segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Banalidades

*Notícia com efeito amendobobo*

— Como foi a semana, Asa?

— Foi boa.

— Aconteceu alguma coisa de interessante? Você saiu com a Emma?

— Não. Eu não saí com ela desde a última confusão que teve. 

— Você sente falta dela?

— Sei lá. Mais ou menos.

— E o que mais você fez?

— Eu estudei, dormi na casa do Eric essa semana... E bem... — Asa respirou fundo — Eu me masturbei.


— Hmmmm... — A terapeuta levantou as sobrancelhas surpresa — Pode ficar tranquilo. Eu não vou contar isso para os seus pais.

— Obrigado. — Ele respondeu sem olhar para ela.

— E como foi? 

— Foi... legal.

— Você se lembrou de alguma coisa traumatizante? 

Asa olhava para suas mãos, mexendo os dedos sem parar — No começo sim, mas aí eu fiquei olhando certas imagens e aquilo acabou me distraindo.


— Funcionaram? As imagens?

— Não. Sei lá. Achei esquisito.

— Você conseguiu...?

— Sim.

— Pensando na Emma?

Asa corou. — Não do jeito que você está pensando.

— Sem roupa, você quer dizer.

— Sim. Eu não pensei nela sem roupa.

— Você pensou nela te estimulando?

Asa engoliu seco. — Sim.


— Não há nada de errado no que você fez, Asa. Muitos garotos começam a se estimular nessa idade.

— Pode ser.

— Você fez isso mais de uma vez?

— Fiz.

— Em todas você pensou na Emma?

Asa não sabia o porquê ele contava tudo aquilo para a terapeuta. Era tudo realmente muito desconfortável. Mas se havia uma oportunidade de ela ajudá-lo a superar o traumas que ele ainda tinha, era preciso fazer o sacrifício.

— Sim.

— Você está assistindo pornô?

— Eu tentei, mas achei aquilo muito estranho... e violento... e feio.

— Você acha que está pronto pra fazer sexo?

Que pergunta! Ele começou a se masturbar há pouco tempo. — Não. Não sei. Talvez. 

— Se a Emma tivesse interesse em fazer com você, você aceitaria?

— Acho que ela não teria esse tipo de interesse.

— Por que não?

— Porque... Sei lá. Eu não sou como os caras com quem ela já ficou. Eles são bonitos. Menos que ela, claro, mas são bem melhores do que eu. Acho que ela ainda me enxerga como uma criança.


— Como isso faz você se sentir?

— Eu entendo. Eu realmente me sinto muito grato só dela me dar a oportunidade de beijar ela.

(imaginar Emma)

— Você pediu ela em namoro, não foi?

— Foi. — Ele olhou para baixo envergonhado. — Eu nem sei por que eu fiz isso.

— Você ficou chateado que ela não quis?

— Não, eu super entendi.

— Você se desvaloriza muito, Asa.

— Não é isso. É porque você nunca viu ela. Ela é muito, mas muito linda. E a voz dela é perfeita. E o jeito dela também. E as piadas dela são muito bizarras. Na hora até assustam, mas depois, do nada, eu me pego rindo. Ela fez uma piada com cabo de vassoura que toda vez que eu lembro agora, me dá vontade de rir. — Ele falou, tentando apagar o sorriso que queria aparecer. — Acho que ela é imprevisível e eu gosto disso. Enquanto ela não tiver problema de ficar comigo, mesmo que seja raramente, eu vou ficar muito feliz e no dia que ela não quiser mais, eu vou entender e ficar grato pelas vezes que ela disse sim.


— Você está apaixonado por ela?

— Não, eu só gosto dela. 

— Qual é a diferença de estar apaixonado por alguém e gostar de alguém, pra você?

— Estar apaixonado é mais intenso, mais irracional, sei lá. Gostar é mais contido e sólido. Eu gosto da Emma. Eu consigo viver a minha vida sem ela, isso não me deixa triste, nem nada, mas eu gosto dela. Eu vivo normal, mas carrego esse sentimento comigo. É bem saudável, eu me sinto bem. Se eu estivesse apaixonado, acho que estaria surtando mais.

— Entendo... Então você consegue controlar bem o seu desejo por ela, certo?

— Na maior parte das vezes sim.

— Quando você não consegue?

— Quando ela ta perto é mais difícil, dependendo do dia. Quando eu escuto Radiohead também é difícil ou quando eu escuto alguma música que ela me indica.


— Você pretende contar essas coisas para o seu pai ou para a sua mãe?

— Nem pensar! — respondeu Asa irritado — Meu pai é fofoqueiro e adora me envergonhar na frente dos outros. Já a minha mãe surtaria.

A terapeuta sorriu — Imagino! Em falar no seu pai, como está o relacionamento dele com a Jessica?

— Ele ta muito feliz. Acho que nunca vi ele tão animado com uma mulher, depois da minha mãe.

(Imaginar Andrew)

— E sua mãe? Como você acha que ela ta reagindo?

— Não sei — ele curvou os lábios — Acho que ela ta direita, mas acho que ela tem medo de eu gostar mais da Jessica do que dela, sei lá.

— Por que você acha isso?

— Porque ela foi conversar comigo sobre a Jessica não ser a minha madrasta, que o relacionamento pode não dar certo e pra eu não tratar ela como madrasta.

— Você acha que ela pode estar com ciúmes de você com a Jessica?

— Pode ser. Acho que ela também ficou chateada porque meu pai ia despachar um quadro que ela fez para ele lá para UK.


— Por que você acha isso?

— Pela reação dela. Ela ficou muito ressentida, mesmo fingindo que não ligava. Meu pai percebeu e acabou ficando com o quadro.

— E como ela reagiu quando ele decidiu ficar com o quadro?

— Acho que ela não sabe que ele ficou com o quadro.

— Como você soube?

— Eu vi no baú dele. Ele guardou de volta. Não sei se vai tentar despachar de novo, mas por enquanto, ele botou de volta no lugar.

— Como você lê a atitude dele?


— Claramente a minha mãe ainda afeta ele, mas acho que cada vez isso ta diminuindo, ainda mais agora que ele ta com a Jessica.

— Você ainda gosta da Jessica?

— Muito. Ela é super doce. Eu vou ficar muito feliz se ela virar a minha madrasta. Ela sempre diz que gosta muito de mim e isso faz com que eu goste muito dela.


— Do jeito que você fala dela, ela parece ser ótima mesmo.

— Ela é.

— E sua mãe e o John? Eles parecem estar bem?


— Parecem. 

— E sua irmã?


— Chata como sempre. 

A terapeuta sorriu — Asa, eu to muito feliz com a nossa conversa e com a sua honestidade, ainda que você continue mentindo quando se trata da sua irmã. É sempre bom conversar com você.

Asa deu um sorriso tímido — Também gosto de conversar com você.

— Quem te trouxe hoje?

— O John.


— O John? Que ótimo. Ele ta se envolvendo bem mais.

— Ele sempre se envolve quando pode, só que ele trabalha muito.

— Pode pedir pra ele entrar? Pode ficar tranquilo, eu não vou contar sobre a nossa conversa.

— Ok! Até semana que vem, Val.

— Até semana que vem, querido.

Asa saiu, enquanto a terapeuta terminava de escrever suas impressões sobre aquela consulta reveladora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário