quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Madrilenhos

Bradley olhava o celular distraído enquanto estava na fila da confeitaria para fazer seu pedido para viagem. Ele levantou o rosto para saber o que estava fazendo a fila demorar tanto para andar e viu Jennifer no balcão pegando um madrilenho da caixa e colocando inteiro na boca. O professor riu da cena e largou seu lugar na fila para ir até a garota.

"Não conseguiu esperar até chegar em casa?" Bradley brincou.

"Tô com fome." A menina respondeu de boca cheia.

"Deu pra ver." Bradley riu.

"Como vai a Bethânia?" Ela limpou a boca com as costas das mãos.

"A Elizabeth vai bem. Vim aqui comprar umas coisas pra ela comer. Ela adora essas coisas de padaria. E o seu namorado, como vai?"

"Ex-namorado."

"Sério?" Bradley perguntou surpreso. "Não fiquei sabendo."

"Foi recente. Ainda não tinha chegado na boca de Matilde. Até agora."

"Eu não sou fofoqueiro!" O professor se defendeu.

"É sim. Parece até mulher."

"Eu só gosto de escutar a fofoca. Não sou de repassar. Principalmente sobre você. Vai morrer aqui."

"Tudo bem. Não é como seu eu tivesse escondendo das pessoas."

"Você tá bem?"

"Pode tirar esse olhar de preocupação desnecessário. Fui eu que terminei."

"Posso saber porquê?"

"Na verdade não."

"Jen..."

"Você realmente é tão egocêntrico a esse ponto? Nem tudo é sobre você, Bradley!"

"Eu sei que não." Bradley pegou o copo de café da mão da menina e tomou um gole.


Jennifer olhou para os lados e tornou a olhá-lo.

"Quando você vai pedir a Bethinha em casamento?"

"Não chama ela assim. Me lembra a rainha que morreu."

"E voltamos pra Bethânia."

"Não sei. Tô esperando o bebê nascer primeiro."

"Confesso que fiquei um pouco confusa quando eu soube que vocês tavam tão sério assim. Você tinha me dado a entender na época, que em toda a sua vida, você só teria olhos pra Jessica."

"Aquilo era mais nostalgia e uma crença cega na instituição matrimonial. Hoje eu vejo as coisas com mais clareza e menos romantizadas. Não existe só uma pessoa certa. Você pode ser feliz com várias pessoas diferentes. As duas só têm que estar dispostas a fazerem dar certo."

"Eu acho que vocês vão dar certo. Eu fui uma das poucas que apostei no sucesso dos dois."

"Espero que sim. Ainda mais agora que vamos ter uma criança envolvida."

"E era isso que você queria?" 

"Como assim? Reconstruir minha família?" 

"É que você tinha dado a entender que tava me dando um fora por causa da Jessica. Foi uma m***a, mas eu entrei na jogada sabendo dos seus sentimentos por ela, então não é como se eu pudesse cobrar uma super lealdade sua. Só que agora você tá praticamente casado e tendo um filho com outra e... acho que eu só queria saber se você chegou a pensar em me procurar antes de se amarrar desse jeito com a Elizabeth."

Bradley arregalou os olhos surpreso com a pergunta da menina. 

"Deixa pra lá." Jennifer puxou o café de volta da mão de Bradley e foi embora.

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Entre uma mãe e uma filha

Jonathan preparou a mochila com as coisas do trabalho no dia seguinte. Depois ele olhou para o presente embrulhado em cima da sua cama. Era uma péssima ideia presentear a menina, Jessica odiaria, mas o inspetor não conseguiu evitar.

No dia seguinte, Jonathan procurou o momento perfeito para dar o presente à Emma sem chamar atenção.

Ele observou quando a menina chegou na escola acompanhada de sua mãe, seu padrastro e suas irmãs. Por mais que o inspetor odiasse admitir, aquela família era linda. Mel estava chorando porque queria continuar dormindo, pelo o que deu para entender. Jessica pedia impacientemente para a bebê no colo parar de chorar, enquanto dava um beijo de boa aula nas meninas mais velhas.

Emma foi para a sala de aula e Jonathan a seguiu com o olhar. Já era um hábito dele seguir a menina por todos os lugares da escola, exceto a sala de aula, apenas com o olhar.

Jessica entregou Mel para o marido e se distanciou para atender o celular.

Jonathan se perguntou como aquela bebê chorona ia estudar naquela escola.

Andrew foi com Mel para a sala de aula dela, tentando acalmá-la. 

O inspetor estava por perto quando a caminho da sala dos professores, Jessica sofreu uma tontura.

"Você tá bem?" Jonathan se aproximou da ruiva.

"Acho que minha pressão abaixou." Jessica respondeu, tentando achar alguma coisa fixa pra se apoiar.

"Deixa eu te ajudar." Jonathan pegou a mão da ruiva e a levou com cuidado para a sala dos professores. "Tá tudo bem com a sua gestação?"

"Tá. Eu só tenho andado meio estressada."

"Quer falar sobre isso? Você não precisa esperar até a reunião pra conseguir desabafar. Além disso, eu acabo sabendo de tudo da mesma forma."

"Eu tô preocupada com o Andrew. Desde que o pai dele morreu parece que ele vai desabar a qualquer momento. Ele tá tão frágil ultimamente... Agora eu tô com esse medo constante de fazer ou falar a coisa errada e acabar piorando as coisas. E pra completar a mãe dele também tá doente e todo mundo fica temendo o dia que ela não vai lembrar mais de nada e acabar morrendo."

"Isso realmente é péssimo." Jonathan disse solidariamente. 

"E também tem a Mel. O pediatra dela disse que provavelmente ela tem uma doença genética que faz ela se desenvolver mais lentamente que as outras crianças."

"Como assim?" 

"Que quando ela tiver vinte anos, ela vai ter a aparência e o intelecto de uma criança de sete."

Jonathan arregalou os olhos, surpreso com o fato. 

"Mas isso é certeza?" 

"Não, mas tem grande chance. Agora minha filha que não tem nem dois anos vai ser submetida a uma série de exames e muitos deles invasivos pra idade dela."

"Nossa, Jessica... Não sei nem o que falar... Mas não foi a Emma que nasceu com um problema grave no coração? Olha pra ela agora! A Mel vai ficar bem. Eu tenho certeza disso."

"Eu também fico pensando nessa bebê que vai nascer. Ninguém vai conseguir ficar feliz com o nascimento dela porque ela vai nascer no meio do caos."

"Claro que não. Ela vai vir justamente pra dizer a vocês que vai ficar tudo bem. Vocês vão olhar pro pequeno milagre de vocês e não vão conseguir argumentar contra. Honestamente, não acho que ela conseguiria vir em melhor hora."

Jessica sorriu. "Eu queria que você fosse assim sempre." 

"Eu sei. Desculpa. Você ainda me afeta." Jonathan admitiu. 

"A gente podia virar a página... Você já superou aquele interesse bizarro pela minha filha, né?" 

Jonathan tossiu seco. "Sim. Aquilo foi um erro."

"Ótimo. Então amigos?" Jessica estendeu a mão. 

"Amigos." Jonathan apertou, se sentindo culpado. 

Mais tarde, no fim do recreio dos alunos, Jonathan puxou o braço da Emma quando ela ia começar a subir as escadas e a levou para um canto afastado. 

"Oi." Jonathan falou com pouco fôlego. 

"Oi." Emma falou na mesma entonação do inspetor. 

"Desculpa ter te trazido assim, é que eu... Bem, ontem foi o seu aniversário e eu quis te dar um presente." Jonathan entregou o pacote para a menina. "Feliz aniversário."

"Não precisava." Emma disse surpresa.

"Se quiser abrir agora." Jonathan falou ao ver que a garota olhava pra ele sem saber o que fazer. 

"Sim, claro." Emma desembrulhou o presente e viu uma camisa toda pichada com alguns desenhos e coisas escritas.

"Eu pedi pra um amigo meu que é artista personalizar a camisa pra você." Jonathan explicou. 

"Eu amei." Emma disse sinceramente. "Obrigada." Ela abraçou o inspetor e ele inalou o cheiro do seu cabelo. 

"Fico feliz que tenha gostado." Jonathan apertou sua cintura. 

"Eu amei. Como você sabia que eu gostava dessas coisas?" Ela desfez o abraço para olhá-lo. 

"Eu presto muita atenção. Pra falar a verdade, eu só consigo olhar pra você sempre que a gente tá no mesmo ambiente."

"Sei."

"É verdade. É como se você fosse um ímã pros meus olhos."

"E você não tá me usando pra afetar a minha dinda?" 

"Não, eu juro. Emma, se eu pudesse eu me interessaria por qualquer uma que não fosse você, mas eu não consigo. Eu só consigo pensar nesse seu sorriso lindo, nessa sua voz rouca e nesses seus olhos tão hipnotizantes."

"Eu tenho que voltar pra sala." Emma o lembrou. 

"Tá bom." Jonathan respondeu decepcionado. 

"Obrigada pelo presente."

"Não foi nada."

Emma subiu com o presente nas mãos e Jonathan coçou a barba pensativo. 

sábado, 10 de setembro de 2022

Que falta me faz um xodó

“Sério, Calvin”, disse a Antonella rindo, tentando se desvencilhar dos beijos do pai de Jane e Jamie. “Eu preciso ir”.

Os dois estavam em pé no corredor mal iluminado do apartamento de Calvin, que dava para a porta principal do apartamento.

“Por quê?”

“Você sabe bem o porquê”.

“Sei?”, ele perguntou, indo beijar o pescoço da loira.

Era difícil resistir àquele homem.

“Calvin, eu realmente preciso ir”.

“Por que você não deixa as crianças dormirem na casa do padrinho delas? Elas já tão lá mesmo”.

“Porque...”, Antonella parou de repente. Sim, aquilo parecia uma boa ideia. Bradley provavelmente não se importaria. Ele gostava de crianças. 

Quando ela ia ceder, acabou se lembrando de um detalhe crucial. “A roupa! Eu não trouxe a roupa pra entrevista. Vou ter que ir mesmo”.

“Você pode usar uma minha! E por que você tem que fazer essa entrevista mesmo?”, ele reclamou manhoso.

“Eu realmente preciso explicar?”, A loira se afastou dele olhando-o seriamente, encostada na parede do corredor, de braços cruzados.

“Você sabe muito bem o que eu quis dizer. Você é dona de uma galeria, não precisa de outro emprego!”

“Uma galeria falida e, sim, eu preciso de um outro emprego. Cansei de ser caixa, garçonete, faz tudo, sei lá”.

“Você tá nesse emprego porque quer. Já disse que pode morar comigo! Nós dividiríamos as despesas”.

“E eu já disse que as crianças iriam me matar se isso acontecesse”.

“No começo. Mas depois elas se acostumariam”.

“Mas você é muito insistente!”, ela espremeu a bochecha dele com uma das mãos e deu um selinho na boca do amante.

“Só quando eu quero muito uma coisa!”, ele a abocanhou, já enfiando a língua dentro da boca de Antonella. Fazia muito tempo que um homem deixava a loira fora de si. Com muita força de vontade, ela o afastou novamente.

“Calvin!”, ela choramingou. “Por favor, eu preciso ir! Preciso estar bem pra entrevista. Não quero acordar cansada”.

“Está bem, está bem. Então pelo menos, deixa eu te levar pra casa?”

“Eu ainda vou buscar as meninas”.

“Elas não iam ficar no padrinho?”

“Antes. Mas agora eu não vou ficar aqui. E foi até pra melhor, porque você não iria me deixar dormir”.

“Não deixaria mesmo”. Calvin a abraçou.

Os dois ficaram abraçados quietos por um curto tempo, até que o pai de Jamie perguntou:

“Você falou com o seu ex? Ele vai te acompanhar na entrevista?”

“Falei, mas ele disse que não vai. Disse que não poderia fazer nada, que agora era comigo”.

“Má vontade!”

“Não posso reclamar. Se não fosse por ele, eu nem teria conseguido a entrevista”.

Para Calvin uma entrevista não significava nada se a pessoa não tivesse já mexido os pauzinhos para conseguir o emprego para a outra. Ele não sabia se Andrew tinha ou não feito isso. Esperava que sim. Já estava cansado da Antonella trabalhando de garçonete. Era ridículo e infantil da parte dela manter aquela palhaçada por orgulho. Não tinha como aquele emprego ajudar nas finanças. Era realmente muita infantilidade! Um trabalho como professora era bem melhor. O British School não era um Cavalinho Feliz, mas era uma boa escola. Calvin era cético. Ele não acreditava que Antonella conseguiria a vaga sozinha, só com o currículo dela. Não! Ela precisava de um empurrãozinho. Bastava agora saber se o ex-marido apaixonado tinha feito o trabalho completo.

“Meu uber já chegou”. Antonella falou, desfazendo o abraço a contragosto.

“Desde quando você pediu o uber?”, Calvin perguntou desconfiado.

“Um momento aí!”. Ela viu a cara desconfiada do amante e acrescentou: “Eu tenho muitas habilidades”.

A loira não tinha pedido uber ainda, mas precisava mentir, senão, ela não sairia de lá nunca. Ela acabaria cedendo e ela não podia ceder.

“Tem poderes. Psíquicos. Pediu o uber com o poder da mente”. Antonella riu.

“Bobo!”, ela o beijou mais uma vez e abriu a porta.

“Tchau, meu tiramisú! Vai dar tudo certo amanhã! E pensa com carinho na minha proposta!”

“Sim, eu já to!”, ela gritou de volta.

Pela italiana, ela se mudava para ontem, mas as crianças a odiariam eternamente por isso. Na verdade, Crystall a odiaria por isso. Ela não podia fazer isso com a filha por mais que quisesse.

Antonella saiu animada. Animada com a vida, com os filhos, com o amante, com a entrevista e, principalmente, com o...

quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Papo de intervalo

Emma saiu da sala do grêmio faltando quinze minutos para acabar o recreio. Ela sentou num canto afastado e abriu seu livro de química molecular. Pouco tempo depois, a menina sentiu uma figura parando na sua frente. Ela levantou o olhar e fitou a pessoa à sua frente, um pouco surpresa. 

"Eu tava te procurando." Jonathan falou para a menina e sentou do seu lado.

"É?" Emma fechou o livro, colocou do seu lado e voltou sua atenção para o inspetor.

"Eu não te vi no pátio e estranhei. Aí comecei a te procurar."

"​Eu tava numa reunião na sala do grêmio."

"Você é do grêmio? Que legal! A reunião era sobre o quê?"

"Basicamente sobre a peça do final do ano que o Ryan quer que seja perfeita."

"Você vai ter algum papel?"

"Não." Emma torceu o nariz.

Jonathan riu. "Eu queria que você fizesse."

"Por quê?"

"Porque aí você teria que se apresentar pra todo mundo e eu gosto de te ver."

"Gosta?" Emma perguntou surpresa.

"Claro! No intervalo de vocês eu sempre tento achar onde você tá pra poder te observar. Foi assim que notei sua ausência."

"Uau."

"Espero que você não ache isso ruim." Jonathan acrescentou.

"Não, não acho. Só tô um pouco surpresa. Outro dia você falou que nem reparava em mim. O que mudou de lá pra cá? Foi saber que eu sou filha da minha madrinha?"

"Isso realmente me intrigou."

"Então é isso?"

"Não. No começo sim. Agora eu realmente acho que você tem um desses rostos que faz a gente querer ficar olhando."

Emma apertou os olhos para fingir que estava analisando-o. "Você também tem um bom rosto."

Jonathan riu. "Obrigado."

"Posso fazer uma pergunta?" 

"Claro."

"Você ainda gosta da minha dinda?"

O inspetor respirou fundo. "Não, não gosto. Na verdade, acho que odeio a sua mãe."

"Odeia? Não acredito."

"É sério. Sua mãe é uma mulher muito difícil. Ela me magoou muito. Até hoje eu tenho traumas."

"Eu tenho ouvido muito isso ultimamente."

"Tenho certeza que com você é diferente. Ela parece a melhor mãe do mundo. Mas a minha experiência com ela... Eu nunca me senti tão insignificante em toda a minha vida. Nem a minha ex-mulher que me achava um completo fracassado, fez eu me sentir do jeito que a Jessica fez."

"Você chegou a se apaixonar por alguém depois da minha dinda?"

"Cheguei. Duas vezes."

"E o que aconteceu?"

"A primeira acabou não aguentando viver com um acoólatra e a outra eu perdi o interesse."

"E você pensa em se apaixonar de novo?"

"Eu gostaria. É como falam, o homem não nasceu pra ficar só. Mas primeiro eu tenho que focar em ficar sóbrio. Nenhuma mulher tem que ser obrigada a lidar com a minha bebedeira."

"Você tá sóbrio agora?"

"Eu tô sóbrio há 34 dias."

"Parabéns! Tá muito difícil?"

"Um pouco. Ser apenas um inspetor numa escola em que o marido e ex-marido da Jessica são grandes professores conceituados não ajuda muito. Faz eu voltar a ter aquele sentimento de fracasso e querer beber."

"Eu não te acho um fracasso. Pelo contrário. Você tá se saindo muito bem, considerando as circunstâncias."

"Obrigado. E você? Eu falei com a Jessica que não sabia que você era filha dela e ela acabou me contando como foi que aconteceu. Já se acostumou em ser filha da Jessica?"

Emma balançou a cabeça, em negativa. "Têm umas coisas que são difíceis de se acostumar. Ainda mais agora que eles são casados e têm outros filhos."

"Você sente que eles não te dão muita atenção?"

"Até dão, mas não como antes. Antigamente, quando eu passava o dia na casa da minha dinda, ela costumava me deitar no colo dela e ficava horas mexendo no meu cabelo. E sem cansar!"

"Ela parou de fazer isso?"

"Praticamente. Hoje em dia se ela fica dois minutos assim comigo é muito."

"Que pena. E seus outros pais? Pensa em voltar a morar com eles?'

"Se eles voltarem pro Brasil, com certeza! Mas não fazia sentido eu me mudar pro Canadá. Eu ia mudar minha vida inteira e eles nem iam dar atenção pra mim porque trabalham demais."

"Olha, se um dia você se sentir sozinha e sem ninguém pra falar ou te dar atenção, pode me procurar." Ele segurou sua mão.

"Obrigada." Emma olhou pra a mão do inspetor em cima da sua e voltou a fitá-lo. 

"Eu sou muito bom em ouvir as pessoas e gostaria de te ouvir mais." Jonathan recolheu as mãos.

"Eu soube que você também é amigo da Zendaya."

"Sim, ela é bem legal, mas acho que o pai dela não gostou da nossa amizade."

"Você suspeita o porquê?"

"Acho que é por causa da minha idade. Ele acha que uma pessoa da minha idade não pode ter amizade com uma pessoa da idade dela."

"Acho que é mais porque amizade entre homem e mulher corre o risco de evoluir e acabar virando um romance."

"Você acha que ele tá com medo de eu tentar alguma coisa com a Zendaya?"

"É possível que sim."

Jonathan ficou pensativo. "Ele não precisa se preocupar com isso."

"É?"

"Ela não faz meu tipo de mulher."

"Sério? Por quê?"

"Ela é, sem dúvidas, muito bonita. Mas eu não sou lá muito alto e ela é mais alta do que eu. Eu já tenho complexo de inferioridade, se eu sair com uma menina mais nova e mais alta, vou me sentir pior."

"Entendo. Acho que se o Andrew souber disso, ele vai parar de se preocupar com a amizade dos dois."

"Se ele falar alguma coisa comigo, eu digo que ele pode ficar tranquilo."

"Acho que ele não vai falar nada. Só se notasse alguma coisa estranha."

"Ele não vai notar nada estranho porque ela é só minha amiga. E o seu pai? Também tem essa preocupação?"

"Que preocupação?"

"De você saindo com um cara mais velho."

Emma arregalou os olhos, presumindo as intenções do inspetor. "Isso nunca aconteceu comigo, mas imagino que ele não iria gostar."

"Também acho que não. Nem sua mãe. Ela odiaria."

"Odiar é pouco."

"Dá pra ver que eles querem muito o seu bem. Eu sei que você deve sentir falta dos pais que te criaram, mas você tá em boas mãos com os que você tem aqui."

"Sim, eu sei."

"Bom falar com você, Emma. Gostei muito da nossa conversa." Jonathan se levantou. 

"Também."

O sinal do fim do intervalo tocou. 

"Boa aula." Jonathan falou para a menina. 

"Obrigada." Emma pegou o livro e foi para aula repassando toda a conversa na sua cabeça. 

domingo, 31 de julho de 2022

Jantar Romântico

Jonathan tinha preparado um jantar romântico surpresa para a ruiva. Ele esperava que naquela noite, eles conversassem mais, rissem, contassem histórias embaraçosas e se conectassem de uma forma mais especial. Aquela noite não seria sobre sexo.

Jonathan arrumou alguns detalhes da mesa e acendeu algumas velas para dar um ar mais de romance. 

A campainha tocou e Jonathan foi até a porta, receber a advogada. 

"O trânsito tava péssimo." Jessica reclamou ao ver o amante. 

"Que pena. Tá com fome? Eu fiz o jantar." Jonathan falou meio nervoso. 

Jessica olhou a sua volta e notou o ambiente ornamentado para um jantar romântico. Ela não estava esperando por isso e seu instinto mandava que fosse embora o mais rápido possível. 

"Não precisava. Eu nem tô com fome." Jessica apertou e soltou a mão, tentando conter os nervos. 

"Não é possível que você não esteja com fome depois de um dia inteiro de trabalho." Jonathan rebateu. 

"Eu não posso ficar muito tempo. Tenho uma audiência amanhã cedo e preciso me preparar." 

Jonathan ficou desapontado, mas tentou não demonstrar. "Tudo bem. A gente janta e depois você vai."

"Tá bom." 

"Ótimo." Jonathan foi até a ruiva e segurou sua mão. "Vou te levar pra mesa." Ele sorriu e a guiou até a mesa de jantar. "Você senta aqui." Ele puxou a cadeira para trás para a advogada sentar. "E eu vou buscar a comida."

Jessica forçou um sorriso e observou Jonathan sair da sala. Ela respirou fundo preocupada com o que Jonathan estava achando que eles eram. Eles não eram um casal. Odiaria que fossem. Ele só era uma pessoa ela usava para trepar. 

Desde a separação, o vício que Jessica tinha em se cortar estava fora do controle. Com o Jonathan, ela descobriu, que ter relações sexuais fazia o desejo de se cortar diminuir. No final, a ruiva acabou trocando um vício pelo outro, e buscava Jonathan inúmeras vezes para ter relações. 

A advogada percebeu uma garrafa num balde de gelo no meio da mesa. Ela pegou e observou o rótulo. Espumante sem álcool de uma marca que nunca tinha ouvido falar. Jessica devolveu a garrafa para o balde e aguardou o retorno de Jonathan, tamborilando os dedos na mesa, impacientemente. 

Jonathan chegou com o prato na mão com uma tampa em cima. Ele colocou na frente da ruiva. 

"Tá cheiroso." Jessica elogiou porque achou que devia falar alguma coisa. 

"Obrigado. Espero que também goste do sabor." Ele tirou a tampa de cima do prato.

"Humm. Risoto?" 

"Caprese. Você gosta?" Jonathan perguntou nervoso. 

"Gosto."

"Vou pegar o meu prato e já volto."

Jessica assentiu com a cabeça. 

"Prontinho." Ele sentou perto da ruiva. "Então, o que achou?" 

"Tá bom." A ruiva falou sem muito entusiasmo. 

"É a primeira vez que fiz essa receita. Tava com medo de dar errado."

"Não, ficou muito bom."

"Quer espumante? É sem álcool então não é tão bom quanto o normal." Ele ajeitou os óculos. 

"Tá bom. Você não precisava ter comprado espumante. Um suco tava bom."

"Eu sei. Mas eu queria que esse jantar fosse especial."

"A gente tá comemorando alguma coisa e eu não tô sabendo?" A ruiva brincou. 

"Não. Eu só quis fazer algo especial pra você." Jonathan explicou como se não fosse nada demais. 

"Ficou meio romântico, não acha? Nós somos amigos." Jessica deu uma risada sem humor. 

"Não sei se a gente consegue se enquadrar somente como amigos. Quer dizer, eu te como praticamente todos os dias. Isso deve significar algo." Ele colocou uma garfada do risoto na boca. 

"Não significa nada." Jessica falou seriamente. 

"Então por que você continua vindo até mim? Não deve ser tão difícil conseguir outros caras pra transar. Por que só eu? Não devo ser tão bom assim pra você só querer sexo comigo."

"Você quer que eu procure outros?" Jessica perguntou confusa. 

"Não! Eu só não quero ter que fingir que não sinto nada por você porque você tem medo de assumir seus sentimentos."

"Meus sentimentos? Da onde você tirou isso? Eu deixei bem claro desde o início que acabei de sair de uma separação e que eu ainda amo meu ex-marido. Eu não tenho espaço no meu coração pra ninguém mais. É tão difícil entender isso?"

"Então você não sente nada por mim? Nadinha mesmo?" 

"Eu gosto da sua amizade e de ter você por perto."

"Entendi." Jonathan assentiu chateado. 

Jessica se levantou da cadeira e foi até Jonathan, sentando no colo dele. 

"Eu também gosto quando você me toca..." Ela encostou a boca no seu ouvido. "... e me beija... e me f***e... tão tão gostoso. Fico molhada só de pensar."

Aquela noite não era para ser sobre sexo, mas sobre se conectar com a Jessica de um modo diferente. Entretanto, naquele momento, seu membro já estava estourando dentro da calça, precisando, urgentemente, estar dentro da ruiva. 

Jessica tinha esse efeito sobre ele. 

Jonathan tocou seu rosto, precisando sentir aquela pele tão macia sob a sua. 

"A gente precisa voltar a conversar sobre isso. Eu não consigo ser desprendido e separar as coisas. Eu quero você em todos os sentidos." Jonathan falou, observando os olhos da ruiva fechar ao seu toque e depois tornar a olhá-lo. 

"Nós vamos." Jessica tirou o óculos do parceiro e colocou em cima da mesa. "Eu prometo." Ela sussurrou e o beijou. 

Jonathan se sentiu fraco e estúpido por ceder mais uma vez. A advogada nunca daria o que ele precisava dela. Mal sabia ele, que meses após aquele evento, ele deixaria a sobriedade de anos, conquistada com muito sacrifício, e voltaria a beber. Tudo por causa dela. 

segunda-feira, 25 de julho de 2022

And the Oscar goes to...

 SORRY, BABY

Antonella ouviu um barulho alto vindo da cozinha. Ela correu rapidamente e se deparou com cacos de vidro por todo o chão. Andrew olhava confuso para o seu pé sangrando, enquanto suas mãos tremiam. A italiana assustada disse:

            “Oh my Gosh! Are you ok?”

            “Yeah, yeah”, ele olhou confusamente para a bagunça que tinha feito no chão. “I’m fine.”

            “Let me help you”, Antonella falou ainda assustada, estendendo o braço para acolher o marido.

            “I-I-I’ll sweep the floor.”

          “I’ll sweep the floor”, disse a italiana autoritariamente, “and you wait for me ‘till I bring the first-aid kit, ok?”

“Ok.”, ele assentiu ainda tremendo.

“Just one sec.”, ela falou saindo da sala.

“Antonella”, ele gritou.

“Yes?”, respondeu voltando.

“Could you bring me my pack of cigarettes?”, Andrew perguntou olhando para baixo.

A italiana respirou fundo. Agora tudo fazia sentido.

“Yes!”

E saiu.

Andrew estava sentado no chão, quando Antonella voltou com o kit de primeiros-socorros e o maço de cigarro junto com o isqueiro. Ela entregou o maço de cigarro ao marido e sentou no chão para fazer o curativo no pé do inglês. O filho de Efrayim acendeu o cigarro e ficou observando sua mulher que cuidava do seu pé sem falar nada. Antonella parecia concentrada, com a testa um pouco franzida enquanto tirava uns cacos de vidro com a pinça.

“I’m sorry.”, ele finalmente falou.

Ela continuou quieta, procurando mais vidro.

“I’m sorry for what happened... now and earlier. I was a dick, as always, and I’m deeply sorry.”

Antonella continuou quieta, sem olhar para ele.

“Do you have any idea how much I love you?”, ele perguntou, se aproximando do pescoço dela e depositando beijos por lá.

A italiana fechou os olhos.

“Doubt thou the starts are fire / Doubt that the sun doth move / Doubt truth to be a liar / But never doubt I love.”, ele disse beijando o pescoço dela em cada verso.

“Said the man who also made Ophelia kill herself.”

“I do love nothing in the world / So well as you”, ele sussurrou no ouvido de Antonella. “Better?”

A italiana segurou o rosto dele com uma de suas mãos:

“Why aren’t you always like this? You really hurt me earlier today.”

“I’m sorry, love, I really am. I was stressed and I took it out on you.”

Antonella olhava para ele atentamente. Andrew continuou:

“I don’t deserve you... But I’m glad you’re still with me even though... everything!”

“Yeah, you should!”, ela disse colocando a mão no rosto do marido e beijando-o. Ela depois se separou, fez uma careta e falou: “Cigarrette!”

“I’m sorry.”

“I know. Your trying... I mean, it’s not that bad, but I prefer to taste only you.”

“Oh, you prefer to taste only me?”, ele perguntou maliciosamente.

“Oh, no. Andrew, no! Wait! Your feet! We need to focus on your feet first!”

“F**k my feet!”

“But it’s bleeding!”

“It won’t kill me.”

“But... But...”

“But?”, ele se aproximou dos lábios dela, ambos risonhos, mas antes deles se beijarem, Asa começou a chorar no quarto. Andrew se afastou de Antonella e disse: “Very well then. I think we’ll have to wait a little bit.”

Quando os dois finalmente tiveram um bom momento, tinha que aparecer justo aquele bebê para atrapalhar tudo! Antonella queria gritar, mas manteve a compostura.

“So you’ll go see Asa and I finish the bandage and sweep the floor.”

“Alright then!”

“Love you”

“Love you more!”, Antonella disse se levantando a contragosto, se sentindo fisicamente e mentalmente exausta.     

sábado, 23 de julho de 2022

Shaving

Bradley costumava ser um dos primeiros a chegar no Cavalinho Feliz porque ia junto com a diretora Elizabeth. Naquele dia, Emma estava com ele e chegou cedo também.

Ela estava a caminho da biblioteca para fazer hora lá, quando esbarrou com Jonathan. Ele estava com espuma de barbear no rosto e uma toalha no ombro.

"Oi. Eu só tava indo buscar outra gillette na sala dos inspetores. Acabei deixando minha mochila lá." Jonathan se explicou meio sem graça.

"Tudo bem. Não julgo. Quer que eu pegue pra você?" Emma ofereceu. "Pra você não ter que andar até lá assim." 

"Ah, eu agradeço. Tá bem no bolso da frente da mochila."

"Tá bom. Já volto."

Emma pegou a gilette e foi até o vestiário dos funcionários.

"Aqui." Emma entregou a gilette.

"Obrigado."

Emma cruzou o alojamento e sentou na bancada onde ficava as pias do banheiro.

Jonathan olhou para a menina confuso.

"Tem problema de eu ficar aqui? Ainda falta um tempão pra começar as aulas e eu tô entediada."

"Não. Nenhum." Ele começou a passar a gilette no rosto.

"Você chega cedo assim todos os dias?" Emma iniciou conversa.

"Chego. É bom que não pego muito trânsito e dá tempo de tomar banho."

"E se barbear." Emma completou.

"E me barbear." Jonathan riu. "Não gosto muito de fazer a barba, mas me falaram que era apropriado pro trabalho."

"Eu gosto da sua barba. Quem falou isso?"

"Minha mãe foi a primeira a falar. Depois outro dia a Jessica falou a mesma coisa."

"Minha dinda te dá muitos conselhos?"

"Não. A gente só se fala nas reuniões de apoio e geralmente é rápido."

"Ela tem dito algo de relevante nessas reuniões?"

"Ela tá mais como ouvinte. Acho que ela nem precisa mais das reuniões. Já conseguiu tudo o que queria."

"E você não?"

"Se eu tivesse conseguido não estaria aqui."

"Você queria trabalhar com o quê?"

"Queria abrir um consultório de psicologia. Mas não é só sobre o trabalho. Eu também queria ter uma família. Uma esposa pra voltar pra casa, filhos..."

"Você ainda pode conseguir essas coisas. Você é muito bonito. As mulheres não dão em cima de você?"

"Não sei. Não sou bom em reparar nessas coisas. Além do mais, sou alcoólatra. Ninguém quer se relacionar com um alcoólatra."

"Tem mulher que não liga."

"Se você conhecer alguma, me apresenta." Jonathan riu. "Posso fazer uma pergunta?"

"Pode."

"Por que você mora na casa da Jessica e não com os seus pais?"

"Ela na verdade é minha mãe."

"A Jessica é sua mãe?" Jonathan perguntou surpreso. 

"Você não acha a gente parecida?"

Jonathan secou o rosto com a toalha, se aproximou da menina e analisou seu rosto.

"Não sei. Quem é o seu pai?"

"O Bradley."

"Que m**** que eles fizeram com a sua vida. Você cresceu achando que era afilhada deles, foi isso?"

"Foi."

Jonathan continuou analisando o rosto da garota.

"A boca."

"Hã?" Emma murmurou confusa.

"Sua boca é da Jessica e as sardas também. O resto todo você puxou do Bradley."

"Você acha a minha boca bonita?"

"Acho. Essa região toda sua é muito bonita." Ele apontou para a área abaixo do nariz da menina. 

"E a de cima é feia?" Emma brincou. 

"Não, não. É muito bonita também. Mas essa é seu ponto forte."

"Tudo bem. Obrigada."

"Olhando bem, você é muito bonita mesmo. Não tinha reparado antes."

"Ouch."

"Não. Não é porque você não chamou atenção. É porque todas as poucas vezes que te vi, eu tava muito nervoso."

"Muito nervoso pra reparar em mim?" 

"Sim. Sua mãe me deixa nervoso. E o marido dela também. Tenho a impressão que eles tão sempre me julgando."

"Acho que não."

"Talvez não o Andrew. Ele foi muito legal me arrumando esse emprego. Acho que julguei ele errado."

"Você achava o que dele?"

"Achava ele meio arrogante."

"Ele é meio arrogante." Emma riu. 

"Não acho mais. Foi muito generoso o que ele e a diretora da escola tão fazendo por mim."

"Verdade. Eles são boas pessoas."

O alarme do celular do Jonathan tocou. 

"Tá quase na hora de abrir a escola. Nos falamos depois?" 

"Sim." Emma desceu da bancada. 

"Foi um prazer finalmente falar com você." Ele estendeu a mão. 

"Igualmente. Bom trabalho."

"Boa aula." Ele recolheu seus pertences, colocou seu jaleco e foi para a entrada da escola.