sexta-feira, 25 de março de 2022

Posso contar com você?

Os alunos da turma da Cheryl decidiram se encontrar sexta-feira à noite no Bar do Santana. Alguns dos meninos, incluindo Vincent, estavam bebendo cerveja enquanto jogavam sinuca. Enquanto Hailee, Alison, Tyler, Nico, Cheryl, Nadine, João, Edward, além de alguns outros colegas da turma, estavam numa mesa, a poucos metros de distância, jogando conversa fora. Cheryl estava se sentindo um pouco tonta depois do terceiro copo de chopp. Ela apoiou a cabeça no ombro do namorado e ficou ouvindo a conversa dos colegas, sem prestar muita atenção. 

De repente, a porta do bar se abriu, revelando Ansel. Ele marchou até a mesa dos colegas, olhando fixamente para Cheryl. Os meninos da sinuca pararam de jogar e as pessoas de conversar para observar o garoto. Ansel ignorou os olhares dos curiosos e foi para perto da Geordie.

"Cheryl, preciso falar com você." Ansel falou num tom sério, ainda sem olhar para as pessoas que o encaravam.

Cheryl ergueu a cabeça do ombro do namorado, confusa.

"Comigo?" 

"Sim. Agora." Ansel batia o pé no chão impacientemente.

A britânica olhou para o Edward que estava com uma cara fechada e de novo para Ansel.

"OK." A menina apoiou a mão na mesa para se levantar, com um pouco de dificuldade, e o seguiu para fora.

"Todo mundo tá me tratando como se eu fosse uma m**** de um estuprador. Que p***! Você viu quando eu cheguei? Todo mundo me encarando? Eu não fiz nada, Cheryl! Você me conhece desde que a gente era criança. Você sabe como eu sou. Não sou um monstro. Você acha que eu faria uma coisa dessas com alguém?" Ansel andava de um lado para o outro enquanto proferia sua indignação.

Cheryl se apoiou na parede, se sentindo tonta com o vai-e-vem do amigo. 

"Responde!" Ansel gritou nervoso, se aproximando da menina e colocando uma mão na parede ao lado de seu rosto. 

"Não sei." Ansel arregalou os olhos com a hesitação da Geordie. "Acho que não." Ela respirou fundo. "Eu não tava lá."

"Eu também não estava em muitos lugares em que você foi acusada de ter feito coisas péssimas e, mesmo assim, eu fiquei do seu lado. Eu não só peguei pra mim a sua verdade, mas também defendi ela. Eu sempre fiquei do seu lado em tudo. Até em assuntos que eu nem queria ter me metido."

"Sim, eu sei."

"Agora eu preciso que você faça o mesmo por mim."

"O que você quer que eu faça?" 

"Que você fique do meu lado. Que me defenda. Que diga pra todo mundo que acredita em mim." 

"Eu dizer às pessoas que acredito em você não vai mudar a cabeça delas."

"Você subestima a sua influência."

"Você que não subestima a minha!" A menina retrucou.

Ansel olhou confuso, sem entender o que ela quis dizer.

"Olha, as pessoas te escutam e seguem o que você fala. Se você disser que acredita em mim, automaticamente as pessoas da nossa sala vão começar acreditar também. Você sabe do que eu tô falando. A sua influência querendo ou não ainda é grande. Eu quero que você use ela pra me ajudar."

"Eu não posso fazer isso."

"Por que não?" Ansel perguntou irritado.

"Eu não posso defender um..."

"O quê? Um estuprador?" Ansel socou a parede e Cheryl estremeceu. 

"Não."

"Então o quê?"

"Eu não quero me meter nisso. É sua palavra contra a dela. Eu não tava lá." Cheryl choramingou. 

"Foi consensual!"

"Ela disse que não tava em condições de dizer sim."

"Mentira! Mentira! É claro que tava! O que aconteceu é que ela deu pra mim, se arrependeu e inventou que eu forcei. Você me conhece, Cheryl. Você sabe que eu nunca faria uma coisa dessas. Não é da minha índole. Eu sou uma boa pessoa, p***! Todo mundo sempre disse isso. Agora vem essa filha da p*** me caluniar e vocês acreditam? Eu esperava mais de você." Ansel se afastou e começou a andar com a mão na cabeça. "A minha vida tá um inferno, Cheryl." Ele começou a chorar. "Parece que tudo de bom que eu fiz foi por água abaixo por causa dessa garota."

Cheryl o fitou, confusa. Ele tinha razão. Desde o dia que o conhecera, sempre foi um garoto exemplar. Era difícil acreditar que Ansel seria capaz de cometer estupro. 

"Eu não tô dizendo que eu não acredito em você. É só que... eu de fato fui... você sabe o quê... Eu não me sinto confortável em me posicionar sobre esse assunto. Quando aconteceu comigo, eu fiquei com medo do meu pai não acreditar em mim, e depois, dos policiais não acreditarem. Fiquei com medo deles acharem que, de alguma forma, eu tinha pedido pra aquilo acontecer." Ela enxugou uma lágrima que havia caído no rosto. "Eu não quero dizer que uma mulher está mentindo sobre uma coisa dessas sem realmente saber. Me desculpa, mas eu não tava lá."

"Então você acha que eu posso ter realmente estuprado alguém?"

Cheryl ficou em silêncio, pensativa. 

"Deixa pra lá. Desculpa ter te incomodado." Ansel começou a andar na direção oposta ao bar, indo embora. 

"Espera!" Cheryl gritou e andou com dificuldade até ele. "Eu acredito em você."

"A-credita?" A boca de Ansel tremia de emoção. 

"Sim."

Ansel jogou seus braços em volta do pescoço da Geordie e a abraçou fortemente. "Obrigado." Ele sussurrou em seu ouvido. 

Depois de um tempo a menina se desvencilhou do abraço. "Eu ainda não vou pegar nenhum lado publicamente." Ela disse olhando nos seus olhos. 

"Tudo bem."

"Tá todo mundo estranho com você porque o que aconteceu foi muito recente. Daqui a pouco isso vai cair no esquecimento e tudo vai voltar ao normal."

Ansel assentiu. 

"Até lá, você vai ter em mim uma amiga."

"Eu não quero te colocar numa situação desconfortável. Não precisamos sermos amigos. Até a Chloe me abandonou... Você não tem que ficar."

"Eu quero ficar." 

"Obrigado." Ansel abraçou a menina mais uma vez "Você não sabe o quanto eu sou grato."

"Não precisa agradecer." 

Ansel tirou os braços em volta da Geordie. "Eu vou indo."

"Ok."

"Obrigado mais uma vez."

"Volta com cuidado."

"Você também, se cuida."

Cheryl voltou para dentro do bar e Ansel foi para casa. 

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