sábado, 13 de junho de 2020

Esperas e verdades

Vincent e Cheryl estavam sentados no degrau da porta da casa do Wendel esperando ele chegar em casa com as bebidas da festa.


"A Hailee vai tá lá?" Vincent pegou uma pedra do chão e tacou longe.

"Ela me disse que sim. Não tem como ele ficar evitando ela pra sempre."

"Foi o que eu disse. Mas ele ta com medo do Thomas ir também, que nem da outra vez. Tu viu o rolo que deu." Vincent pegou outra pedra e começou a riscar o chão da calçada de Wendel.

"O Niall vai ter que se acostumar de ver os dois juntos. É uma m***a? Claro. Mas fazer o quê. A Hailee preferiu o Thomas." Cheryl foi no bolso do short e puxou um maço de cigarro.

"Não." Vincent puxou o cigarro da mão da menina. "Já vai ter baseado na festa."

"E?"

"E eu não quero você misturando muito. Não deve fazer bem." Vincent jogou o cigarro da menina longe.

"P**a, Vincent! Esse era importado!" Cheryl reclamou.

"F**a-se." Vincent encerrou a discussão.

"Você se acha o meu dono." Cheryl disse com raiva. "Meu namorado não vai gostar disso."

"Seu namorado só quer te comer." Vincent jogou na cara da morena.

"Olha quem fala." Cheryl encostou as costas no muro ao lado.

"Eu nunca neguei isso. Mas pelo menos eu também me importo com você." Vincent voltou a riscar o chão.

Cheryl não respondeu. Ela virou a cabeça para o outro lado e ficou observando as crianças brincando a alguns metros dali.

Vincent se sentiu mal por ter sido tão duro com a menina. Porém, a situação que Cheryl se encontrava o deixava frustrado. Era óbvio que Tom não se importava com a modelo. Ele chegou a ter a cara de pau de pedir a Geordie que não usasse mais preservativo durante o sexo. O que mais ele precisava fazer para a Cheryl dar um pé na bunda dele?

Vincent desenhou um jogo da velha no chão, na tentativa de deixá-la mais para cima.

"Trégua?" Vincent ofereceu a pedra para a britânica.

"Se eu ganhar o que eu ganho?" Cheryl deu seu famoso sorriso adornado pelas covinhas.

"O jogo, sua lerda." Vincent brincou, feliz em ver o sorriso da Geordie de volta naquele rosto lindo.

"Seu m***a!" Cheryl pegou a pedra da mão de Vincent e fez um x no canto superior esquerdo do desenho.

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Capítulo 2: Giving me Chills

Andrew dirigiu Paulo e Jessica até a casa do deputado.

Jessica guiou seu pai até dentro da casa sob seus protestos. Paulo já estava bem, aquilo tudo tinha sido apenas um susto. Ele não queria ser tratado como um inválido, porém sua filha não aceitava um não como resposta. Enquanto estivesse ali, ela se certificaria que seu pai estava sendo bem cuidado e que seguiria todas as recomendações do médico.

Andrew estava se sentindo um peixe fora d'água naquela casa. Ele carregou as malas para dentro e ficou aguardando as instruções da ruiva do que fazer em seguida.
A advogada retornou do quarto do seu pai e foi até o namorado que estava em pé ao lado da porta.

"Ele tá tomando banho e depois disse que vai se deitar." Jessica informou.

"Que bom. Ele precisa descansar." Andrew ao dizer isso viu que ele mesmo também precisava de um descanso. Não tinha sido fácil encarar uma viagem do Rio até Brasília, ter seu voo atrasado, passar horas num hospital e agora estar numa casa na qual não se sentia à vontade.



Parecia que a ruiva tinha lido seus pensamentos, pois ela estava olhando-o como se fosse o Andrew que tivesse tido um infarto mais cedo.

"Eu vou mostrar onde você vai dormir." Jessica segurou a mão do professor e o guiou até um dos quartos de hóspedes. A advogada abriu a porta e acendeu a luz do cômodo. O quarto tinha uma grande cama de casal, um armário em mogno, uma cômoda com um abajur em cima e uma suíte.

"Meu pai disse que as roupas de cama tão no armário." Jessica foi até o grande armário, o abriu e escaneou seu interior a procura das roupas de cama. Ao localizar, a ruiva tirou lençol, travesseiro e fronha de lá de dentro e colocou em cima da cama.

"Prontinho." A ruiva colocou a mão em cima da pilha de lençóis.

"Obrigado."

"Você acha que vai conseguir dormir bem aqui?" A advogada se sentia um pouco mal de tê-lo feito abdicar o conforto do hotel para ficar com ela.

"Vou." Andrew mentiu. Se bem que ele tava tão cansado que era capaz de apagar naquela cama. "Tudo bem se eu tomar um banho agora?"

"Claro."

Andrew deu um beijo na testa da namorada e foi para a sala pegar a mala com as suas coisas.

Jessica deixou o quarto onde seu namorado ia passar a noite e foi para o quarto do pai. Ela abriu a porta com cuidado e encontrou Paulo dormindo com a luz acesa. Ela foi até onde seu pai estava deitado, se inclinou com cuidado e deu um beijo em sua cabeça.

"Durma bem." A ruiva sussurrou e depois apagou a luz e saiu do quarto.

Jessica estava exausta. Ela sentou no sofá da sala e ficou pensando sobre tudo que havia acontecido. Sua cabeça latejava e ela precisava urgentemente de um Tylenol. A advogada então foi para a cozinha procurar a primeira coisa que faria parar com aquela dor insuportável.

Fuçando os armários e as gavetas da cozinha, ela encontrou uma garrafa de rum. Jessica não era muito de beber, salvo socialmente ou momentos de exceções, e aquele parecia ser um deles. A ruiva abriu a garrafa com as mãos trêmulas, serviu uma dose e virou tudo de uma vez.
Ela passou as costas da mão sobre a boca e fechou os olhos.

A quase perda do pai e estar na casa dele, ressuscitou diversos fantasmas que ela tentara desesperadamente enterrar. Se ela quisesse dormir ela ia precisar de mais uma dose, então ela se serviu de outra. Depois ela guardou a prova do crime dentro do armário e foi se preparar para dormir. No caminho, ela esbarrou com Andrew.

"Eu tava te procurando pra te dar um beijo de boa noite. Eu já tô indo dormir." Andrew disse já com a sua roupa de dormir, e foi quando a ruiva percebeu que era a primeira vez que o via assim.

"Ah, ok." Jessica se aproximou e deu um beijo na sua bochecha. Ela não queria que o professor percebesse que ela tinha bebido. Não que ele fosse condená-la por isso, mas talvez ficasse preocupado. Ou será que o Bradley que ficaria? Ela não sabia dizer naquele momento, ela estava muito confusa.



"Boa noite." A ruiva deu um pequeno sorriso e seguiu em direção ao seu quarto.

Andrew olhou a ruiva sair com uma expressão confusa.

O rum não fora uma boa ideia, agora ela se sentia pesada e tonta. Ela conseguia escutar sua mãe chamando-a de burra e de inconsequente. Por que sua mãe tinha que gritar tão alto? A advogada se jogou na cama e colocou um travesseiro em cima da cabeça para abafar as vozes.

Ela acabou pegando no sono e dormiu sem fazer a cama, sem tirar a maquiagem e com a roupa da rua.

Sete horas da manhã e o professor já estava acordado. Ele não sabia se ficava no quarto fazendo hora até alguém acordar, ou se levantava logo de uma vez. Esse era outro porquê de ele odiar dormir na casa dos outros. Depois do que parecia uma vida naquela cama ainda eram oito horas. Andrew então ouviu um barulho vindo da cozinha. Será que Jessica já estava de pé? Era bem a cara dela acordar antes de todo o mundo para preparar o café. Andrew então se levantou e foi até o banheiro escovar os dentes e lavar o rosto. Em seguida, foi até a cozinha.



"Bom dia!" Disse, o deputado cheio de energia. Se o professor não soubesse, nem imaginaria que ele esteve internado no dia anterior.

"Bom dia." Respondeu, Andrew sem graça.

"Acordou numa boa hora, eu to fazendo um cafézinho. Senta aí." Paulo apontou para um dos bancos que ficavam em frente a uma grande bancada.

"O senhor quer ajuda?" Andrew não queria ficar só assistindo ao sogro fazer café.

"Você pode despejar esses grãos na cafeteira." Paulo entregou um pacote cheio de grãos de café para o genro.

De repente Andrew se arrependeu de ter oferecido ajuda. Ele não sabia qual quantidade colocar na cafeteira e o que deveria fazer depois. E que cafeteira era aquela? Parecia pertencer a uma grande cozinha comercial.

"O senhor quer que eu coloque quanto de café?" Andrew perguntou perdido.

"A quantidade é de dois pra um. Você pode usar esse medidor." Paulo entregou um copinho que deveria medir a quantidade de café.

"Você sabia que esses cafés que vendem no mercado não são café de verdade? Aquilo é um ultraje pra quem realmente aprecia a experiência de um bom café."

"Sério?" Andrew fingiu interesse.

"O correto é moer na hora, porque não corre o risco do café oxidar. Cafés oxidam muito rápido e acabam perdendo o sabor. Por exemplo, esse que você ta fazendo é o café da Montanha Azul, da Jamaica. Ele é considerado o quinto melhor do mundo. Agora tenta comprar ele moído. Você perde sabor, aroma, acidez e todas as características singulares do café. Eu nem gosto mais de beber café na rua, porque eu fiquei realmente chato com esse negócio de qualidade."

Enquanto Paulo tagarelava, Andrew decidia o que seria dois para um. Ele queria perguntar, mas ficou com medo do sogro achá-lo mais estúpido do que ele provavelmente já estava achando. No fim, o professor decidiu que deviam ser duas medidas daquela para cada xícara de café. Só faltava ele colocar de menos e o deputado falar que o café estava aguado, ou colocar demais e ser culpado de oxidar o café do sogro.

"O senhor dormiu bem?" Andrew puxou assunto depois de ter apertado o botão verde da máquina.

"Dormi como não dormia há anos! Eu não sei o que eles me deram no hospital, mas fez efeito." Paulo deu uma risada.

"Que bom. É importante que o senhor tenha boas noites de sono."

"Com certeza. Outra coisa que me ajudou foi saber que a minha filha tá em casa. Eu fiquei muito feliz dela ter vindo me ver. Saber que ela ainda se importa com o velho dela." Paulo pegou duas xícaras de porcelana e entregou ao genro.

"Ela te ama."

Jessica nunca tinha dito isso a ele, mas depois de ver como ela ficou ao saber do infarto do pai, era seguro dizer que sua namorada amava o pai.

"Minha Jessica tem um grande coração. Pena que... uma desgraça!" Paulo sentou na cadeira e colocou o queixo sobre as mãos entrelaçadas.

"O que é uma desgraça?" O professor perguntou curioso.

"Nada não. E como foi essa história de vocês serem padrinhos do filho do Bradley e depois se apaixonarem?"

Andrew levou as xícaras até a mesa onde Paulo estava e sentou de frente à ele.

"Não é como se estivesse nos nossos planos..."

"Muito menos no do Bradley." Paulo riu.

"Sim." Andrew disse irritado. "Mas as coisas são como são." O professor não ligou em elaborar mais sua resposta.

"As coisas são como são..." O deputado repetiu debochadamente e tomou um gole do seu café. "E você tem algum plano com a minha filha? Ou só está deixando as coisas serem como são?"

"A gente começou não tem muito tempo." Andrew tentou lembrar da última vez que foi interrogado pelo pai de alguma namorada. Ele achava que naquela idade, não passaria mais por isso.

"Veja bem, a minha filha não é qualquer uma que você acha aí em qualquer esquina. Ela é uma mulher de família e acima de tudo, uma mulher de religião."

"Claro."

"E você se converteria para a nossa religião para ficar com ela?"

"Eu já tenho religião, senhor. Mas faria algumas concessões por ela, desde que não ferisse o que eu acredito." Andrew achou que essa seria uma boa resposta, apesar de ter achado a pergunta sugestiva um pouco abusada

"Entendo... Você sendo um padrinho da nossa comunidade cristã, sabe os sacrifícios que a minha religião exige de um fiel. Jessica é uma pessoa que é submetida a esses dogmas. Eu não quero que você seja uma influência negativa pra ela."

"Eu não serei." Andrew achou que foi sincero aí, afinal, Jessica já era bem grandinha para ser influenciada por alguém.

"Você pensa em se casar de novo? Pelo que eu me lembro, você é um divorciado com um filho."

"Um divorciado", pensou Andrew se sentindo um lixo. "Mas que velho grosso, filho da p*ta!", xingou o inglês mentalmente. "Claro, por que não?", respondeu o professor lacônico dessa vez.

"Você não me parece muito animado com a ideia. O homem e a mulher foram feitos para se unirem e constituírem uma família. Se as suas pretensões num relacionamento não forem a de formar uma família, não tem nem porque começar um relacionamento pra início de conversa. Você sabe o porquê do mundo tá assim tão violento e com as pessoas cada vez mais perdidas, sem rumo e sem esperança? É porque as pessoas não temem a Deus! Deus deixou tudo por escrito o que devemos ou não fazer. E pra ser feliz é fácil! É só seguir o que tá escrito. Mas o homem teima em fazer as coisas da própria cabeça. Teima em buscar os prazeres momentâneos da Terra e esquece que temos que prestar contas disso um dia. E daí vem a infelicidade." Paulo deu batidinhas com a lateral da mão na mesa para enfatizar o que estava dizendo.

"Entendo." retrucou Andrew, achando a cena que Paulo acabara de dar meio patética.

"E sobre filhos, você gostaria de outros além do que você já tem?"

Andrew olhou Paulo com mais compaixão. Sentiu a preocupação de um pai por uma filha. Provavelmente, ele não gostava do sofrimento passado por Jessica para gerar uma criança. O inglês também não. Finalmente, um ponto em que concordavam. "Eu não teria problema em ter outros filhos, mas certamente não faço questão. Meu filho já me completa!"

"Bom saber disso." Paulo respondeu pensativo.

Andrew quis quebrar o silêncio, mas não soube exatamente o que falar.

"Você conhece a Emma?" Paulo disparou de repente.

"A afilhada da Jessica? Conheço, por quê?" Andrew perguntou surpreso.

"Faz tempo que eu não a vejo. Uma menina inteligente e adorável. Queria que ela tivesse vindo junto com vocês."

"Ela ficou com o Bradley, mas da próxima vez a Jessica traz ela. Ou o senhor mesmo pode ir vê-la, quando melhorar, é claro." Andrew sugeriu.

"Sim, antes disso tudo acontecer, eu tava planejando uma viagem pro Rio pra ver as duas."

"Aposto que elas iriam adorar." O professor disse por educação.

"É, vou ver se arranjo essa viagem o mais rápido possível. Se a Montanha não vai a Maomé, Maomé vai até a montanha." Paulo deu uma risada e levantou da mesa.



Paulo deixou a cozinha e foi ler jornal na sala, não deixando a Andrew muita escolha a não ser segui-lo. O professor sentou no sofá e Paulo ofereceu uma parte de seu jornal.
O deputado sempre começava pequenas conversas sobre as notícias que lia no jornal. Quando o assunto foi política, o segundo assunto preferido de Paulo depois de religião, o tópico rendeu uma bela discussão. Paulo gostou de debater com alguém que tinha fortes argumentos sobre outro ponto de vista. Isso o ajudava muito em seu trabalho, já que uma boa parte da sua profissão exigia que ele conseguisse ter resposta para tudo.

Nove e meia da manhã, Jessica acordou se sentindo um zumbi. Sua cabeça doía e seu estômago estava revirado. De repente, a ruiva sentiu uma grande ânsia e foi correndo para o banheiro colocar tudo para fora. Ela ficou alguns minutos pendurada no vaso, depois deu descarga e foi para a pia escovar os dentes. Sua aparência estava péssima, ela precisava urgentemente de um banho e de uma boa penteada no cabelo. Jessica, então, se livrou daquelas roupas do dia anterior e foi tomar um banho.

Depois de estar visualmente melhor, a ruiva foi até sua bolsa de remédios e procurou um que serviria para a cabeça. Ela não tinha nenhum medicamento especificamente para esse fim, porém o butofetilan costumava fazê-la se sentir bem de um modo geral. Jessica ingeriu um dele e voltou a deitar.

.

A ruiva foi para a sala e ouviu seu pai e seu namorado discutindo sobre política. Eles estavam lá há quanto tempo? Seu pai tinha o dom em transformar tudo em política. Coitado do Andrew...

"Já vi que você está melhor." Jessica deu um beijo no seu pai.

"De fato estou bem melhor, filha." Paulo fechou o jornal. "Vou colocar o café da manhã pra gente." Paulo se levantou.

"Deixa que eu coloco." Jessica se ofereceu.

"Eu ainda não sou um inválido, Jessica." Paulo a repreendeu.

"Eu não disse isso."

"Então deixa eu fazer um agrado pra minha filha, posso?" Paulo fitou-a com os olhos amorosos.

"Claro."

Paulo se virou para Andrew. "Com essa aqui você tem que implorar pra poder fazer as coisas."

"Já deu, pai." Jessica disse ficando envergonhada.

Ele deu uma risada e foi à cozinha.

Jessica sentou ao lado de Andrew e encostou o queixo no seu ombro.

"Bom dia." Ela abriu um sorriso e beijou sua mandíbula.

"Bom dia." Andrew sorriu de volta.

"Dormiu bem?"

"Até que sim." Andrew acordou várias vezes durante a noite, mas achou melhor não mencionar isso. "E você?"

"Eu apaguei!" Ela realmente tinha apagado de noite, apesar de ter acordado uma droga naquele dia.

"Eu vi. Me deixou sozinho com um deputado obcecado com o seu partido." Andrew brincou.

"Desculpa! Assim que ouvi a conversa de vocês, eu vim correndo te socorrer." Ela deu um beijo no pescoço do professor e levantou o rosto que ainda estava apoiado nele.

"Tudo bem, eu te perdoo." Andrew colocou a mão atrás da cabeça da advogada, e a mesma fechou os olhos e se aproximou do rosto dele.

"Ta na mesa!" Paulo gritou da cozinha.

Jessica se afastou abruptamente.

"Deus!" Era ridículo como a voz de seu pai ainda a assustava.

"Tava fazendo coisa errada né." Andrew brincou, ganhando uma delicosa gargalhada da ruiva.

"Essa foi boa!" Jessica estava um pouco sem graça por ter mostrado ao namorado o quanto seu pai ainda a afetava e que ainda agia como uma adolescente na frente dele.

"Vamos?" A advogada se levantou.

"Vamos."

Os três sentaram à mesa. Nela tinha de tudo: leite, café, suco, pães, frios e até bolo. Andrew não queria admitir, mas estava morrendo de fome. Eles mal tinham comido no dia anterior e Jessica demorara para acordar naquela manhã.

"Hoje a noite, a Maria Alice vai vir jantar com a gente." Paulo avisou.

"Aquela mulher que você tem visto?" Jessica falou enojada.

"Minha namorada." Paulo a corrigiu.

"Tanto faz." Jessica disse áspera.

"Tanto faz não! Do jeito que você falou antes dá impressão que ela é qualquer uma e ela não é."

"Ela segue a religião?", pensou Andrew, imitando mentalmente o tom de Paulo.

"Tanto faz." Jessica pegou o suco, que era a única opção vegana da mesa, e tomou um gole.

"Eu espero que você trate ela bem." Paulo advertiu.

A ruiva não respondeu.

Sua filha era muito teimosa. Ela não costumava ser assim, mas acabou mudando muito depois de ter se juntado ao Bradley. Paulo gostava de culpar Bradley pelas coisas que deram errado relativo à sua filha. Era mais fácil do que admitir que tinha falhado em sua criação. Ele jurou que faria diferente com Jessica do que tinha feito com Emily, mas acabou que a segunda filha era tão revoltada e rebelde quanto a primeira. Pelo menos, essa ainda estava viva.

Andrew percebeu o clima pesado da mesa. Seu instinto natural era fazer uma piada para expulsar o elefante branco do ambiente, mas dessa vez, ponderou que era melhor ficar quieto.

"Como vai a Emminha?" Paulo perguntou depois de alguns minutos de silêncio.



"Bem." Jessica respondeu seca.

"Você se importaria de elaborar mais um pouco?" Paulo debochou. "Como vai a sua saúde, seus estudos, se ela tá dando trabalho... A idade que ela tá é traiçoeira, você tem que prestar bastante atenção nela."

Jessica sabia ao que ele estava se referindo. Ela mesma pensava bastante nisso. Por isso tinha medo de ser severa demais com a menina.

"Os exames dela estão em dia e a médica disse que está tudo dentro dos padrões. Quesito estudos, você já sabe, a Emminha adora um livro, então as notas são sempre excelentes. Ela tem um namorado que eu e o Bradley não gostamos muito, mas não podemos forçar ela a terminar. Fora isso, ela continua amável e doce como sempre."

"Humm. E o que ela acha de vocês dois juntos?"

Andrew tentou parecer indiferente àquela conversa.

"Ela tá um pouco enciumada agora, mas logo passa."

"Então ela não gostou de vocês dois juntos... Já conversou com ela sobre isso?" Paulo perguntou preocupado. Era o dever dele defender os interesses da Emma. Esse era o mínimo que ele podia fazer pela menina.

"Eu tentei, mas ela sempre inventa alguma desculpa pra fugir da conversa. Diz que vai sair, que tem que estudar, que vai dormir. Eu acho que ela pensa que vai ter que me dividir com ele. Quando ela perceber que isso não aconteceu, vai acabar ficando mais receptiva. A Emma, na verdade, sempre adorou o Andrew, é só uma questão dela se acostumar com a ideia. Não é, Andrew?"

Droga! Por que ele teve que ser incluído no assunto?

"É." Andrew respondeu nervoso.

"Falei pro Andrew que esse ano ainda viajo pro Rio pra ver minha neta. Eu to morrendo de saudades daquela pimentinha." Paulo falou saudoso.

"Em falar nela, vou ligar pro Bradley pra ver se tá tudo bem com as crianças." Jessica se levantou e se retirou da mesa.

"Você não fica sentido da Jessica tomando conta do filho do Bradley?" Paulo perguntou instigado.

"Não, eu também amo o Brian." Andrew respondeu como se não fosse nada demais.

"O mundo de hoje tá muito mudado." Paulo observou e Andrew assentiu.



Depois do almoço, Paulo foi tirar um pequeno cochilo em seu quarto.
Jessica lavou a louça junto com Andrew e depois os dois foram descansar no sofá da sala.

"Olha quantos discos meu pai ainda tem!" A ruiva levantou e foi até o móvel da sala cheio de discos. Ela pegou uma pilha deles e os levou para a pequena mesa de centro.

"Chico Buarque, Geraldo Vandré, Raul Seixas, Caetano Veloso, Tom Jobim, Elis Regina, Gonzaguinha..." Jessica foi enumerando enquanto passava de um disco para outro. "Meu pai era muito fã dos músicos da ditadura."

"Sério? Eu li sobre esse período. Dividiu muitas opiniões." Andrew comentou interessado pelo assunto. "Você chegou a pegar essa época?" O professor sentou no chão do lado da ruiva.

"Não muito... Eu nasci no final do governo do Figueiredo, que foi o último general presidente do Brasil. Depois disso tiveram as Diretas Já e elegeram o Tancredo Neves como presidente. Mas eu vivi muitas das consequências da ditadura na minha infância." Jessica explicou.

"E seu pai era contra a ditadura?" Andrew virou o disco da Maria Bethânia e analisou a contracapa.

"Não! Era super a favor! Agora que ele virou político, vai negar até a morte, mas era. Só que no quesito cultural, ele amava as músicas anti-ditadura, como você pode bem ver." A ruiva riu.

"E você, também gosta?"

"Gosto. Comecei a dar mais valor na adolescência. As letras falavam muito com a gente. Eu fazia parte de um grupo que achava que podia mudar o Brasil. No meu caso, eu me contentava de ao menos conseguir enfrentar os meus pais e viver a minha própria vida. Eu achava que podia. A gente acreditava que ser jovem era como ter um superpoder, que nada nos detia. A gente ficava louco quando escutava músicas como Geração Coca-Cola ou Tempo Perdido, parecia que éramos invencíveis, que nem o céu era o nosso limite. " Jessica falou nostálgica.

"Então você era fã de Legião Urbana?" Andrew falou orgulhoso por saber das músicas, das quais ela se referiu.

"Muito! É minha banda favorita até hoje."

Jessica puxou um disco do Legião Urbana do monte de discos. "O descobrimento do Brasil." A advogada leu. "Eu lembro desse! Eu amava uma música daqui." A ruiva procurou com o dedo a canção dentro da lista de nomes. "Ta aqui, Love in the Afternoon. Eu lembro de colocar esse disco escondido quando eu tinha uns nove anos... Eu escutava essa música e chorava. Até que um dia minha mãe me pegou no flagra e ficou brava. Ela escondeu o disco e eu nunca mais vi... Caramba, ta aqui!" Jessica ficou com lágrimas nos olhos. Ela fitou o disco pensativa por alguns minutos. Ela depois passou a mão no rosto para secar as lágrimas que deixavam seus olhos, teimosamente. "Acho melhor eu guardar esses discos, antes que meu pai veja e brigue." Jessica juntou tudo e colocou no lugar.

"Ta tudo bem?" Andrew perguntou preocupado.

"Sim. Eu só fiquei com um pouco de saudades, mas vai passar."

Andrew assentiu sem saber o que fazer.

"Eu vou no banheiro rapidinho e já volto."

"Não! Fica aqui. Você pode chorar no meu ombro." Andrew estava com medo de deixar a ruiva sozinha.

Jessica o olhou incerta, ela precisava muito ficar sozinha.

"Vem." Andrew pegou a mão da ruiva e a guiou para o sofá. Ele encostou o corpo no braço do sofá e puxou a advogada para si. Ele deixou a namorada chorar o que tinha que chorar e depois puxou assuntos aleatórios para distrair a cabeça dela. No fim, a ruiva estava normal de novo. Ele até conseguiu arrancar duas risadas dela.

Apesar de no final ter dado tudo certo, preocupação acerca da instabilidade de Jessica, rondou os pensamentos do professor.

.

À noite, Jessica se ofereceu para fazer o jantar. Ela preparou, com a ajuda de Andrew, um carpaccio de cogumelo portobello ao molho de ervas e “parmesão” de tremoço, picles de cebola-roxa e rúcula. Foi a primeira vez que ela tentou fazer esse prato e deu um pouco mais de trabalho do que ela estava imaginando, mas até que tinha ficado satisfeita com o produto final. Além disso, tinha sido muito prazeroso cozinhar com Andrew, bebendo vinho e conversando sobre coisas amenas.

A campainha tocou, indicando a chegada de Maria Alice. Paulo atendeu a porta e recebeu a namorada com um selinho.

"Chegou a convidada de honra!" Paulo disse galanteador e Jessica revirou os olhos. A ruiva nunca fora fã da mãe, porém ver seu pai com outra mulher, parecia traição.



"Sempre encantador." Maria Alice disse com aprovação e entrou na casa.

"Essa é a minha filha de quem tanto falo, Jessica." Paulo guiou a namorada até a filha.

"Ela não se parece em nada com você!" Maria Alice riu.

Jessica a olhou estressada procurando a graça daquilo.

"Eu ia dizer que ela puxou a minha personalidade, mas nem isso ela herdou de mim." Paulo deu uma risada longa.

Jessica ficou esperando o momento que seu pai revelaria que ela era adotada, mas, no entanto, Paulo mudou o foco para Andrew.

"Esse é meu outro genro, Andrew."



Seu pai só podia tá querendo acabar com ela! Por que ele teve que apresentar Andrew como o outro genro?

"Prazer." Andrew estendeu a mão livre para Maria Alice. A outra estava apoiada nas costas da advogada.

"O prazer é todo meu!" Maria Alice ficou esperando que Andrew desse um beijo na sua mão, porém ele só apertou.

"Eu já estou com o Paulo há meses e essa é a primeira vez que nos encontramos!" Maria Alice observou.

"Pra você ver! Precisou eu sofrer um infarto pra minha filha vir me visitar." Paulo alfinetou.

Jessica não estava acreditando naquilo. Seu pai e aquela cobra tinham feito como missão da noite deles,  irritá-la.

"Quem quis largar tudo e sair da cidade foi você." A ruiva se defendeu.

"Eu vim cumprir um chamado maior."

"Virar deputado é um chamado maior? Achei que chamados maiores fossem fazer missões em lugares com gente necessitada e carente da palavra de Deus." Jessica rebateu.

"Há vários tipos de chamado, Jessica. Mas não vamos discutir. Eu estou muito alegre por você estar aqui, de verdade filha." Paulo falou com honestidade.

"Aham. Eu vou servir o jantar." Jessica foi até a cozinha e Andrew foi atrás dela.

"Eu odiei aquela mulher! Ela acha que é melhor que todos nós." Jessica disse assim que chegou na cozinha.

"Ela é meio... excêntrica. Mas deve ser uma boa pessoa. Seu pai parece gostar dela." Andrew achou que era aquilo que ela queria escutar.

"Meu pai tá deslumbrado isso sim." A ruiva disse com raiva.

"Então, depois essa fase de deslumbramento passa."

"Espero..."

Andrew puxou a ruiva e a envolveu nos seus braços.

"Eu tô muito feliz que você tá aqui comigo. Obrigada." A ruiva disse sinceramente, inalando o cheiro reconfortante de Andrew.

"Não foi nada."

Jessica levantou a cabeça e roçou seus lábios nos de Andrew.

"Seu pai pode entrar a qualquer momento." Andrew avisou, passando a mão pelos seus ombros nus, expostos pelo modelo da blusa.

"Eles devem ta fazendo a mesma coisa lá na sala." Jessica sussurrou. Ela tocou o queixo de Andrew com o polegar, puxando suavemente para baixo, para enfim, enfiar a língua na boca do professor.

O beijo não era nada gentil e Andrew deixou que Jessica ganhasse a batalha pela dominância. Ela brincava com a língua do professor, chupando lentamente e depois capturando seus lábios de novo.

Andrew subiu a mão do ombro para o rosto da ruiva, segurando firme e enroscando fios do cabelo dela no processo.

Paulo sem entender a demora da colocação do jantar na mesa, foi até a cozinha para ver o que estava acontecendo. Quando ele se deparou com a cena, fingiu uma tosse seca.
Jessica pulou para trás e Andrew virou de costas.

"O jantar?" Paulo abriu a panela, para verificar se estava tudo em ordem.

"Já ta indo." Jessica foi até as panelas e limpou discretamente com o dedo os vestígios de Andrew ao redor de sua boca.

"Não demora." Paulo ordenou sério e saiu.

"Eu falei que seu pai podia entrar a qualquer momento." O professor disse com um sorriso presunçoso no rosto.

"Cala a boca." Jessica o repreendeu e Andrew riu.

Jessica e Andrew colocaram o jantar na mesa e se juntaram ao Paulo e a Maria Alice.

"Quem fez a comida?" Maria Alice perguntou.

"Foram os dois. Mas os ingredientes saíram da minha cozinha." Paulo brincou, fazendo Maria Alice rir escancaradamente.

"Paulo, você é um piadista!" Maria Alice tocou no braço do namorado.

"Eu gosto de jogar às claras." Paulo gracejou.



"E o que é isso?" Maria Alice perguntou ao ver a comida no prato.

"Alguma coisa sem sustância, que é o que a minha filha gosta. Agora vê, filha de gaúcho virar comedora de planta." Paulo colocou uma garfada dos cogumelos na boca.

"Esse prato só leva cogumelo?" Maria Alice perguntou decepcionada.

"Tem rúcula também, não tá vendo?" Jessica falou bruta. Ela já estava de saco cheio das gracinhas do seu pai e da namorada dele.
Andrew ficou com vontade de rir, mas prendeu o riso.

"É, tem uma rúcula aqui." Maria Alice falou sem graça.

"Eu falei pra da próxima vez, a Jessica trazer a Emminha pra você conhecer. Você precisa vê-la! É a garotinha mais linda." Paulo mudou de assunto, antes que Jessica o envergonhasse mais.

"Traz ela sim. Eu vou adorar conhecê-la." Maria Alice incentivou.

"Quem sabe." Jessica falou sem entusiasmo.

"Seu pai me disse que vocês vão se casar. Para quando vocês marcaram?" Maria Alice disparou.

Andrew arregalou os olhos assustado.

"Meu pai acabou de noivar a gente, porque eu nunca disse que a gente vai se casar." Jessica ficou preocupada de Andrew achar que aquilo tinha vindo de sua cabeça.

"Você não falou nada, mas deveria. Eu não quero minha filha saindo com um homem que não tem pretensão de casar. Parece que eu não te ensinei nada."

"A gente começou há pouco tempo!" Jessica se defendeu.

"Eu só quero que o Andrew saiba que você não é qualquer uma. E se ele quiser ficar com você, que seja da maneira correta." Paulo disse olhando mais para o professor do que para a ruiva.

"Pode ficar tranquilo que a Jessica pra mim não é qualquer uma." Andrew interviu, pensando quando Paulo se casaria com Maria Alice.

"Acho bom mesmo." Paulo disse com o olhar ameaçador.

"E como vocês se conheceram?" Andrew tentou tirar o foco deles.

"Foi numa festa de um amigo que temos em comum. O Paulo estava todo elegante e imponente. Vocês precisavam ver! Ele sentou do meu lado e começamos a conversar. Tínhamos tanto em comum! Depois quando percebemos, já estávamos no meio do salão principal, dançando sem parar. " Maria Alice falou alegre com a lembrança.

"Dançamos tanto que o salto do sapato dela quebrou!" Paulo adicionou.

"Nem me lembre! Eu tinha acabado de comprar aqueles sapatos e tinham custado uma nota! No dia seguinte o Paulo apareceu na minha casa com um par de sapatos novos! Foi explêndido!"

"Eu tive que fazer esse agrado para a minha Cinderela." Paulo disse galanteador.

Jessica ficou com enjoo só de ouvir aquela história brega.

"Cinderela depois de ter dormido por mil anos." Jessica resmungou pra si mesma.

"O que foi, Jessica?" Paulo perguntou sabendo que a filha tinha falado alguma coisa desagradável.

"Nada não. Só tava pensando que história adorável essa de vocês." Jessica disse falsamente.

"E não é? Eu não sei como esse homem esteve solteiro por tanto tempo." Maria Alice indagou.

"Nem eu. Acho que o sapato de ninguém tinha quebrado na frente dele ainda." Jessica respondeu sarcástica.

"Jessica!" Paulo riu sem graça. "Eu avisei que a minha filha é meio difícil."

"Difícil? Eu sou difícil, Andrew?" Jessica se virou para o namorado.

"Nem um pouco." Andrew respondeu achando um pouco de graça naquela situação.

"Boa resposta, Andrew! Nunca ouse discordar dela." Paulo zoou.

"Jamais." Andrew entrou na brincadeira.

"Afff." Jessica suspirou derrotada.

"Adorei sua família, Paulinho!" Maria Alice deu um tapinha no ombro de Paulinho e soltou uma risada escancarada.

.

Andrew ouviu a porta abrir e depois passos e depois alguém subindo na sua cama.

"Você já ta dormindo?" Jessica sussurrou encostada no ouvido dele.

"Se eu tivesse, essa seria a hora que eu teria acordado." Andrew brincou e se virou de frente para a ruiva.

"Como assim?" Jessica se fingiu de ofendida. "Eu fui tão silenciosa!"

"Se teve uma coisa que você não foi, foi silenciosa. Andrew riu.

"Grosso." Jessica deitou de frente para o Andrew encostando a cabeça no travesseiro ao seu lado. Seu cabelo abriu um leque atrás dela. O quarto estava totalmente escuro, não permitindo que um enxergasse o outro com facilidade.

"Desculpa. Às vezes é difícil ser sincero sem magoar os outros."

"Se você continuar com essas gracinhas, eu vou embora." Jessica ameaçou levantar e Andrew a segurou no lugar.

"Parei, parei."



"Eu não tava conseguindo dormir... Vim aqui pra você me deixar com sono." Ela acomodou a cabeça novamente do seu lado.

"Ta me chamando de chato?" Andrew fingiu estar ofendido.

"Jamais." A ruiva negou com a cabeça forçadamente, fazendo uma referência ao jamais dito por Andrew mais cedo no jantar.

"Você ta me zoando?" Andrew levantou um pouco o tronco para olhá-la melhor.

"Eu? Jamais!" A ruiva provocou.

"Olha que você ta sendo difícil." Andrew cutucou-a, ganhando uma risada gostosa da ruiva.

"Agora vê. Eu difícil." A ruiva falou ainda sem acreditar no que o seu pai tinha chamado-a.

"Você tava linda toda estressadinha naquele jantar." Andrew segurou o rosto da ruiva e se aproximou sedutoramente. A outra mão apertou sua cintura com força.

"Estressadinha é a mãe." Jessica respondeu com dificuldade, se sentindo totalmente à mercê do professor. O tronco de Andrew estava em cima dela e só de sentir a proximidade dos dois, o peso dele em cima de si e a mão dele no seu rosto, o coração da ruiva bateu forte. Ela queria que o professor a beijasse de uma vez.

Andrew tinha seus próprios planos. Ele começou a distribuir beijos molhados pelo rosto da ruiva e depois pela sua clavícula.
A ruiva estava cheia de desejos. Ela mordeu o lábio inferior com força para tentar contê-los, deixando-o branco por conta da pressão.

"Andrew?"

"Hum?" O professor continuou dando atenção para aquela área da ruiva.

"Eu já volto." Jessica se levantou depressa e foi até a cozinha beber um copo de água gelada. Depois ela foi até o quarto onde estava hospedada e colocou um moletom por cima da blusa que estava vestindo. Ela foi até o banheiro para dar uma olhada na sua aparência e seu rosto estava vermelho.
"Se controla Jessica, ele não estava fazendo nada demais." Ela pensou.
A advogada pegou o celular e procurou por notícias chatas e entediantes para tirar a cabeça dela de sexo. Depois de ler sobre o que acontece com o corpo humano quando ele fica duas semanas sem exercício físico e uma notícia babado da Luísa Sonsa e o Vitão quase assumindo namoro, Jessica se sentiu pronta para voltar.

Quando ela abriu a porta do quarto dele, Andrew fez uma cara de surpreso dela ter voltado. Dessa vez, ela acendeu a luz para acabar com qualquer clima.

Jessica foi até o namorado, colocou uma perna de cada lado de Andrew, se abaixou e o beijou. Andrew pegou a cintura da ruiva e conforme o beijo foi progredindo, ele foi subindo a mão, levantando o moletom que a ruiva estava usando no processo, até acima da barriga. Jessica partiu seus lábios dos de Andrew.

"Nem tente tirar minha roupa que eu to com frio."

"Frio?" O professor a olhou incrédulo. "Mas ta calor!"

"Calor pra você que nasceu na Europa, já eu to morrendo de frio." Jessica cruzou os braços, para dar ênfase no frio.

"Não acredito que eu tô suando aqui e você dizendo que ta com frio." O professor a puxou para si e a abraçou exageradamente.

"Mas ta frio!" Jessica se aconchegou nos braços do professor.

"Cada dia eu aprendo algo novo sobre você. Hoje foi que você sente frio num calor de 40 graus." Andrew debochou.

"Você. Shiu." Ela fez o gesto de silêncio com a mão e Andrew riu.



Jessica pairou o rosto no pescoço do namorado, rondando pelo perímetro com seus lábios, beijando de tempos em tempos. Ela depois mordeu o pescoço do professor um pouco forte demais, pegando Andrew de surpresa.

"Ai! O que você ta tentando fazer, me dar um chupão?"

"Desculpa, você quer um?"

Andrew olhou para a ruiva confuso, lembrando-se de alguém que ele não gostaria de ter lembrado.

"Não. Você quer um?" Ele imitou o que ela e a outra costumam fazer.

"Não, eu quero te dar um."

O professor continuava a se surpreender com a ruiva.

"Sem chance. E deixa o meu pescoço em paz sua sanguessuga."

"Deixa vai! Ninguém vai ver. Por que só os homens podem fazer nas mulheres? Isso é machismo, sabia?" Jessica insistiu.

"Você não parece saber fazer isso. Quase que arrancou minha pele agora pouco."

"Primeiro, que exagero. Segundo, eu sei fazer sim! Confia em mim!"

Andrew estava odiando aquela conversa. Jessica lembrava muito a outra e ele reagia da mesma maneira que costumava reagir com a cujo nome não pode ser mencionado. Percebeu que a ruiva não ia desistir tão fácil, achou melhor aceitar logo, como faria com *.

"Tudo bem." Ele cedeu, tentando esconder o desconforto.

"Você não vai se arrepender!" A advogada falou animada.

Jessica ficou analisando o melhor lugar para fazer sua obra de arte e achou que na lateral próximo a nuca seria o melhor lugar.

"Não se mexe." Jessica brincou.

"Já to me arrependendo." Ele implicou com a ruiva e pensou: "Por que eu to falando essas coisas?".

"Andrew, você ta me desconcentrando!" Ela chamou sua atenção.

"De quanta concentração isso precisa?"

Jessica tapou a boca dele com uma mão e  selou os lábios no pescoço do professor.

"Quanto tempo isso deveria levar?" Andrew falou com a voz abafada pela mão dela.

"Eu vou tentar de novo." Jessica colocou os lábios de volta no lugar.

"F**k, Jessica!" Andrew xingou quando a advogada usou os dentes. O xingamento foi mais pelo ato que lembrou a outra do que a dor em si.

"Prontinho." Jessica sentou orgulhosa.

"Você sabe que não precisava ter mordido, né?" Ele disse escondendo o desconforto e puxando a ruiva de volta.

"Eu tive que improvisar." Ela deu de ombros.

"Da próxima, eu que vou fazer em você."

Jessica abriu a boca para protestar, mas o professor logo a beijou cessando quaisquer protestos, a fim, também, de acabar com aquela cena toda.

Depois de severos minutos, Jessica anunciou que voltaria para seu quarto. Andrew segurou ela por mais alguns minutos, mas eventualmente acabou liberando-a.

quarta-feira, 10 de junho de 2020

A primeira e última vez

A professora de biologia de Jessica passou um trabalho valendo ponto sobre o sistema digestivo. A mãe da ruiva permitiu que a pequena fosse para a biblioteca depois do almoço rapidamente e voltasse antes da janta.

Jessica colocou a mochila nas costas e seguiu em direção à biblioteca.
Ao chegar no local de destino, a senhora da recepção indicou com o dedo onde ficava a seção de biologia. Jessica não sabia por onde começar a procurar e levou uma vida para achar um livro que servisse para a sua pesquisa. Ela pegou o livro pesado demais para uma criança da sua estatura (ela mais parecia uma criança de 9 anos do que de 11) e levou para a grande mesa de madeira. Ela jogou o livro na mesa e a mochila ao lado. Depois tirou o caderno e o estojo de dentro da mochila e começou a escrever o trabalho.

A ruiva notou um grande livro largado próximo às suas coisas. A pequena puxou ele para si e o abriu. Ela começou a folheá-lo e conforme as páginas iam mudando, imagens indecentes começaram a surgir. Era cada uma pior que a outra e todas ricas em detalhes. Jessica fitou uma imagem de um homem musculoso e com chifres, entrando numa mulher de seios gigantes e pernas ridiculamente grandes. Pelo rosto da mulher, não dava para dizer se ela estava sentindo dor ou se estava gostando daquilo. As pupilas da ruiva se dilataram com aquela figura. A menina nunca tinha visto algo parecido antes. A pequena fechou o livro e o empurrou para longe. Ela então voltou para o livro de biologia e retomou ao trabalho que tinha que entregar.

Jessica chegou em casa antes do jantar como prometera a mãe. Ela foi direto para o quarto, empurrou a mochila para debaixo da cama e foi trocar de roupa. Quando a menina terminou de se despir, ela lembrou das imagens do livro que havia encontrado mais cedo.

A ruiva tirou a mochila debaixo da cama e abriu, retirando o livro de imagens pornográficas, que ela havia roubado da biblioteca, de dentro. Ela começou a se tocar por cima da calcinha olhando para aquelas imagens. Porém, aquilo não estava sendo o suficiente. Ela precisava de mais. Jessica fechou o livro e o escondeu de volta dentro da mochila. Depois, entreabriu a porta para se certificar de que sua mãe não estava por perto. Em seguida, ela fechou a porta do quarto, porém sem trancar (sua porta não tinha tranca).

A ruiva deitou na cama, tirou a calcinha e começou a se estimular, precisando desesperadamente de um alívio. Essa era a primeira vez em que fazia aquilo. Nunca antes, ela havia apresentado algum interesse ou curiosidade relacionado a sexo. Entretanto, assim que ela colocou os olhos naquele livro sujo e cheio de imagens indecentes, seu corpo apresentou necessidades, jamais reveladas antes.
Sua parte íntima estava vermelha e inchada e a mão da pequena trabalhava furiosamente para dar aquilo do qual tanto precisava, e que ela mesma não sabia ao certo o que era.
O corpo da ruiva tremia em pequenos espasmos e seus gemidos começaram a preencher o silêncio do quarto.

A mãe da menina foi até o quarto da filha avisar que tinha bolo na cozinha. Ao chegar até a porta, ela escutou sons estranhos. Helen abriu a porta e pegou a filha em flagrante.

Jessica tirou a mão no mesmo instante e olhou para a mãe como se tivesse visto uma assombração.

"O que você está fazendo? Sua vagabunda!" Helen berrou nervosa.

Jessica se encolheu sem saber o que fazer.

"Eu não acredito nisso! Sua p**a, piranha, vagabunda!" Helen foi até a garota , a pegou pelos ombros com toda a sua força e começou a chacoalhá-la.

"Fazendo p****ia dentro da minha casa!" Helen empurrou Jessica contra a parede, onde a cabeça da ruiva colidiu com força e começou a esbofeteá-la.

Jessica chorava e implorava para a mãe parar.

"Você vai ver se eu não te dou uma surra!" Helen foi até o armário, pegou um cinto e começou a espancar a filha.

Jessica se encolheu no chão chorando e tentando proteger o rosto, porém sua mãe a puxou pelos cabelos com força, obrigando a ruiva a ficar de pé novamente.

"Sua p**a! Eu criei uma p**a!" Helen ainda pelos cabelos, levou a filha até o móvel onde ficavam alguns pertences da menina e esmurrou sua cabeça lá, que bateu num vidro de perfume e o quebrou. O vidro do perfume perfurou a cabeça da menina. Em seguida, Helen jogou a ruiva no chão.

"Vá colocar uma roupa antes que o seu pai chegue e te encontre nesse estado."

E com isso Helen deixou o quarto.

Tudo no corpo da menina doía. Jessica permaneceu no chão imóvel e chorando silenciosamente.

Mais tarde, Helen voltou no quarto da filha e a encontrou no mesmo lugar que a tinha deixado anteriormente.

"Eu falei pra você se vestir!" Helen gritou com raiva.

Como não obteve resposta, ela mesma pegou uma roupa no armário e colocou na filha e depois saiu do quarto.

Paulo chegou em casa e encontrou sua mulher chorando.

"O que aconteceu?" Paulo perguntou preocupado.

"Sua filha surtou de vez. Ela começou a se debater pelas paredes, a puxar os próprios cabelos e a se espancar. Ela fez um estrago em si mesma." Helen mentiu.

"Eu achei que ela já estava melhorando... Ela não apareceu mais com nenhum hematoma..." Paulo disse devastado.

"A gente achou que ela estava melhorando, mas só piorou." Helen falou de forma dura.

"Eu vou ver como ela tá." Paulo foi até o quarto da ruiva e deu algumas batidas na porta antes de entrar. Quando ele viu o estado que estava aquele quarto, com várias coisas quebradas e sangue na parede, Paulo ficou em choque.


"Filha?"

Jessica não respondeu.

Paulo se agachou do lado da menina.
"O que aconteceu com você?" Paulo analisou o corpinho da filha cheio de hematomas e a cabeça sagrando. "O que você fez..." Paulo estava horrorizado.

Jessica continuou imóvel.

Paulo pegou a menina no colo com cuidado e a levou pra cama.

"Você cortou a cabeça." Paulo abriu cabelo da filha para analisar melhor o corte e viu que tinham mechas de cabelo faltando.
Ele começou a chorar.

"A gente vai ter que lavar e fazer um curativo." Ele informou com o coração no chão.

Paulo não conseguia acreditar que sua filha tinha chegado àquele ponto e se machucou daquela forma.

"Filha, eu preciso que você me diga o que ta havendo com você, pra eu poder te ajudar. Se você ta se sentindo triste ou frustrada, compartilha pro seu pai e a gente toma uma providência juntos. Não fica guardando as coisas só pra você não. Porque quando você se machuca, você machuca também o seu pai." Paulo acariciou a sua filha com cuidado para não machucá-la ainda mais. "Eu te amo tanto, filha... Tanto!"

Jessica continuou estática.

"Eu queria tanto que você fosse feliz. O que eu preciso fazer pra você ser feliz? Eu faço qualquer coisa!" Paulo olhou em volta do quarto triste vendo a bagunça que a filha fizera. "Vamos lavar esse corte."

Paulo pegou a filha no colo e a levou para o chuveiro. Ele lavou a cabeça da ruiva com sabão neutro e depois passou um remédio para evitar infecções. Em seguida, ele a levou de volta para a cama e passou remédio nos ferimentos do corpo.

"Eu vou conversar com a sua mãe e já volto pra ver como você tá e arrumar essa bagunça." Paulo avisou e depois foi para a sala.

"Precisamos falar com um psiquiatra urgente!" Paulo disse ao ver a mulher.

"Não precisa. Ela faz isso pra chamar atenção. Não vamos dar o que ela quer." Helen não queria que alguém de fora visse os hematomas de Jessica. Eles poderiam chegar a conclusão que ela não poderia ter feito aquilo sozinha.

"Helen, se a gente não fizer nada, a gente vai acordar um dia desses e a Jessica vai tá morta. Eu me recuso a perder outra filha assim." Paulo argumentou em pânico.

"Tudo bem, eu levo ela amanhã." Helen mentiu.

"Eu vou dormir no quarto da Jess essa noite, pra evitar que ela acabe fazendo outra besteira." Paulo informou.

"É uma boa ideia." Helen concordou e foi para cozinha.

Essa foi a primeira e última vez que a ruiva tentou se tocar, mesmo nos dias de hoje.