Jessica estava na cozinha dando comida para Sadie na cadeirinha, quando ouviu um gemido alto.
"É
pra brincar sem machucar!" Jessica gritou e voltou a dar atenção à bebê.
De
repente, mais gemidos ainda mais altos.
Jessica
tirou Sadie da cadeirinha num movimento só e foi averiguar o que estava
acontecendo.
"Emma?" Jessica gritou e foi andando em direção ao quarto da menina. Ao se aproximar da porta ela viu seus três filhos em pé ao lado da cama, onde Emma gemia e se contorcia de dor.
"Axu
qui tá duendu, mãe." Mel informou.
"Deixa
eu ver ela. Vão lá pra fora."
Andrew
apareceu na porta do quarto.
"O
que foi?" A pergunta do professor foi respondida ao ver a menina segurando
a barriga com força, com os olhos espremidos e gemendo contra o travesseiro.
Sadie
começou a chorar.
"Tira
as crianças daqui. Leva a Sadie." Jessica entregou a caçula para o Andrew
e foi correndo para o lado da primogênita.
Andrew
guiou seus filhos para fora e saiu do cômodo.
"Fala
pra mim onde tá doendo." Jessica falou nervosa. "É o estômago?
Apêndice? Consegue levantar pra eu te levar pro hospital?"
Emma
não conseguiu responder. A dor era tanta que até a simples tarefa de respirar
se tornara uma tortura.
Jessica
observou o rosto da filha vermelho igual a um pimentão, seu cabelo grudado no
rosto com o suor, e os olhos fechados com extrema força.
Ela
começou a acariciar o braço da menina.
"O
que você tem, filha?" As lágrimas da advogada começaram a cair, em
desespero. "Vou te levar pro hospital." Jessica disse decidida.
A
respiração da menina estava ofegante. Jessica afastou o cabelo do rosto da
filha, e depois o lençol.
A ruiva levantou a mão e tomou susto quando viu sangue.
Ela abaixou a mão e viu a
cama empoçada de sangue. Seu coração disparou quando o senso de realização do que estava acontecendo tomou conta. Ela conhecia aquele cenário bem demais, pois já havia passado
inúmeras vezes. Emma continuava gemendo e Jessica tirou o lençol de cima das
pernas da filha, com as mãos trêmulas, e viu sangue escorrendo por elas.
"Vai
ficar tudo bem." Jessica falou chorando. "Eu vou cuidar de
você."
A advogada
pensou em pegar um remédio para a menina, mas a dor dela parecia ser tanta, que
seria quase impossível fazê-la sentar para engolir. O jeito seria esperar a menina
expelir o feto, pois só assim a dor começaria a diminuir.
Ela
continuou fazendo carinho na menina até ela soltar um grito mais alto que os
outros. Jessica olhou para baixo e viu a excreção do feto na cama. O gemido de
dor da filha foi substituído por um choro alto e triste.
Jessica
sabia muito bem que nada que falasse diminuiria a dor da sua filha naquele
momento. Ela enxugou as próprias lágrimas e continuou acariciando as suas
costas.
Após alguns minutos, Andrew apareceu na porta e arregalou os olhos com o que estava vendo.
Jessica se levantou e levou o marido para longe da vista da Emma.
“A Emma teve um aborto. Eu nem sabia que ela tava grávida.” Jessica
falou e começou a chorar.
Andrew abraçou a esposa com um semblante triste. “Como ela tá?”
“Ela tava chorando, mas agora parou. Não falou nada ainda. Ela tá
deitada em cima de todo aquele sangue. Eu queria tirar ela dali e dar um banho,
mas tô com medo de mexer nela.” Jessica falou soluçando.
“Eu te ajudo a trocar o lençol da cama dela.” Andrew ofereceu.
“Ta bom.” Jessica concordou.
O casal entrou no quarto da menina, que estava imóvel em cima da cama. Andrew
ficou chocado com o cenário. Parecia que tinha ocorrido uma chacina na cama da
garota. Emma tinha sangue até no rosto. A advogada abriu o armário e tirou um
lençol limpo.
“Levanta ela pra eu conseguir puxar o lençol.” Jessica pediu para o
marido com a voz séria e grave.
Andrew se aproximou da menina, esperou por alguma objeção da parte
dela, e depois a levantou com cuidado. Jessica puxou o lençol sujo depressa,
embrulhou e jogou no canto da cama. Em seguida, colocou o lençol limpo no
lugar. Andrew deitou Emma na cama, tentando ignorar as pernas sujas de sangue
da menina.
“Não é melhor levar ela ao médico?” Andrew perguntou assustado.
“Eu vou levar ela amanhã.” Jessica disse pegando o lençol com o
feto morto, e entregando para ele. “Não joga fora. Leva pra lavanderia do andar
debaixo.”
Andrew estranhou o pedido, porém assentiu e saiu.
Jessica pegou uma toalha e uma bacia, encheu de água e foi até Emma.
“Vou te limpar, tá filha?”
Emma, como o esperado, não respondeu. Jessica molhou a toalha na bacia
de água e começou a passar nas pernas da menina, delicadamente. A garota voltou
a chorar em silêncio.
“Eu sei que nada que eu disser agora vai diminuir a sua dor, ou te dar o entendimento do porquê essa coisa tão terrível tá acontecendo com você, mas eu queria dizer que você não tá sozinha, e que às vezes coisas ruins acontecem com pessoas boas.” Jessica limpou o nariz com o braço.
Emma chorou com mais intensidade.
“Eu não sou boa.” Emma falou com dificuldade. Ela mal conseguia respirar por tão forte que estava chorando.
“Claro que é! Filha, você é a melhor pessoa que eu conheço! Não pense nisso
como uma punição.”
A garota balançou a cabeça incrédula.
“Eu quero ele de volta! Não dá pra salvar? Cadê ele?” Emma olhou em
volta.
“Já foi.” Jessica informou.
Emma continuou procurando.
“Em, já foi.” Jessica segurou a
filha.
“Ele escutou eu dizendo que eu não queria ele.” Emma chorou com tanta força que suas veias da testa saltaram de tal forma, que a advogada ficou com medo delas estourarem.
Jessica abraçou a menina. “Ele sabia que não era verdade.” Ela beijou
sua cabeça. “Ele tá com Deus agora e esse é o melhor lugar que alguém pode
estar.”
"Não quero ele com Deus. Eu quero ele aqui!" Emma insistiu.
Jessica não soube o que responder, apenas abraçou a menina com mais força, e orou a Deus em silêncio para que confortasse o coração da filha.