sexta-feira, 21 de julho de 2023

Especial: O que esperar quando você está esperando - Capítulo Final: O aborto

Bebê estrela é um bebê que subiu ao céu e virou estrela por conta de um aborto espontâneo, independente do momento em que esta perda acontece, no começo no meio ou no final da gestação. Ele é é o seu anjinho da guarda que sempre vai ser o seu filho e nunca será substituído. Não é porque uma mãe perde um bebê durante a gestação que ela deixa de ser mãe. Tenha certeza que você não deixou de ser mãe porque o seu bebê foi perdido durante a gestação, você é mãe de um bebê estrela.
-Autor desconhecido

Jessica estava na cozinha dando comida para Sadie na cadeirinha, quando ouviu um gemido alto.

"É pra brincar sem machucar!" Jessica gritou e voltou a dar atenção à bebê.

De repente, mais gemidos ainda mais altos.

Jessica tirou Sadie da cadeirinha num movimento só e foi averiguar o que estava acontecendo.

"Emma?" Jessica gritou e foi andando em direção ao quarto da menina. Ao se aproximar da porta ela viu seus três filhos em pé ao lado da cama, onde Emma gemia e se contorcia de dor.

"Axu qui tá duendu, mãe." Mel informou.

"Deixa eu ver ela. Vão lá pra fora."

Andrew apareceu na porta do quarto.

"O que foi?" A pergunta do professor foi respondida ao ver a menina segurando a barriga com força, com os olhos espremidos e gemendo contra o travesseiro.

Sadie começou a chorar.

"Tira as crianças daqui. Leva a Sadie." Jessica entregou a caçula para o Andrew e foi correndo para o lado da primogênita.

Andrew guiou seus filhos para fora e saiu do cômodo.

"Fala pra mim onde tá doendo." Jessica falou nervosa. "É o estômago? Apêndice? Consegue levantar pra eu te levar pro hospital?"

Emma não conseguiu responder. A dor era tanta que até a simples tarefa de respirar se tornara uma tortura.

Jessica observou o rosto da filha vermelho igual a um pimentão, seu cabelo grudado no rosto com o suor, e os olhos fechados com extrema força.

Ela começou a acariciar o braço da menina.

"O que você tem, filha?" As lágrimas da advogada começaram a cair, em desespero. "Vou te levar pro hospital." Jessica disse decidida.

A respiração da menina estava ofegante. Jessica afastou o cabelo do rosto da filha, e depois o lençol.

A ruiva levantou a mão e tomou susto quando viu sangue. 

Ela abaixou a mão e viu a cama empoçada de sangue. Seu coração disparou quando o senso de realização do que estava acontecendo tomou conta. Ela conhecia aquele cenário bem demais, pois já havia passado inúmeras vezes. Emma continuava gemendo e Jessica tirou o lençol de cima das pernas da filha, com as mãos trêmulas, e viu sangue escorrendo por elas.

"Vai ficar tudo bem." Jessica falou chorando. "Eu vou cuidar de você."

A advogada pensou em pegar um remédio para a menina, mas a dor dela parecia ser tanta, que seria quase impossível fazê-la sentar para engolir. O jeito seria esperar a menina expelir o feto, pois só assim a dor começaria a diminuir.

Ela continuou fazendo carinho na menina até ela soltar um grito mais alto que os outros. Jessica olhou para baixo e viu a excreção do feto na cama. O gemido de dor da filha foi substituído por um choro alto e triste.

Jessica sabia muito bem que nada que falasse diminuiria a dor da sua filha naquele momento. Ela enxugou as próprias lágrimas e continuou acariciando as suas costas.

Após alguns minutos, Andrew apareceu na porta e arregalou os olhos com o que estava vendo.


Jessica se levantou e levou o marido para longe da vista da Emma.

“A Emma teve um aborto. Eu nem sabia que ela tava grávida.” Jessica falou e começou a chorar.

Andrew abraçou a esposa com um semblante triste. “Como ela tá?”

“Ela tava chorando, mas agora parou. Não falou nada ainda. Ela tá deitada em cima de todo aquele sangue. Eu queria tirar ela dali e dar um banho, mas tô com medo de mexer nela.” Jessica falou soluçando.

“Eu te ajudo a trocar o lençol da cama dela.” Andrew ofereceu.

“Ta bom.” Jessica concordou.

O casal entrou no quarto da menina, que estava imóvel em cima da cama. Andrew ficou chocado com o cenário. Parecia que tinha ocorrido uma chacina na cama da garota. Emma tinha sangue até no rosto. A advogada abriu o armário e tirou um lençol limpo.

“Levanta ela pra eu conseguir puxar o lençol.” Jessica pediu para o marido com a voz séria e grave.

Andrew se aproximou da menina, esperou por alguma objeção da parte dela, e depois a levantou com cuidado. Jessica puxou o lençol sujo depressa, embrulhou e jogou no canto da cama. Em seguida, colocou o lençol limpo no lugar. Andrew deitou Emma na cama, tentando ignorar as pernas sujas de sangue da menina.

“Não é melhor levar ela ao médico?” Andrew perguntou assustado.

“Eu vou levar ela amanhã.” Jessica disse pegando o lençol com o feto morto, e entregando para ele. “Não joga fora. Leva pra lavanderia do andar debaixo.”

Andrew estranhou o pedido, porém assentiu e saiu.

Jessica pegou uma toalha e uma bacia, encheu de água e foi até Emma.

“Vou te limpar, tá filha?”

Emma, como o esperado, não respondeu. Jessica molhou a toalha na bacia de água e começou a passar nas pernas da menina, delicadamente. A garota voltou a chorar em silêncio.

“Eu sei que nada que eu disser agora vai diminuir a sua dor, ou te dar o entendimento do porquê essa coisa tão terrível tá acontecendo com você, mas eu queria dizer que você não tá sozinha, e que às vezes coisas ruins acontecem com pessoas boas.” Jessica limpou o nariz com o braço.

Emma chorou com mais intensidade.

“Eu não sou boa.” Emma falou com dificuldade. Ela mal conseguia respirar por tão forte que estava chorando.


“Claro que é! Filha, você é a melhor pessoa que eu conheço! Não pense nisso como uma punição.”

A garota balançou a cabeça incrédula.

“Eu quero ele de volta! Não dá pra salvar? Cadê ele?” Emma olhou em volta.

“Já foi.”  Jessica informou.

Emma continuou procurando. 

“Em, já foi.” Jessica segurou a filha.

“Ele escutou eu dizendo que eu não queria ele.” Emma chorou com tanta força que suas veias da testa saltaram de tal forma, que a advogada ficou com medo delas estourarem.

Jessica abraçou a menina. “Ele sabia que não era verdade.” Ela beijou sua cabeça. “Ele tá com Deus agora e esse é o melhor lugar que alguém pode estar.”

"Não quero ele com Deus. Eu quero ele aqui!" Emma insistiu.

Jessica não soube o que responder, apenas abraçou a menina com mais força, e orou a Deus em silêncio para que confortasse o coração da filha.

Especial: O que esperar quando você está esperando - Capítulo XIII: Confissões e ciúmes

Após o incidente com o Jonathan na sala do grêmio, Emma e Ryan decidiram se reunir na casa da garota, na mesa ao lado da piscina, nos fundos. Na verdade, Emma sugeriu o local para evitar cruzar com Jonathan. A menina o evitava a todo custo desde que revelara, contra sua vontade, o sexo do bebê. O inspetor tentou algumas vezes fazer as pazes com a menina, porém sempre incitava sua ira ainda mais.

"Caramba!" Ryan gritou, dando um susto na menina.

"Que foi?" Emma derrubou a caneta e abaixou para pegar do chão.

"Dexter e Bella se beijaram." Ryan falou animado. "Finalmente!"

"Sério?"

"Aham. Saiu no blog." Ryan entregou o celular para a menina, que leu tudo com atenção.

"Uau." Exclamou, a ruiva. "Eu gosto deles juntos."

"Eu também. Melhor que Edward e Cheryl."

"Você só não gosta de Edward e Cheryl porque você queria ela pra você."

"Nem é por isso. É porque as personalidades deles não combinam. Ela é tão viva e ele é tão pra baixo."

"Não acho ele pra baixo. Dizem que ele é engraçado."

"Esse é o problema. Dizem. Agora quem disse ninguém sabe."

"Eu acho que eles combinam." Emma deu de ombros.

"Mais que Bella e Dexter?"

"Não, né. Bella e Dexter são muito fofos e essa história da cesta é muito boa." Emma admitiu.

"Você tá mais sentimental." Gosling observou.

"Tô nada."

"Tá sim."

"Não tô!" Emma falou brava.

"Tudo bem. Você não tá." Ryan levantou aos mãos em rendição e riu.

"Odeio que quando a mulher tá grávida, tudo culpam os hormônios. É bem chato isso."

"É que você sempre teve mais hormônio masculino que feminino. Agora que balanceou tá dando pra notar a diferença."

"Tão engraçado." Emma debochou.

"O Jonathan gosta de você."

"O quê?" Emma tossiu.

"Ele vive te secando com os olhos."

"Ele gosta da minha mãe." A menina desconversou.

"A princípio achei que fosse isso, mas não... ele gosta é de você."

"Você tá louco." Emma voltou sua atenção ao notebook.

"E pela sua reação, o que eu falei não é surpresa pra você."

"Eu tô cansada. A gente continua amanhã." Emma se levantou e começou a recolher suas coisas.

"Eu não julgo." Ryan falou sem sair do lugar.

"Eu não tava preocupada com o seu julgamento." Emma falou brava.

"Eu sei. Desculpa. Fui muito prepotente."

Emma não respondeu.

"Acho que o que tá acontecendo é pra melhor." Ryan falou pensativo.

"Eu sei."

"Porque você não conseguiria fazer por conta própria..." Ryan continuou o pensamento.

"Não." Emma concordou. "Você conseguiria?"

"Acho que depende de quem eu engravidasse."

"Tipo?"

"Se eu engravidasse, por exemplo, uma prostituta, eu ia querer."

"E se ela não fosse uma prostituta?"

"Aí depende. Se fosse você não iria querer, mas se fosse alguém sem significado pra mim, iria. Só que o desejo do homem não conta muito nesses casos."

"E se você engravidasse o Jonathan?"

"Nesse seu cenário bizarro, eu mesmo levaria o Jonathan até a clínica. Não sou contra aborto, Emma."

Emma refletiu o que o amigo dissera por alguns segundos. "Queria ser homem." Ela declarou.

"Se você fosse homem seria um desperdício. Você é uma mulher formidável." Gosling falou com o seu charme de sempre.


"Não foi você que disse que eu sou mais macho que fêmea?"

"Sim. Tipo a Frida Kahlo. Outra mulher formidável."

"Você é estranho."

"Talvez" Ryan deu de ombros.

Devon levantou do lugar que estava dormindo e foi até Emma. Ela sentou na espreguiçadeira e começou a brincar com o cachorro.

"Vou te deixar descansar." Ryan levantou.

"Você não precisa ir embora. Eu só falei porque eu tava com raiva." Emma apertou o rosto do cachorro de leve.

"De mim?" Ryan se aproximou e sentou do lado da menina.

"Não de você. Da situação. Eu fiquei com vergonha de você ter descoberto... sobre o Jonathan." Emma manteve o seu olhar no cachorro.

"Não tem porquê ter vergonha disso. A gente já fez coisas mais embaraçosas que isso. Lembra da festa don't start now?"

Emma riu. "Lembro."

"Não consigo escutar aquela música até hoje." Ryan brincou e Emma sorriu. Ela deitou a cabeça no ombro do garoto e continuou acariciando o cachorro.


"Eu falei com o meu irmão ontem." Emma falou depois de um tempo.

"Com o Brian?" Ryan perguntou.

"Não, com o Bryce. Eu acabei contando a verdade pra ele.”

“E?”

“E ele disse que já esperava que isso acabasse acontecendo mais cedo ou mais tarde, e que me apoiava e tá com saudades.”

“Uau. Não esperava isso dele.” Ryan disse surpreso.

“Nem eu! Ele também disse que tá namorando e super bugou minha cabeça. Tô me sentindo tão velha...”

“Quem diria! Parabéns pro moleque! Ela é bonita?”

“Ela é fofa. Eles combinam.”

“Agora que ele nem deve querer saber de voltar pro Brasil.”

“Ele disse que ainda esse ano vem me visitar.”

“Legal. Você merece passar um tempo com o seu irmão. Eu sei o quanto ele é importante pra você.”

“É sim.”

Ryan tentou segurar a mão da menina, mas ela afastou.

“O que foi?” Gosling respirou fundo, se sentindo perdido e frustrado. Toda vez que ele sentia que estava chegando em algum lugar com a menina, ela o fechava completamente.

“Eu tenho visto você e a Margot muito grudados ultimamente.” Emma levantou a cabeça do ombro do menino.


“E você tá com ciúmes?”

“Não.” Emma adicionou rapidamente. “Só tô curiosa. Vocês tão juntos?”

“Somos amigos.”

“Vocês não parecem só amigos.”

“Por enquanto só amigos.”

“Por enquanto? Então você não quer se manter só amigo?” Emma perguntou, afirmando ao mesmo tempo.

“Por que você tá fazendo isso?” Ryan se levantou.

“O que eu tô fazendo?” Emma perguntou inocentemente.

“Você sempre faz isso.” Ele balançou a cabeça.

“Me fala, Ryan. O que eu tô fazendo?”

“Você sempre estraga tudo. O que a Margot tem a ver com isso?”

“Você diz que gosta de mim, mas quando eu vou ver, tem sempre outra garota. E não tem nem como competir com a Margot. Talvez se você tenha a aparência da Cheryl, que não é o meu caso.”

“E quem disse que você tem que competir com a Margot?”

“Se ela pedisse pra ficar com você, você ficaria?”

“Sim, porque eu tô solteiro. Porque você não me quis, lembra? Assim como você também fica com quem você quer sem dever nada a mim.”

“Não é a mesma coisa.”

“Como não?”

“Você não entende. Agora eu tô realmente cansada. Amanhã a gente se fala.”

“Tá bom.” Ryan concordou derrotado.

terça-feira, 18 de julho de 2023

Cestou!

            Dexter estava olhando o ventilador de seu quarto girar, quando ouviu duas batidas na porta. Ele não respondeu nada, mas Bella entrou no recinto mesmo assim. Ele não ficou feliz em vê-la, mas falou com o melhor humor que pôde disfarçar:

            “Achei que as visitas iriam parar”.

            “Eu nunca disse isso”.

            Ele queria ter respondido algo espirituoso e divertido, mas já estava muito cansado para isso, então decidiu ficar quieto. Bella puxou uma cadeira e fez uma cara de dúvida. Dexter então assentiu e ela se sentou. Os dois ficaram quietos. O único som era o do ventilador girando. O moreno queria que a garota fosse embora o mais rápido possível, mas parecia que ela não tinha nenhum lugar para ir e que não estava nem um pouco incomodada com o silêncio. Ele queria expulsá-la de seu quarto, mas não era a cara dele fazer algo do tipo, então continuou mudo.

            “Você parou de ir à escola”, constatou Bella depois de um tempo.

            “Estou doente”, respondeu com um tom de sarcasmo. Na verdade, ele gostaria de ter respondido de maneira brincalhona “E o que você tem a ver com isso?”, mas achou que talvez ela não levaria bem a piada, então preferiu a versão mais educada.

            “Está com o quê?”

            “Achei que as visitas iriam parar”.

            “Eu nunca falei isso”.

            “Você disse que o Chris estava com ciúmes e que as visitas teriam que diminuir”.

            “Diminuir não é parar, e você não tinha ficado chateado com isso antes. Pelo menos, foi o que pareceu”.

            Ele, de fato, não tinha ficado chateado com isso, mas naquele momento pareceu uma boa alternativa dizer que sim.

            “E eu não fiquei chateado. É que eu realmente estou doente e não gosto de receber visitas quando estou doente”.

            “O Chris terminou comigo”.

            Isso sim era uma revelação. Mas segundos depois, aquilo não pareceu mais significar nada para ele.

            “Por quê?”

            “Disse que eu estava muito distraída. Acho que ele estava com medo de que eu fosse terminar com ele”.

            “Por que ele teria esse medo?”

            “Porque ele está convicto de que eu gosto de você”.

            Dexter quase perguntou “E você gosta?” Quase. Bella foi mais rápida.

            “Eu não gosto de você. Eu estava distraída, mas não era por sua causa”.

            “Por causa de quem então?”

            “Precisa ser por causa de uma pessoa?”, Bella perguntou com um sorriso de canto, enquanto mexia no cadarço de seu tênis.

            “Não sei. Era?”

            “Era por causa de uma descoberta”.

            “Relacionada a uma pessoa?”

            Bella não respondeu.

            “Você gosta de alguém?”

        “Não sei, Dex. Eu fiz uma descoberta alguns meses atrás e isso acabou me consumindo. A descoberta não tem nada a ver com gostar de alguém, mas me deixou distraída e o Chris entendeu errado”.

            “A descoberta não foi sobre o que eu falei, né?”

            “Não”, Bella sorriu de canto de novo, sem olhar para Dexter. “Aquilo que você falou eu já desconfiava”.

            “Não sou um bom ator. Agora saia daqui!” Bem, Dexter gostaria de ter falado a última parte, mas em vez disso, ele disse: “Sinto muito pelo seu término!”

            “Sente mesmo?”

            “Você está triste?”

            “Estou distraída, se faz algum sentido. E o Chris estava ficando muito paranoico com os ciúmes. Acabou estragando um pouco a nossa relação”.

            “Você está fazendo um mistério com essa sua distração”.

            “Sabe o que me faz não pensar nessa minha distração?”

            “O quê?”

            “Você”.

            Dexter ficou confuso. Bem confuso. Mas aquilo não era uma declaração. Ainda há pouco ela tinha dito que não gostava dele.

            “Obri...gado?”, ele olhou para ela desconfiado, mas por fim entendeu. “Ah, agora entendi. A nossa amizade faz com que você se distraia da sua ‘distração’ e você aprecia muito isso”.

            Bella sorriu de canto mais uma vez, sem olhar para Dexter e ficou quieta. O garoto olhou para ela durante um momento e então desviou o olhar. No fim, ainda queria que ela fosse embora.

            “O que você tem?”

            “Síndrome de Tourette”, ele respondeu sorridente.

            Agora entramos com um adendo. Dexter não tem Síndrome de Tourette, mas acha que tem porque o Fernandinho achou que seria interessante inserir mais uma doença na lista dos problemas dele. Segundo a “médica” a condição se deu pela queda, mas pode vir a ser curável. Agora ele está com os tiques e sem vontade de ir para escola por vergonha. Essa é a razão pela qual não quer ver ninguém, inclusive Bella.

            “O que você não tem, Dex?”

            Antes que ele pudesse responder, Bella se sentou na ponta da cama, de frente para ele, e continuou:

            “Sabe o que me deixa com mais raiva e culpada?”, ela passou a mão no cabelo já crescido de Dexter, descendo até o seu rosto. “É o Chris ter razão. Não queria que ele tivesse razão”, falou Bella a última parte, enquanto olhava para os lábios de Dexter. A menina lambeu rapidamente seus próprios lábios e o beijou.

            Dexter não estava preparado para aquilo. Como assim aquele diálogo esquisito tinha terminado daquela maneira? Ela não tinha dito que não gostava dele? Ela mentiu? Sim, ela mentiu. Ela não queria dar o braço a torcer, não queria que o Chris e os outros estivessem certos, mas eles estavam. Dexter não queria se envolver com Bella. Não agora que tinha descoberto a Síndrome de Tourette. Para ela poderia estar ok, mas para ele não estava. Ele estava muito bugado, com a autoestima lá embaixo. Nunca tinha se sentido tão lixo como agora. Ainda assim, não conseguia afastá-la. Ele queria, ou melhor, precisava daquele beijo.

            Bella encerrou o beijo e se afastou. A pupila de Dexter ainda estava dilatada. Pelo visto, a dela também. Para quebrar o gelo, ele falou:

            “Se mesmo sem gostar de mim, você me dá um beijo desses, imagina se gostasse...”

            Ele esperou um soco no braço, que não recebeu. Só recebeu uma espécie de careta, misturada com vergonha. Ainda assim, gostou.

            “Dex...ter?”

            “Diga”, ele entrelaçou uma de suas mãos na dela.

            “Eu não quero namorar. Não agora. Acabei de sair de um relacionamento. Seria esquisito”.

            “Tudo bem. Eu também meio que não quero namorar agora. Não enquanto eu estou f**ido do jeito que estou”.

            “Você vai melhorar”.

            Dexter sentia que não. Na verdade, ele só piorava, porém decidiu ficar quieto. Ele não gostava de ser reclamão e pessimista.

            “Mas isso não significa que não podemos nos beijar quando acharmos apropriado”, continuou ele, mas como uma pergunta do que como uma afirmação.

            “Sim, pode ser”, Bella respondeu se aproximando e dando um selinho nele. “Olha, eu tenho que ir. Tenho prova de matemática amanhã e preciso estudar”.

            Dexter não queria que ela fosse, mas assentiu.

            “Te vejo amanhã?”

            Ele não deveria ter perguntado isso. Ele não queria que ela visse seus tiques, mas não conseguiu resistir.

            “Até amanhã!”

            “Até!”

            Antes dela sair, ele disse, sem poder resistir:

            “A cesta...”, mas aí deu branco. Ele não sabia o que dizer sobre a cesta.

            “Não, Dex, eu não vou te dar mais uma cesta. Ainda estou pagando aquela outra”.

            Dexter prendeu o riso. “Tudo bem. Até amanhã!”

            “Até sexta!”

            E foi só uns 10 minutos depois de Bella ter saído e de ele ter pensado no que tinha acontecido naquela tarde, é que ele entendeu e repetiu rindo “Até cesta!”.