quinta-feira, 28 de setembro de 2023

A Via Láctea

 Andrew viu Asa passando e chamou o filho.

“Asa!” O garoto viu o pai e se aproximou “Are you ok, son?” Ele deu um abraço no garoto.



“I’m alright”.


Os dois estavam na escola. Desde o ocorrido com Emma, Asa tinha voltado a morar somente com a mãe temporariamente. O que havia acontecido com a ruiva havia afetado direta ou indiretamente todos da casa. Antonella pediu para Andrew que o menino ficasse afastado durante um período até que as coisas se acalmassem. O inglês, a priori, ficou relutante, mas depois acabou cedendo quando se deu conta de que o filho queria isso e de que talvez a ausência de Asa tornasse menos difícil as coisas para Emma, afinal seria menos um espectador. Entretanto, as coisas estavam começando a melhorar, sem contar que agora com toda a história da gravidez de Antonella, Asa estava convivendo com Calvin, logo, com Jane: outro grande problema. Andrew pensou em falar sobre o assunto naquele momento, mas se deteve, preferindo conversar com a mãe de seu filho primeiro.


“How is your mother's pregnancy?”, perguntou o professor, antes de tentar sondar o que estava querendo.


“She’s fine”.


“How about Jane? How is she?”



“I'm not sure. We don't talk”.


“But do you see her?”


“Yesterday I saw her, but we didn't speak. She sleeps more than anything else. I think it's her way of not living”.


Andrew achou a resposta muito obscura e ficou mais do que nunca decidido de que estava na hora da guarda compartilhada voltar. 


“That’s sad”.


Asa concordou com a cabeça. Ele parecia estar inquieto com algo. Andrew logo entendeu o que estava acontecendo.


“Emma is getting better. Each passing day she looks better. Maybe it's a bit of acting, still I think time is healing her”.


“Good”, respondeu Asa olhando para os tênis. O sinal tocou. “I guess I have to go”.


“Alright then. We’ll talk later!”


“Ok”, o pai abraçou o filho novamente e Asa foi indo embora. Entretanto se deteve e perguntou ao pai curioso: “Did Mel get sick?”


“No. Why did you think that?”


“Well, I spoke to her at break and she said she had a fever all afternoon”.


“Are you sure you understood her correctly?”, indagou Andrew, que sabia que era difícil compreender Mel.


“I’m pretty sure I have”.


“That's odd. I'll talk to her”.


“Ok”.


Andrew se despediu mais uma vez do filho e foi falar com Mel. Ao encontrar com a filha, já foi perguntando:


“Oi, Melzinha! Tudo bem com você?”


“Tchudu bein”.


“Melzinha, que história é essa de que você estava com febre?”


“Hoji fique cum febi a tadi intea”.


“Mas ainda é manhã, Melzinha! Como você ficou com febre à tarde se ainda é de manhã?”


“Hoji fique cum febi a tadi intea”.


Andrew colocou a mão na testa de Mel para ver se a menina estava quente. A temperatura parecia normal. Ainda assim, ficou preocupado e decidiu buscar o termômetro. Ao retornar, pediu licença para Vanessa e se agachou até onde a filha estava para falar com ela.


“Melzinha, levanta o braço”.


“Mas issi minuivinissi”.


“Depois você brinca com os blocos”.


Mel levantou um braço e continuou brincando com os blocos com o braço desocupado. Andrew ficou prestando atenção na menina.


“Num mi dig issu. Num mi dê atençaum i obigadu pu pensa im mi”, falou Mel concentrada nos blocos.


“Quê? O que você disse?”


“Cuandu tudu itá pedido eu mi sintu tão soziu”, continuou Mel.


Andrew percebeu dessa vez que Mel parecia estar cantarolando. O termômetro apitou. 


“Hoji fique cum febi a tadi intea”.


“Melzinha, isso é uma música?”


“Hoji fique cum febi a tadi intea”


“De novo isso?”, Mel riu de maneira sapeca da cara do pai. 


“Boquinhu, qué binca cum boquinhu, papai?”



Andrew se derreteu, mas não podia ficar na sala. Tinha ainda que dar aula.


“Depois, minha, filha! Agora papai precisa trabalhar”.


“Num mi dig issu. Num mi dê atençaum i obigadu pu pensa im mi”, cantarolou Mel.


Aquilo dilacerou o coração de Andrew.


“Ai, Melzinha, não diz isso pro papai não. Deixou o papai triste”.


Mel continuou brincando com os bloquinhos e cantarolando coisas incompreensíveis para Andrew. O professor se levantou, saiu, pegou o celular e digitou “Hoje fiquei com febre a tarde inteira música”. A primeira coisa que apareceu no navegador foi “A Via Láctea, Legião Urbana”. Sem se controlar, sozinho, Andrew disse:


“Jessica”.

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

To be young and in looove

Cheryl estava sozinha em casa naquela tarde. Seu padrasto estava no trabalho, sua mãe na casa de uma amiga, e seu irmão na escola integral. A menina chamou Edward para lhe fazer companhia.

"Those are stunning." Edward falou sinceramente, enquanto olhava as fotos que a Geordie tinha tirado para sua próxima campanha publicitária. 

"I don't know... I think me make up wasn't quite matching me outfit." A inglesa falou duvidosa. 

"If it wasn't matching, it's not noticeable. And even so, you look amazing." Edward beijou seus lábios. "You're always beautiful."

"Yeah, right." Cheryl tirou as fotos das mãos do namorado e colocou em cima da mesa.

"Is this about Margot again?" Edward apoiou o braço na perna da menina.

"I don't know what happenned. Or she turned prettier overnight, or I just lost me charm."

"Well, I still think you're very charming. Maybe only a little less than you used to." Ele brincou.

Cheryl forçou uma risada debochada. "So funny." Ela deitou reta no sofá. "Babe, come here, lay over us."

"Over you?"

"Yeah. Without supporting yourself with your knees or your arms. I want you flat over us."

"Why?"

"Do I need a reason?" A Geordie riu.

"How about you lay over me?"

"No." Ela balançou a cabeça ainda sorrindo. "Come on, Edward! Get that gorgeous body of yours over here!"

"I'll smash you." Ele alertou. 

"No, you won't. You're very light."

"Fine." Edward disse a contragosto e deitou em cima da inglesa. Ela o envolveu com os braços imediatamente.

"See? You're not heavy, babe." Cheryl beijou a cabeça do namorado. "You're very very light." Deu outro beijo. "Magrinho, magrinho, magrinho." Ela beijou seu ombro e roçou o nariz na sua roupa, inalando seu cheiro.

Edward riu, percebendo o que menina estava fazendo.

"Just so you know," Ele beijou sua covinha. "I don't have anorexia."

"If you're saying."

"I really don't have it." O inglês insistiu. 

Cheryl virou o rosto para olhá-lo. As duas faces a pouquíssimos milímetros de distância, pela proximidade que aquela posição proporcionava. 

"Whatever you have, I'm here, if you need me." Ela tocou o seu rosto, acariciando gentilmente. 

"I know." Edward respondeu, colando sua testa na dela. 

Cheryl fechou os olhos, e usou a mão que não estava no seu rosto, para massagear seu cabelo. O ar que um exalava era imediatamente inalado pelo outro. O corpo do inglês prensava toda a extensão do corpo da Geordie.

"I love you." Edward disse suavemente. 

A menina abriu os olhos e desceu a mão pelo seu rosto. "I love you too." Seus dedos traçaram a sua boca. "So much." Ela sussurrou e capturou seus lábios para um beijo cheio de súplica. 

Quando o desejo sexual dos dois se tornou difícil de ignorar, o inglês encerrou o momento de paixão, com um beijo terno na testa da menina. 

Apesar de não ter verbalizado, Edward sabia que a Geordie estava enfrentando questões internas, e ainda não estava pronta para ter relações, após o evento com Vincent. 

Cheryl o abraçou pela nuca, e Edward se ajeitou em cima dela para se acomodar melhor. Eles permaneceram assim, colados, num silêncio confortável, até a Geordie precisar ir ao banheiro.

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Votação

God I want to. Eu amo o Vincent. Tanto que eu não sei o que tá sendo pior, o abuso itself, ou ter que me afastar dele por causa disso.

Eu amo o Vincent

Eu amo o Vincent

Eu amo o Vincent

Essa frase ficou ecoando na sua cabeça a noite inteira. Cheryl o amava. Ela disse com todas as letras que o amava, ou melhor, que o ama! Nunca palavras tinham soado tão doce. Ele queria poder dizer que a amava também e que se arrependia imensamente de tê-la causado dor. 

O rei das vinganças não sabia a dimensão e a profundidade de seus traumas. Cheryl nunca falava com ele sobre esse tipo de coisa. É claro que ele ficou sabendo o que tinha acontecido com o Richard. Ele viu que a menina não estava bem, apesar de dizer a todos que estava. Ele também tinha uma noção do que acontecia com padrasto, apesar dele mesmo não ter testemunhado nada de anormal entre os dois. Só que a britânica era tão boa em esconder e disfarçar, que o garoto acabou esquecendo que um dia ela passara por traumas tão grandes.

Vincent não tinha planejado fazer o que fez naquela festa. Tudo aconteceu no impulso. O amor, o ciúme e o desejo foram a centelha para a sua explosão e ruína aquela noite.

Ele tinha inveja de Edward. O inglês não precisava fazer nada e tinha as melhores garotas se arrastando aos seus pés. Bella, Katie, Bia, Blair e a pior de todas, Cheryl.

Vincent via como a Geordie o olhava. Era um olhar sereno, cheio de amor e admiração. Ele também via o sorriso que brotava em seu rosto, toda vez que recebia uma mensagem do inglês. Via quando lambia os lábios, após beijá-lo, tentando saboreá-lo por mais tempo. Viu sua preocupação, enquanto lia, com o cenho franzido, um livro sobre distúrbios alimentares. E acima de tudo, viu suas lágrimas quando a inglesa percebeu que Edward ainda tinha sentimentos por Bella.

Vincent se perguntava como um ser humano tão perfeito podia sofrer por um cara que não valia nem metade do seu mindinho.

Foi com isso em mente, que ele atacou a Geordie. Porque ele queria que ela visse o que estava perdendo. Porque ele queria saber a sensação de ter algo que ansiava mais do que o ar que respirava. Porque ele achava injusto que após anos de devoção à garota, ela nunca o olhara como olhava para Edward.

Entretanto, ler que mesmo depois de seu ato de violência, ela ainda o amava, nossa, ele queria chorar e gritar ao mesmo tempo de alívio.

Ele passaria o resto de sua vida tentando se redimir com a Geordie, até a menina ver que ele poderia ser digno de seu amor.

Naquele dia estava ocorrendo a votação da mais bonita da classe. O murmurinho era que a Geordie iria perder pela primeira vez. Ele sabia que a inglesa era vaidosa, e ele não queria que a menina ficasse triste em perder para a garota do momento, Margot Robbie.

Vincent pensou em burlar. Não seria tão difícil. Cheryl ficaria feliz e confiante, e Margot teria o segundo lugar, que também era uma posição excelente. Porém, um pouco antes de Vincent entrar no sistema para alterar os resultados, Niall anunciou que a contagem havia sido feita, e que a Margot era a ganhadora, seguida da Geordie.

As pessoas começaram a parabenizar a loira.

Cheryl estava de cabeça baixa e se manteve assim, em meio à exaltação da sala pelo resultado da votação, enquanto Kimberley alisava seu cabelo carinhosamente.

Hailee comemorava o terceiro lugar.

A professora de matemática entrou e viu a zona que estava a sala.

"Essa votação não era em novembro?" Letícia perguntou irritada.

domingo, 24 de setembro de 2023

Cafézinho da tarde

Bradley já estava prestes para ir para casa após ter passado parte da tarde na casa da primogênita. Ele estava tomando um café na cozinha com a ex-mulher, enquanto ela falava sobre os planos para o próximo ano. 

“Os meninos vão começar a escola ano que vem e só vai sobrar a Sadie em casa. Uma amiga me indicou uma creche pra ela ficar no período da manhã, enquanto o Andrew tá no trabalho.” 

“Eu já tava pensando que você ia abandonar o trabalho e virar dona de casa.” Bradley riu. 

“Sabe que isso me passou pela cabeça?” 

“Duvido!” Bradley falou, não comprando nenhum pouco o que a advogada dissera. 

“É sério!” Jessica riu da reação cética do ex-marido. 

“Você? A renomada advogada Jessica Chastain, dona de casa?” Bradley balançou a cabeça. 

“Eu percebi outras alegrias além do trabalho e de uma carreira bem-sucedida. A gente passa tanto tempo trabalhando que nem vê nossos filhos crescerem direito. No seu caso, você ainda consegue ver porque trabalha só pela manhã. Mas eu só vou ver eles à noite. Sem falar na nossa Emminha que já tá virando uma mulher diante dos nossos olhos... Ainda não caiu a ficha que quase fomos avós!” 

“É estranho, né? Parece que foi ontem que a gente tava saindo com ela da maternidade.” Bradley concordou pensativo. 

“A gente tem que fazer alguma coisa. Nem que seja financiar uma pesquisa ou algo do tipo. Eu não quero que nossa filha sinta esse tipo de dor nunca mais.” 

“Eu já tava pensando nisso. Deixa eu ficar um pouco mais folgado que eu começo a dar uma investigada nisso.” 

“Você tá com uma cara exausta.” Jessica apontou carinhosamente. 

“Dá pra notar?” O professor de estatística riu e passou a mão no rosto. 

“Um pouquinho.” A ruiva fez uma careta. 

"Eu tô muito cansado." Bradley admitiu. 

"O que eu puder ajudar..."

"Eu sei. Obrigado. Acho que quando esse primeiro trimestre do Bento passar, deve melhorar. Em falar nisso, deixa eu pegar o que eu trouxe pra você." 

Bradley abriu a pasta, pegou um embrulho e entregou à advogada. 

"O que é?" Jessica perguntou analisando o papel de presente. 

"Abre!" O professor riu. 

Jessica deu um olhar para o ex-marido e abriu o presente. "Ai meu Deus! Que lindeza!" 

"Não é?" Bradley falou todo bobo. 

"Que preciosidade, Bradley! Os dois estão tão lindinhos. As bochechinhas! Eu amei!" Jessica falou sorridente, analisando a foto dentro do porta-retrato que tinha ganhado de Brian segurando Bento no colo. 

"Eu tirei essa foto e achei tão bonita, que eu acabei mandando revelar pra mim e pra vocês." O professor explicou. 

"Obrigada por ter se lembrado de mim e me presenteado com essa foto linda dos meus afilhadinhos." Jessica falou ainda encarando a foto. "Os dois são a sua cara."

"Também acho." Bradley falou orgulhoso. "Agora eu tenho que ir." O professor se levantou. 

"Tá bom." A ruiva se levantou também. "Não esquece de sondar pra mim o que o Andrew vai querer fazer de aniversário. Eu sinto que dos outros anos, ele não gostou muito do que eu planejei."

"Pode deixar." Bradley deu um abraço e um beijo no rosto na ruiva para se despedir. 

"Obrigada."

Em seguida, o professor se despediu dos outros integrantes da família e foi embora. 

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Audiência com a rainha

O sinal de término de intervalo tocou, e Cheryl envolveu o pescoço do namorado com os braços. 

"Bye, babe!" A Geordie puxou ele para baixo e deu um beijo no seu rosto para se despedir. "I'll miss you." Ela deu outro beijo. "So much." Outro beijo.

"I'll miss you too." O inglês soltou a cintura da ex-modelo, contra a sua vontade. 

Chloe Moretz se aproximou da outra menina e tocou seu braço.

"Oi!" Cheryl abriu seu sorriso amigável e acolhedor.

Chloe achava engraçado que, por vezes, a inglesa parecia uma diplomata.

Ela daria uma boa primeira dama, Chloe pensou.

"Oi, Cheryl." Chloe falou hesitante, pensando duas vezes se falaria ou não o que tinha planejado.

"Eu tô sentindo que você quer me falar alguma coisa." Cheryl falou com um tom brincalhão. Suas covinhas fixas nas bochechas.

"Sim, eu quero. É.. Você tá livre depois da escola?" Chloe falou se sentindo um pouco intimidada com a presença da Geordie. Ela sempre via a menina de longe, afinal, as duas estudavam na mesma sala desde novinhas, mas raramente a via numa distância que dava para discernir suas sardas e as dobrinhas de suas covinhas.

"Logo depois da escola, sim. Mais tarde que eu tenho algumas coisas pra fazer." Elas começaram a subir as escadas.

"A gente pode tomar um sorvete depois daqui? Eu queria conversar com você fora da escola, se não for problema."

"Nenhum, pet! Vou mandar uma mensagem pro Edward pra ele não me esperar."

"Vocês formam um casal muito bonito. Eu sei que muita gente não acha..."

"Não?" Cheryl interrompeu e deu uma risada.

"Bem, é o que vem até mim. Não chega muita coisa até mim. Deve ser pouca gente que não acha." Chloe se explicou, nervosa.

"I'm messin'!" Ela riu mais. "Eu sei que muita gente não acha que somos um bom casal, mas eu não poderia ligar menos."

"Você tá certa em não ligar."

"Right?"

"Cheryl, você perdeu!" Alyson falou eufórica com a menina quando ela entrou na sala.

Quando o último sinal tocou, Chloe esperou a Geordie se despedir dos amigos para irem à sorveteria.

"Como é que você tá?" Cheryl perguntou, educadamente, no caminho. "Parece que eu não falo com você há séculos!" A menina observou.

"É. A gente se falava mais quando eu te ajudava nos estudos, lembra?"

"Claro! Você já me salvou várias vezes. Obrigada."

"Não precisa agradecer. Foi há muito tempo."

"Still, ainda sou muito grata."

"De nada."

"Mas fala como você tá." A inglesa retomou a pergunta.

"Eu tô bem. Finalmente superei minha paixão pelo Ansel."

"Que bom." Cheryl falou mais retraída.

"Desculpa! Eu não deveria ter falado o nome dele." Chloe se sentiu a pessoa mais idiota do mundo.

"Não." A Geordie balançou a cabeça. "Eu não quero que as pessoas fiquem cheias de dedos comigo. Eu tô bem."

"Eu achei muito legal a sua preocupação pela Jane. As pessoas que shippam vocês foram à loucura."

"Esse ship ainda existe?" Cheryl torceu o nariz.

"Existe. E tá mais vivo do que nunca!" Chloe falou animada e a Geordie riu.

"O povo shippa cada coisa..."

Dentro da sorveteria Chloe retomou o assunto.

"Eu acho que você e a Jane combinam." Chloe falou com naturalidade.

"Como?" Cheryl perguntou surpresa.

"Você foi quem mais ligou pro que aconteceu com ela." Chloe argumentou.

"Tenho certeza que não. Só que eu fui a única que tive coragem de visitar, o que é compreensível. Ela não tá muito pra visitas agora."

"É que ninguém sabia que vocês eram tão amigas."

"Nossas famílias são muito próximas. Ela é tipo uma irmã mais nova pra mim. Só que uma extremamente irritante e que só fala droga."

Chloe riu.

"É sério. Tem que ter muita paciência com ela. Mas eu amo aquela estranha." A Geordie concluiu.

"Todo mundo compara vocês com a Princesa Jujuba e a Marceline."

"Eu sei. E em todas as minhas festas de aniversário eu ganho um milhão de coisas das duas. É caneca, pijama, oversized t-shirt, luminária, já ganhei quadro... muita coisa!"

"E você doa tudo?" Chloe perguntou interessada.

"É claro! O que eu vou fazer com mil coisas da hora de aventura na minha casa? Algumas t-shirts eu pego pra dormir, mas o resto..."

"Que louco! Mas você não acha fofo a comparação?"

"Eles só querem zoar."

"Nem todos. Como eu disse, vocês combinam."

Cheryl deu um olhar desconfiado para a menina. "Agora me conta, pet, o que você queria falar?" Ela mudou de assunto.

"Então... eu queria uma opinião e um conselho." Chloe falou um pouco nervosa.

"Eu amo quando vocês me procuram pra dar conselhos." Cheryl falou animada. "Diga, babe. Opinião de quê?"

"Ééé..." Chloe titubiou.

"Babe, você pode me contar qualquer coisa." A Geordie segurou a mão da loira por cima da mesa. "Eu prometo não julgar."

Chloe olhou para a mão das duas juntas e focou na tatuagem da mão da menina. Ela sempre achou que era um desenho interessante. Ela se perguntava se tinha algum significado.

"Eu tô namorando." Chloe revelou.

"Uau, que legal! É da escola?" Ela perguntou animada.

"É."

"Você tá tendo second thoughts?"

"Não. Eu tô muito apaixonada." Chloe falou timidamente.

"Isso é ótimo!" Cheryl notou a hesitação da menina. "Mas eu sinto que tem um problema?" A Geordie tentou adivinhar.

"Pode-se dizer que sim." Chloe olhou para os lados, ficando a cada segundo, mais nervosa com a conversa.

"Você acha que ele não tá tão apaixonado por você?"

Chloe ficou quieta, desejando não ter falado nada para início de conversa.

"Chloe!" A britânica estalou os dedos para chamar sua atenção.

"Esquece o que eu falei. Vamos embora." Chloe tentou se levantar, mas a Geordie segurou seu braço.

"Ei. Se você não tiver confortável pra me contar o que tá havendo, tudo bem. Mas você me chamou aqui por um motivo. Porque você sabe que talvez você se sinta melhor falando sobre o que tá te incomodando." Cheryl falou num tom maternal.

Chloe sempre foi meio contra ao reinado da Geordie. Ela era narcisista, vingativa, geniosa, metida, dissimulada, enfim, um verdadeiro demônio em pele de cordeiro. Mas ultimamente ela tava tão majestosa. Atenta às necessidades da turma. Disposta a ouvir e ajudar a todos, sem distinção. Chloe sentiu orgulho da sua rainha e do longo caminho que trilhara.

"Eu tô namorando a Cathy, da turma abaixo da Jane." Chloe falou de uma vez, evitando os olhos calorosos da inglesa.

Cheryl piscou os olhos rapidamente surpresa. "Parabéns!"

"Tá na cara que você não gostou." Chloe falou chateada.

"Eu tô um pouco surpresa, mas quem disse que eu não gostei? Eu tô muito feliz que você achou uma pessoa de quem você goste. Ela te faz feliz?"

"Muito."

"Então eu tô mega feliz por você."

"A gente não quer mais namorar escondido, mas também não queremos sofrer bullying. O que você acha que a gente deve fazer?"

Cheryl ponderou a pergunta da outra menina.

"Nosso colégio pode ser muito cruel." A inglesa alertou.

"Eu sei." Chloe concordou triste.

"Nossa turma tem cabeça bem aberta. A turma da Cathy também." Cheryl começou a analisar as circunstâncias, como se fosse um jogo de estratégia.

"Verdade."

"As turmas de cima que são as piores, mas a gente só tem acesso a elas no intervalo e em algumas festas."

"Também verdade."

"E agora já temos várias pessoas numa situação parecida que ninguém parece fazer muito caso."

"Acho que nas turmas deles, eles sofrem."

"Verdade... Mas a nossa turma é super de boa quanto a isso. Não acho que você sofreria."

"Então você acha que eu devo falar?"

"Só se vocês tiverem prontas. Não acho que vocês devam dar um passo maior que as pernas de vocês."

"Humm." Chloe murmurou pensativa.

"Você tá realmente apaixonada por ela?"

"Tô." Chloe deixou escorrer uma lágrima.

"Babe!" A Geordie se levantou e foi para o lado da menina dar um abraço. "Isso é uma coisa boa! É tão difícil encontrar alguém que faça a gente se sentir assim."

"Eu sei. Mas eu tô com medo." Chloe falou soluçando.

"Se você tá com medo, não fala nada pra ninguém ainda. Só não deixa a opinião dos outros estragar a sua felicidade." A inglesa secou as lágrimas da menina e Chloe assentiu.

"Obrigada!" Chloe falou se sentindo mais leve.

"Não precisa agradecer." A Geordie retrucou. "Só estou cumprindo a minha missão de rainha de meus lindos súditos!" Cheryl brincou, exibida, ganhando uma risada fraca da Chloe.

"Agora me conta como tudo começou. " A inglesa pediu e a loira obedeceu, iniciando a história desde o momento que começaram a se falar. 

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

I hate that I love you so

Jennifer recebeu outra mensagem do seu namorado dizendo que estava com saudades. A menina revirou os olhos e virou o celular para baixo. Ela achava a maioria dos atos de romance brega, e a ideia de fazer parte de um, fazia sua pele coçar.

Bradley estava explicando os cálculos do gráfico que ele tinha projetado no quadro. Todos prestavam muita atenção, porque, do nada, sua matéria tinha ficado ultra difícil.

Era esquisito ser aluna do seu ex. E não era qualquer ex. Bradley destroçou seu coração. Ela estava tão apaixonada, que seu orgulho, e até seu amor próprio, tinham ido para o ralo. Vários encontros dos dois terminavam com o professor chorando pela ex-mulher, cada dia por um motivo diferente. Uma hora porque ela ia se casar, outra porque se casou, outra porque ficou grávida, outra porque ia perder, outra porque não perdeu e estava em coma, e Jennifer teve que aguentar a barra de tudo isso, para no final ser dispensada.

Ela o odiou. Odiou aquele rosto perfeito e simétrico. Odiou seu jeito de perdido e confuso. Odiou sua risada calorosa. Odiou todas as coisas que a faziam amá-lo.

Nas aulas, a loira tentava não olhar para o professor, e tentava focar apenas no que ele estava escrevendo. Às vezes, seus olhares se cruzavam, e ela via Bradley desviar ainda mais rápido do que ela mesma.

Pior do que isso, era quando ela tinha que entregar uma prova ou trabalho, ou quando ele devolvia. A estranheza e a sem-jeitice do professor poderia ser cômica, se não fosse tão irritante. Ele ficava sem graça todas as vezes que tinha que interagir com a menina.

Jennifer pensava que teria sido melhor se ele tivesse ficado com Jessica no final. Ela poderia pensar: Tudo bem, ela sempre foi o grande amor da vida dele. Mas ela passou por tudo aquilo pra no final ele ficar com a Bethânia? Aquilo era, no mínimo, humilhante.

O celular da menina vibrou de novo, e Jennifer virou para olhar a mensagem discretamente. O professor não autorizava o uso de celular na sala, e quem mexia, fazia escondido. A menina viu que Bradley notou que ela estava usando o celular, e viu também, quando ele decidiu ignorar a infração.

Covarde, a loira pensou.

terça-feira, 19 de setembro de 2023

Terapia

Bradley se sentia mais sensível do que de costume. O nascimento de seu filho, a perda de seu neto, e as tragédias que ocorreram com suas alunas, corroboraram para que o professor se sentisse assim.

Seu lado paternal também se aflorou. Ele estava se desdobrando para ser um pai presente para os seus três filhos, o que era não era uma tarefa fácil, já que cada um era filho de uma mulher diferente. Ele vivia tendo que se deslocar entre as três casas. Junta isso com o trabalho e um recém-nascido, o esgotamento físico era inevitável.

Esses eram motivos suficientes para justificar sua omissão. Entretanto, era difícil ver uma aluna sua sofrendo calada e precisando urgentemente de ajuda de um adulto. E não podia ser qualquer adulto. Tinha que ser um que nunca tinha olhado para ela como mulher. Ela precisava se sentir segura e sentir que podia confiar na pessoa. Talvez uma espécie de figura paterna, já que seu pai, de fato, estava a milhares de quilômetros de distância, e seu padrasto parecia ser obcecado demais por ela, pelos motivos errados.

Quando o último tempo de aula daquele dia acabou, Bradley pediu para Brian esperar por ele e procurou a menina.

"Cheryl, posso falar um minuto com você?" Bradley pediu e fez um olhar para os amigos da Geordie se afastarem.

"Claro." A inglesa respondeu educadamente.

"Eu queria falar pra você não deixar de ir pra Ellie. Ela tá aqui pra ajudar vocês." Bradley falou vendo Cheryl assumir uma postura resguardada.

"Eu vou." Cheryl sorriu, mas o professor de estatística viu que seus olhos não coincidiam com o sorriso.

"A Emminha tem frequentado uma psicóloga que é muito boa. Ela é especialista em traumas em crianças e adolescentes."

"Legal. Me passa o contato." A Geordie tirou o celular do bolso.

"Eu posso marcar com ela pra você. Eu já tenho que levar a Emminha toda semana, eu posso te levar também." Bradley ofereceu.

"Não precisa. Eu peço pra minha mãe me levar."

"Eu insisto."

"Eu não quero te dar trabalho. Você já tá com muita coisa nas suas costas."

"Não é trabalho nenhum. Eu juro. Eu vou me sentir melhor se eu te levar. Eu te conheço. Eu sei que se você for sem mim, você vai abandonar na primeira consulta. Você não gosta de coisas que te deixam desconfortáveis. Assim como você tá odiando essa conversa." Bradley falou a última parte num tom bem-humorado e ganhou a primeira risada genuína da Geordie.

"É que eu odeio psicólogo."

"Psicólogo tem muita estigma, mas Cheryl, o que você passou, não dá pra varrer pra debaixo do tapete e fingir que nada aconteceu. Me diz uma coisa. Como tão suas noites de sono? Você tá conseguindo dormir direito ou tá tendo dificuldade?"

"Dificuldade." A britânica admitiu olhando para o chão.

"Tá vendo? E isso influencia não só nas suas tarefas diárias, mas também no seu rendimento escolar. Sem falar nas consequências que você pode ter lá na frente, quando você for adulta. Eu vejo pela minha ex-mulher, todas as neuras que ela tem hoje são frutos dos traumas que ela teve lá no passado, na infância. Eu não quero isso pra você. Eu quero que você seja uma mulher forte, independente, segura, saudável e feliz."

Cheryl ouviu as palavras do professor, tentando conter as lágrimas que se formavam em seus olhos.

"Eu realmente não quero te dar trabalho." A Geordie secou o rosto com as costas da mão.

"Já disse que não é nenhum trabalho." Bradley balançou a Geordie pelo ombro de brincadeira. "Eu já levo a Emma. Eu vou pedir pra te marcarem no mesmo dia, no horário depois do dela."

"Tá bom." Cheryl concordou.

"Ótimo." Bradley falou satisfeito. "Depois eu te passo uma mensagem confirmando o horário."

"Ok." A britânica assentiu.

"Até amanhã!"

"Até!"

Bradley levou Brian para casa se sentindo mais leve do que quando entrou.

No dia da consulta, o professor de estatística buscou Emma primeiro na casa da ex, e depois passou na casa da Geordie para buscá-la.

"Oi, Cheryl!" Bradley cumprimentou a menina quando ela entrou no carro.

"Oi, Bradley." Cheryl se sentou no banco detrás. "Oi, Emma." Ela alisou o braço da menina do banco da frente.

"Oi." Emma deu um meio sorriso.

"A Emma vai primeiro pra consulta, e você vai ficar esperando comigo. Depois vai você, e eu e a Emma vamos te esperar. Eu falei pra psicóloga que você é minha sobrinha pra evitar questionamentos." O professor de estatística informou.

"Ele quer que você chame ele de tio." Emma adicionou.

"Pra soar convincente. Já basta ter uma filha que me chama de dindo. Ainda vou ter uma sobrinha que me chama pelo nome? Ela vai achar estranho." Bradley se defendeu.

"Eu não queria ter que fazer vocês esperarem." Cheryl falou acanhada.

"Eu não ligo de esperar. Acho melhor do que ficar em casa com a minha dinda me perguntando como eu tô a cada cinco minutos." Emma respondeu.

"E pra mim é uma oportunidade de obrigar a Emma a falar comigo." Bradley deu uma cutucada na ruiva, fazendo ela se esquivar.

Eles chegaram no consultório e aguardaram na recepção.

"Boa tarde!" A psicóloga cumprimentou os três com um sorriso no rosto.

"Hoje eu trouxe também a minha sobrinha." Bradley colocou a mão no ombro da inglesa.

"Deixa eu ver se eu consigo pronunciar seu nome certo. Cheryl?" A psicóloga disse simpaticamente.

"Isso." A Geordie deu seu sorriso caloroso.

"Que sorriso bonito!" A psicóloga elogiou sorridente.

"Não fala isso pra ela não porque o ego dela já é inflado." O professor de estatística brincou.

"Não é não!" Cheryl contestou, ganhando uma risada da psicóloga.

"Eu acho ótimo que você tenha uma autoestima boa. Bem que eu queria que mais dos meus pacientes tivessem também." A psicóloga olhou bem para os três. "Na verdade, não tinha nem como vocês não terem boa autoestima. Dá pra ver que o gene da beleza corre na família. Os três são muito lindos."

"Obrigado." Bradley respondeu, ficando um pouco vermelho nas bochechas.

"Vamos lá, Emma?" A psicóloga abriu passagem para a ruiva e a acompanhou até sua sala.

"Eu não tenho um ego inflado!"

"A psicóloga disse que é saudável." Bradley brincou. "Aqui em cima tem uma cafeteria muito boa. Quer esperar lá?"

"Tá bom."

Os dois subiram e se acomodaram na mesa que tinha vista para a praia.

"No wonder que essa psicóloga é considerada boa. Com uma vista dessas você fica melhor só de já tá aqui."

"Verdade. Geralmente quando eu saio com a Emma daqui, eu chamo ela pra dá uma caminhada na praia."

"Como ela tá?" Cheryl perguntou demonstrando preocupação genuína.

"Eu tenho achado ela melhor. Já tá interagindo mais. Brincando com os irmãos... Ela só não chega perto de jeito nenhum do Bento. Na verdade, desde que aquilo aconteceu, ela não foi mais em casa."

"É que ainda tá meio recente o que aconteceu. E quanto mais o seu filho crescer, mais ela deve desassociar o seu filho do dela."

"Espero. Acho que as baboseiras que o Gosling falou ajudaram também. Ela tá menos triste e mais distraída."

A Geordie riu. "Baboseiras? Eu achei bem romântico."

"Porque você é menininha, jovenzinha. Acha tudo romântico."

"Por experiência própria, homem romântico tá muito difícil, então, pra mim, o que ele falou foi a epitome do romancismo."

"Romantismo." Bradley corrigiu.

"É. Romantismo."

"Pra você não deve ser difícil encontrar. Você tem todos os homens aos seus pés."

"Not really. Pelo menos não num nível Ryan. Talvez o Sebastin tenha chegado perto numa época. Eu não sou uma garota que os caras realmente se apaixonam."

"Como não? O Tom era super apaixonado por você, e honestamente, acho que ainda é."

"Pode ser." A Geordie deu de ombros e mexeu a colher distraidamente no chá.

"Você acha que o Edward não te ama?"

"Acho que sim. Não como a Bella e a Katie, though. O que não me incomoda, mas também não me enche de orgulho."

"Acho que dessa forma é mais saudável."

"Totally. Imagina quase morrer por um relógio ou uma visão?"

"Exatamente!" Bradley concordou. "E como tão as coisas com o Vincent?"

"Não muito bem." Cheryl disse se sentindo inquieta com a menção do nome do amigo.

"Por quê?"

"Eu odeio o que ele fez comigo. Ele era pra ser o meu melhor amigo. A pessoa que fazia eu me sentir protegida, e não o contrário. Agora toda vez que eu fico perto dele eu me sinto... unsafe. Como se alguma coisa fosse acontecer comigo a qualquer momento."

"Você acha que ele pode fazer alguma coisa com você de novo?"

"Não, mas yet again, eu nunca imaginaria que ele fosse fazer isso in the first place.Tem algumas coisas que você nunca sabe."

"Mas você perdoou?"

"God I want to. Eu amo o Vincent. Tanto que não sei o que tá sendo pior, o abuso itself ou ter que me afastar dele por causa disso."

"E sua mãe falou com você sobre o que aconteceu?"

"Ela perguntou se eu tava bem. Eu disse que sim e ela falou, good, e saiu. Mas eu consigo ver que ela tá triste."

"E seu padrasto?"

"Ele não sabe."

"Você tem medo dele saber?"

"Por que eu tenho a sensação que a minha sessão de terapia já começou?" Cheryl brincou e Bradley riu.

"Me pegou." Ele riu mais e bebeu um gole do seu café. "É que eu fiquei um pouco preocupado com a notícia do Tom quando ele citou o seu padrasto. Parecia que ele tinha chegado a fazer alguma coisa com você."

"Não." Cheryl negou incisiva.

"Mas tentou?" Bradley olhou para a ex-modelo, amigavelmente, para ver se a encorajava a se abrir. 

"Não."

"Você sabe que pode confiar em mim..."

"Eu sei?" Cheryl ergueu uma sobrancelha.

"Se não sabia, fique sabendo agora, que você pode. Cheryl, tem coisas que você não pode guardar pra si mesma. Você tem que falar com um adulto, pelo menos. Nem que seja pra te aconselhar e oferecer apoio."

"Ele nunca me beijou ou se forçou em mim."

Bradley aguardou a Geordie prosseguir no tempo dela.

"Ele só era meio... estranho." Ela concluiu.

"Como assim estranho?"

"Sabe aqueles toques que a pessoa fica tempo demais ali alisando? O rosto, a perna,..." Cheryl olhou para baixo e respirou fundo. "Também aqueles beijos no rosto que demoram, novamente, tempo demais, e depois ficava me olhando com o rosto perto do meu, e eu sem reação, morrendo de medo dele me beijar na boca, mas então ele se afastava. Ou quando ele quis saber se eu não era mais virgem, quando ele não tem nada a ver com isso. Essas coisas..."

"Você chegou a falar com alguém?"

"No começo não porque eu achei que eu que podia tá exagerando, ou que eram coisas da minha cabeça. Só que chegou num ponto que eu tava super desconfortável na minha própria casa. Eu não queria mais ficar no mesmo cômodo com ele, sem uma terceira pessoa por perto. Aí numa das minhas viagens pra Inglaterra, nas férias, pra visitar minha família, eu falei com a minha irmã o que tava acontecendo. Sabe quando você tá super sem graça de falar uma coisa pra alguém e você fica lá, tentando criar coragem pra botar tudo pra fora, achando que no final, você vai se sentir melhor? Fui eu naquele dia com a minha irmã. E sabe o que ela me disse?"

"O quê?" Bradley perguntou interessado.

"Disse que eu que tava seduzindo ele. O marido da minha própria mãe!" Cheryl falou com raiva e o professor arregalou os olhos, surpreso.

"Mas como ela disse isso pra você? O que ela tinha na cabeça?"

"Não sei." A Geordie balançou a cabeça, parecendo tão perdida quanto no dia que ouviu a acusação da irmã mais velha. "Só sei que eu fiquei no chão, repassando todos os momentos com o meu padrasto na cabeça, tentando achar alguma brecha ou alguma coisa que eu fiz que tenha feito ele entender que eu poderia tá dando em cima dele."

"Você não fez nada." Bradley falou enfático, sentindo a mesma raiva da Geordie. "Tirando a sua irmã você falou sobre isso com mais alguém?"

"Pra ouvir que eu tava dando em cima do meu padrasto de novo? Não, obrigada. Meus amigos que começaram a perceber que tinha algo off entre nós dois. Eles começaram a fazer perguntas e eu não negava e nem confirmava. Porque na verdade, ele nunca fez nada realmente. E depois que eu comecei a evitar ele ao máximo, ele foi parando de fazer aquelas coisas que ele fazia. E agora ele meio que foi pro outro extremo, me tratando friamente e querendo me punir por qualquer coisinha. O que eu prefiro, apesar de ser bem annoying."

"Você acha que um dia ele pode fazer alguma coisa com você?"

"Nâo sei." Cheryl voltou a brincar com a colher de chá. "Eu tinha me convencido que se ele fosse fazer alguma coisa, ele já teria feito, mas depois do Vincent... É mais uma dessas coisas que você nunca sabe."

"Você não acha melhor contar pra sua mãe?"

"Não!" A menina respondeu brava.

"Você acha que ela não acreditaria em você?"

"Eu tenho certeza que não. E destruiria a vida dela. Eu nunca colocaria minha mãe nessa posição. Nunca."

"Tudo bem. Eu entendo os seus motivos."

"Good."

"Se você precisar de alguma coisa, qualquer coisa, pode contar comigo."

"Obrigada." Cheryl pegou um guardanapo e secou com  cuidado as lágrimas que ameaçavam cair ao redor dos olhos. "God! Eu odeio terapia!" A menina brincou, enquanto as lágrimas caíam.

"Eu sei." Bradley deu uma risada triste, se sentindo arrasado.