terça-feira, 15 de novembro de 2022

Entre uma mãe e uma filha

Jonathan preparou a mochila com as coisas do trabalho no dia seguinte. Depois ele olhou para o presente embrulhado em cima da sua cama. Era uma péssima ideia presentear a menina, Jessica odiaria, mas o inspetor não conseguiu evitar.

No dia seguinte, Jonathan procurou o momento perfeito para dar o presente à Emma sem chamar atenção.

Ele observou quando a menina chegou na escola acompanhada de sua mãe, seu padrastro e suas irmãs. Por mais que o inspetor odiasse admitir, aquela família era linda. Mel estava chorando porque queria continuar dormindo, pelo o que deu para entender. Jessica pedia impacientemente para a bebê no colo parar de chorar, enquanto dava um beijo de boa aula nas meninas mais velhas.

Emma foi para a sala de aula e Jonathan a seguiu com o olhar. Já era um hábito dele seguir a menina por todos os lugares da escola, exceto a sala de aula, apenas com o olhar.

Jessica entregou Mel para o marido e se distanciou para atender o celular.

Jonathan se perguntou como aquela bebê chorona ia estudar naquela escola.

Andrew foi com Mel para a sala de aula dela, tentando acalmá-la. 

O inspetor estava por perto quando a caminho da sala dos professores, Jessica sofreu uma tontura.

"Você tá bem?" Jonathan se aproximou da ruiva.

"Acho que minha pressão abaixou." Jessica respondeu, tentando achar alguma coisa fixa pra se apoiar.

"Deixa eu te ajudar." Jonathan pegou a mão da ruiva e a levou com cuidado para a sala dos professores. "Tá tudo bem com a sua gestação?"

"Tá. Eu só tenho andado meio estressada."

"Quer falar sobre isso? Você não precisa esperar até a reunião pra conseguir desabafar. Além disso, eu acabo sabendo de tudo da mesma forma."

"Eu tô preocupada com o Andrew. Desde que o pai dele morreu parece que ele vai desabar a qualquer momento. Ele tá tão frágil ultimamente... Agora eu tô com esse medo constante de fazer ou falar a coisa errada e acabar piorando as coisas. E pra completar a mãe dele também tá doente e todo mundo fica temendo o dia que ela não vai lembrar mais de nada e acabar morrendo."

"Isso realmente é péssimo." Jonathan disse solidariamente. 

"E também tem a Mel. O pediatra dela disse que provavelmente ela tem uma doença genética que faz ela se desenvolver mais lentamente que as outras crianças."

"Como assim?" 

"Que quando ela tiver vinte anos, ela vai ter a aparência e o intelecto de uma criança de sete."

Jonathan arregalou os olhos, surpreso com o fato. 

"Mas isso é certeza?" 

"Não, mas tem grande chance. Agora minha filha que não tem nem dois anos vai ser submetida a uma série de exames e muitos deles invasivos pra idade dela."

"Nossa, Jessica... Não sei nem o que falar... Mas não foi a Emma que nasceu com um problema grave no coração? Olha pra ela agora! A Mel vai ficar bem. Eu tenho certeza disso."

"Eu também fico pensando nessa bebê que vai nascer. Ninguém vai conseguir ficar feliz com o nascimento dela porque ela vai nascer no meio do caos."

"Claro que não. Ela vai vir justamente pra dizer a vocês que vai ficar tudo bem. Vocês vão olhar pro pequeno milagre de vocês e não vão conseguir argumentar contra. Honestamente, não acho que ela conseguiria vir em melhor hora."

Jessica sorriu. "Eu queria que você fosse assim sempre." 

"Eu sei. Desculpa. Você ainda me afeta." Jonathan admitiu. 

"A gente podia virar a página... Você já superou aquele interesse bizarro pela minha filha, né?" 

Jonathan tossiu seco. "Sim. Aquilo foi um erro."

"Ótimo. Então amigos?" Jessica estendeu a mão. 

"Amigos." Jonathan apertou, se sentindo culpado. 

Mais tarde, no fim do recreio dos alunos, Jonathan puxou o braço da Emma quando ela ia começar a subir as escadas e a levou para um canto afastado. 

"Oi." Jonathan falou com pouco fôlego. 

"Oi." Emma falou na mesma entonação do inspetor. 

"Desculpa ter te trazido assim, é que eu... Bem, ontem foi o seu aniversário e eu quis te dar um presente." Jonathan entregou o pacote para a menina. "Feliz aniversário."

"Não precisava." Emma disse surpresa.

"Se quiser abrir agora." Jonathan falou ao ver que a garota olhava pra ele sem saber o que fazer. 

"Sim, claro." Emma desembrulhou o presente e viu uma camisa toda pichada com alguns desenhos e coisas escritas.

"Eu pedi pra um amigo meu que é artista personalizar a camisa pra você." Jonathan explicou. 

"Eu amei." Emma disse sinceramente. "Obrigada." Ela abraçou o inspetor e ele inalou o cheiro do seu cabelo. 

"Fico feliz que tenha gostado." Jonathan apertou sua cintura. 

"Eu amei. Como você sabia que eu gostava dessas coisas?" Ela desfez o abraço para olhá-lo. 

"Eu presto muita atenção. Pra falar a verdade, eu só consigo olhar pra você sempre que a gente tá no mesmo ambiente."

"Sei."

"É verdade. É como se você fosse um ímã pros meus olhos."

"E você não tá me usando pra afetar a minha dinda?" 

"Não, eu juro. Emma, se eu pudesse eu me interessaria por qualquer uma que não fosse você, mas eu não consigo. Eu só consigo pensar nesse seu sorriso lindo, nessa sua voz rouca e nesses seus olhos tão hipnotizantes."

"Eu tenho que voltar pra sala." Emma o lembrou. 

"Tá bom." Jonathan respondeu decepcionado. 

"Obrigada pelo presente."

"Não foi nada."

Emma subiu com o presente nas mãos e Jonathan coçou a barba pensativo.