segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Stress out

Jessica foi para o Cavalinho Feliz buscar Emma para almoçarem juntas. A ruiva estacionou na entrada da escola e a menina entrou no carro. 

"Oi, dinda." Emma fechou a porta. 

"Oi, meu amor." Jessica deu um beijo na cabeça da afilhada. "Eu não vou poder demorar muito no almoço, porque eu to com uma m***a de caso pra resolver." A ruiva ligou o carro e começou a dirigir.

"Você não precisava almoçar comigo hoje então."

"Precisava sim. A gente tem que conversar. Seu dindo ta com essa p***a de ideia de te levar pro psicólogo só pra dizer que você tem algum problema. E você ao invés de ajudar, fica falando um monte de m***a na frente dos outros pra eles também acharem que você tem problema." Jessica disse ríspida.

"Eu não falei nada demais." Emma se defendeu.

"Como não? As trevas te atrai? Vai tomar no **, Emma! O Bradley tá doido pra falar que você tem problema e que você puxou isso de mim. Porque o filho dele é perfeito. Você viu como ele não fala as suas m***as?"

"Claro! Ele tem dois. Eu com dois também era uma santa."

"Eu sei. Mas mesmo assim. Eu só quero que você não facilite pra os outros falarem mal de você. Hoje na psicóloga você vai agir o mais normal possível. Não vai falar as drogas que você anda falando. A mulher deve ta doida pra dizer que você tem problema e fazer você ir lá toda semana. E aí é um caminho sem volta. Eu fui a psicólogo a minha vida inteira e olha onde eu tô agora. Presa numa p**a de tratamento que nunca me deixa boa."

"Calma! Eu não vou falar nada que faça ela achar que eu sou maluca." Emma disse já incomodada com o temperamento da madrinha.

"Acho bom. E eu não quero mais você escutando aquelas músicas que você disse pro John que escutava. Em vez de invocar o di***o, vai orar pela sua misericórdia que você tá precisando." Jessica estacionou o carro na frente de um restaurante. "É sério Emma, se eu vir mais uma das suas gracinhas eu vou te mandar de volta pra aquele lugar que você tanto odiou." Jessica disse séria. 

"Tá bom." Emma saiu do carro e bateu a porta com força. 

"E corta essa atitude de rebelde sem causa." Jessica alertou ao sair do carro. 

"Sem causa? Eu não vejo os meus pais há um ano e você ainda me diz que é sem causa?" Emma retrucou com raiva. 

"Eu sei que você não vê os seus pais por muito tempo, mas honestamente, f**-se. Eu e o Bradley estamos aqui e a gente te ama mais que tudo e se conforme com isso."

"Não é a mesma coisa! Você não é a minha mãe e o meu dindo não é meu pai!" As lágrimas da menina começaram a escorrer. 

Jessica olhou para Emma com o coração esmagado. 

"Eu sei." Jessica engoliu o nó na garganta que se formara. 

"Vamos entrar." Emma enxugou as lágrimas com o braço e entrou no restaurante com Jessica seguindo logo atrás. 

No final do almoço, Jessica levou a afilhada para a casa do Bradley. 

"Até mais tarde." Jessica disse ao parar o carro. 

"Dinda, o que eu disse naquela hora sobre você não ser a minha mãe foi impensado. Você é como se fosse uma mãe pra mim." Emma tocou no braço da ruiva. "Eu te amo."

"Eu também te amo, meu amor." Jessica tirou o cinto e pegou Emma nos braços. "Mais do que a minha vida." A ruiva beijou a cabeça da afilhada. "Desculpa as coisas que eu falei hoje. Eu não to muito bem e acabei descontando em você."

"Tudo bem." Emma fechou os olhos, aproveitando o aconchego da madrinha. 

"Minha Emminha." Jessica apertou Emma mais forte. 

As duas ficaram abraçadas por um tempo até que so celular da advogada tocou. 

"Desculpa, vou ter que voltar pro trabalho." Jessica ignorou a ligação e tocou o rosto da afilhada. 

"Tudo bem. Te vejo mais tarde então."

"Sim! Mas pensa no que eu te falei. Age normal lá, por favor!" Jessica pediu num tom mais bem-humorado. 

"Vou tentar." Emma riu e saiu do carro. 

Jessica quando voltou do trabalho, encontrou Andrew sentado no sofá da sala. 

"Oi." A ruiva disse ao fechar a porta. 

"Oi." Andrew respondeu. 

A ruiva colocou as chaves na mesa e seguiu em direção ao namorado. Ela sentou no seu colo e o beijou.

"Como foi o trabalho?" Andrew perguntou com a ruiva nos braços.

"Nada demais." O trabalho tinha sido uma droga, mas ela não queria falar sobre isso. Naquele momento ela só queria beijar seu namorado e assim o fez. A advogada segurou o rosto do professor com as duas mãos e o beijou profundamente. Os lábios e a língua do britânico traziam o bem-estar que ela tanto almejava.

Ela ainda teria que enfrentar seu ex-marido mais tarde e ver sua afilhada sendo analisada por uma estranha, mas naquele momento, tudo o que ela queria era estar nos braços de Andrew e sentir a língua dele na sua.  

domingo, 16 de agosto de 2020

Flirting and waiting

O horário de aula tinha acabado e mais tarde haveria reunião do Grêmio na parte da tesouraria. Emma ficou aguardando a hora da reunião, enquanto lia um livro sobre animais marítimos. A menina tinha um fascínio pela vida aquática que nem ela sabia o porquê daquilo.

Guilherme desde que soube da notícia do término de Channing e Emma, foi tomado pela esperança de que poderia ter a loira de volta. O menino, apesar de suas tentativas, nunca conseguiu esquecer a Emma. Tudo nela o cativava. Guilherme sabia que os momentos mais felizes de sua vida tinham sido ao lado da garota.

Garfield colocou a mochila nas costas e foi em direção a saída da escola. Ao passar pelo pátio, viu Emma sentada à deriva de todos, com um livro na mão. A loira demonstrava uma impressionante concentração no livro. 

Guilherme interrompeu seu percurso até a saída da escola e ficou observando a loira de longe. Ele queria criar coragem e chamá-la para sair, afinal Emma estava solteira de novo e aquela poderia ser sua chance de tê-la de volta. Guilherme respirou fundo e andou em direção à menina. Ele sentou ao seu lado em silêncio. Emma sentiu a presença do menino ao seu lado e foi cumprimentá-lo. 

"Oi." Emma fechou o livro e transferiu sua atenção ao menino.

"Oi. Tá esperando o quê?" Guilherme perguntou curioso.

"Hoje tem reunião com algumas pessoas do Grêmio. E você, por que ta saindo tarde?"

"Fui na biblioteca pegar um livro de matemática. Minhas notas tão meio ruins e tô com medo de bombar na matéria."

"Matemática não é o meu forte, mas eu posso te ajudar em algumas partes." Emma ofereceu.

"Eu adoraria. Você é uma excelente professora. Incrivelmente paciente na hora de ensinar." Guilherme abriu um sorriso, só de saber que passaria horas sozinho com a menina enquanto ela o ajudava em matemática.

"Por que o incrivelmente paciente?" Emma remedou o menino, fazendo uma carinha extremamente fofa enquanto esperava a resposta dele. 

"Porque você tem cara de quem se irrita com a burrice dos outros. Você quebra essa expectativa."

"Eu nem sabia que eu tinha cara disso." Emma riu. "E aliás, você nem é burro!"

A risada rouca da menina era muito para o coração do garoto. 

Guilherme colocou sua mão sobre a da menina e observou como uma complementava a outra. 

Emma olhou para a mão dos dois juntas e depois para o rosto do Guilherme que estava absorto em pensamentos. 

"Você pode pegar na minha mão sempre que quiser. Eu sei o quanto você gosta dela." Emma brincou. 

Guilherme fez uma cara de surpresa e depois riu. "Eu realmente gosto." Ele levou a mão da menina à boca e plantou um beijo. "São delicadas assim como você."

"Eu não sou nenhum pouco delicada!" Emma protestou. 

"É sim! Você tenta disfarçar, mas não adianta."

"Você realmente vê através de mim." Emma falou num tom divertido. 

"De vez em quando eu gosto de observar." Guilherme respondeu ficando sem graça. Ele não queria soar obcecado por ela. 

"Eu gosto de ser observada por você." Emma levantou o olhar para fitá-lo. 

Guilherme engoliu em seco. 

"E como você tá sem o grupo da Lana?" Guilherme mudou de assunto. 

"Até que eu to bem. Eu tinha ficado meio assustada quando me expulsaram do grupo. Eu achei que ficaria sozinha de novo igual na minha escola antiga. Agora que a Saoirse e o Sebastian tão sentando comigo, eu to mais tranquila. No final foi pra melhor... As meninas daquele grupo nunca gostaram de mim. Elas deixavam muito na cara e eu ficava lá de inconveniente pra não ficar sozinha." Emma desabafou. 

"Eu fiquei muito decepcionado com elas por terem agido assim com você." Guilherme disse sinceramente. 

"Tudo bem. Eu também não sou a pessoa mais agradável do mundo. Eu consigo admitir isso."

"Eu vou ser obrigado a discordar de você nessa." Guilherme abriu um sorriso flertivo. 

"Obrigada." Emma desviou o olhar, se sentindo de repente tímida. 

Guilherme levou sua mão livre ao rosto da loira e se aproximou lentamente para capturar seus lábios. 

O coração do menino disparou ao sentir os lábios da Emma nos seus. Ele abriu rapidamente os olhos para confirmar que era mesmo a loira que ele estava beijando. Emma enterrou a mão no cabelo dele e intensificou o beijo. 

Na sala do Grêmio, todos estavam esperando a chegada da Emma para darem início a reunião. 

"Ela deve ter perdido a hora na biblioteca." Grant disse do computador. 

"Eu vou buscar ela." Ryan pegou o celular da mesa, colocou no bolso e saiu para procurá-la. 

À caminho da biblioteca, Ryan viu Emma e Guilherme se beijando. O nosso Gentleman ponderou de interrompia as atividades do casal ou voltava para a sala do Grêmio e começava a reunião sem ela. 

Ryan no final não resistiu e foi até o casal. 

"Desculpa interromper, mas Emma, você tá atrasada." Ryan disse com desdém. 

Emma deixou os lábios de Guilherme num susto. 

"Tô indo." A região da boca dela estava avermelhada, pela pressão da boca do menino na sua. 

"Agora, Emma. Ta todo o mundo esperando você." Ryan disse sério. 

"Eu sei!" Emma se virou para Guilherme. "Até amanhã." 

"Até." Guilherme respondeu. 

Emma se levantou e foi com o Ryan. 

"Então vocês voltaram?" Ryan perguntou como quem não queria nada. 

"Não te interessa." Emma respondeu grossa. 

"Você e o Channing não terminaram tipo ontem?" Ryan cutucou. 

"Você realmente tá fazendo isso?" Emma parou de andar e olhou para ele. 

"Desculpa. Eu não quis ser rude. É que eu acho que você perde muito tempo com gente que não vale a pena."

"E quem vale a pena pra você?" Emma o olhou intrigada. 

"Não sei. Mas definitivamente não o Channing e nem esse Guilherme. Em falar nisso, eu vi você e o Channing no ensaio passado." Ryan revelou. 

"E?" 

"E hoje é o Guilherme. Amanhã vai ser quem?"

Emma o olhou incrédula. 

"Eu não quis dizer que.." Ryan tentou se corrigir. 

"Não precisa." Emma o interrompeu. "Eu já entendi o que você quis dizer." Emma voltou a andar e Ryan ficou olhando Emma partir pensativo.

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Banalidades

*Notícia com efeito amendobobo*

— Como foi a semana, Asa?

— Foi boa.

— Aconteceu alguma coisa de interessante? Você saiu com a Emma?

— Não. Eu não saí com ela desde a última confusão que teve. 

— Você sente falta dela?

— Sei lá. Mais ou menos.

— E o que mais você fez?

— Eu estudei, dormi na casa do Eric essa semana... E bem... — Asa respirou fundo — Eu me masturbei.


— Hmmmm... — A terapeuta levantou as sobrancelhas surpresa — Pode ficar tranquilo. Eu não vou contar isso para os seus pais.

— Obrigado. — Ele respondeu sem olhar para ela.

— E como foi? 

— Foi... legal.

— Você se lembrou de alguma coisa traumatizante? 

Asa olhava para suas mãos, mexendo os dedos sem parar — No começo sim, mas aí eu fiquei olhando certas imagens e aquilo acabou me distraindo.


— Funcionaram? As imagens?

— Não. Sei lá. Achei esquisito.

— Você conseguiu...?

— Sim.

— Pensando na Emma?

Asa corou. — Não do jeito que você está pensando.

— Sem roupa, você quer dizer.

— Sim. Eu não pensei nela sem roupa.

— Você pensou nela te estimulando?

Asa engoliu seco. — Sim.


— Não há nada de errado no que você fez, Asa. Muitos garotos começam a se estimular nessa idade.

— Pode ser.

— Você fez isso mais de uma vez?

— Fiz.

— Em todas você pensou na Emma?

Asa não sabia o porquê ele contava tudo aquilo para a terapeuta. Era tudo realmente muito desconfortável. Mas se havia uma oportunidade de ela ajudá-lo a superar o traumas que ele ainda tinha, era preciso fazer o sacrifício.

— Sim.

— Você está assistindo pornô?

— Eu tentei, mas achei aquilo muito estranho... e violento... e feio.

— Você acha que está pronto pra fazer sexo?

Que pergunta! Ele começou a se masturbar há pouco tempo. — Não. Não sei. Talvez. 

— Se a Emma tivesse interesse em fazer com você, você aceitaria?

— Acho que ela não teria esse tipo de interesse.

— Por que não?

— Porque... Sei lá. Eu não sou como os caras com quem ela já ficou. Eles são bonitos. Menos que ela, claro, mas são bem melhores do que eu. Acho que ela ainda me enxerga como uma criança.


— Como isso faz você se sentir?

— Eu entendo. Eu realmente me sinto muito grato só dela me dar a oportunidade de beijar ela.

(imaginar Emma)

— Você pediu ela em namoro, não foi?

— Foi. — Ele olhou para baixo envergonhado. — Eu nem sei por que eu fiz isso.

— Você ficou chateado que ela não quis?

— Não, eu super entendi.

— Você se desvaloriza muito, Asa.

— Não é isso. É porque você nunca viu ela. Ela é muito, mas muito linda. E a voz dela é perfeita. E o jeito dela também. E as piadas dela são muito bizarras. Na hora até assustam, mas depois, do nada, eu me pego rindo. Ela fez uma piada com cabo de vassoura que toda vez que eu lembro agora, me dá vontade de rir. — Ele falou, tentando apagar o sorriso que queria aparecer. — Acho que ela é imprevisível e eu gosto disso. Enquanto ela não tiver problema de ficar comigo, mesmo que seja raramente, eu vou ficar muito feliz e no dia que ela não quiser mais, eu vou entender e ficar grato pelas vezes que ela disse sim.


— Você está apaixonado por ela?

— Não, eu só gosto dela. 

— Qual é a diferença de estar apaixonado por alguém e gostar de alguém, pra você?

— Estar apaixonado é mais intenso, mais irracional, sei lá. Gostar é mais contido e sólido. Eu gosto da Emma. Eu consigo viver a minha vida sem ela, isso não me deixa triste, nem nada, mas eu gosto dela. Eu vivo normal, mas carrego esse sentimento comigo. É bem saudável, eu me sinto bem. Se eu estivesse apaixonado, acho que estaria surtando mais.

— Entendo... Então você consegue controlar bem o seu desejo por ela, certo?

— Na maior parte das vezes sim.

— Quando você não consegue?

— Quando ela ta perto é mais difícil, dependendo do dia. Quando eu escuto Radiohead também é difícil ou quando eu escuto alguma música que ela me indica.


— Você pretende contar essas coisas para o seu pai ou para a sua mãe?

— Nem pensar! — respondeu Asa irritado — Meu pai é fofoqueiro e adora me envergonhar na frente dos outros. Já a minha mãe surtaria.

A terapeuta sorriu — Imagino! Em falar no seu pai, como está o relacionamento dele com a Jessica?

— Ele ta muito feliz. Acho que nunca vi ele tão animado com uma mulher, depois da minha mãe.

(Imaginar Andrew)

— E sua mãe? Como você acha que ela ta reagindo?

— Não sei — ele curvou os lábios — Acho que ela ta direita, mas acho que ela tem medo de eu gostar mais da Jessica do que dela, sei lá.

— Por que você acha isso?

— Porque ela foi conversar comigo sobre a Jessica não ser a minha madrasta, que o relacionamento pode não dar certo e pra eu não tratar ela como madrasta.

— Você acha que ela pode estar com ciúmes de você com a Jessica?

— Pode ser. Acho que ela também ficou chateada porque meu pai ia despachar um quadro que ela fez para ele lá para UK.


— Por que você acha isso?

— Pela reação dela. Ela ficou muito ressentida, mesmo fingindo que não ligava. Meu pai percebeu e acabou ficando com o quadro.

— E como ela reagiu quando ele decidiu ficar com o quadro?

— Acho que ela não sabe que ele ficou com o quadro.

— Como você soube?

— Eu vi no baú dele. Ele guardou de volta. Não sei se vai tentar despachar de novo, mas por enquanto, ele botou de volta no lugar.

— Como você lê a atitude dele?


— Claramente a minha mãe ainda afeta ele, mas acho que cada vez isso ta diminuindo, ainda mais agora que ele ta com a Jessica.

— Você ainda gosta da Jessica?

— Muito. Ela é super doce. Eu vou ficar muito feliz se ela virar a minha madrasta. Ela sempre diz que gosta muito de mim e isso faz com que eu goste muito dela.


— Do jeito que você fala dela, ela parece ser ótima mesmo.

— Ela é.

— E sua mãe e o John? Eles parecem estar bem?


— Parecem. 

— E sua irmã?


— Chata como sempre. 

A terapeuta sorriu — Asa, eu to muito feliz com a nossa conversa e com a sua honestidade, ainda que você continue mentindo quando se trata da sua irmã. É sempre bom conversar com você.

Asa deu um sorriso tímido — Também gosto de conversar com você.

— Quem te trouxe hoje?

— O John.


— O John? Que ótimo. Ele ta se envolvendo bem mais.

— Ele sempre se envolve quando pode, só que ele trabalha muito.

— Pode pedir pra ele entrar? Pode ficar tranquilo, eu não vou contar sobre a nossa conversa.

— Ok! Até semana que vem, Val.

— Até semana que vem, querido.

Asa saiu, enquanto a terapeuta terminava de escrever suas impressões sobre aquela consulta reveladora.

Looping

"And you'd be standin' in my front porch light", murmurava James, quando viu Letícia passando por ele para sair. "Letícia, Letícia, vem cá ver."

"O quê?"

"O site.", respondeu ele animado.

"De novo? Eu já vi isso."

"Eu sei, mas agora eu consertei algumas coisas, adicionei outras. Ficou bem legal!"

Letícia se agachou atrás da cadeira de James a contragosto, observando a tela do computador. O nariz do coordenador foi inundado pelo perfume da professora.


"Aqui.", mostrou ele a página inicial do site. "Quer sentar?", perguntou James ao olhar de canto a professora de matemática agachada.

"Não. Mostra logo!"

"Ok! Então... Eu botei um player para tocar a música da Taylor."

"Hmm..."

"Eu troquei algumas fotos, tipo a da sua mãe. Achei ela mais elegante nessa nova."

"Legal.", falou a professora desanimada.

"Adicionei alguns professores que estavam faltando. Troquei outras fotos. Ah, eu também botei o link do site no ícone do cavalo da header."

"Bem legal!", disse desinteressada.


"Bem, é isso! Eu fiz outras alterações, mas foram bem pequenas. Essas foram as maiores. Gostou do player?"

"Gostei. A Taylor vai gostar mais ainda."

"To bem feliz com o site."

"Dá pra ver... Consertou o nome do Tilipa?"


James parou um pouco para pensar e ao se dar conta de que se esqueceu disso, franziu a testa.

"Droga!", reclamou ele, começando a reeditar o site.


"É, parece que tem muita coisa pra ajeitar ainda.", ela se afastou de James.

"Acredito que seja só isso mesmo. Que tipo de nome é Tilipa? Eu gosto dele, mas esse nome não é legal."

"Melhor que Tulipa."

"Tulipa é nome de flor."

"Por isso mesmo. Já viu homem com nome de flor?"

"Tilipa me lembra Tirulipa, que é o nome artístico do filho do Tiririca."

"Eu realmente não queria saber disso."

O comentário fez James abrir um sorriso de canto.


"Pronto! Consertei. Gostou da sua nova foto?"

Letícia olhou a foto e deu de ombros.

"Ta boa! A outra também tava."

"Tava sim!"

"É a mesma da notícia do reencontro."

"É. Eu gosto dessa foto."

"Deu pra ver..."

James ficou sem graça. Na visão dele, ela devia estar achando que ele estava fissurado naquela foto. Na visão dela, parecia que ele achava que aquela era sua única foto boa.

Os dois ficaram em silêncio até que Letícia perguntou:

"Precisa que eu veja mais alguma coisa?"

"Não, não. Obrigado por ter visto o site comigo."

"De nada! Até amanhã!"


"Até."

A professora saiu e James botou o fone de ouvido, mas tirou logo em seguida, quando viu Emma entrando na sala.

"Precisa de alguma coisa?"

"Só to esperando o meu dindo. E você? Precisa de alguma coisa?"


James franziu a testa, sem entender a pergunta.


"Eu vi você e a Letícia."

"Sim, ela tava aqui..."

"E você gosta dela."

"Oi? Da onde você tirou isso?"

"Da sua cara de bobo quando ela tava perto de você."

"Você tava ouvindo a nossa conversa escondida?"

"Escondida é uma palavra muito forte."

"O quê?"

"EU DISSE QUE ESCONDIDA É UMA PALAVRA MUITO FORTE", Emma tentou falar mais alto.

"Você vai ser uma péssima Julieta."

"Outch! E não muda de assunto. To falando de você e da Letícia. Por que você não chama ela pra sair? Ela ta solteira há tanto tempo."

"Por que você se importa com isso?"

"Por que você não me responde?"

"Por que você quer tanto saber a resposta?"

"Por que você não quer responder? Ta escondendo alguma coisa?"

"Por que você tava ouvindo atrás da porta?"

"Por que você ta ressuscitando esse assunto?"

"Por que... Quer saber? Vamos acabar com esse looping."

"Que bom, porque já tava ficando chato."

"Eu não gosto da Letícia. Só gostei da foto dela, assim como gostei da sua... E do Ryan... E de vários outros homens e mulheres."

"E de vários outros homens e mulheres.", repetiu Emma, enfatizando o quanto a frase era estranha.

"Eu só to orgulhoso da minha criação."

"Da Saoirse?"

"Não, do site!", corrigiu ele estranhando a pergunta da Emma. "Ah, pera, você já sabia que era sobre o site."

"Eu só queria que você soasse mais estranho."


"Sabe o que é mais estranho do que eu falando que gostei de vários outros homens e mulheres? Você fazendo a Julieta!"

"HA-HA-HA, muito engraçado!"

"Quer ver o site?"

"Eu tenho que ver isso mesmo?"

"É rapidinho!"

Emma foi para o lado de James e ficou olhando a tela do computador.

"Quer sentar?"

Ela, então, se sentou no apoio de braço da cadeira do coordenador.

"Isso aqui é um player que eu botei na página inicial para escutar Cardigan, da Taylor, aqui eu incluí a foto de mais professores, eu mudei a foto da equipe também e juntei as imagens do pessoal do grêmio. Gostou?"

"Bacana!"

"A falta de animação de vocês é palpável. Ainda assim, eu to feliz."

"Gostou da minha foto?"

"Gostei. Muito.", ele olhou para ela. "Combinou muito com a do Ryan.", Emma fez uma careta. "Que foi?"

"Nada! Eu só não sei por que as pessoas fazem questão de me associar com o Ryan."


"Por que isso te incomoda?"

"Por que não me incomodaria?"

"Por que você não se dá bem com o Ryan?"

"Looping."

"Looping.", concordou James.

"Emmaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa", gritou um distante Brian. "Cadê você?"

"To indo!", gritou Emma de volta (ou pelo menos, tentou gritar). "Tchau, James!"

"Tchau, Emma. Ah, e por favor, antes de ir: não fala pra Saoirse sobre a sua suposição... a de que eu gosto da Letícia."

"Por quê?"

"Porque se a Saoirse souber disso, ela vai querer se meter de alguma forma."

"Ela costuma se meter nos seus relacionamentos?"

"Bastante."

"Ela já se meteu com a Elizabeth?"


"Por que só me associam com a Elizabeth? Tchau, Emma! Até amanhã!"


"Agora você me entende. Tchau, James. Até."

James voltou sua atenção para o computador. Sua mente estava bem agitada com tantas informações. A diretora saiu de sua sala e perguntou:

"Como estão as coisas?"


"Estão tranquilas... Eu corrigi algumas coisas que estavam erradas no site. Quer ver?"