu já disse que as crianças iriam me matar se isso acontecesse”.

“No começo. Mas depois elas se acostumariam”.

“Mas você é muito insistente!”, ela espremeu a bochecha dele com uma das mãos e deu um selinho na boca do amante.

“Só quando eu quero muito uma coisa!”, ele a abocanhou, já enfiando a língua dentro da boca de Antonella. Fazia muito tempo que um homem deixava a loira fora de si. Com muita força de vontade, ela o afastou novamente.

“Calvin!”, ela choramingou. “Por favor, eu preciso ir! Preciso estar bem pra entrevista. Não quero acordar cansada”.

“Está bem, está bem. Então pelo menos, deixa eu te levar pra casa?”

“Eu ainda vou buscar as meninas”.

“Elas não iam ficar no padrinho?”

“Antes. Mas agora eu não vou ficar aqui. E foi até pra melhor, porque você não iria me deixar dormir”.

“Não deixaria mesmo”. Calvin a abraçou.

Os dois ficaram abraçados quietos por um curto tempo, até que o pai de Jamie perguntou:

“Você falou com o seu ex? Ele vai te acompanhar na entrevista?”

“Falei, mas ele disse que não vai. Disse que não poderia fazer nada, que agora era comigo”.

“Má vontade!”

“Não posso reclamar. Se não fosse por ele, eu nem teria conseguido a entrevista”.

Para Calvin uma entrevista não significava nada se a pessoa não tivesse já mexido os pauzinhos para conseguir o emprego para a outra. Ele não sabia se Andrew tinha ou não feito isso. Esperava que sim. Já estava cansado da Antonella trabalhando de garçonete. Era ridículo e infantil da parte dela manter aquela palhaçada por orgulho. Não tinha como aquele emprego ajudar nas finanças. Era realmente muita infantilidade! Um trabalho como professora era bem melhor. O British School não era um Cavalinho Feliz, mas era uma boa escola. Calvin era cético. Ele não acreditava que Antonella conseguiria a vaga sozinha, só com o currículo dela. Não! Ela precisava de um empurrãozinho. Bastava agora saber se o ex-marido apaixonado tinha feito o trabalho completo.

“Meu uber já chegou”. Antonella falou, desfazendo o abraço a contragosto.

“Desde quando você pediu o uber?”, Calvin perguntou desconfiado.

“Um momento aí!”. Ela viu a cara desconfiada do amante e acrescentou: “Eu tenho muitas habilidades”.

A loira não tinha pedido uber ainda, mas precisava mentir, senão, ela não sairia de lá nunca. Ela acabaria cedendo e ela não podia ceder.

“Tem poderes. Psíquicos. Pediu o uber com o poder da mente”. Antonella riu.

“Bobo!”, ela o beijou mais uma vez e abriu a porta.

“Tchau, meu tiramisú! Vai dar tudo certo amanhã! E pensa com carinho na minha proposta!”

“Sim, eu já to!”, ela gritou de volta.

Pela italiana, ela se mudava para ontem, mas as crianças a odiariam eternamente por isso. Na verdade, Crystall a odiaria por isso. Ela não podia fazer isso com a filha por mais que quisesse.

Antonella saiu animada. Animada com a vida, com os filhos, com o amante, com a entrevista e, principalmente, com o...