domingo, 19 de dezembro de 2021

F*ck you, you hoe

“What a bitch!”

“Mom? What's going on?”, perguntou Asa surpreso com o ataque de raiva vindo da mãe tão de repente, enquanto os dois estavam na cozinha.

“Sorry, honey, it's just that I remembered what happened at the hospital and I got angry. That's it.”

“Ok.”

“She was such a bitch to me and I never did anything bad to her. On the contrary, I've always been very nice to her.”

“She's jealous of you, that's all.”

“I know, but even so... I mean, she doesn't have to like me, but she could at least be polite. Did you hear what she said? And this isn't the first time she's thrown her crap all over me.”

“Well, I guess it's the hormones, after all she just had a baby.”

“I had as many kids as she did and I didn't treat people badly when I was pregnant. And what is she jealous of? She has children, several, she’s married, has a good job, a company that is growing. What do I have that she doesn't have?”

“I don’t know.”

“You know, I'm just making an effort this Christmas because of you, son, ‘cause I know you'll be happier spending Christmas with your father and siblings. If it were up to me, I’d stay away from this woman as possible and these people I don't even know that well. You know what? From now on, our conversations will be just "Hello" and "Goodbye". There is no point in trying to maintain a cordial relationship with a snake.

“Fair enough.”

“Does she treat you well, sugar pie? Has she ever been a bitch to you?”

“No, never. Jessica has always been very good to me.”

“Good! But if she ever treats you badly, you let me know.”

“I doubt it will ever happen. She’s very loving... with me, not with you.”

“Knowing that makes me feel calmer and makes me still have a little respect for her. Her father could not have chosen a worse wife. What was he thinking?”, Antonella se perguntou, saindo da cozinha.

E por algum motivo que Asa não sabia explicar, ele se sentiu mal pela Jessica.

sábado, 18 de dezembro de 2021

Sejam bem-vindos

O nascimento dos gêmeos tinha sid tranquilo, considerando sua última experiência. Primeiro veio Levi chorando alto, seus pulmõezinhos comprimindo e expandindo rapidamente enquanto via pela primeira vez o mundo. Três minutos depois veio o Theo, um pouco menorzinho que seu irmão, chorando tão alto quanto ele. A enfermeira aninhou os dois junto a Jessica e a ruiva cheia de lágrimas nos olhos beijou suas cabeças e agradeceu a Deus pela vida de seus dois meninos. 

Nos dias seguintes, a ruiva recebeu visitas diárias de Andrew e Bradley. Outras pessoas da sua família também visitavam, porém com menos frequência que os dois. 

Jessica se irritava com as infantilidades do marido. Ele estava dando valor a coisas frívolas ao invés de focar no nascimento de seus dois filhos. A ruiva não gostou do modo como ele estava se referindo aos gêmeos e o cúmulo foi o escutar mandando Emma para aquele lugar. 

Era tarde da noite quando a enfermeira levou os bebês para o quarto para a milésima rodada de mamadas. Ao terminar de alimentar os dois, ela ficou admirando seus meninos, cheirando suas cabecinhas e enroscando seu dedo nos dedinhos deles. Aqueles bebês eram seus pequenos milagres. 

A advogada estava imersa nos meninos quando a enfermeira entrou. 

"Vim buscar os bebês." A enfermeira disse ao entrar. 

"Tão rápido..." Jessica lamentou. "Você pode deixar eles aqui mais um pouquinho? Por favor?" 

A enfermeira ponderou por alguns segundos e acabou concordando. "Tudo bem. Mas só cinco minutos."

"Obrigada." Jessica sorriu e abaixou para beijar Levi que tentava pegar seu queixo. 

"Eles são umas gracinhas." A enfermeira falou, se aproximando dos três. 

"São mesmo." A ruiva concordou. 

"O pai deles é meio estressado, né?" 

"Um pouco." Jessica agora acariciava a barriguinha de Theo.

"Ele gostou de ter gêmeos?" 

"Não cheguei a perguntar. Acho que sim. São filhos dele, né? (pausa) Eu só queria que ele falasse dos meninos com o mesmo amor nos olhos de quando ele fala do outro filho dele."

"Aquele garoto com o olhão azul?" 

"Esse mesmo."

"Tem pais que são mais apegados aos filhos mais velhos mesmo."

"Eu sei. Eu tenho duas meninas além dos gêmeos. A primeira veio quando eu era bem novinha. Depois dela passei por uma série de abortos espontâneos antes de vir a minha segunda."

"Que pena!" 

"Duas das crianças eram meninos. Não consigo de deixar de ver meu Arthur e meu Miguel neles."

"A senhora acha que os filhos que a senhora perdeu reencarnaram nos gêmeos? Sabe, eu sou espírita, isso pode ter realmente acontecido. Já vi casos desses antes."

"Eu não acredito nessas coisas."

"Mas essas coisas são reais sim. Já vi casos da crianças se lembrarem da vida passada e saberem de informações sobre a outra pessoa que não deveriam saber, caso não fossem elas."

"Alguém deve ter contado. Ou pode ser essas histórias que alguém inventa e vai passando."

"Não foi não, dona. Vi com meus próprios olhos. Olha a hora. Vou ter que levar os bebês de volta."

"Tá bom." Jessica se despediu dos gêmeos e os entregou à enfermeira. 

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

I'm so scared about the future, and I wanna talk to you

“Ei, Bradley, tudo bem? Podemos conversar? Não, não, não. Respira fundo, vamos lá, Elizabeth, você consegue. Bradley, tem algo sério que eu queria conversar com você. Droga, não! Bradley. Não! Amor?”, negação com a cabeça. “Bradley, você sabe que eu to velha, né? Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah, que inferno!”, Elizabeth se jogou na cama, batendo o rosto no travesseiro.

Aquilo era difícil. Muito difícil. Ela sabia que o pedido dela não era nem um pouco razoável e contradizia muita coisa que ela tinha dito da última vez em que ambos tinham se relacionado, mas a questão era que dessa vez as coisas estavam completamente diferentes. Tudo estava fluindo. Tudo fazia sentido. Bradley estava mais maduro, focado, tudo do jeitinho que ela gostava. Antes, Elizabeth não tinha chegado a amá-lo. Agora, ela se sentia completamente apaixonada. A diretora fez de tudo para agradá-lo, seus filhos, na esperança de um pedido. Mandou até indiretas bem diretas. 

Ele não estava com tanta pressa antes? O que aconteceu? Bradley parecia mais cauteloso, sem pressa. Dessa vez, era Elizabeth quem não aguentava mais. Ela queria se casar, mas muito mais do que isso, queria ter um filho, e agora ela tinha a confiança que faltava antes de que o ex de Jessica era a melhor pessoa para começar uma família. Ele era um excelente pai, um ex-marido adorável e um amante carinhoso e zeloso. Tudo nele era luz. Só que agora ele estava se sentindo tão completo e tão bem com ele mesmo e com o que tinha conquistado, que parecia que a ideia de um casamento e filhos estava bem longe dos seus planos. Elizabeth, na verdade, não fazia questão de casar. Os dois poderiam morar juntos. Mas ela queria um filho. E queria para ontem.

“Eu tenho que falar, eu tenho que falar. Se eu não falar, ele nunca vai saber e só vai tentar alguma coisa daqui a 5 anos e eu não tenho 5 anos. Eu já to velha. Não, eu vou falar: ‘Bradley, o que você acha da gente começar a tentar ter um filho? Não precisa ser agora, mas quem sabe ano que vem? O que você acha da ideia?’”. A frase era mal formulada, precisava de muita mediação ainda, mas basicamente era isso. Elizabeth se sentiu decidida a falar. “É hoje. Hoje, eu inicio a conversa”. Talvez ele precisasse de um tempo para pensar, o que seria natural. O problema seria se ele dissesse não e essa possibilidade era bem grande. “Agora? Não é melhor esperarmos mais um tempo? Tipo, alguns anos?”, ele poderia dizer. E aí? Bem, e aí que Elizabeth teria que entender e esperar. Quanto tempo? Ninguém sabe.

Ainda assim, a diretora levantou resoluta. Independentemente do medo, ela ia falar. Ela tinha que falar.

No final do dia, a diretora chegou em casa cansada e derrotada. É, ela não falou.

terça-feira, 23 de novembro de 2021

Proposta indecente

– Fala. – Disse ele cruzando as pernas.

– Então... – Ela se sentou – É uma proposta de negócios. Uma parceria, na verdade. Não, melhor ainda, uma sociedade.

Ela esperou ele dizer alguma coisa, mas como ele continuou calado a encarando, ela decidiu continuar:

– Andrew, você é um artista.

– Eu sou? – Perguntou ele debochado.

– Escritores não são artistas?

– Bons escritores são artistas.

– E você não é um bom escritor?

– Não sei, to te perguntando.

– Você quer que eu massageie seu ego, é isso? – A italiana revirou os olhos – Sim, Andrew, você é um bom escritor.

– O que você achou do meu último trabalho?

– O livro do pote de mel? Eu achei um dos seus trabalhos mais sensível. É divertido pras crianças e emotivo pros pais. Você acertou dessa vez. Você e o Anthony.

– Você leu?

– Li.

– Sério? Legal. Não sabia.

– Viu? Eu conheço o trabalho das pessoas com quem eu quero fazer sociedade.

– Mas por que dessa vez?

– Dessa vez o quê?

– Você disse que eu acertei dessa vez.

– Ah, sei lá. É que nem sempre você acerta. Seus livros infantis não são ruins, mas tinha uma época que estavam um pouco genéricos, sabe? Mais do mesmo, se eu posso dizer assim.

– Ah é?

– É.

– Hum...

– Te ofendi?

– Não. Gosto de uma crítica sincera, apesar das suas estarem muito vagas.

– Eu posso detalhar mais depois.

– Seria bom.

– Mas voltando ao assunto da sociedade...

– Sim.

– Você é um apoiador das Artes, né? Você entende, consume, produz Arte.

– A mais fina das Artes: a literatura.

– Questionável, mas, sim, sim, você é um escritor e crítico. E eu acho que seria muito vantajoso, na sua posição, investir seu dinheiro em algo voltado pra sua área. Eu já falei que o Calvin fez um acordo com a Prefeitura? Eles também vão investir na galeria. Eles não vão ser sócios, mas esse acordo vai nos trazer mais visibilidade pelos eventos que vamos fazer em parceria com a Prefeitura do Rio. E você pode fazer parte disso, Andrew. Estamos procurando mais sócios e uma das primeiras pessoas que passou na minha cabeça foi você pelo seu envolvimento com as Artes. Eu poderia até fazer uma exposição baseada nos seus escritos, sabe? Não os de literatura infantil, mas os seus romances, os seus contos. Todo esse benefício, sem contar as decisões de escolha, você vai ter se entrar na sociedade. E... Droga! – Antonella se interrompeu ao ouvir Daisy chorando – Só um momentinho, Andrew.

– Tudo bem.

A italiana pegou a bebê que estava no carrinho.

– Calminha, Daisy, calminha. ­– Ela sacudiu levemente a filha – Ela deve ta com fome. Você se incomoda?

– Não, não. Não é nada que eu já não tenha visto... Mães amamentando bebês.

– Claro.

– Depois a Jessica vai ter que amamentar mais dois. Não sei nem como vai ser.

– Éééé. Mas vocês vão dar um jeito.

– Vamos sim.

– Mas então, onde tínhamos parado? Bem, eu tenho uns papéis com as informações da galeria, como estão andando os negócios, pra você dar uma olhada. Eu posso te explicar algumas coisas e...

– Antonella, posso te interromper?

– Pode.

– Olha, eu realmente fico muito grato de você ter pensado em mim nessa ideia de sócios, e sim, eu realmente gosto muito de Arte, você bem sabe disso, mas, assim, a gente já compartilha um filho. Não acho sábio a gente compartilhar um negócio também.

– Mas você não precisa ter um pedaço grande nessa sociedade. Pode ser só uma parte pequena.

– Eu sei, mas eu teria que me envolver de alguma forma, fazer tomada de decisões... Imagina ter uma exposição feita pela minha ex-mulher baseada nas minhas histórias. O que os nossos parceiros achariam disso?

– Mas isso não precisa acontecer, na verdade. Foi só um exemplo, caso você quisesse. Se você quiser ter uma participação mínima ou, até mesmo, nenhuma, ta tudo certo. A gente só te leva o resultado, os lucros, no caso.

– Ainda assim, a Jessica não iria gostar. Pra ela, eu teria arrumado mais uma forma de ficar vinculado a você, entende?

– Não, eu entendo. Perfeitamente. Eu pensei numa relação mais objetiva, de negócios, sabe? Até porque o John também não gostaria da gente muito próximo. O negócio da exposição foi só pra tentar te convencer, na verdade. No final, eu diria que outra artista poderia trazer seu trabalho à vida que não eu. Mas tudo bem, faz sentido. Não custava tentar, né? É o que eu penso.

– Sim, verdade. Eu concordo.

– O Calvin ta procurando sócios também.

– E ele já achou alguém?

– Ainda não, mas começamos agora. É que, no meu caso, é difícil achar alguém que queira investir, sabe? Eu tenho colegas pintores, mas eles não têm muito dinheiro, então... Eu tinha falado até com a Anita, mas ela não tinha o investimento mínimo. Enfim... Vai dar certo.

– Vocês tão no vermelho?

– Sim, mas já era esperado. Negócios só começam a prosperar e dar lucro, no mínimo, com uns três, cinco anos de funcionamento, e a galeria não tem nem um.

– Se for dinheiro que você precisa, eu posso emprestar, mas sem sociedade.

– Não, claro que não.

– Eu realmente não me importo, desde que você devolva.

– Mas aí você sai sem vantagem alguma.

– Se der lucros, você me devolve o dinheiro junto com os lucros que tiver ganhado, se não tiver, você me devolve a quantia que eu dei.

– Não, isso não.

– Bem, fica a oferta. Se você quiser, você me fala, que eu coloco na conta do Asa o dinheiro. Quanto mais ou menos vocês precisam?

– Não, Andrew, deixa pra lá. A oferta já me deixa feliz, muito obrigada! O Calvin tem mais conhecidos, acho que ele vai achar alguém que entre com a gente. Eu te ofereci a oportunidade pela vantagem que isso poderia te trazer, mas se pode gerar um problema no seu casamento, é melhor deixar como está. Mas obrigada mesmo.

– Tem certeza?

– Tenho.

– Ok. – Andrew se levantou – Escritório legal esse o seu. Virou mulher de negócios.

– Foi o Calvin que decorou a maior parte.

– É mesmo?

– Deixa eu te levar até lá fora.

– Não precisa, você ta amamentando a Daisy, e eu sei o caminho.

– Obrigada por levar o Asa ao psicólogo hoje e por ter me escutado. Manda um beijo pra família.

– Mando sim. Manda um pra... Não, esquece, as crianças já estão aqui, então eu mesmo posso dar, e eu definitivamente não quero mandar um beijo pro John.

– Ele vai ficar chateado.

– Ele supera. Tchau, Antonella. Nos falamos...

– Tchau, Andrew.

Obs.: Essa notícia foi traduzida do inglês.

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Me sinto usada, mas ainda sinto a sua falta


Dylan ainda se sentia desnorteado com o que estava acontecendo, enquanto a língua de Jane estocava mais uma vez com a sua de maneira pouco gentil. Ele sentiu a mão dela desesperadamente subindo a blusa que ele usava e beijos pousando em sua barriga, subindo para o seu peitoral. Ele não queria parar. Ele queria continuar e terminar com tudo aquilo, mas havia uma questão que permanecia no ar e precisava ser esclarecida.

– E o seu namora...? – Dylan foi interrompido pela boca de Jane alcançando a sua.

– Que namorado? – Ela se afastou e sorriu maliciosamente. Ele entendendo o recado, voltou a beijá-la ardentemente.

[...]

Dylan ofegava quando viu Jane já vestindo a calcinha.

– Já vai?

– Por quê? Já quer um round dois? – Ela perguntou virada por cima dos ombros.

– Muito. – Ele respondeu de supetão, o que fez Jane sorrir.

– Eu até queria também, mas é que eu to cansada.

– Você pode descansar aqui na cama.

– É que eu não consigo descansar muito bem na cama dos outros.

– Entendi. Tudo bem. – Ele tentou disfarçar a decepção.

– Mas olha, hoje foi bem legal.

– Fo... – Jane o cortou mais uma vez com um beijo rápido.

– Você viu minha saia? Não, deixa, já achei.

Dylan ainda tinha algumas dúvidas. Será que ele perguntava? Será que ela ficaria brava? Será que só ele ainda não sabia?

– Quando vocês terminaram? Desculpa perguntar. Sei que não é da minha conta.

“Então por que perguntou?”, Jane pensou irritada, mas respirou fundo e respondeu:

– Talvez você não goste da resposta.

“Eles ainda estão juntos? Mas ela disse ‘Qual namorado?’ quando eu perguntei... Talvez tenha sido uma piada.”

– Hoje. – A garota falou.

– Hoje? – Tudo fez sentido. – Ah.

– Ta se sentindo usado?

– Um pouco... Mas no final gostei de ter sido.

– Que bom.

– Eu sinto muito.

– Relaxa, ninguém morreu.

– Verdade. – Os dois ficaram em silêncio com Jane terminando de colocar o sapato. Ela não havia contado os detalhes, mas algo era bem provável: Jake é quem havia terminado. Dylan decidiu não perguntar mais nada. Não queria invadir a privacidade da menina. – Melhor pra mim.

– Você diz isso agora.

– Como assim?

– Nada, deixa pra lá.

Dylan ficou pensativo, mas então pareceu entender.

– Ah, entendi.

– Entendeu o quê?

– O que você quis dizer com o “Você diz isso agora”. Que isso só foi dessa vez, que não vai acontecer de novo.

– Não foi nada disso que eu quis dizer. Na verdade, não sei se vai ou não ter outra vez. Não to pensando nisso no momento. Desculpa, Dylan, é que hoje eu to meio azeda. – Jane fez uma careta.

– Ah, desculpa. Vou parar de falar sobre isso então.

– Melhor. – Ela se levantou da cama – Bem, então eu já vou.

– Eu te levo até a porta. – Ele se sentou na cama. – Só vou vestir a minha roupa.

– Você não precisa fazer isso. Só tem você na casa e, além do mais, eu gosto da visão.

– Ok.

Na porta, Jane falou:

– Desculpa aí por ter te “usado”. Na verdade, você me distraiu bastante.

– Quando você precisar se distrair, eu to sempre aqui.

“Eu te vejo mais como uma amiga.”

– Bom saber. – Ela deu mais um beijo nele – Tchau.

– Tchau.

Jane fugiu de lá, enrugou a testa e pensou: “Filho da p**a!”

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Surpresa, voltamos!

Jessica recebeu um telefonema que não estava esperando e a deixou aflita por todo expediente da tarde. Assim que se livrou de seu último cliente do dia e assinou alguns papéis que dariam andamento a alguns processos, a advogada ligou para seu ex-marido.

"Alô." Bradley atendeu.

"Oi, Bradley! É a Jessica." A ruiva apertou os olhos se sentindo idiota por ter se identificado.

"Oi. Tudo bem?" Bradley perguntou casualmente.

"Mais ou menos. O Jeff ligou. Ele tá aqui no Brasil, mais especificamente na casa dele."

"Oh." Bradley exclamou surpreso com a notícia. "Eles voltaram pra ficar?"

"Ele não disse. Quer que nos encontremos com eles hoje à noite num restaurante. Você vai tá livre?"

"Tô. Só o Brian que tá comigo, mas eu posso deixar ele na Andréia."

"Tá bom. Eu te passo o endereço do restaurante por mensagem."

"Ok. A gente se encontra lá?"

"Sim."

"Ok, então até mais tarde."

"Até. Manda um beijo pro Brian. Diz que a dinda tá morrendo de saudades." 

"Mando sim. Dá um beijo na Melzinha por mim."

"Pode deixar." Jessica respondeu e desligou o telefone.

Bradley chegou no restaurante no horário combinado. Ele procurou a mesa onde estariam Jeff e Krista e os avistou sentados com Jessica de frente para eles escutando entediada sobre alguma coisa. 

O professor se aproximou e cumprimentou o casal.

"Jeff, Krista, quanto tempo!" Bradley estendeu a mão para os dois apertarem e depois se sentou ao lado da ex-mulher, que deu uma olhada rápida para o ex e depois voltou a fitar o casal de cientistas.

"Verdade!"Krista concordou.

"E como foi a viagem?" Bradley perguntou tentando soar simpático, ao contrário de sua ex-mulher.

"O voo atrasou um pouco, mas no geral foi bem tranquila." Jeff respondeu.

"E como vai o Bryce?" Bradley voltou a perguntar.

Jessica respirou fundo ao ouvir Bradley fazer perguntas que não lhe interessavam as respostas.

"Ele está ótimo. Ficou em casa descansando da viagem. E a Emma, como tá?" Krista respondeu.

"Ótima." Jessica respondeu rapidamente.

"Vocês não falaram com ela que estavam vindo?" Bradley quis saber.

"Nós queremos que seja surpresa." Krista falou animada.

"A gente já tava planejando em vir pro aniversário dela, mas acabamos decidindo adiantar a viagem." Jeff acrescentou.

"Espero que vocês não estejam pensando..."

"E vocês pretendem ficar quanto tempo?" Bradley cortou sua ex-mulher.

"O resto do ano." Jeff respondeu.

"Então vocês vão ficar fora o ano que vem?" Bradley tornou a perguntar.

"Na verdade a gente volta pro Canadá ano que vem só pra acertar algumas coisas e depois voltamos pra cá de vez." Jeff respondeu.

"Ah." Bradley vocalizou, surpreso com a resposta. Seu semblante se entristeceu no mesmo instante.

Jessica engoliu em seco.

"Como vai a gravidez? São gêmeos, certo?" Krista mudou de assunto, como se nenhuma notícia devastadora tivesse acabado de ser dada.

"Licença." Jessica se levantou da mesa e foi em direção ao banheiro.

"Licença também." Bradley se levantou em seguida e se apressou para alcançar a ruiva, porém, ela já tinha entrado no banheiro.

"Jess! Você tá bem?" Bradley gritou da porta, sentindo seus olhos quentes pelas lágrimas enclausuradas.

Ao não ouvir nenhuma resposta, o professor entrou, ignorando aquele ser um ambiente feminino.

"Jess? Você tá aonde?" Bradley escutou um barulho de tosse forte vindo de uma das cabines e foi até lá. "Quer ajuda?"

"Não!" Jessica voltou a tossir.

"Se precisar, eu tô aqui." Bradley deu alguns passos para trás, e apoiou as mãos na pia, de costas para ela e de frente à cabina onde a advogada estava. Ele escutou o barulho de Jessica vomitando e aguardou em silêncio, enxugando as lágrimas que escapavam de seus olhos. O professor agradeceu mentalmente o banheiro estar vazio.

Ele estava perdido em pensamentos quando ouviu a descarga do banheiro ser acionada e a ruiva abrindo a porta.

"Você tá bem?" Bradley perguntou ao vê-la saindo abatida da cabine.

"O que você acha?" Jessica foi até a pia para lavar a mão e limpar a boca.

O professor pensou em dizer que tudo ficaria bem e que aquilo não significaria que perderiam a Emma, mas preferiu não falar mentiras e ficar quieto e observar a ex-mulher fazer bochecho com a água da torneira.

Jessica viu pelo espelho o rosto triste e pensativo de Bradley, e notou que ele havia chorado. 

"Eles voltaram mais esnobes do que foram." Jessica usou o seu humor negro, pois sabia que o faria rir.

"Pior que sim." Bradley deu uma risada seca.

Jessica fechou a torneira e se virou para o professor para poder fitá-lo.

"Não acha engraçado que não importa o quanto o tempo passe a gente sempre acaba em situações como essa?"

"Que situação? Você vomitando e eu chorando no banheiro feminino de um restaurante?" Bradley brincou.

"Exatamente!"

"Velhos hábitos são como um ciclo vicioso. É difícil de quebrar."

"Eu que o diga." 

"Você acha que eles nos chamaram aqui só pra dizer que vão tirar a Emma da gente?"

"Com certeza. Eu bem que tava estranhando eles quererem falar com a gente antes de avisarem a Emma que voltaram."

"E agora? Você acha que eles tão dispostos a fazerem um acordo?"

"Não sei. Acho que não, pelo menos, não de forma amigável." Jessica respondeu.

"O que você quer dizer com isso?"

"Que conhecendo aquelas duas peças, eles não vão querer fazer nenhum acordo. Eu não posso perder a Emma... É sério, Bradley, se eu perder ela de novo, eu não vou resisitr." Jessica admitiu com a voz fraca.

Bradley se aproximou e a envolveu num abraço.

Os dois ficaram assim até uma mulher abrir a porta do banheiro.

"Aqui é o banheiro feminino?" A mulher perguntou, já sabendo a resposta para aquela pergunta.

"É. A gente já tava saindo." Jessica respondeu sem graça, se desvencilhando de Bradley. 

Os dois passaram pela mulher e saíram do banheiro.

"Quer sair de fininho e comer em outro lugar? Aí a gente discute o que fazer em relação a Emma." Bradley propôs.

"Eles vão ficar p***s." A ruiva argumentou.

"Exato." Bradley ergueu as sobrancelhas.

"Ok, me convenceu." 

Bradley abriu a porta para a ruiva passar e saiu do restaurante logo em seguida.

terça-feira, 26 de outubro de 2021

I'd rather you not

A música estava alta vinda da sala e Cheryl rezava para nenhum de seus vizinhos ligarem reclamando do barulho. Certamente se isso acontecesse, seu padrasto nunca mais confiaria nela sozinha. 

Nicola terminou de virar sua bebida e foi até a Geordie, jogando seus braçoes em sua volta, de forma desleixada.

"Amiga, acho que é hoje." Nicola falou no seu ouvido, ainda pendurada na menina menor, porém mais velha.

Cheryl tinha acabado de ter "a conversa" com Asa e arregalou os olhos com a afirmação da amiga.

"Tem certeza? Não acha cedo?" Cheryl se afrouxou do abraço da amiga com dificuldade, já que a ruiva não queria liberá-la de seu aperto. Agora, Nicola estava com a parte dos pulsos em volta do pescoço da inglesa, como numa dança de baile escolar.

"Você e o Edward fizeram e vocês começaram a namorar depois da gente." Nicola argumentou sorridente.

"Sim, mas...a gente tem mais experiência."

"E daí? Você tem um trauma e decidiu se arriscar, por que eu não posso fazer o mesmo?"  

"Porque apesar do meu... trauma." A britância franziu as sobrancelhas. "Eu já tinha experiência. Se fosse minha primeira vez, com certeza teria esperado."

"Mas eu já tô pronta, Cheryl. Não é só você que tem vontades, sabia? Eu tenho pensado muito nisso."

"Você pode tá pronta, mas eu não acho que o Asa esteja."

"Como assim? Ele não é mais virgem."

"Eu sei. Mas a primeira experiência dele não contou e a segunda sei lá."

"Pra mim já foram experiências mais que suficientes."

"Então... depende. Eu só acho bom avisar que as coisam podem não sair do jeito que você tá esperando."

"Por que não?"

"Porque às vezes não sai. Principalmente no começo."

"Mas eu não vou ter que passar pelo começo de qualquer jeito? Então que seja agora."

Cheryl olhou para a ruiva sem saber o que responder.

"Olha, eu também não gostei que você fez com o Edward." Nicola admitiu.

"Não?" Cheryl indagou surpresa.

"Não." Nicola respondeu simplesmente como se não tivesse dito nada demais.

"Se importa de explicar?" 

"Eu não acho que ele te merece. Você deu de bandeja algo que ele deveria ter lutado pra ter." A ruiva explicou.

"Não tinha porquê fazer ele lutar."

"Eu acho que tinha. Ele já te tratou muito mal, Cheryl. E nem tentou se enquadrar com os seus amigos. Ficou aqui com a gente todo arrogante e se achando melhor que todos nós. E no final a recompensa foi te levar pra cama."

"Eu não vi desse jeito."

"Eu preferia que você tivesse dormido com a Kimberley do que com ele!" Nicola tirou os braços da Geordie e foi andando.

"O quê? Nicola!" Cheryl foi atrás dela.

"Não quero falar mais disso." A ruiva foi em direção ao namorado.

"Mas... Oi!" Cheryl deu de cara com o Asa e preferiu não continuar o assunto na sua frente. "Depois nos falamos então." A Geordie disse quieta para Nicola, depois abaixou a cabeça e saiu.

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Boys talk

 

Andrew estava conversando no whatsapp com seus velhos amigos de Ensino Médio, Adam e Howie. A conversa foi traduzida para o português.

Howie:

Andrew: Sua família é realmente muito bonita, Howie.

Adam: Quem diria que um dos maiores pegadores da escola seria um viado com uma família tão adorável?

Andrew: Rsrsrs.

Howie: Vcs não imaginam quantos caras eu peguei naquela época e td escondido.

Adam: Tinha mt gay na nossa escola. Eu to surpreso que o Andrew não se revelou um.

Andrew: Vai se f***r!

Howie: Eu nunca esperei isso do Andrew. Ele tinha um gosto péssimo pra garotas. Nós gays somos exigentes com os rostos. 

Adam: Só caminhão hahahahaha.

Andrew: Eu sei que eu tinha mau gosto, podem zoar. Mas deixa eu falar: a minha mulher de agora é muito, mas muito linda. Foi a mulher mais linda que eu já tive na minha vida.

Howie: Só trabalho com fotos.

Andrew:

Adam: Ah, duvido que essa seja a sua mulher.

Andrew: Não sei os outros, mas mesmo sem conhecer a mulher deles, duvido que seja mais bonita que a minha.

Howie: Ela é alta?

Andrew: Não, só parece, mas ainda assim poderia ser uma modelo (as pernas dela são maravilhosas e deliciosas tbm 😈). Ela já foi até capa de revista. É uma advogada muito prestigiada no Brasil.

Adam: Queria mais fotos da perna.

Howie: Aí tu furou a camisinha pra engravidar a mulher e obrigar a casar com você, foi isso.

Andrew: Podem acreditar, aqui no Brasil eu me dei muito bem. Eu tive uma ex muito linda também. Vcs ficariam pasmos se vissem a foto dela, mas não deu certo. Ela era muito nova e eu muito velho. 

Howie: Envelheceu e quis as novinhas?

Adam: Antes gostava das mais velhas... O tempo muda tudo. PS: Ainda quero as fotos das pernas.

Andrew: Vai ficar querendo.

Adam: Pra q faz propaganda então?

Andrew: Rsrsrsrs.

Howie: E a filha? Cadê a foto dela?

Andrew: Minha Melzinha. 

Howie: Que linda! Puxou a mãe.

Adam: Essa podia ser modelo também. 

Andrew: Eu to muito feliz, to com uma família muito bonita, literalmente. 

Adam: Da última vez que nos vimos, vc tava bem mal, cara.

Andrew: Naquela época eu tava deprimido. No Brasil me senti ainda mais solitário. A Jessica me salvou, me deu uma filha, agora vai me dar mais dois, me devolveu uma família. Também me deu a minha enteada que é incrível. E eu já tinha o meu Asa, que era a única coisa que me fazia feliz, e agora tbm tenho uma filha que eu descobri faz pouco tempo, Zendaya.

Howie: Oi? Como assim?

Adam: Ah, ta de brincadeira?!

Howie: E diziam que isso aconteceria comigo!

Andrew: Pois é, dá pra acreditar? A mãe da menina era a minha noiva, mas a gente terminou. Isso foi antes de eu me casar pela primeira vez. Acontece que ela tava grávida e eu só descobri agora pouco. A mãe faleceu e agora ela veio me procurar. Mais uma menina.

Howie: E sua mulher aceitou isso numa boa?

Andrew: Vcs têm que conhecer a Jessica. Ela tem muita personalidade, sabe? Mas ela tbm é muito sensível. Ela faz coisas que outras nunca fariam. Ela aceitou mt bem a Zendaya.

Adam: E qual é o defeito dela? Pq não tem como ser tão perfeita assim.

Andrew: É muito desejada.

Howie: Isso dá pra entender. Até eu fiquei de olho, confesso, e eu sou gay.

Andrew: Ela tbm tem uma personalidade forte, então juntando com a minha, temos embates épicos às vezes, mas no geral, é uma mulher pra vida inteira. É o tipo de esposa que se morrer, vc vai logo depois de tristeza.

Adam: Uau, Andrew, parabéns. Outro com uma família muito bonita.

Andrew: Obrigado. Mas e você, Adam, como anda o casamento?

...

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Scenes from um reencontro

Seus olhos pareciam estar pregando uma pegadinha. Jonathan ajeitou os óculos e voltou a encarar a moça grávida de cabelos alaranjados, do outro lado da rua.

Ela estava segurando uma bebê no colo, evidenciando, finalmente ter conseguido realizar o seu grande sonho de ser mãe.

Seu relacionamento com a advogada foi tão turbulento, quanto andar numa montanha-russa de olhos vendados, onde não dava para saber o momento que viriam as subidas e as descidas, fazendo que fosse de forma súbita, intensa e destrutiva.

Momentos de paixão, entrega, fúria e tristeza, revisitaram a cabeça do psicólogo, tudo de uma só vez. Tudo nos dois era muito intenso, os choros, as risadas, o beijo, o sexo, as brigas... Eram duas pessoas quebradas tentando encontrar no outro a peça que faltava em si. Jessica, de muitas formas, foi sua redenção e sua sina. O tempo que passaram juntos, apesar de breve, ficou gravado em sua memória, trazendo consigo, um sabor agridoce.

O fim foi arrastado e doloroso. A intenção era ofender, ferir, humilhar... Causar lesões tão profundas que, mesmo que se cicatrizassem, deixariam marcas permanentes um no outro.

A ambiguidade da ruiva e de seus sentimentos era transmitida por palavras, ditas e não ditas, fazendo com que se sentisse o homem mais sortudo e miserável de todos. 

Ao observá-la com uma filha no colo e um filho no ventre, chegou a conclusão de que ou a advogada tinha reatado com seu ex-marido, ou outro homem se mostrou apto para a posição que lhe foi negada anos atrás.

Jessica virou o rosto e agora o olhava como se tivesse visto uma assombração.

Jonathan abaixou a cabeça e começou a andar na direção oposta. Poucos minutos recordando o passado foi o suficiente para voltar ao estado de insignificância que sentiu na época que estava com ela. Ao andar dando passos largos, tentando fugir daquela situação, escutou a advogada gritando seu nome. Aquela voz que já tinha sido veículo de palavras tão doces, e também, tão desprezíveis. Seu coração disparou. Ele virou.

Jonathan observou Jessica se aproximar um pouco ofegante com a bebê no colo.

"Tá fugindo de mim?" A ruiva deu um sorriso sarcástico, aquele que Jonathan conhecia muito bem.

"Você me pegou." Jonathan respondeu sem graça, colocando as mãos no bolso.

"Eu vi você olhando."

Jessica soou doce, diferente da primeira e da última vez em que a viu.

"Desculpa. Sua filha?" Jonathan apontou com a cabeça.

"É." Jessica ajeitou o peso da bebê no colo.

"Parabéns. Você conseguiu tudo o que queria." Jonathan falou com um quê de ironia.

"E você? Vai bem?" Jessica ignorou a atitude provocativa de Jonathan. 

"Sim."

"Tá casado?"

"Não, ainda divorciado." Jonathan riu sem humor.

"A gente podia ir pra algum lugar... conversar um pouco."

"Não."

"Jonathan..."

Quando Jessica o chamou assim, foi como se o tempo não tivesse passado.

"Você não vai querer um alcoólatra perto de você e da sua filha."

Jonathan estava muito diferente desde a última vez em que o viu. Estava mais magro, mais cabisbaixo, mais triste... muito diferente do cara confiante que liderava as reuniões dos Viciados Anônimos.

"Você sabe que isso não é verdade. Nós dois estamos no mesmo barco. Não sou melhor que você em nada."

"Não tente se equiparar a mim."

"Você mais do que ninguém sabe que as aparências enganam. Não tô tão bem quanto pareço estar."

"Você parece ótima."

"Não estou."

"Tudo bem. Podemos conversar." Jonathan cedeu.

"A gente pode tomar um café, o que acha?"

"Vamos lá."

Os dois caminharam em silêncio para a cafeteria, parecendo um pouco com a primeira vez que saíram juntos.

"É do Bradley?" Jonathan perguntou quando terminaram de fazer seus pedidos.

"Não. É do melhor amigo dele."

"Imagino que não sejam mais tão amigos assim." Ele riu debochado.

"Não, não são mais."

"E esse que tá pra chegar também é do melhor amigo do seu ex?"

"Esses. São dois. E são dele também. Nós nos casamos no final do ano passado."

"Parabéns."

"Obrigada. E como vai a loja?"

"Faliu com a pandemia."

Jessica enrugou a testa com a resposta. "Sinto muito."

"Sente?"

"O que você quer dizer com isso? É claro que eu sinto. Você acha o quê? Que eu ficaria feliz em ouvir isso?"

"Feliz não. Apática."

"Não, eu não fiquei apática. " Jessica falou irritadiça.

"Tudo bem, não precisa ficar irritada."

"Eu não tô irritada."

"Tem razão, má leitura minha." Jonathan achou melhor dar um passo para trás para não deixar o clima pesado. 

"E você tá fazendo o que agora sem a loja?"

"Pedindo esmola."

"É sério?"

​"Não né."

"P***, Jonathan! Piada de péssimo gosto."

"Desculpa. Não cheguei nesse nível ainda, mas tô quase lá." 

"Você tá trabalhando?"

"Arrumei um serviço de segurança."

"E tá morando naquele apartamento ainda?"

"Não. Ficou muito caro pra eu pagar o aluguel e as contas. Acabei indo morar com os meus pais."

O olhar da advogada caiu. Ela não sabia o que dizer. Ver Jonathan passando dificuldade apertou seu coração. 

"Você voltou a beber?"

"Quando minha loja faliu? Sim. Muito."

"E agora?"

"De vez em quando. Tem dias e dias. Eu tô bem pior desde a última vez que você me viu."

Jessica colocou a mão em cima da dele, porém Jonathan a recolheu rapidamente, envergonhado com as sujeiras da sua mão.

"Jonathan..."

Jonathan começou a chorar contra a sua vontade. 

Jessica levou sua cadeira pra perto dele e colocou o braço que não estava segurando a Mel, em volta dos seus ombros e fez carinho de leve. Ela ficou escutando o choro do amigo, em silêncio, até ele se recuperar.

"Me desculpa." Ele tirou o óculos para enxugar as lágrimas.

"Me dá aqui." Jessica pegou os óculos da mão dele e começou a limpar com um lenço de papel.

Aquele movimento lembrou muito ao passado. Jonathan observou a ruiva passando o lenço com perfeccionismo e cuidado, enquanto Mel tentava pegar no óculos com sua mãozinha.

"Vê se tá bom." Jessica passou o óculos para ele. 

"Tá ótimo. Obrigado." Jonathan colocou o óculos novamente. "Sua filha é muito linda. Deve ser a bebê mais bonita que eu já vi."

"Obrigada." Jessica agradeceu, gentilmente. 

"Ela lembra muito você." Jonathan completou. 

"Sério? Todo mundo diz que ela lembra mais meu marido."

"Bem, eu não conheço seu marido. Mas que ela lembra muito a você, ela lembra."

"Quer segurar ela um pouquinho?" 

"Tem certeza? Eu tô meio suado. Vim pra cá de metrô e tava bem cheio."

"Ela aguenta." Jessica riu. 

"Tudo bem."

Jessica entregou sua bebê para Jonathan. Ele começou a falar com Mel fazendo caretas e uma voz engraçada. 

"Ela gostou de você. Você não tem ideia do quanto é difícil fazer a Mel rir."

"Mel é um nome muito bonito." Jonathan constatou. 

"Obrigada. Mas não combina muito com ela não. Ela é mais azedinha. Principalmente de manhã."

"Então ela puxou a mãe."

"ESSA é uma coisa que eu sempre escuto." Jessica riu. 

"Fico feliz por você. Eu sei o quanto você queria ter um filho. Fico realmente muito muito feliz."

Jonathan lembrou da vez que Jessica pirou quando achou que podia estar grávida dele. Ela agiu como se fosse a pior coisa do mundo engravidar de alguém como ele e fez questão de demonstrar a todo o momento o quanto ela detestaria a ideia de ter um filho seu. Ele ficou tão magoado que jurou nunca mais tê-la de novo, porém, quando esta descobriu que era alarme falso, usou de seu charme para seduzi-lo de volta à sua cama. 

Muitas vezes Jonathan se sentiu manipulado pela ruiva, enquanto seus sentimentos por ela eram fortes e reais, a advogada parecia apreciá-lo apenas de quando em quando. 

"Eu sinto que joguei muito das minhas frustrações em você. Não foi muito justo. Desculpa." A ruiva revelou. 

"Não! Fico feliz que tenha jogado. Foi melhor do que quando você era fechada, e fingia que tava tudo bem, quando seus olhos diziam justamente o contrário." Jonathan falou ainda brincando com Melzinha. 

"Você apareceu na minha vida numa das minhas piores épocas." Jessica revelou pensativa. 

"E você apareceu na minha numa das minhas melhores."

"Você era tão perfeito que me dava raiva."

"Minha vida sempre foi longe de ser perfeita."

"É que você controlava muito bem as suas emoções. Você sempre teve um ótimo controle emocional." 

"Meus pais diriam o contrário. Minha ex-mulher, nem se fala."

"Eu tinha inveja de você."

"E agora você tem pena. Olha como o mundo dá voltas." Jonathan falou irônico. 

"Eu não tenho pena."

"Fala sério, Jessica. Você me olha como as pessoas olham um cachorro de rua com fome."

"Eu me importo com você. É óbvio que não gostei de saber que sua loja faliu e que você tá trabalhando de segurança num... Aonde?"

"Numa boate."

"Numa boate."

"Poderia ser pior."

"​Eu sei. Pelo menos você tem uma casa, mesmo que seja a dos seus pais, um trabalho, tá com saúde... Tem muita gente em situações bem mais adversas."

"Verdade, não posso reclamar. E como você tá? Desde a última vez que eu te vi, você parece outra pessoa."

"Eu não era eu mesma naquele dia. Foi como se um espírito ruim tivesse se apossado de mim e dito todas aquelas coisas horríveis pra você. Eu vi o que minhas palavras estavam fazendo e eu me senti péssima, mas não consegui parar. Depois daquela noite eu fui pra casa e me senti tão desprezível. E o pior é que você foi embora achando que eu não sentia nada por você, o que estava longe de ser verdade."

"Não adianta ficar remoendo o passado."

"Eu só queria me desculpar por como eu te tratei. Não pode ser coincidência a gente se reencontrar depois de todos esses anos. Deve ter sido pra eu poder me retratar, não é?" Jessica deu um riso nervoso.

"Não precisa se desculpar, sério. Eu também errei muito, por mais que eu tenha me feito de superior na época."

"Eu fiquei com a impressão que você achou que eu queria só..."

"Sexo?"

"Isso." Jessica riu e Jonathan riu junto. 

"Pode passar uma eternidade, mas você sempre vai ter dificuldade de falar sexo."

"Patético, né?"

"Eu acho bonitinho."

"Aham."

"E como você tá?"

"Comparado a última vez que você me viu, bem melhor. Mas eu tenho me sentido uma força negativa."

"Como assim?"

"Eu acho que eu deixo as pessoas à minha volta tristes ou estressadas. Tipo, tá todo mundo bem, rindo e brincando, e aí eu chego e deixo todo mundo infeliz, que nem uma fruta estragada que acaba contaminando as outras. Aí eu fico triste, com raiva, mais triste e começo a pensar num monte de besteira."

"E você ainda tem feito aquilo?"

"Desde que eu descobri que tava grávida dos gêmeos, não. Da última vez eu acabei perdendo o controle e a coisa ficou muito séria. Foi ótimo, mas péssimo ao mesmo tempo. Eu tenho muito medo de algo acontecer com os bebês por minha causa."

"E o que você tá fazendo pra controlar a vontade?"

"Minha regra é não usar objetos cortantes durante a gravidez."

"Seu marido sabe?"

"Ele sabe que acontece, mas não tem noção da frequência e nem como eu faço. Eu não quero que ele se preocupe."

"E você conversa sobre isso com alguém?"

"Não."

"Você deveria ter alguém pra conversar sobre isso."

"Às vezes eu falo com o meu psicólogo, mas não é um assunto que me sinto confortável em falar. Eu sou muito quebrada, Jonathan. Nenhum tratamento no mundo vai mudar isso."

"As melhores flores vêm em vasos quebrados."

"Tenho quase certeza que o ditado não é esse."

"É o que eu acredito."

"Eu quero te fazer uma proposta."

"Qual?"

"Eu quero que você trabalhe comigo, na minha empresa. Você pode ficar na área de recursos humanos.  O salário não é ótimo, mas também não é ruim. Você vai poder sair da casa dos seus pais, se for do seu interesse, é claro, e também é mais seguro do que trabalhar como segurança de uma boate. O que acha?"

"Obrigado pela oferta, mas não."

"Por que não? Não seja orgulhoso."

"Não é orgulho."

"Então é o quê?"

"Você nem me entrevistou, nem viu meu currículo, aposto que têm várias pessoas mais aptas pro cargo do que eu."

"Só que eu sou a chefe e eu quero você."

Jonathan arregalou os olhos.

"Pro cargo." Jessica completou.

"Não tenho interesse num cargo que só consegui porque comi a chefe."

"Wow." Jessica exclamou, surpresa.

"Desculpa."

"Tudo bem. Você quem sabe." Jessica tomou um gole do seu latte.

"Não, me desculpa. Fui muito infeliz no que eu disse."

"Foi."

"É que eu não quero me sentir como se eu não merecesse tá ali e ver meus colegas de trabalho me olhando da mesma forma."

"Claro que você merece. Você é uma das pessoas mais esforçadas que eu conheço, e acima de tudo, é uma pessoa que eu confio. Se você quiser, você pode conhecer a empresa primeiro, ver como é o departamento pessoal e depois você me dá a resposta."

"Tudo bem." Jonathan disse e a ruiva sorriu. "Aceito conhecer a empresa." Ele completou e voltou a brincar com a Mel. 

"Justo. Você vai pra onde depois daqui? Quer uma carona?"

"Não, obrigado. Quero seu número de telefone, se você não se importar." 

Os dois trocaram os telefones, se despediram, e depois cada um foi para o seu canto.