sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

She's got a boyfriend anyway

Carlisle estava no Centro para o "VI Encontro dos Ginecologistas do Rio de Janeiro". Terminado o evento, o professor se dirigiu até a Confeitaria Colombo com a finalidade de comprar madrilenhos para a família. Enquanto esperava a atendente trazer seu pedido, seus instintos lhe disseram que havia alguém atrás dele sorrateiramente pronto para atacar. Sentindo que não era uma ameaça grave, continuou com a mesma postura de espera. De repente, sentiu duas mãos tapando seu rosto e sorriu. Só do cheiro do perfume Coco Mademoiselle, ele sabia de quem se tratava.
- Giovanna! - Constatou Carlisle.
- Como você sabe? - Perguntou ela surpresa, tirando as mãos dos olhos do médico.
- Pelo cheiro. - O professor se virou até ela ainda com um sorriso no rosto - Você continua usando o mesmo perfume.
- É verdade, mas mesmo assim, continua sendo impressionante.
- Tudo bem? - Perguntou Carlisle a abraçando e dando um beijo em seu rosto.
- Tudo e você? - Falou Giovanna ainda dentro do abraço.
- To bem também. - Respondeu o teacher desfazendo o abraço.
- E o que você ta fazendo aqui?
- Teve um encontro de ginecologistas aqui no Centro, aí eu aproveitei pra comprar madrilenho pro pessoal lá de casa. Nem sei se eles gostam disso, na verdade, mas me disseram que é bom.
- É bom mesmo!
- E você?
- Aqui estão seus madrilenhos. - Interrompeu a atendente.
- Obrigado! - Agradeceu Carlisle apanhando o pacote.
- Hoje também teve uma conferência para os cirurgiões do Rio.
- Aqui também?
- Não, não. Foi no Centro de Convenções Sulamerica, mas eu aproveitei pra passar aqui e tomar o chá das 17 horas daqui que é maravilhoso. Me acompanha?
- Claro!
- Ainda ta de dieta?
- Eu fui uma criança muito gorda, mas não, eu não to de dieta. Na verdade, nunca estive. Eu chamo de reeducação alimentar.
Giovanna revirou os olhos e sorriu. Os dois foram até a mesa e começaram a conversar. Durante o papo, a mãe de Zac disse, após bebericar seu chocolate quente:
- Eu soube que você se divorciou.
- Ah sim! É verdade! Eu me divorciei.
- Foi difícil?
- Sempre é, mas a gente conseguiu superar bem.
- Que ótimo!
- Mas e você? Você ainda ta com o...
- Não!
Comprensão dos lábios, afastamento do interlocutor, tom de voz mais agudo: mentira!
- Ah, que pena! - Disse Carlisle fingindo comoção.
- É! - Giovanna olhou para baixo e depois olhou de volta para Carlisle - Acontece que ele me pediu em casamento e eu não quis, porque eu não quero outro homem dentro de casa, não para isso, sabe? E tem o Zac também e eu não queria isso pra ele. Aí a gente até continuou, mas depois percebemos que não estava mais dando certo.
Carlisle estava desconfiado. Durante a história, ela não tinha exibido nenhum sinal de mentira, a não ser no começo quando ela olhou pra baixo. Parecia que havia algum fundo de verdade naquilo. Provavelmente os dois terminaram, mas ainda tinham recaídas.
- Caramba, Giovanna, que montanha-russa.
- Pois é!
- Faz muito tempo isso?
- Mais ou menos.
- E você ta triste? Quer dizer, vocês ficaram muito tempo juntos.
- Pra falar a verdade não! - Respondeu Giovanna sinceramente - Acho que eu nunca gostei muuuuito dele. - Percebendo que podia ter soado errado o que disse, a médica prontamente se corrigiu - Assim, não me leve a mal, ele era legal e eu gostava dele, mas sabe quando falta o clique?
Carlisle assentiu com a cabeça e falou meio pensativo:
- Sei!
***
Os dois conversaram bastante, relembraram do tempo em que trabalharam juntos, contaram histórias engraçadas sobre os filhos, até que saíram do estabelecimento para retornarem às suas casas. Carlisle ofereceu carona para Giovanna, que estava sem carro e havia se locomovido até então de Uber. Ao chegarem na porta da casa dela, o Cullen falou:
- Prontinho!
- Obrigada pela carona. Foi bom te ver, Carlisle!
- Também gostei muito de te ver.
Os dois se olharam. Giovanna lambeu discretamente os lábios. Ela queria beijá-lo e o professor sabia disso! Ela, então, se aproximou e deu um abraço em Carlisle. Por fim, se dirigiu à porta, mas antes de abrir, ele a chamou:
- Giovanna?
Ela se virou para ele. O psicólogo tirou o cinto de segurança e a beijou. Depois de um curto tempo, ele interrompeu o beijo e perguntou:
- Você quer ir pra outro lugar?
- Quero! - Respondeu a médica animada, mordendo rapidamente e discretamente os lábios.
***
23h22min Giovanna chegou em casa. Zac estava no sofá vendo tv. Quando viu sua mãe, perguntou:
- Foi bom o treco lá dos cirurgiões?
- Foi! Foi bom sim! - Respondeu ela com um grande sorriso no rosto.
A cirurgiã então se dirigiu para as escadas para trocar de roupa, quando o filho gritou:
- Ah, o Johnny tava aqui, mas como você demorou, ele acabou indo embora.
Gio arregalou os olhos e gritou:
-Ok!
Mas em seguida sussurrou:
- M**da!

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

I'm going back to the start



Ryan Gosling e Rachel McAdams estavam sentados em silêncio no sótão da casa de Matt Murdock, depois de terem sidos trancados lá por Jessica Jones. Acontece que os quatro faziam parte do mesmo grupo do projeto de ciências, mas por causa da divergência dos dois primeiros em relação ao rumo do trabalho, a brigona da atual 6ª série decidiu prendê-los em um lugar que não pudessem mais irritá-la.
Depois de algum tempo sem que nenhum som saísse da boca de ambos, Ryan, entediado, começou a assoviar a música folclórica “Fui ao Tororó”. Rachel, ao ouvir aquele barulho irritante, revirou os olhos e perguntou aborrecida: 
“Dá pra parar?”
“O quê?” Ryan indagou, interrompendo seu assovio.
“Eu pedi pra você parar com isso!” Falou a garota bastante irritada.
“Ah ta.” O loiro fez uma curta pausa até continuar: “Não, obrigado!” E voltou a assoviar.
Rachel bufou, cruzou os braços enraivecida e afirmou:
"Você só ta fazendo isso pra me irritar!"
"Acontece que ao contrário do que você pensa, minha vida não gira em torno de você!" Retrucou o garoto.

"Ah é?" Questionou a garota debochadamente: "Pois não parece."
Ryan riu sem humor: "Bem que você queria..."
"Eu??? Querido, graças a você, eu to presa nesse sótão imundo..."
"Graças a mim???"
"(...) com uma pessoa tão imunda quanto, então tenha certeza que..."
"Sério mesmo??? Não foi você que ficou irritando..." 
"(...) se eu pudesse me livrar de você..."
"(...) todo mundo como uma pequena Hitler?"
"(...) já teria me livra... Pequena Hitler?" Rachel riu sem humor: "Você que é um preguiçoso, que quer fazer o trabalho igual essa sua cara de...  essa sua cara de um troço..." 
"Um troço?!"
"É, um troço ruim e..."
"E o quê?" Perguntou Ryan desafiadoramente.
"(...) E-e-e feio... E estranho...”
"Nossa, Rachel, você parece a minha avó xingando." Debochou Ryan.
"Se eu fosse a sua mãe, eu iria chorar todo dia 'Nossa, meu filho é ridículo e tão desagradável. O que eu fiz pra merecer isso?'"
"Pelo menos eu não sou um mimadinho que precisa comprar a amizade dos outros, porque ninguém seria meu amigo por escolha própria!"
"Eu não compro minhas amizades!" Falou Rachel energicamente, cheia de raiva.
"Não?! Então por que nenhuma das suas amigas te colocou no grupo delas?" Retrucou sonsamente o garoto.
"Porque eu faltei!"
"Essa foi a desculpinha que elas te contaram? Sério? E você acreditou?"
"Você é um maldito!" Gritou Rachel empurrando ele: "Um maldito!"
"E você é completamente mimada, completamente superficial, que acha que pode mandar em todo mundo como se fosse a rainha da Inglaterra, mas adivinha só, Rachel? Você NÃO É A RAINHA DA INGLATERRA! Na verdade, você não é ninguém!"
"Seu idiota!" A morena começou a bater em Ryan, que tentava impedi-la e se proteger ao mesmo tempo: "Você é um in-fe-liz" Pontuou a garota no mesmo compasso dos socos: "E eu espero que a sua vida seja tão miserável que te faça..."
O celular de Ryan começou a tocar. Rachel se deteve e se afastou do garoto que se recompôs e atendeu a ligação:
"Alô?"
"(...)"
"Fala, mãe!"
Rachel odiava Ryan. Não havia algo que ela odiasse mais que ele. Aquela carinha enganava todo mundo, menos ela.
"Eu to no Matt fazendo um trabalho da escola, por quê?"
Todo mundo achava ele bacana, mas ela sabia o quanto ele era falso. O fato do garoto ter falado sobre as amigas dela tinha sido um golpe e tanto, que ela nem conseguiu retrucar como queria. Normalmente ela era boa em colocar Ryan para baixo, mas aquele tópico drenou suas forças.
"Ei!" Ryan falou mais alto despertando Rachel de seus pensamentos: "Você sabe o endereço daqui?"
A então rainha negou com a cabeça ainda abalada com a discussão.
"Eu ainda não sei." Respondeu Ryan: "Mãe, o que foi? Aconteceu alguma coisa?" Perguntou preocupado.
Rachel, então, começou a prestar atenção na conversa do boy.
"Você ta chorando?"
O coração de Rachel começou a bater mais forte e ela começou a olhar preocupada para Ryan no telefone.
"Não, mãe, fala agora! O que houve?"
Um longo silêncio se fez naquele lugar sombrio. Rachel viu o rosto de Ryan ficar vermelho, sua mão começar a tremer e as lágrimas iniciarem a se depositar em seus olhos, enquanto sua mãe falava. Por fim, ele falou:
"Eu vou pr'aí agora então."
A ligação foi encerrada. Rachel observava com os olhos arregalados o esforço que o menino fazia para segurar as emoções.
"Ryan?" Perguntou Rachel se aproximando dele.
"Eu preciso ir embora." Falou o garoto preocupado e com a voz embargada.
"Ok, eu vou tirar você daqui." Respondeu Rachel com o olhar preocupado colocando a mão nas costas do loiro. Ele olhou para a garota e não conseguiu mais se segurar. A morena o abraçou fortemente, sem saber o que dizer.
"Não, não, não, não..." Repetia Ryan aos prantos.
Foi aí que Rachel se deu conta. Havia sim algo que ela odiava mais que o Ryan e essa coisa era ver o Ryan triste. Todos estavam acostumados com o garoto alegre, sarcástico e brincalhão. Ver esse outro lado dele triste e perdido fazia o coração dela doer.


Foi Rachel quem pegou o celular do boy e ligou para Matt pedindo para que ele soltasse os dois de lá. Foi ela também que acompanhou o menino até o hospital em que sua bisavó estava em coma, prestes a ter seus aparelhos desligados. Rachel ficaria até mais tempo lá para dar apoio ao garoto, mas preferiu sair e deixar a família viver o luto junta. Quando chegou em casa, ela se trancou no quarto e chorou.
No dia seguinte o telefone de sua casa tocou:
“Alô?” Atendeu Rachel.
“Rachel?”
Era Ryan.
“Oi, Ryan. Você ta bem?” Perguntou a menina visivelmente preocupada.
“Já estive melhor.” Riu o menino melancolicamente e sem humor. “Olha, eu liguei pra te agradecer pelo o que você fez por mim ontem.”
“Não foi nada, de verdade!” A morena falou sinceramente. 
“Eu também queria te pedir desculpas pelas coisas que eu te disse não só ontem, mas outras vezes... Eu peguei pesado com você e você não merece isso.”
“Eu também pego pesado com você, mais do que você pega comigo, na verdade. Desculpa por ter te batido e por ter dito ontem que...” Rachel engoliu em seco “Por ter desejado que sua vida fosse miserável... Eu não quis dizer aq...”
“Não precisa se justificar, Rachel. Eu sei!”
Os dois ficaram em silêncio. Os olhos da garota estavam marejados. Ela se sentia muito culpada e muito mal por Ryan. Ela percebeu pela dor dele no dia anterior que ele e sua bisa eram muito próximos.
“Ryan?”
“O quê?”
“Posso ir no enterro?”
“Po-pode.” Respondeu o gato surpreso.
Ryan ficou comovido. O pessoal da sua turma soube do ocorrido com sua bisavó e até ligaram oferecendo suas condolências, mas ninguém pediu para ir ao enterro, o que ele entendia, já que era um momento muito pesado, entretanto Rachel tinha o surpreendido durante todo o ocorrido, por ter feito coisas além do que se esperava. Ele percebeu que a julgara mal: ela não era superficial.
***
Na escola, Rachel deixou seu apontador cair. Ryan fez questão de sair de sua carteira para pegá-lo. Para os colegas de classe aquilo era uma coisa nova. Era uma bandeira branca que havia sido levantada, mas para Gosling e McAdams, a bandeira branca já tinha sido erguida no sótão empoeirado e escuro de Matt Murdock.

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ODE À MCGOSLING


Ryan esteve por Rachel durante o divórcio de seus pais e a mudança de casa. Ele a ajudou a empacotar e desempacotar seus objetos. E eram muitos. Os dois também tiveram sua primeira experiência sexual juntos. Viajaram para a fazenda da mãe de Rachel e passaram horas rindo, deitados na rede com suas mãos erguidas e entrelaçadas. O garoto contou suas ambições. Ela, seus medos. Também passaram por situações constrangedoras, como quando Ryan foi conhecer o pai da garota e levou o filme “Resgate Explosivo”, que teve não só uma, mas duas cenas de sexo. Os três assistiram congelados e sem graças a primeira cena. Na segunda, já sentindo a direção que estava indo, Rachel saiu da sala para “beber água” e Ryan ficou com o pai dela vendo aquilo. Os dois desconfortáveis vendo um ménage desnecessário para o roteiro. O pai da menina assistiu o filme inteiro de braços cruzados e o garoto ficou nervoso, mas no final conseguiu sua aprovação. Ele gostava dos carinhos dela. Ela, de seu cheiro e seu abraço. Ele se divertia quando ela reclamava de
alguma coisa, interrompendo-a diversas vezes para dar rápidos beijos, porque simplesmente não conseguia resistir. Ela ria e se esquecia do porquê estava estressada e reclamando. Quando se lembrava, aquilo não tinha mais a mesma força que antes. Eles brigavam intensamente e faziam amor com a mesma intensidade. Terminaram uma vez, mas menos de três meses depois voltaram com a mesma paixão. Tudo durou no total lindos três anos, dois meses e 17 dias. Após isso, Ryan nunca mais se envolveu firmemente com alguém. Só casos. Rachel também nunca mais teve um relacionamento sólido e forte. Na maior parte do tempo parece entediada com seus novos namorados. Acontece que quando experimentamos o verdadeiro amor, o que vem depois evidencia mais a ausência e a falta.