Algo
tinha acontecido, disso Asa tinha certeza.
Ele
pensava isso, enquanto roía as unhas, esperando a diretora chamá-lo para a sua
sala.
Certamente,
ela tinha mudado e ele era um dos responsáveis por essa mudança, mas nada
que...
“Asa,
eu não tenho nada pra falar com você.”, disse Elizabeth, enquanto saía da sala
acompanhada por uma Tabatha choramingando.
“Mas
ela é minha irmã!”, Asa protestou, seguindo a diretora.
“Exatamente,
ela é sua irmã, não sua filha.”, falou a diretora dando ênfase nas palavras “irmã”
e “filha”.
“Eu
me sinto responsável por ela do mesmo jeito.”
“Eu
já falei com a sua mãe.”
Droga!
“Ela
foi suspensa?”
“Por
dois dias.”
“Dois
dias? Mas ela é uma criança! Qualquer criança puxa o cabelo da outra. Aposto
que a Tabatha provocou.” A menina e a diretora fuzilaram o garoto com os olhos.
“Eu só to querendo dizer que a Crystall não é uma pessoa agressiva”.
“Vanessa,
você pode levar a Tabatha até o banheiro e lavar o rosto dela?”
“Posso.
Vamos, linda!”
“Asa”,
Elizabeth se virou para ele, “sua irmã não só puxou o cabelo da Tabatha. Ela
disse coisas muito feias também.”
“Crianças
chamam a outra de feia, burra.”
“Você
sabe que a sua irmã não é como as outras crianças. E outra: ela não chamou a
Tabatha de feia ou de burra. Ela falou palavrão.”
Asa
bugou. Crystall não falava palavrão.
“Mas
a Crystall não fala palavrão.”
“Acontece
que dessa vez ela falou.”
“Eu
não acredito.”
“Asa,
ta nas câmeras.”
Então
Crystall realmente havia dito palavrão.
“Asa,
aconteceu alguma coisa na casa de vocês? A Crystall ta... diferente.”
Havia
acontecido, mas Asa não fazia a menor ideia do que.
“Não
que eu saiba.”
“Tudo
bem. Eu vou conversar com a sua mãe.”
“Posso
falar com ela?”
“Com
a sua mãe?”
“Não.
Com a Crystall.”
“Melhor
não, Asa. Não é porque você é filho de um professor que pode ter regalias aqui.”
“Ok.
Eu falo com ela depois.”
“Melhor.”
O
garoto saiu derrotado. Crystall estava mais diferente do que o normal. Aquele
novo eu dela que as pessoas achavam, Asa já estava acostumado. Essa última
versão que agora o assustava.
“E
aí?”, perguntou Eric curioso.
Asa
balançou a cabeça negativamente.
“Será
que o seu pai não consegue descobrir alguma coisa pra você?”
“Acho
que não tem o que descobrir. Ela bateu na garota e, pelo que parece, até
xingou. O que eu quero descobrir, meu pai nunca vai conseguir. Sem contar que é
melhor deixar ele de fora dessas questões que envolvem filhas da minha mãe. Não
quero ele com problemas no casamento de novo.”
“Verdade.”
“Quando
eu chegar em casa, vou falar com ela.”
“Será
que ela vai te falar alguma coisa? Você já tentou outras vezes e ela não falou
nada.”
‘Dessa
vez eu vou insistir.”
“Sua
mãe vai matar ela.”
“Vai.”
As
aulas acabaram e Asa voltou para casa. Chegando lá, não viu sua mãe.
‘Rita,
onde ta a minha mãe?”
“Ta
no quarto dela.”
“E
a Crystall?”
“Ta
no quarto dela.”
“Elas...
brigaram?”
“A
briga do século.”
Asa
estremeceu.
“Ok.”
“Troca
de roupa pra almoçar.”
“Já
vou. Valeu, Rita!”
Ele
subiu as escadas e foi direto para o quarto de Crystall. Ao abrir a porta,
percebeu que ela estava trancada.
“Crystall?”,
ele sussurrou. “É o Asa!” Ele sabia que não poderia falar alto, pois se Antonella
soubesse que a porta estava trancada, aconteceria a Terceira Guerra Mundial.
“Vai
embora!”
“Crystall,
por favor, me conta o que aconteceu.”
Silêncio.
“F**k!”,
xingou Asa frustrado.
O
que tinha feito Crystall ficar tão inquieta? Alguma coisa tinha acontecido.
Provavelmente na escola. Asa começou a pensar no dia que pareceu que tudo
mudou. Não tinha sido uma mudança gradual. Parecia mais algo de um dia para um
outro. Ela começou a ficar agressiva com todos. Com a mãe, com as irmãs, com
ele, Rita e, pelo visto, com os colegas. Não, com os amigos. Tabatha era amiga
de Crystall. O que será que havia acontecido? Quando foi que ela mudou
exatamente? Na quinta passada? Não, foi antes. O dia que ela tinha dado o
primeiro grande fora nele foi na quarta, então devia ter sido na própria quarta
ou na terça, porque segunda, sim, segunda ela estava normal. Então... E o que Crystall
tinha feito na terça e quarta. O celular de Asa tocou.
“Alô.”
“Asa?”
“Quem
é?”
‘Mary.
Da escola.”
Amiga
da Crystall.
Como
ela tinha o telefone dele?
“Oi,
Mary. Tudo bem?”
“Tudo
bem e você?”
“To
bem também.”
Silêncio.
“Como
ta a Crystall?”
“Não
sei. Ela trancou a porta e não ta querendo abrir.”
“Caramba!”
“Mary,
você sabe o que aconteceu pra ela ficar assim?”
“Não.
Só sei que do nada ela quis sentar separado da gente, começou a dar fora em
todo mundo.”
“Sabe
quando isso aconteceu?”
“Não.”
Droga!
“Na
terça passada ela tava estranha?”
“Não
lembro.”
Mary
não iria consegui-lo ajudar.
“Então
não teve nenhum problema na escola? Talvez com um garoto ou uma amiga?”
“Não.
Num dia ela tava bem e no outro se afastou de todo mundo.”
Então
o problema não tinha acontecido na escola.
“Ok,
Mary. Bem, se eu souber de alguma coisa, falo com você.”
“Ta
bom. Você tem meu número?”
“Ta
salvo aqui. Vou colocar o seu nome.”
“Obrigada.
Um beijo. Diz pra Crystall que eu liguei. Beijo.”
“Tchau!”
Se
não tinha sido na escola, então teria que ser algo dentro de casa. Mas nada
tinha acontecido lá, não que ele soubesse... O mal de jogar muito videogame...
Ela tinha saído naqueles dois dias? Hmmmm... Sim. Pra...
Asa
abriu a boca quando se deu conta para onde ela tinha ido.
Crystall
estava agressiva com a mãe, ele, as irmãs, Rita, os amigos.
Não
podia ser.
Será?
Asa
foi até o quarto da irmã.
“Crystall,
pelo amor de Deus, abre essa porta.”
Silêncio.
Asa
começou a bater com mais força.
“Eu
acho que já sei o que ta acontecendo. Abre a porta, Crystall!”
Silêncio.
Não,
não. Será que era aquilo mesmo? Não podia ser! Sua...
A
porta se abriu.
“O
que você acha que aconteceu?”, Crystall estava com os olhos vermelhos de tanto
chorar.
“Crystall,
você viu alguma coisa nesses dias? Algo de errado que não deveria estar
acontecendo?”
Asa
não queria colocar as suspeitas dele em palavras, porque se não fosse nada
daquilo, não queria que soubessem sua falta de fé naquela pessoa.
“Vi.”
O
coração de Asa começou a bater rápido.
“Era
a nossa mãe?”, ele perguntou com cautela.
“Nossa
mãe está traindo meu pai com o Calvin!”