terça-feira, 4 de julho de 2023

Especial: O que esperar quando você está esperando - Capítulo XII: Kisses and Fighting

Adaptar roteiro de peça não era uma tarefa fácil, mas Ryan estava curtindo cada minuto do seu trabalho. Ele amava pensar em ideias novas para deixar a peça mais leve e divertida. Além disso, o garoto queria surpreender os alunos, os pais, os professores, e principalmente, a diretora Cinthia com o seu script e execução genial.

Emma vetava a maioria de suas piadas, o que frustrava o garoto. Tá bom que ela não achava graça de suas tiradas, mas e os outros?  O senso de humor da menina não era universal, e o que podia ser tosco para ela podia ser uma pérola da comédia para os demais.

Enquanto a ruiva digitava no macbook as falas seguintes do Capitão Von Trapp, Ryan prestava atenção na fisionomia da menina. Ela estava grávida de quatro meses. Gosling esperava que houvesse um tipo de mudança radical na menina, que evidenciasse o estado de sua gravidez, entretanto, tirando seu discreto ganho de peso, a menina estava a mesmíssima coisa.  O bebê que supostamente não vingaria, resistia firme e forte à conturbada gestação. Ryan se perguntava se haveria bebê ou não, e se sim, se Emma o aceitaria na vida dos dois. 

A menina bocejou e Ryan assumiu a sua identidade de protetor.

"Tá cansada? Podemos parar." Gosling sugeriu.

"Eu tô sempre cansada." Emma rebateu e continuou digitando.

"É que você tá parecendo ainda mais cansada." Ryan insistiu. Apesar de adorar a companhia da menina, ele não permitiria que se cansasse mais que o necessário.

"Acho que tô mesmo." Emma concordou e fechou o computador. "Amanhã a gente continua então."

"Como tão as coisas?" Ryan perguntou interessado.

"A mesma porcaria de sempre." Emma riu sem humor. "Pelo menos eu consegui a edição que eu queria de lagartos me mordam."

"Esse livro é muito ruim." Ryan fez uma careta.

"Ele é uma obra-prima incompreendida." Emma falou num tom brincalhão.

"Só pra você." Ryan riu. 

Emma apoiou a mão no sofá para se levantar, porém se sentou logo em seguida com a queda da pressão arterial.

"Deixa que eu te ajudo." Ryan se aproximou e segurou suas mãos. A essa altura, Ryan estava acostumado com os sintomas da menina.

"Eu sempre esqueço que não posso levantar muito rápido." Ela ficou de pé com a ajuda do garoto e seus olhares se cruzaram, fazendo a ruiva desviar depressa.

"Como é que tão as coisas com o Channing?"

 "Não começa..." Emma tentou soltar as suas mãos.

"Não." Gosling segurou firme as mãos dela para não escaparem. "Eu não quero passar dos limites. Se você me disser que você e o Channing estão se acertando, eu me afasto e dou o espaço de vocês. Mas enquanto você não me disser isso, eu não consigo deixar de ter esperança." 

"Eu não posso tá com você agora." Emma falou olhando pro chão.

"Por que não?" Sua voz falhou em frustração.

"Você sabe o porquê." Emma continuou sem olhá-lo.

"Por causa do bebê? Eu já disse que não ligo se você vai ter um filho ou não."

"Eu ligo. E mesmo que provavelmente eu não tenha, o pai do meu filho ia ficar triste de me ver com outro estando grávida dele."

"F***-se o Channing. Eu já tô por aqui com ele. Já não bastava ter furado o meu olho, ainda teve que fazer um filho em você."

"Ele não fez o filho sozinho. Não faz sentido você ficar p*** com ele e comigo não."

"Eu não consigo ficar bravo com você." Ryan segurou o rosto da menina e acariciou delicadamente com o polegar. "Você não tem ideia do tamanho dos meus sentimentos por você." Ryan fechou o espaço entre eles e a beijou.

Emma correspondeu o beijo insegura no início e depois cada vez mais entregue. 

Muitos minutos se passaram e eles ainda estavam se beijando. Parecia que estavam com medo de encerrarem o beijo e de nunca mais acontecer de novo.

Jonathan abriu a porta da sala do grêmio e eles se separaram no susto.

O inspetor demorou para falar, pois ainda estava em choque com o que tinha acabado de testemunhar. Ele limpou a garganta que começava a embargar, ajeitou os óculos e finalmente se pronunciou.

"Eu vou ter que reportar vocês para a diretora." Jonathan falou.

"Não!" Ryan falou alto demais e depois se controlou. "O que eu quero dizer é, por que incomodar a diretora com isso? Não vai acontecer de novo."

Emma continuou olhando com os olhos arregalados para Jonathan.

"Peguem suas coisas que eu vou trancar a sala." Jonathan avisou e aguardou os alunos recolherem os pertences.

"Pode deixar que eu assumo a culpa. Fui eu que te beijei." Ryan falou com a Emma, enquanto eles saíam da sala.

Emma assentiu sem raciocinar as palavras do menino, depois foi até Jonathan, enquanto ele trancava a sala. "Eu posso explicar."

"Não precisa. Vou te levar pra casa do seu pai hoje." Jonathan se sentia traído e não conseguia nem pensar na ideia de passar a tarde com a menina. 

"Você não pode ficar com raiva de mim. Eu não fiz nada de errado. A gente não tem nada."

"Tudo bem." Jonathan começou a andar, deixando Emma para trás. Ele passou por Gosling. "Vou fazer vista grossa dessa vez, mas da próxima, a diretora vai ficar sabendo." O inspetor alertou o menino.

"Obrigado." Ryan falou aliviado. 

"Pode ir pra casa." Jonathan falou.

"Eu vou esperar o Bradley chegar pra buscar a Emma." Ryan respondeu.

"Não precisa. Ele já tá aqui na esquina." Emma mentiu.

"Tudo bem. Até amanhã então." Ryan tocou o braço da menina e foi embora.

"Vou pegar minhas coisas e te encontro lá." Jonathan fez referência ao lugar que eles se encontravam para irem para casa juntos.

Emma esperou cerca de três minutos até Jonathan encontrá-la. Ele tirou a mochila do ombro da ruiva e colocou no dele.

"Podemos conversar agora?" Emma perguntou esperançosa.

"Fala, Emma." Ele concordou com má vontade. 

"Eu não sei ser mulher de um homem só."

Jonathan deu uma risada debochada. "É sério isso?"

"É. Se eu conseguisse, eu não teria traído meu namorado com você."

"Então você tá me dizendo que é tão piranha que não consegue ficar só comigo enquanto tá carregando o nosso menino? É tanto sacrifício assim alguns meses?"

"Menino?" Emma repetiu surpresa.

"Sim. Acho bom você saber o sexo porque às vezes você esquece que tem um ser humano dentro de você."

"Ah sim. Como se as dores e os enjoos não fossem lembretes suficientes." Emma secou uma lágrima. "Eu disse que não queria saber o sexo. Você tinha que ter respeitado minha decisão."

"Fingir que o bebê não existe não é a solução." Jonathan retrucou,

"Eu sei que ele existe!" Emma deixou as lágrimas caírem livremente e segurou o estômago, tentando conter a dor que se formara ali. "Você é a pessoa mais egoísta que eu conheço!" Ela pegou o celular e procurou o contato do Bradley

"O que você tá fazendo?" Jonathan perguntou confuso.

"Eu não vou voltar com você." Emma informou.

"Para com isso. Você tava aos beijos com outro e eu sou o errado?"

"Você não liga pra mim. Nunca ligou. Eu sou muito burra." Emma balançou a cabeça incrédula.

"Claro que eu ligo."

"Eu deixei claro que saber o sexo não seria bom pro meu psicológico e você cagou pra isso porque você só pensa em você! Eu vou embora. Não me siga." Emma começou a andar. 

"Desculpa." Jonathan andou atrás dela. "Eu tava morto de ciúmes. Não pensei antes de falar."

"Você nunca pensa antes de nada."

"Eu sei. Eu sou um trabalho em progresso. Mas eu tô tentando, Emma. Você sabe que eu tô tentando."

"Não quero saber." Emma continuou andando em direção à escola. 

"Por favor! Eu tô implorando, me perdoa."

Emma respirou fundo e andou até ele. 

"Eu quero abortar." Emma falou decidida. 

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