segunda-feira, 25 de abril de 2022

O estagiário

Quando disseram que ele não teria tratamento diferenciado, não estavam brincando. Thiago desceu para o almoxarifado e colocou as resmas de folha ofício numa caixa de papelão para levar para cima. 

A caixa estava pesada e o fato dele ter malhado até a exaustão os bíceps no dia anterior, não estava ajudando. Ele apertou o botão do elevador com dificuldade e aguardou a sua chegada. As portas abriram automaticamente e o menino pressionou com o cotovelo o botão para o quinto andar. Enquanto aguardava, o elevador abriu no terceiro andar. Mônica (a advogada que pegou todos os casos que estavam nas mãos de Jessica e a mais nova braço-direito de George), se afastou abruptamente de George e passou a mão no cabelo, colocando uma mecha atrás da orelha, antes de entrar no elevador. George entrou logo em seguida. Thiago cumprimentou os dois com um aceno de cabeça e olhou para o lado oposto. 

Todo mundo da empresa comentava o novo affair dos dois, apesar deles acharem que estavam sendo discretos. Quando o elevador parou no quinto andar, George e Mônica saíram primeiro e Thiago foi atrás. Ele colocou a caixa com as resmas em cima da mesa da secretária para dar uma descansada nos braços.

"Eles são um casal?" A secretária perguntou, ao ver George entrando na sala de Mônica.

"É o que dizem." Thiago retrucou.

"Eu sabia que o doutor ia acabar pegando ela."

"Ele não perdeu tempo mesmo."

"A sorte dele é que a doutora não tá aqui. Ela nunca ia deixar isso acontecer."

"Não acho que é uma coisa que ela conseguiria evitar."

"Vai por mim... quando a doutora voltar, já viu."

"Ela tem ciúmes dele, né?"

"Não sei se exatamente dele. Acho mais que ela tem ciúmes de qualquer mulher que chame mais atenção do que ela."

"A Mônica é bem bonita mesmo. Mas a Jessica é ruiva. As ruivas sempre acabam chamando mais atenção."

"É. Mas o estilo da doutora Mônica faz mais o do chefe."

"Tão falando do que, vocês dois?" Jefferson se aproximou com seu jeito afetado.

"Do George com a Mônica." Thiago respondeu.

"Esses dois tão pegando fogo. A Carina do financeiro disse que já viu várias vezes eles chegando juntos."

"O chefe é muito mulherengo. Se eu fosse a doutora Mônica, cairia fora." Falou a secretária.

"Mas a doutora Mônica tem cara de que gosta desse tipo de homem. Quem shippa o papai com a mamãe que ficou triste." Jefferson colocou a mão na cintura e inclinou o quadril. 

"O povo que shippa isso é doido." A secretária rebateu.

"Eu shippava! Pena que a mamãe casou e acabou com o ship" Jefferson falou.

"Eu gostei dela ter casado porque aí ela teve um montão de filho e ficou pra lá. Melhor do que tá aqui acabando com a nossa sanidade."

"Isso é verdade!" Jefferson riu. "A mamãe é bravíssima!" 

"Ainda não tive a chance de trabalhar com Jessica. Só uma vez que tive que ir na casa dela, mas ela tava normal." Thiago falou. 

"Tem dias que ela até que tá agradável, mas é raro." Jefferson retrucou. 

"Quem vocês acham pior a Jessica ou o George? Eu acho o George maior antipático." Thiago perguntou aos dois. 

"A doutora." A secretária respondeu de imediato. 

"Os dois são péssimos, mas a mamãe é um pouco pior. O papai, também, fica menos estressado quando a mamãe tá aqui. Ela meio que neutraliza o estresse dele."

"Acho que sou o único daqui que simpatiza com a Jessica." Thiago concluiu. 

"Sim!" A secretária respondeu de forma enfática.

"É difícil trabalhar pra ela e gostar dela ao mesmo tempo. Mas reza a lenda que ela até que é decente em casa." Jefferson disse.

"Não acredito não. Lembra de quando aquele marido dela veio aqui p*** da vida?" A secretária recordou.

"Como não lembrar de um acontecimento desse?" Jefferson riu.

"Não acho a Jessica tão ruim assim." Thiago tirou a caixa com as resmas de cima da mesa.

"Você diz isso agora. Espera pra ver." A secretária retrucou.

Thiago deu de ombros. "Vou indo lá abastecer as impressoras."

No final do expediente, Thiago ligou para sua namorada,

"Tô saindo do estágio agora. Quer sair pra comer alguma coisa?"

"Adoraria, mas é que vou tá ocupada." Shailene respondeu.

"Ocupada com o quê?"

"A mãe do Ansel me ligou. Disse que não sabe o que tá acontecendo com ele. Que ele tá diferente. Triste."

"E você pretende fazer o quê?" Thiago perguntou impaciente.

"Eu falei com a Cheryl e a gente vai assistir um filme na casa dele. Pra dar uma animada, sabe?"

"Eu sei que você sempre foi amiga do Ansel, mas não acho bom você continuar frequentando a casa dele. Ele tá mais pra culpado do que inocente."

"Ele não fez, tá?"

"Você não sabe disso."

"Sei sim."

"Não, não sabe."

"Tudo bem. Não quero mais discutir sobre isso pela milésima vez. A gente se vê amanhã."

"Tá bom. Se cuida."

"Você também."

Shailene desligou e Thiago foi para casa fazer a lição de casa. 

domingo, 10 de abril de 2022

Pare, pense e fique quieto

Se ele tivesse refletido só um pouquinho...


“Asaaaaaaa, feliz aniversário!”, disse Eric animado ao ver o amigo. 

“Valeu!”, respondeu o filho de Andrew timidamente.

“Quanto tempo sem vir pra escola. Tava ficando preocupado.”

“Desculpa não ter te ligado pra contar nada. Esses dias foram uma loucura!”

“Mas não vamos pensar nisso hoje. Hoje é o seu aniversário, dia da gente só falar de coisa boa, ou seja, da Nicola!”, Eric riu alto com a piada que fez.


“Nossa, eu tenho que falar com a Nic. Eu sumi.”, falou preocupado, ignorando a piada sem graça de Eric.

“Depois, amigo, depois! Até porque eu tenho que te dar o se...”

“Mãe piranha", disse uma voz imitando a de um papagaio.

Asa e Eric viram Adam rindo ao lado de Bob enquanto passavam.


“Não dá ouvido a eles... Asa! Não!”

O sangue de Asa estava fervendo. Ele deveria ter pensado que era uma ideia estúpida e que sua atitude, na verdade, chamaria mais atenção para o que estava acontecendo com sua família no momento; deveria ter pensado que há pouquíssimo tempo sua irmã havia sido suspensa por violência; deveria ter pensado que isso traria mais problemas para a sua mãe e que serviria de mau exemplo para a irmã; deveria ter pensado que era o dia de seu aniversário; deveria ter pensado que estavam dentro da escola; e por último, mas não menos importante, deveria ter pensado que ele era fraco, ao contrário de Adam.

O soco de Asa não fez tanto estrago em Adam, apesar de ter tirado um pouco de sangue de nariz do garoto, algo que Asa constatou com orgulho, mas o soco que recebeu de volta diretamente concentrado no seu olho doeu. Ah se doeu.

Começou uma algazarra. Gritos de “briga, briga, briga". Quando viu, estava sentado na sala da diretora ouvindo um sermão. Expulso por 3 dias. Um dia a mais do que Crystall. Eles se tornaram os irmãos complicados.

Se ele tivesse refletido só um pouquinho...

sábado, 9 de abril de 2022

Noite difícil

A noite estava o caos. Jessica tinha acabado de dar o remédio ao Levi e agora tentava fazê-lo parar de chorar. Emma colocou o fone de ouvido para abafar o som e voltou aos seus cálculos de química. 

Mel estava no chão com uma borracha na boca.

"Mel, tira isso da boca!" Jessica gritou com a menina e abaixou com o Levi no colo para tirar a borracha da boca da filha. "Zendaya e Emma!" Jessica gritou entre os berros de Levi e o choro de Mel. 

Andrew entrou na sala com o Theo no colo e a camisa molhada. 

"O que tá acontecendo?" 

"A Emma ou a Zendaya deixou essa borracha no chão e a Mel tava com ela na boca." A ruiva falou estressada. 

"Deve ter caído sem elas verem." Andrew retrucou. 

"Mas isso não pode acontecer! Elas tem que ter cuidado com essas coisas porque tudo a Mel tá colocando na boca." Jessica respondeu enquanto embalava Levi pra ele parar de chorar. "Zendaya e Emma!" Ela gritou mais uma vez. 

"O quê?" Zendaya falou, chegando na sala. 

"Essa borracha é sua?" Jessica estendeu a borracha que ainda estava na sua mão. 

"Não, por quê?" 

"A Mel tava com ela na boca. Imagina se ela fosse menor e a Mel tivesse engolido?"

Zendaya preferiu não falar nada pra não prejudicar a Emma. 

"Emma!" Jessica se aproximou da menina que estava sentada na mesa e tirou o fone da cabeça dela. "Você fica com esse fone no ouvido e não escuta nada!" 

"Claro! Como você quer que eu estude com esse barulho todo?" 

"Essa borracha é sua?" Jessica colocou a borracha na mesa. 

"É, por quê?" 

"Sabia que a sua irmã tava com ela na boca? Quantas vezes eu já falei pra ter cuidado com essas coisas? Que se deixar elas no chão a Mel vai pegar e colocar na boca. Quantas vezes?" 

"Eu não vi cair." Emma se defendeu. 

"Não, Emma. Não existe essa resposta que você não viu cair. Você tem que ver cair porque você tem uma irmã mais nova que pode pegar essas coisas e se engasgar com elas."

"Desculpa."

"Infelizmente, Emma, dessa vez desculpa não resolve. Você tá de castigo."

"O quê?" Emma falou indignada. 

"Você ouviu. De castigo."

"Que injusto!" Emma fechou o caderno vom força e se levantou da mesa com raiva. Quando ela foi sair, Jessica segurou seu braço. 

"Antes de sair, recolhe as suas coisas e vê se não deixou nada pelo chão."

Emma puxou o braço de volta e começou a guardar as coisas em silêncio. 

Jessica pensou em falar mais alguma coisa, mas achou melhor fazer Levi parar de chorar primeiro. 

Mais tarde naquela noite, Jessica e Andrew colocaram os bebês para dormir e saíram do quarto deles tentando não fazer barulho.

"Você parece muito cansada. Quer que eu faça uma massagem?" Andrew ofereceu quando chegaram no quarto. Ele segurou sua cintura e beijou seus lábios. 

"Primeiro eu pareço inchada e agora cansada. Tem certeza que você ainda me acha atraente?" Jessica brincou colocando os braços em volta do pescoço do professor. 

"Deixa eu ver..." Ele passou o nariz pelo rosto da ruiva, sentindo sua essência e depois colou a boca no seu ouvido. "Sim, muito." 

Jessica abriu os olhos, que tinham se fechado com as ações do marido, se sentindo, de repente, ultra sensível. 

"Acho melhor eu recusar a massagem, pra evitar que outras coisas aconteçam."

"Minha massagem vai ser extremamente profissional."

"Eu sei que sim. Mas é que também você tá com essa cara de safado e eu não vou conseguir resistir."

"Cara de safado?" 

"Isso mesmo." Jessica deu um selinho no marido e saiu dos seus braços. "Vou no quarto das meninas desejar boa noite."

 Primeiro ela foi para o quarto da Zendaya

"Já tá indo dormir?" Jessica perguntou ao entrar no quarto. 

"Já. Melhor aproveitar os momentos de silêncio." Zendaya brincou. 

"É melhor mesmo." Jessica riu. Ela sentou perto da menina e tocou seu rosto. "Fico preocupada de você tá se sentindo negligenciada. Eu sei que muita da minha atenção e a do seu pai vai para os seus irmãos."

"Não, Jessica. Não me sinto assim."

"Que bom. Mas você fala pra mim caso comece a se sentir assim? Eu não quero ser como aqueles pais que só dão atenção aos filhos mais novos e negligenciam os mais velhos. Não que eu seja sua mãe, mas você sabe... Eu tenho um carinho muito grande por você." Jessica colocou o cabelo da menina atrás da orelha. "Eu não sei se você acredita quando eu falo isso, mas eu realmente acho que você foi um presente para as nossas vidas."

"Vocês também na minha."

Jessica sorriu. "Fico feliz em ouvir isso. Agora, boa noite!" Ela abaixou e deu um beijo na testa de Zendaya. 

Ao sair do quarto da filha do Andrew, foi para o quarto de Emma. Ela bateu na porta e entrou, em seguida. 

Emma estava com a cabeça deitada na mesa, olhando para Paquisto. 

"Não vai dormir?" Jessica massageou as costas da menina com uma mão. 

"Depois." Emma respondeu ainda olhando para Paquito. 

"Em, desculpa ter gritado com você por causa da borracha. Eu sei que foi um acidente. Você não tá de castigo."

Emma permaneceu quieta. 

"É que eu tenho tanto medo de acontecer alguma coisa com um de vocês enquanto eu não tô olhando. Eu acabei descontando em você uma insegurança que é minha. Me perdoa?"

"Eu realmente não vi a borracha cair." Emma levantou a cabeça da mesa e se virou para a dinda. 

"Eu sei, meu amor."

"Vou ficar mais atenta a partir de agora."

"Eu agradeço. E o que você e o Paquito acham de dormir agora? Já tá tarde e temos que aproveitar o momento raro de silêncio."

"Tá bom." Emma concordou. 

"Vai escovar os dentes que eu vou tá te esperando aqui pra gente orar." Jessica se sentou na cama da Emma para esperar a menina enquanto ela foi para o banheiro escovar os dentes.

O dia que tinha começado difícil terminou de forma bem agradável.