segunda-feira, 22 de março de 2021

Breakfast at Sara's

    Andrew sentia que estava sendo observado, o que o deixava muito desconfortável. Ele pensou em perguntar se ela estava olhando as rugas dele, mas, no fim, preferiu manter os olhos fechados, fingindo que estava dormindo. A verdade é que ele não queria começar comentários que poderiam virar brincadeiras amorosas, já que, claramente, ele não estava apaixonado e nem perto de se apaixonar, ao contrário da pobre Sara, assim indicava. Aquela brincadeira toda durou, pelo o que pareceu, uns 15 minutos e só terminou, pois o inglês virou a cabeça para o outro lado. Pouco tempo depois, sentiu o peso da cama ceder, o que significava que ela havia levantado. O professor ainda assim ficou com medo de abrir os olhos. Vai que seus sentidos estivessem o traindo e ela ainda o observasse, parada num canto do quarto. Mas não! Os sentidos do inglês não o haviam traído (dessa vez, mas isso é outra prosa) e ele agora sentia cheiro de ovos e café. Andrew decidiu que era melhor levantar. Vai que ela quisesse levar a comida para a cama?

    Parece cruel a frieza, mas em sua defesa, o pai de só Asa na época não queria nada além de companhia nos tempos de solidão e muito sexo. Sara oferecia as duas coisas de bom grado, entretanto ela, em contrapartida, queria mais do que aquilo. Andrew sentiu que talvez estivesse entrando numa cilada quando a chamou para sair, porém a verdade é que ele não desperdiçava uma mulher fácil. Nunca. Era um lema de vida. Ademais, a esteticista era bonita e bem gostosa. Não, não tinha como negá-la. O osso eram as expectativas da moça. A verdade é que era difícil achar uma quarentona solteira que não fosse carente; mesmo que muitas tentassem esconder, eventualmente, revelavam o que estava escondido debaixo do tapete. Não se fazem mais garotas como Marianne.

    Andrew chegou timidamente na cozinha americana de Sara e pigarreou para chamar a sua atenção.

    "Bom dia! Posso me sentar?", ele perguntou, já puxando a cadeira.

    "Claro!", ela deu um riso nervoso. "Mi casa es su casa". Sara se virou de costas para Andrew se odiando por ter dito aquilo. "Eu to terminando de preparar o café da manhã. Espero que você goste de panqueca fit. Eu burramente fiz recheio de coco, mas eu não sei se você gosta. Me desculpa!"

    Sara era uma boa pessoa. Só queria agradar.

    "Eu adoro coco. Não sei como tem gente que não gosta."

    "Não é?! Eu também amo coco. Coco é vida!" 

    Ela definitivamente estava nervosa. Era a primeira noite que ele dormia na casa dela, o que provavelmente a deixou nervosa. Andrew resolveu "ajudar" dizendo a frase mais clichê que a maior parte das mulheres que passava a noite com um cara e tinha a sua companhia na manhã seguinte gostava de ouvir. 

    "Eu realmente gostei da noite de ontem. Você estava ótima.", ele a abraçou por trás sedutoramente e beijou o seu ombro. Ele não mentiu. A loira realmente tinha dado tudo de si. Para uma mulher de 40, ela estava bem em pé. O problema é que ele não gostava de usar como artifício a retórica-clichê. Já Sara sentia que podia derreter.

    "Você É ótimo!", respondeu, o beijando logo em seguida.

    Andrew, depois de sentir um leve cheiro de queimado, deu uma espiada de um olho na panqueca, que parecia estar queimando. Ele disse entre o beijo: "Acho que a panqueca ta queimando."

    "Ooops!" A esteticista interrompeu o beijo e foi dar uma olhada na panqueca, completamente agitada. O professor deu um risinho. "Ai, me desculpa! Eu sou tão distraída."

    "Achei que o meu beijo que fosse bom." Que p**ra é essa que ele estava falando? Mais uma dessas e iria aparecer um diretor de comédia romântica trash dizendo "Corta!"

    "Nã-não. Seu beijo é ótimo, não me entenda mal."

    "Eu tava brincando."

    Corta!

    "Sim! Você é muito engraçadinho mesmo.", ela disse, colocando a panqueca de chocolate no prato. "Olha, tem café, salada de frutas, pão, manteiga, queijo branco. Você quer um iogurte pra tomar com as frutas?"

    "Não, obrigado. Parece café da manhã de novela."

    "Faltou o bolo."

    "E o suco de laranja!"

    "É..." Ela começou a roer as unhas, enquanto Andrew preparava seu pão. "Andrew?" Ele olhou para ela. "Na verdade, tem suco de laranja na geladeira. Da fruta. Só que é de ontem."

    "Maravilha! Então realmente só faltou o bolo.", ele sorriu. "A não ser que você tenha algo pra me contar." 

    "Não tem bolo mesmo não. Seria demais pra mim. Eu moro sozinho, então já vi..."

    "É, eu também não costumo comprar bolo, só o pedaço, se eu tiver com muita vontade."

    "Às vezes, eu faço bolo fit também, aí levo as sobras pras meninas lá no trabalho."

    "Você é uma boa patroa." Ela sorriu. 

    Sara era uma boa pessoa. Então por que ele não conseguia gostar dela? Gostar mesmo. Era muito difícil, porque a verdade era que Andrew queria se apaixonar de novo. De verdade. Ele queria reconstruir a parte da família que perdeu. Entretanto, depois do casamento fracassado, salvo o nascimento do filho, nenhuma mulher despertou nele o interesse de se casar de novo. Andrew havia conhecido muitas mulheres bacanas e, ainda assim, só de pensar em se casar com uma delas, já o fazia morrer de tédio ou de medo. 

    "Gostou da panqueca?"

    "Ainda nem provei. Deixa eu ver...", respondeu o professor, despertando dos seus pensamentos. Ele provou um pedaço. "Uau! Nem parece fit."

    "Não é?! Eu amo essa panqueca!"

    "Ta realmente boa. Só ta um pouquinho queimada.", falou, mostrando a parte detrás da panqueca. Sara olhou apreensiva, mas ao não ver nenhum queimado, viu que ele estava brincando. Era óbvio que era brincadeira, até porque ela quem tinha ficado com a panqueca mais queimadinha.

    "Seu bobo!", ela deu um tapa no braço de Andrew. "Você me assustou."

    "Desculpa! Não, ta realmente muito boa. Vou querer a receita depois.", ele disse, dando outra garfada na panqueca. "Isso é chocolate derretido?"

    "É! É chocolate meio amargo."

    "Essa panqueca não me parece mais muito fit."

    "É chocolate meio amargo, seu bobo! Não engorda. Na verdade, faz muito bem pra saúde."

    Se ela o chamasse de bobo mais uma vez, Andrew voltaria à sua versão de 15 anos.

    Como quem não queria nada, Sara perguntou: "Você vai querer almoçar aqui? Não sei se você tem compromisso ou ta ocupado..."

    "Eu combinei com o meu filho da gente sair hoje. Me desculpa!" Mentira! Bem, ele tentou combinar de sair com Asa, mas teve seus planos frustrados, pois Antonella já tinha planejado um passeio entre a família dela. Claro, ele havia sido convidado. Claro, ele preferia se atirar em um lago a comparecer àquela programação. Preferiu mentir, porque Sara parecia estar muito carente naquele dia e ele não sabia reagir quando uma mulher demonstrava muita carência, uma vez que qualquer coisa que ele tentasse fazer sem sentir sairia muito forçada.

    "Ah, que legal! Vão pra onde?", ela tentou esconder a decepção, muito bem, aliás.

    "Pro cinema."

    "Cinema com crianças é tão legal. Eu amo ir com as minhas sobrinhas. A gente vai lá o tempo inteiro".

    Um dos grandes mistérios para Andrew, além do fato de Sara ser solteira, era o porquê ela não tinha filhos. Será que ela era estéril? Porque não parecia que ela não queria ser mãe. Eles ainda não tinham chegado naquele nível de intimidade para ele perguntar a fundo. De qualquer forma, a resposta dela o deixou meio para baixo. Ele se arrependeu de não ter aceitado o convite. Agora era tarde demais. Se ele desfizesse os planos, ficaria na cara que mentiu. A verdade é que o professor tinha pena de Sara.

    "É bem legal mesmo. Eu acho que fico mais animado do que ele com os filmes."

    "Você é muito sensível."

    "Você acha?"

    "Acho sim. Já reparei! Acho que você tem uma criança interior que nunca te deixou. Ela faz com que você tenha sonhos, expectativas, medos e gostos iguais a de uma criança. Também te traz a sensibilidade da criança, de ver beleza em tudo e ser curioso."

    Andrew teve que se segurar muito para não rir, mas muito mesmo. Aquilo não podia estar mais errado, ainda assim, Sara falava como se o conhecesse profundamente. A melhor parte foi "ser curioso". Em que momento ele se mostrou curioso com ela? Talvez só para vê-la nua e aquela curiosidade, certamente, não era nada infantil.

    "Nossa, nunca me vi assim, mas achei muito bonito", ele conseguiu dizer depois de muito autocontrole.

    A tentativa de não rir, fez a esteticista pensar que, na verdade, ele havia ficado emocionado com o que ela tinha dito. Havia até um pouco de água acumulada nos olhos do inglês.

    "Eu sou muito observadora!", ela deu de ombros, a fim de amenizar o clima. Homens como o Andrew não gostavam de se ver vulneráveis na frente de uma mulher. "Mas tudo bem, você me deve um almoço. Não pra pagar, mas pra comer aqui em casa. Como você já pode ver, sou uma ótima cozinheira."

    "Sim, é verdade. Que tal fazermos o seguinte? Se você não tiver compromisso no fim de semana que vem, podemos passar o sábado e o domingo juntos".

    O que ele estava fazendo? Era preciso se esforçar para sair da situação em que ele estava. Além do mais, Sara era boa. Sempre que ele precisava de companhia e/ou de sexo, o alimento do homem solteiro, ela estava por ele. Era hora de retribuir. 

    "Eu topo!", ela sorriu de orelha a orelha.

    "It's a date".

    E mais uma vez Sara derreteu, com aquele homem lindo, falando inglês com aquele sotaque. Que sortuda ela era. Quem sabe finalmente ela teria encontrado o seu final feliz? Só o tempo diria.

    E disse.

domingo, 21 de março de 2021

All the single ladies - No.

Mais uma saindo do clube das solteiras e dessa vez é a nossa querida professora de matemática, Letícia, para a tristeza dos machos e das sapatas. O namorado da teacher, Ashton Kutcher, escolheu um restaurante que os dois frequentavam quando crianças e se ajoelhou na frente de todo mundo para pedi-la em namoro. É claro que todos os presentes na ocasião acharam que a nossa morena gostosa estava sendo pedida em casamento, não em namoro, e aplaudiram.

O pedido de namoro veio com um pequeno discurso por parte do galã, que vocês verão a seguir, na íntegra:

Letícia, quando criança eu tinha uma melhor amiga e ela era tão incrível que eu tive que pedi-la em namoro. Ela me proporcionou momentos inesquecíveis, mas lembra quando falei que ela era muito incrível? Pois é, de tão incrível, acabou entrando na universidade quando eu mal sabia amarrar os sapatos. Brincadeira, eu sabia amarrar bem os meus sapatos. Mas a verdade é que você era brilhante demais pra eu poder te acompanhar e você precisava voar e eu precisava te deixar ir. Duas décadas depois, nos reencontramos, e eu tive a sorte de chamá-la para sair e dela dizer sim. Tenho vivido mais momentos inesquecíveis e quanto mais desses momentos eu tenho, mais ainda quero ter. Um grande amigo uma vez me disse, que quando somos muito felizes ao lado de alguém, não podemos deixá-lo escapar. E eu não quero te deixar escapar, nunca. Você é a mulher mais linda, sexy, inteligente e divertida que eu já conheci. Me daria a honra de ser minha namorada de novo? 

Obviamente, a resposta da teacher foi: Sim!

E aí nossos dark horses, tão colocando fé nesse namoro?

Cheryl-lixo

- Você leu a última notícia do blog?

- A da Cheryl? - revirou os olhos.

- Sim! - revirou os olhos. - Ela se acha, mas paga tanto mico, tadinha...

- Como assim?

- Você já reparou o modo como o Tom trata ela? Ela parece a carne mais barata do mercado. Toda vez que tem notícia dos dois, ele só vê ela como um objeto. Ela fica se fazendo da gostosona, mas nem o namorado dela gosta dela pelo o que ela é. E olha que o Tom é super sensível.

- Você acha?

- Claro! Já viu como ele é super carinhoso com o Andrew? O carinho que ele escuta o amigo, dá conselhos. Ele pintando o quadro do menino no rio, se lembrando da infância e adolescência, o carinho que ele tem pelos alunos. O Tom é super querido, fofo. Mas quando ta com ela, só pensa em sexo, porque só isso de bom que ela consegue proporcionar pra ele. Ele olha pra ela e só pensa naquilo. A Cheryl só mantêm ele dessa forma.

- Pior que é verdade.

- Ela só empaca ele pra uma garota que poderia fazer ele se apaixonar de verdade, porque de uma coisa eu tenho certeza: ele não gosta dela.

- Também acho que não. Nunca achei que ele gostasse dela, pra falar a verdade. Acho que ele só é apegado a ideia de ter ela por ela ser desejada, ser considerada uma das melhores da escola e...

- Coisa que ela nem é. 

- Pois é.

- Ela nem legal é, só é metida mesmo. E burra, claro.

- Tadinha... - Riu.

- Ela é um lixo. Só desperta o lado ruim do Tom... E de todos. 

- Não vejo a hora do Tom terminar com ela...

- Já ta chegando a hora. Ele só precisa pensar com a cabeça... A outra. - Elas riram.

Pre-wedding nervousness

 ~ Uma semana antes do casamento do Sebastian ~

"Alguém mais leu o livro que eu passei?" Tom perguntou ao restante da turma. 

Niall levantou a mão. 

"Eu cheguei a ler o primeiro capítulo, mas tava muito chato." Niall admitiu. 

"Tá chato e vocês param de ler? A prova do livro é metade da média de vocês esse bimestre e eu não vou pegar leve nas perguntas. Sugiro que todos comecem a ler o o quanto antes o livro porque quando tiverem dúvidas, e acredite, vocês terão, vai dar tempo de sanar pra prova. Estamos entendidos?"

" Siiiim." A turma inteira ecoou. 

Na hora de ir embora, Tom aguardou Cheryl sair da sala. 

"Oi." Cheryl cumprimentou o namorado quando o viu. 

"Oi. Quer carona pra casa?"

"Não, obrigada. Eu vou passar na farmácia no caminho pra casa."

"Eu posso parar na farmácia."

"Não precisa. Talvez eu demore. Gosto de olhar as coisas com calma... não quero que você fique esperando."

"Sei..."

"Como assim sei?" Cheryl perguntou fazendo aquela carinha de confusa que Tom amava. Ela era tão adorável. 

"Eu te senti meio calada na minha aula hoje. E você leu o livro que eu passei. Por que não disse nada?" 

"Porque todo mundo ia zoar dizendo que eu só li porque você me obrigou."

"Mas eu te obriguei." Tom abriu um risinho. 

"Sim." Cheryl revirou os olhos. "Só que ninguém precisa saber disso."

"Tá bom. Mas eu posso, por favor, te acompanhar na farmácia? Ultimamente tenho sido mais seu professor do que seu namorado." Tom alisou o braço da inglesa. 

"Okay." 

Tom acompanhou a menina até seu carro e abriu a porta para ela entrar. 

"Serve a pacheco?" Tom perguntou dentro do carro. 

"Uhum." Cheryl concordou. A verdade era que a Geordie não queria passar na farmácia. Ela só queria voltar para casa sozinha. A caminhada a faria bem, assim como, a solidão. Cheryl não conseguia tirar da cabeça que Sebastian se casaria na semana seguinte. Estava tão perto. Será que se o namoro dos dois tivesse dado certo, ele ainda se casaria com Luciana? Ele sempre pareceu odiar a ideia de se casar tão cedo, principalmente com alguém que não cultivava sentimentos. Será que ainda permanecia assim ou será que de alguma forma conseguiu se apaixonar por Luciana? Seus pensamentos estavam a mil. 

"Chegamos." Tom parou o carro em frente a Pacheco. 

Cheryl acenou e tirou o cinto. Tom aproveitou para beijá-la. A menina correspondeu como sempre correspondia.

"Eu queria poder te levar pra casa." Tom disse quando o beijo chegou ao fim, acariciando o rosto da menina com o polegar. 

"Impaciente, much?" Cheryl arqueou uma sobrancelha. 

"Por você, sempre."

"Minha mãe já vai tirar o gesso semana que vem. Agora é questão de dias só."

"Finalmente." Tom comemorou. 

Os dois entraram na farmácia e Cheryl foi pegando coisas aleatórias e colocando na cesta. 

"Você tá resfriada?" Tom perguntou ao ver os remédios para gripe que a Geordie tinha pegado. 

"Meu irmão tá."

"Então você tá cuidando dele também... Não tá se sentindo um pouco sobrecarregada?" 

"Hã?" 

De novo aquela cara de confusão. Será que ele seria preso se comesse a Cheryl ali mesmo? 

"Sobrecarregada... Overload?" 

"If I'm overloaded? Não me sinto sobrecarregada ainda." Cheryl respondeu com um sotaque carregado na palavra sobrecarregada. 

"Se precisar de ajuda, só falar."

"Obrigada."

Tom teve que se conter para não iniciar nenhum contato físico com a menina. Cheryl ainda era muito nova e as pessoas podiam estranhar. 

Depois da farmácia, Tom deixou Cheryl na casa dela e seguiu para a sua. 

~Véspera da viagem do casamento do Sebastian~

"Tem certeza de que você não vai? Essa vai ser a verdadeira festa do século!" Hailee fez referência a Fernandinho. 

"Tenho." Cheryl girou o cigarro nos dedos, decidindo se iria fumar outro ou não. Seus pés estavam enterrados na grama do quintal da amiga. 

"É por causa do Sebastian? Você ainda sente algo por ele?" Hailee perguntou fazendo embaixadinhas com a bola. 

"Claro que não." Cheryl bufou e acendou seu cigarro. 

"Eu acho que entendo. Deve ser difícil ver um ex casando com outra. No futuro iremos passar por isso o tempo todo."

"Mas não é a mesma coisa, é? Ele não queria esse casamento. Ele foi obrigado. Ele não teve tempo de viver a vida e agora vai estar preso pra sempre."

"Realmente isso é meio triste. Mas antigamente todos os casamentos eram arranjados e as pessoas ainda assim eram felizes."

"Isso é discutiveble."

"Talvez."

"Eu também me sinto mal porque sei que não fui uma boa namorada pra ele. Fiz ele passar por coisas que hoje me arrependo."

"Mas isso já passou e não mudaria nada. Só faria ser ainda mais dolorido o processo de se casar com outra. Acho que todas as possíveis burradas que você fez durante o namoro de vocês, acabou sendo pra melhor."

"Tem razão." Cheryl concordou pensativa.

sábado, 20 de março de 2021

Cool like you

Emma estava na casa de Cassie jogando conversa fora. 

"Desculpa. Ainda não caiu a ficha que o Bradley é o seu pai. Tipo, muito bizarro, ele tava sempre ali."

"Eu sei. Às vezes eu penso que tudo foi um sonho e que na verdade meus pais ainda são meus pais e eles tão bem aqui. E que meu único irmão é o Bryce e ele também tá aqui. Sinto falta do normal. É estranho. E o pior de tudo é que sempre vai ser estranho. Eu queria poder fugir pra um festival de bandas." Emma desabafou. Ela estava com a irmã caçula de Cassie no colo e estava amarrando seu cabelo. 

"Eu também! Escutar Muse até o sol nascer." Cassie começou a a balançar ao som de nenhuma música. 

"Que Muse o quê. Arcade Fire!"

"Blossoms?" 

"Se focassem nas músicas do Cool like you."

"Foolish loving spaces também é bom."

"Cool like you tem uma das melhores músicas de todos os tempos que é.... (Emma fez gesto de tambores com a mão) Cool like you."

Cassie começou a cantar:

"Cool like you

To be or not to be, I feel my blues..." 

Emma se juntou a amiga:

"Cool like you

Maybe it's me, I just need something brand new

Cause I'm so tired of talking through you

Uninspired

Can't ever let it show

Do what's required of you

Always got me wired

Don't think I'll ever

Know if I can leave when I want to

'Cause there's so many things that I could say to upset you

Maybe there's a way that I could be so that you knew

How it really feels in the space where I won't be

Cool like you"

"Essa música realmente é muito f***a." Cassie admitiu e Emma tapou os ouvidos da irmãzinha da amiga, inutilmente, para ela não ouvir o palavrão. 

"Muito! O refrão me transporta full pra um lugar muito maneiro."

"Falta pouco, Em, pra gente ser maior de idade e fazer o que quisermos. A gente pode morar nesses festivais se a gente quiser, daqui a dois anos." 

"Se eu faço isso aí que meus pais me largam de vez." 

"Eles já fizeram isso."

"Ouch."

"Desculpa, bebê, mas seus pais são péssimos. Minha mãe fala mal deles o tempo todo."

"Eu sei..." A irmã de Cassie começou a puxar o cabelo da Emma. "Você quer meu cabelo? Só se você fizer um penteado bem bonito em mim." A menina assentiu e a ruiva voltou a falar. "E se a gente fizer faculdade na Austrália? Lá tem vários festivais."

"É uma boa opção. Mas você não queria ir pro MIT?" 

"Desisti. Não sou tão inteligente quanto eu pensava."

"Com certeza é a mais inteligente do grupo."

"Talvez a mais exibida."

"Também." Cassie riu. "Sabia que aquele garoto, Lourenço, filho daquele cara que só usa roupa escura, tá a fim de você."

"Como você sabe?" 

"Um passarinho me contou."

"Quem?" 

"Ele falou comigo."

"E o que você disse?" 

"Que você é uma vadia enrolada, mas que passaria o recado."

"Diz pra ele que eu sou uma vadia enrolada que não tá a fim." 

"Eu imaginei que você fosse dizer isso. Ainda tá na onda daquele novinho enteado da tia Jessica?" 

"Não. Segui em frente. Na verdade não sei onde eu estava com a cabeça."

"Então você parou de gostar dele?" 

"Aí é que tá. Eu nunca gostei dele, só da vibe. Agora preciso achar minha próxima marijuana."

"Ouvi dizer que o Guilherme tá saindo com a Luiza."

"Bom pra ele."

"Não sente ciúmes?" 

"Não vou com a cara da Luiza. Acho que se fosse outra garota, estaria mais de boa."

"Também odeio aquela garota. Faaalsa."

"Demais!" 

A porta do quarto de Cassie se abriu. 

"Emma, seu dindo tá aqui." A mãe de Cassie informou. 

"Tá bom, já tô indo."

"Da próxima vez, você dorme aqui." Cassie falou. 

"Combinado." Emma segurou a irmãzinha de Cassie por trás e a trouxe para frente. "Sua gostosa." A ruiva beijou as duas bochechas da menina. Depois pegou sua pasta e foi encontrar com seu dindo. 

Mais tarde naquele dia, Bradley foi para o quarto da afilhada e sentou na sua cama. 

"Pedi perdão pra Antonella e pro Andrew hoje."

"Que bom."

"Obrigado por me fazer ver que estava exagerando."

"Suas intenções foram boas, isso é que importa. Na verdade, só falei aquilo porque não gosto de ouvir os outros falando de você. Acho que somos meio que parecidos nesse aspecto."

Bradley deu um meio sorriso. 

"Eu te amo tanto. Você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Sabe que eu tô até mais de boa de ver a sua dinda com o Andrew? Ela já me deu tudo o que eu preciso e tá bem na minha frente. Você e o Brian são meus maiores e verdadeiros amores."

Emma sentiu que seu padrinho precisava de um abraço e então foi lá e deu. 

"Eu também te amo muito." Emma disse de volta. 

"Eu fico preocupado porque você tem lidado com tanta coisa ao mesmo tempo. Como tá a matemática?" 

"Fui mal no teste."

"Em..."

"Acho que eu tava com muita coisa na cabeça. Na prova eu vou melhor. Eu prometo."

"Vai querer minha ajuda?" 

"Quero. Principalmente no outro teste de matemática da turma normal. É semana que vem."

"Tá meio em cima, mas vai dar certo. Eu só quero que você saiba que se você repetir de ano, não vai ser por nenhum demérito. E eu ainda vou ter muito orgulho de você."

"Obrigada."

"Fora matemática tá tudo bem?" 

"Tá."

"Eu tava pensando da gente fazer um passeio no fim de semana. Eu, você e Brian. Acho que nós três estamos precisando espairecer um pouco."

"Pra onde?" 

"Petrópolis. É pertinho e daria pra aproveitar sem ficar cansativo."

"Eu topo."

"Legal. Então já vou começar a procurar pousadas."

"Escolhe uma direita."

"Eu te mando as opções e você escolhe. Tá bom assim?" 

"Tá."

"Então, boa noite, Emminha."

"Boa noite."

terça-feira, 16 de março de 2021

Momento whaaat?

Trouxemos aqui um momento whaaat que ocorreu com os nossos dois alunos de intercâmbio, André e Julieta. 

Sabemos que os jovens do programa de intercâmbio estão hospedados no mesmo hotel, em Copacabana. 

Sabemos também, que André e Julieta são uma espécie de cúmplices, aqui no Cavalinho Feliz, por se encontrarem na mesma situação. 

Bom, o que não sabemos foi que André fez uma visita inesperada ao quarto de Julieta. A ruiva, apesar de surpresa, deixou André entrar. 

Os dois bateram papo de forma relaxada e descontraída. Em algum ponto daquela tarde, a língua de André estava na boca da Julieta, dando início, a uma maior sessão de amassos. Os dois estavam se beijando na cama, com André em cima e Julieta embaixo. 

"André?" Julieta chamou. 

"O quê?" 

"Minha... humm... parte tá... bem, formigando." Julieta titibeou, envergonhada. "É melhor a gente parar."

André olhou para a ruiva, surpreso. 

"Não quer uma ajuda?" 

"Não. Eu só preciso de um tempo." Julieta fechou os olhos e respirou fundo. 

Ela tentava pensar em coisas aleatórias, ignorando o olhar de André sobre si, que dava para sentir, mesmo de olhos fechados. 

"Tem certeza que não quer nenhuma ajuda?" 

Julieta ponderou a proposta. 

"Melhor não."

"Você sabe que tem como te ajudar sem a gente fazer, né?"

"Você podia... é.... me apertar?" Julieta falou sem graça. 

"Como assim?" 

Julieta revirou os olhos frustrada. Já tinha sido difícil pedir, agora teria que explicar? 

"Um pouco de pressão ajudaria... sabe... embaixo." Julieta explicou. 

"Ah! Então eu posso?" 

Julieta respirou aliviada.  

"Não precisa mais. Passou."

"Assim?"

"Você demorou muito, acabou passando."

"Eu não demorei nada."

"Foi pra melhor." Julieta riu e se levantou da cama. 

"Foi." André respondeu frustrado. 

sexta-feira, 12 de março de 2021

Bebê, karaokê e cerveja

- Hoje vamos ter um dia beeem cheio, bebê. - Disse Andrew, fazendo carinho na barriga de Mel e tirando-a do berço. - Quem está ansiosa para ver a mamãe? Quem? Quem? Siiiim! É você! É você! E eu também! Mas antes a gente tem que adiantar algumas coisas, dar um jeito na casa pra receber o tio mais tarde... - Ele aproximou a Mel de seu ouvido como se ela tivesse dito algo - O quê? Como assim você não vai passar pano na casa? Mas você prometeu ontem, Mel! - Ele aproximou ela de seu ouvido novamente - Ok então! Hoje eu vou deixar você sem fazer nada, mas amanhã a louça é sua. Não é, bebê? Não é, delícia? - Ele deu vários beijinhos no rosto de Mel e a prendeu no canguru. - Vamos lá então! 
Andrew foi até a sala e pegou o seu celular que estava em cima da mesa:

- Vamos escutar uma musiquinha pra ficar mais divertido. - Ele deu play na sua playlist do spotify, que começou a tocar Sacrifice no home embutido da casa. 

It's a human sign
When things go wrong
When the scent of her lingers
And temptation's strong
Into the boundary
Of each married man
Sweet deceit comes calling
And negativity lands - Cantava ele, enquanto dançava com Mel presa a ele.

// HEAD OVER HEELS //

- Olha quanta mamadeira suja. Mas você bebe muito, minha Mel. Olha isso. Olha isso. - Andrew fez um movimento ligeiramente brusco acompanhando o ritmo - Yeah! Thought of your future. - Não, não pode, não pode. Deixa a mãozinha aqui. Você nem tem força pra segurar isso. Isso é só detergente. - Disse ele, começando a lavar as mamadeiras. - It's hard to be a man when there's a gun in your hand / Oh, I feeeeeeeel soooooooo.

// BIZARRE LOVE TRIANGLE // 

- There's no sense in telling me
The wisdom of the fool won't set you free
But that's the way that it goes and it's what nobody knows
Well, every day my confusion grows
Essa música me lembra de uma menina que eu saí. A gente foi pra uma balada... Isso, Mel, papel toalha. Não precisa pegar... 

// TORN //

- Eu vou fazer isso assado, que fica mais fácil porque se eu fritar, vou ter que te tirar de perto de mim.
I'm cold and I am shamed / Lying naked on the floor
Sabia que essa versão é um cover? Sabia?! Que estranho...


- Ok, Mel. Terminamos aqui. Agora... - Ele tirou a bebê do canguru, a segurando no colo. - Acho que agora eu tenho que dar um jeitinho na casa. Não é muita... - Andrew se deteve, analisando o estado da casa. Começou, então, a tocar It Must Have Been Love. Ele olhou para a Mel com cara de culpado e fez - Shhhhhhhhh... Ninguém sabe que eu gosto dessa música. Não conta pra ninguém. - A bebê começou a chorar. - Ah, não, até você me julga, sweetheart. Mas o que eu posso fazer? A música é boa. - Ele falou direcionando a Mel para o quarto, pois ela havia sujado a fralda.

// AINDA IT MUST HAVE BEEN LOVE //

- Você sabia que uma vez eu saí com uma garota e... Eita, quanta sujeira. Vou te dar banho de novo daqui a pouco. Bem, o que eu tava falando? Ah, sim. Da garota. Aí tudo bem, a gente tava de boa na fila pro cinema, eu acho, e aí eu fui comprar pipoca e ela foi pro banheiro. Acho que passou um carro de som tocando essa música e sem reparar eu comecei a cantarolar It must have been love / But It's over now, só que a garota chegou na mesma hora e me olhou com a pior cara do mundo. Eu tinha uns 16 anos na época. Tinha gente que achava que eu era gay, então ser pego no flagra cantando música considerada de mulherzinha não pegou bem pra mim. Mas fazer o quê? A música é boa!
Yeah, it must have been love
But it's over now
It was all that I wanted
Now, I'm living without
It must have been love
But it's over now

// KING OF PAIN //

- There's a little black spot on the sun today
It's the same old thing as yesterday
There's a black hat caught in a high tree top
There's a flag-pole rag and the wind won't stop
I have stood here before inside the pouring rain
With the world turning circles running 'round my brain
I guess I'm always hoping that you'll end this reign
But it's my destiny to be the king of pain
Essa música é muito f**a, quer dizer, boa. Eita, bebê. Foi mal, foi mal. Enfim, eu já fui muito viciado por essa música, principalmente essa primeira parte. That's my soul up there. Teve uma vez que meus amigos me sacanearam com essa música, mas melhor eu não te contar. - O celular de Andrew tocou. - Eita. - Ele pegou o celular e atendeu a chamada de vídeo. - Oi, Suzana! Tudo bem? ... Eu to bem. A Melzinha também. Olha ela aqui. - Ele apontou a câmera para a filha. - Sim, ela ta bem também. Vou visitar ela hoje. ... Claro, pode sim. Eu vou avisar pra enfermeira que você vai. E como ta o João Pedro? ... Jura? ... Mas menino é assim mesmo. Eu já fiz muito isso, na verdade. ... Ah, sim! Então, eu comprei o modelo do piano que você falou. É esse aqui, mas agora eu não sei onde eu posiciono. É que essa mesa feia ocupa muito espaço.



 // NOTHING'S GONNA STOP US NOW //

Andrew dançava e cantava para Mel:

- Lookin' in your eyes
I see a paradise
This world that I've found is too good to be true
Standin' here beside you
Want so much to give you
This love in my heart that I'm feeling for you
Let 'em say we're crazy 
Eu amo o modo como ela fala isso. Let 'em say we're crazy  - Ele imitou de novo. - Não é legal, Mel? - Ele pegou ela no colo e começou a dançar com ela.
And we can build this dream together
Standing strong forever
Nothing's gonna stop us now - Eita, tenho que ligar pra Octavia, assim ela vai achar que me esqueci dela.



// NOTHING COMPARES 2 U //

- I can eat my dinner in a fancy restaurant
But nothing
I said nothing can take away these blues
'Cause nothing compares
Nothing compares to you - Ele cantava, enquanto dava banho na Mel e brincava com ela. - Essa playlist é cheia de guilty pleasure, filha, então, por favor, não conta pra ninguém. Essa música, na verdade, é do Prince, mas a versão da Sinéad O'Connor é mil vezes melhor e é aí onde mora o perigo. Essa música me lembra de uma ex-namorada do seu tio Matt, Alice. Sempre que eu escuto, eu lembro dela. Ela era linda, linda e super popular. No dia do aniversário dele, ela cantou essa música pra ele e fez uma performance muito sensual. Ela não tirou a roupa, nem nada, mas o modo que ela cantava e dançava deixou todo mundo hipnotizado, olhando. Daí sua vó chegou, viu aquilo e ficou cheia de raiva, xingando a garota. Foi engraçado. Ah, essa é a melhor parte:
I went to the doctor, guess what he told me
Guess what he told me
He said, "Girl you better try to have fun, no matter what you do"
But he's a fool
'Cause nothing compares, nothing comp... Mel, nãããããããão! - Ele olhou para a banheira já toda suja depois de Mel fazer cocô lá. - Ele respirou fundo teatralmente e semicerrou os olhos. - Foi de propósito, não foi?



// DON'T YOU WANT ME //

- Don't you want me baby?
Don't you want me? oh
Don't you want me baby?
Don't you want me? oh - Ele cantava, apontando para a Mel quando dizia "baby" e dançando de um lado para o outro enquanto a carregava no colo.

// REACH //

- Reach for the stars
Climb every mountain higher
Reach for the stars
Follow your heart's desire
Reach for the stars
And when that rainbow's shining over you
That's when your dreams will all come true - Ele mexia os braços da Mel e fazia a dancinha nela, enquanto ela estava sentada na cadeirinha.

// DON'T LET THE SUN GO DOWN ON ME //

I'd just allow a fragment of your life to wander free, ooooooh
But losing everything
Is like the sun going down on me
Ladies and gentlemen Ms Mel Chastain Butterfield - Ele começou a fazer uma voz de criança, segurando o controle na direção da filha:
I can't find, oh the right romantic line
But see me once and see the way I feel 

// YMCA //

Young Mel, there's a place you can go
I said, young Mel, when you're short on your dough
You can stay there, and I'm sure you will find
Many ways to have a good time
It's fun to stay at the YMCA 
It's fun to stay at the YMCA - Ele fazia a dancinha do "YMCA" com os bracinhos da Mel.


.

- Bebê conforto, carrinho, protetor de pescoço, bolsa de fralda com lencinho e pomada, mochila com mamadeira, babador e paninho, álcool em gel e garrafa de água. Certinho! Acho que não ta faltando mais nada. Vamos ver a mamãe? - Ele perguntou para a Mel, que estava no canguru, enquanto tentava carregar todas aquelas coisas. 

.
Enquanto arrumava uma vaga para estacionar, Andrew cantarolava a música que tocava no seu som do carro.

- I've been going crazy while you sleep
Searching for a language
That the two of us can speak
So Mr. Prehistoric make your wheel
São alunas do papai que cantam, filha. Olha, vai chegar a minha parte preferida:
Your call's late, big mistake
You gotta hang about in limbo for as long as I take
Next time, read my mind and I'll be good to you
We're gift-wrapped kitty cats
We only turning into tigers when we gotta fight back
Let's go, Eskimo
Out into the blue
Come take my hand
Understand that you can
You're my man and I need you tonight
Come make my dreams
Honey hard as it seems
Loving me is as easy as pie, I...
I'm just a love machine
Feeding my fantasy
Give me a kiss or three
And I'm fine!
I need a squeeze a day
Instead of this negligée
What will the neighbours say
This time?
A versão ao vivo é melhor. Nossa, ta difícil de achar uma vaga boa aqui.
Oh, a little education
Oh, to give you motivation
Oh, turn the situation 'round
Oh,'cause I don't wanna change ya
Oh, I'm making you a stranger
Oh, I'll only re-arrange ya


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- Olha a mamãe, Mel. Olha a mamãe. - Disse Andrew, entrando no quarto de Jessica - Olha que linda a sua mãe. Mesmo dormindo e sem maquiagem, ela fica linda. - Ele se aproximou da mulher - Como você tá? - Ele deu um beijo na bochecha dela. - Cheiro de Katie. - Constatou. Ele olhou para as unhas da advogada pintadas de verde fluorescente. - É, parece que a Emma passou por aqui. - Ele riu.

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- Acho que fiz besteira. - Falou Andrew, preocupado, vendo que molhou a esposa toda. - A enfermeira vai me matar. - O professor analisava a situação cheio de creme de massagem na mão. - Nossa, se a sua mãe visse isso. Desculpa, amor. - Ele terminou de passar o creme no cabelo molhado de Jessica. - Acho que eu passei muito creme. Ai, caramba, ainda tem que lavar isso. To com medo de molhar ela ainda mais. Esse balde é muito pequeno. Como a minha mãe faz isso?


.

Passada a bronca da enfermeira e duas horas, Andrew se preparou para ir embora. Ele olhava melancolicamente para a esposa dormindo. - Daqui a pouco você vai acordar e conhecer a sua filha. - Ele fez carinho nas bochechas de Jessica. - To sentindo a sua falta. - Ele beijou a testa da mulher. - Dá um beijinho na sua mãe também. - Ele encostou a cabecinha de Mel em Jessica e a bebê começou a chorar. - Ah não, não chora, bebê. É a mamãe, é a mamãe. - Ele balançava a filha. - Acho que eu fui um pouco brusco fazendo isso. Desculpa o papai, bebê. Foi mal, Jessica. Eu sou meio estabanado, mas to dando o meu melhor. - Ele beijou a advogada novamente. - Olha, a gente vai voltar na terça. Acorda logo, ok? Nós te amamos. - Ele beijou a cabeça da Jessica, pegou os pertences e deixou dois biscoitos Bauducco em cima da mesa com um post-it escrito "EMMA" e outro escrito "BRIAN. É sério, Emma, é do Brian. Não to nem aí que ele não ta aí. Guarda até ele visitar!" e foi embora.


.

Andrew esperava o irmão na área de desembarque junto com Mel, agora dormindo no carrinho. Ele sabia que atraía o olhar de muitas mulheres, que costumavam olhar com muito tesão um homem sozinho cuidando de um bebê. Duas puxaram assunto e ele as respondeu de forma cortês, coçando o rosto com a mão que levava o anel de casado para elas perceberem que ele já tinha alguém. Elas, entretanto, pareceram não se incomodar e continuaram o assunto até Andrew dizer que precisava se encontrar com o irmão que estava chegando. Detalhe: isso ocorreu separadamente. 

- Andy!

-Charlie! 



-Mel!

Os dois irmãos se abraçaram fortemente. 

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(A partir daí, o diálogo muda de idioma e passa a ser em inglês. Antes, de fato, Andrew estava falando português. Vamos trazer a versão já traduzida.)

- Caraca, tinha me esquecido que essa sua mesa era muito feia. - Gritou Charles para o irmão, que estava no quarto de Mel. 

Andrew, enquanto colocava a filha no berço, disse sorrindo:

- Vou te devolver agora pro berço. 

E voltou para a sala. 

- É, cara, é horrível. Cerveja?

- Claro! Cadê a mãe?

- Foi passar o dia com o Asa. Levei ela lá mais cedo. Ela quis que fosse algo de vó e neto.

- A mãe ta sensível. 

- Muito.

- Parece outra pessoa.



- Acho que ela ta tentando aproveitar enquanto ela se lembra das coisas, se lembra de quem é ela e dos outros.

Charles ficou em silêncio, pensativo. Andrew, percebendo que o irmão caçula, que também era muito sensível, ficou afetado com o comentário, decidiu mudar de assunto.

- To muito feliz que você veio. Finalmente, conheceu a Mel. - Ele passou uma garrafa de cerveja para o irmão, enquanto segurava a dele e se encaminhava para a varanda.

- Pena que ela ta dormindo. Mas e a mãe? Ela ta se esquecendo muito?

Charles era muito preocupado.

- Às vezes. Eu marquei consulta pra ela na terça pra checar o avanço, ver se o remédio continua funcionando e pra ela continuar com os exercícios de memória.

- Ela parou de fazer?

- Então, eu venho tentando fazer com ela, mas às vezes dá uma louca nela e ela não quer fazer. Acho que com um profissional, ela vai se sentir mais obrigada.

- Fez bem, mas se prepare pra ouvir muito. Como você que vai ter que traduzir tudo, minha mãe vai direcionar a raiva pra você.

- Já to acostumado. - Ele riu.

- Mas e o Asa? Fiquei sabendo do que aconteceu.



- Minha mãe contou?

- Contou.

- Ai, que bom, porque eu não quero mais contar essa história não.

- Como ele ta?

- Ele ta fingindo que nada aconteceu, mas eu conheço ele. Eu sei que ele não ta bem. Aí agora eu já achei outro psicólogo pra ele. Falei com o médico da Jessica e depois com um colega de trabalho e os dois falaram de um cara que parece ser muito bom com esses tipos de... coisas. A Antonella e eu vamos na quarta, antes de levar o Asa, pra falar da situação, ver se o cara é bom mesmo. Mas eu to otimista, sabe? Ele tem ótimas recomendações e é especialista em crianças e adolescentes. Eu to confiante de que agora vai dar certo. Eu sei que ele nunca vai se livrar do trauma dele, mas eu quero muito que ele não deixe isso engolir a vida dele, o futuro dele. A Antonella e eu vamos frequentar o pai desse psicólogo também. É um tratamento conjunto. 

- Vão ser os dois juntos?

- Não, separadamente. Só às vezes juntos. Tem um grupo de apoio também pra pais que passam pela nossa mesma situação, mas, honestamente, isso eu não quero frequentar.

- E a Toni?



- Não sei. Acho que talvez, sei lá.

- Cara, isso que aconteceu parece péssimo, mas no fundo, foi pra melhor, porque agora a gente sabe como ele se sente e pode intervir.

- É que eu achei que já estivessemos tratando disso... Na verdade, a Valéria, psicóloga do Asa, tinha falado que ele poderia ter crises em certos momentos, mas a Antonella, o John e eu pensamos que seria só em situações que envolvessem relações sexuais. Fomos muito ingênuos e achamos que estava tudo controlado. Eu me sinto mal, porque ele sofre por causa da nossa negligência.

- Vocês não são obrigados a saber o que se passa na cabeça do Asa, até porque ele não se abre com vocês, o que é totalmente compreensível. E a ex dele? Como ela ta?

- Ela e o Bradley devem estar aliviados dela ter se livrado do Asa. E cedo. Eu não os culpo, mas que dói, dói. E muito. O pior é pensar que se fosse com uma filha minha, se fosse com a Mel, eu também levantaria as mãos pros Céus. 

- O Asa tem esse problema, claro, mas ele é melhor que muito garoto que a gente vê por aí. Por enquanto é um livramento, porque ele ta no auge da crise e ela é muito nova pra lidar com isso, mas no futuro, quando ele tiver melhor, ninguém mais vai pensar assim. Isso que ele sofre, tem conserto. Ele vai aprender a lidar com isso. O que mais existe, Andrew, é criança abusada, infelizmente. Eu trabalho com um colega que foi abusado. E pelo pai, ainda por cima. Ele conversou comigo quando soube do meu sobrinho. Ele disse que é difícil, às vezes, mas que na maior parte do tempo ele não pensa no que aconteceu, principalmente agora que ele formou família. Com o Asa também vai ser assim.

- Assim seja! Obrigado, Charlie. - Ele apertou a mão do irmão. - E o papai? To muito feliz que deu tudo certo com a operação.

- Siiiiim! Cara, parece outra pessoa. Aumenta a qualidade de vida esse negócio de não ficar tremendo. Os pais daquele seu amigo têm que operar também.

- Nossa, muito. Eles são piores do que o papai. 

- Ele também ficou muito emocionado quando soube que a Jessica não corre mais perigo de vida. Todos nós, aliás. Ele fez jejum durante dois dias quando a Mel nasceu e jejum de mais dois dias quando soube da Jessica. 

- Meu pai tem que parar de fazer esses jejuns. Ele ta muito velho pra isso.

- Ah, ele também fez jejum de um dia uma semana antes de operar. Ficou na mesquita o dia inteiro orando, porque ele tava com medo de morrer.

- Eu vou parar de contar as coisas pra ele. Em vez de ficar só na mesquita, não. Ele fica lá e ainda faz jejum.

- Como a mamãe não ta lá, ele vive na mesquita agora.

- Ai, eu não vou devolver ela por enquanto não. Ela ta sendo ótima pra mim. Eu tava com saudades dela.

- Relaxa, cara! A verdade é que ta todo mundo com saudades dela. Menos a Gugu... E a Pam. Não, na verdade, a Pam mais ou menos.

- Eu entendo a Gugu.

- Eu também.

Eles riram. 

- A gente brigava muito por causa da mamãe. Ela dizia que eu não defendia ela. A verdade é que eu tentava, mas eu também não queria irritar a minha mãe. Ela já ta velha e ela, no fundo, no fundo, é sensível.

- Você tem razão. To vendo muito isso agora.

- E como ta viver sem a Jessica?

- Cara, é bem ruim. Parece, às vezes, que eu sou viúvo. Eu fico imaginando ela com a bebê. Ela é tão carinhosa e ficaria tão feliz com a bebê. E eu fico com saudades dela como marido também. Sinto falta de beijar ela na boca.

- Cara, deixa eu te fazer uma pergunta que eu to curioso. Na verdade, todo mundo ta. A Toni que ta amamentando, certo?

- Ai, eu já sei o que você vai perguntar e a resposta é não. 

- Mas é estranho, não é?

- Aaah, mais ou menos. Sempre vai ser, até porque quem deveria estar amamentando a Mel era a Jess. Na verdade, ver a Antonella amamentando a Mel sempre me soa errado mais do que me transporta pro passado. O que eu to gostando é que o Asa agora vive aqui. Eu to me sentindo muito mais próximo dele e sei que ele também ta de mim. 

- Não rolou nada de estranho entre os dois?

Andrew ficou sem graça.

- Rolou, rolou!

- Rolou, mas não teve a ver com ela. 

- O que aconteceu?

- Ela me viu...

- Pelado?

- Animado.

Charles quase cuspiu a bebida.

- Não, pera, conta isso melhor.

- Foi num sonho, o que eu posso fazer? Eu peguei no sono no sofá e quando acordei eu tava... E ela tava na sala. Pela cara, eu vi que ela viu.

- As crianças viram?

- Não. Ela disse que não. Mas nossa mãe viu.

- M***a! 

- Pois é...

- E eu posso saber com quem você tava sonhando?

- Com a Jess, óbvio. 

- Ótima resposta! - Eles riram.

- Mas, de verdade, eu sonhei com uma mulher desconhecida. Não sei quem era, te juro. To há um tempo sem fazer, aí fico tendo esses sonhos.

- Eu sei como é que é. Já sonhei com mulher desconhecida também. Você tem esses sonhos com muita frequência?

- Não. Mas é com mais frequência do que eu geralmente tinha. Sonho com a Jessica também.

- Sonha com a Rashida?

- Não! Mas eu já sonhei com a Alice, aquela ex do Matt. Não agora, obviamente, mas já sonhei com ela.

- Acho que todos nós, não é?

- Eu escutei hoje Nothing Compares, não me julge, e lembrei dela.

- Cara, My Heart Will Go On é uma das minhas músicas preferidas, não posso julgar. 

- My Heart Will Go On é um clássico.

- My Heart Will Go On tem um dos instrumentais mais lindos que eu já ouvi.

- Aí você exagerou.

- Cara, é verdade. Primeiro, ele sempre me lembra de um navio. O instrumental é de navio.

- Você ta com o filme na cabeça.

- O quê? Vai dizer que aquele início não lembra o som de um navio? 

- Você ta com o filme na cabeça.

- Que seja! Pra mim, me lembra navio. E me lembra de Titanic, que é um dos melhores filmes de todos os tempos.

- Questionável.

- Tem romance, tragédia, comédia, horror, terror. Cara, esse filme transita praticamente por todos os gêneros.

- Muito questionável.

- De qualquer forma, essa música é linda, de verdade. Tem emoção, tem ápice, tem guitarra - Andrew riu - Enfim... tem verdade. E versões. Cada uma com o seu propósito. E o final. Cara, aquele final, da Celine Dion fazendo aquele hmmmmmm, juro, nunca vi uma parte mais bonita de uma música. Já chorei muito ouvindo essa parte, porque é muito real. Eu to naquele navio e eu sou a Rose vendo o Jack afundando na água. É a história de uma vida.

- É, você certamente é muito fã dessa música.

- Cara, a minha maior liberdade foi contar pra Gu que eu amo essa música. Saiu um peso das minhas costas. Agora eu poss... Ih, acho que a Mel acordou.

- Eita! - Ele saiu correndo para ver Mel, que estava chorando. 



. ALGUMAS BEBIDAS DEPOIS E INTERRUPÇÕES DA MEL DE VEZ EM QUANDO. 

- Yoooooou're heeeeeere, there's NOTHING I fear
And I knooow that my heart will go oooon
We'll stay foreeeeeeeeeever this way
You are sAafe in my heart and
My heart wiiill go oooon aaand OOOOOoooooooon

Mel olhava para os dois.

.

Andrew dava de mamar para Mel, com sua cerveja do lado, enquanto Charles também bebia e os dois escutavam música. 

- [...] Aí eu falei com ela que tava pensando em chamar uma ama de leite, porque devia estar cansativo pra ela trabalhar e dar de mamar pra Mel, depois voltar pra casa e talz... Eu falei que também tava preocupado com o casamento dela, que o John poderia não estar gostando e sei lá mais o que, aí ela falou que não, que não era pra eu chamar uma ama de leite, que ela fazia com maior prazer, porque a Mel era afilhada dela e irmã do Asa, que pra Mel seria estranho ficar trocando de peito e de leite toda hora e que ela faria aquilo pelo tempo que precisasse. Aí eu fiquei sem graça de insistir e deixei ela continuar.

- Cara, ela ta tão na sua. - Parodiou Charles, Todo Mundo Odeia Chris.

- Não acho.

Charles olhou cético para Andrew.

- Ta, ela ta na minha, mas não importa.

- Ah, então você sabe?!

- Eu soube desde que ela descobriu que eu ia me casar com a Jess.

- Ela admitiu?



- Nossa, a gente não conversa de nada. Sim, ela deu a entender. Ficou claro, na verdade. Desde então, a gente não fala mais sobre o assunto, mas agora eu sei.

- Você então sabe que ela faz isso só por você.

- Não, eu não acho que ela só faz por mim. Eu sei que ela também faz por mim, assim como ela também pensa no Asa e na própria Mel. Se eu tivesse pensado bem, eu não teria chamado ela pra amamentar a Mel, mas na hora eu não pensei direito. Eu não queria que fosse uma mulher qualquer, até porque essas amas de leite amamentam muitas crianças, aí vira amamentação cruzada, o que seria péssimo para a Mel, que era prematura. Eu também não queria uma mulher estranha morando aqui em casa. Eu odeio a ideia de pessoas fora da família morando na minha casa. Teve uma época que a Jess comentou sobre isso de ter empregada, o quartinho, mas eu, particularmente, não gostei da ideia. Eu até aceito se ela precisar de ajuda, mas, honestamente, eu não gosto.

- É. Esse conceito é meio estranho. A não ser que você seja da realeza.

- Pois é! Mas aqui no Brasil é algo comum. Quer dizer, mais ou menos. Pra quem tem dinheiro, no caso.

- Ah, então você fez bem. E de quebra, você pode ver mais o Asa.

- Pois é! Pra mim tem muitas vantagens, agora pra Jessica...

- Cara, pra Jessica também é vantajoso, porque a filha dela ta sendo amamentada. Sem contar que eu bem que acho que se fosse o contrário, e homens pudessem amamentar, ela chamaria o Bradley por já conhecer ele e saber que ele é de confiança.

- Pode ser. Nunca vamos saber, na verdade...

. UM POUCO MAIS DE CERVEJA DEPOIS.

- [...] Só que ela não para. 

- P**a m***a. E a Gugu sabe disso?

- Ela nem desconfia.

- Melhor. 

- Não tenho o que fazer, só pedir transferência, mas se eu fizer isso, vou ter que sair de Londres e ficar longe de todo mundo. E tem também a Gugu que teria que arrumar outro emprego. Eu nem sei se ela gostaria de sair de Londres também. Eu acho que é mais capaz dela me mandar sair do emprego e arrumar outro, mas, cara, esse emprego... Esse emprego é o emprego dos meus sonhos. Eu to ganhando muito bem, to aprendendo muito... 

- Isso que a sua chefe ta fazendo é assédio.

- E eu não sei?!

- Mas vem cá, ela é bonita?

- Pra car***o!

- P**a m***a! - Andrew bebeu mais um gole de cerveja. 

- Nem me fala... - Ele também bebeu mais um gole de cerveja.

.

- E também não gosta que tenha cerveja na geladeira.

- Mas a nossa família ama cerveja. 

- Nós só somos próximos porque tomamos cerveja.

- E você ama cerveja.

- Amo. E eu ainda conheço uma loja que vende Oettinger, aqui perto.

- Oettinger? Cara, por que você ta me servindo - Ele olhou pro rótulo da cerveja - Budweiser?



- Essa também é boa.

- P***a, mas a Oettinger é melhor.

- Deixa eu pegar. - Andrew levantou, revirando os olhos.


- Ta ali, ta ali.

- Ali aonde?

- Lá no alto.

- Mas eu sou muito pequeno, eu não consigo pegar.

- Precisamos do Tigrão.

- Alguém me chamou?

- Tigrão, precisamos que você faça o que faz de melhor.

- Pode deixar, Pooh. Eu não vou te decepcionar. - Charles fez o ursinho do Tigrão pular cada vez mais alto, pegou a Mel e deu para Andrew, que segurava o urso do Pooh. - Pronto, aqui está o seu mel, Pooh!

- Ooooh, como eu amo o meu pote de mel. - Ele deu vários beijinhos em Mel, que observava com atenção o teatrinho feito pelos irmãos, inclusive abrindo sorrisinhos em certos momentos.

.

- Jack? Jack? Eu te amo, Jack!

- Ah, vai se f**er, Rose, e sai de cima da minha porta. - Andrew começou a bater no boneco de Charles, que devolveu os socos.

.

Charles estava sentando no piano, enquanto Andrew se encontrava em pé, segurando Mel, que estava em cima do piano.

- Skidamarink a dink, a dink
Skidamarink a do
I love you
Skidamarink a dink, a dink
Skidamarink a do
I love you
I love you in the morning and in the afternoon
I love you in the evening and underneath the moon
Oh
Skidamarink a dink, a dink
Skidamarink a do
I love you

.

Charles cuspiu a cerveja. 

- O quê? - Perguntou o irmão de Andrew, pasmo com o que tinha acabado de ouvir.

- Eu não conhecia a Jessica, eu juro. Só tinha ouvido falar. E eu nem gostava da Emma, foi literalmente do nada. Ela me mandou um bilhete e puuuff, a gente começou a ter um caso.

- Andrew, você é muito f**ido.

- Eu sei.

- Mano! Mano! - Ele riu. - Você comeu a filha da sua mulher, ex do seu filho e irmã da sua filha. Você tem ideia do quão louco é isso?!

- O pior é que eu ainda meio que gosto dela.



- Andrew!

- Quando a Jessica ta longe, eu não consigo evitar. 

- Você teve um livramento com o término dos dois. Não pelas circunstâncias, claro, mas isso tava muito f**ido. Só iria piorar as coisas.

- É verdade, é verdade. - Ele começou a roer as unhas, hábito muito antigo, que fazia apenas nas épocas de abstinência.

.

Agora foi a vez de Andrew cuspir a cerveja.

.

// I Believe In A Thing Called Love //

- Prepare-se, Mel, porque você vai ouvir um dos melhores riffs de guitarra da atualidade.

- Essa música é antiga, mano.

- Cala a boca, Charlie Brown!

- Num improvável comeback, vem aí, em apresentação única: Spit in your face!

Os dois começaram a dançar e interpretar a música:

- Can't explain all the feelings that you're making me feel.
My heart's in overdrive, and you're behind the steering wheel.
[...]
Touching yooooooooou, touching meeeeeeee.
Touching you, GÓÓÓd, you're touching meeeeeeeeeeee Aaaaaaaaaaah.
I believe in a thing called love.
Just listen to the rhythm of my heart.
There's a chance we could make it now.
We'll be rocking till the Sun goes down.
I believe in a thing called loooooooooove AaaaAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH.



Charles e Andrew começaram a tocar suas guitarras imaginárias, batendo a cabeça.

De repente, ouviram a porta batendo e viraram o rosto. Era June vendo a cena toda. Os dois imediatamente se endireitaram, Andrew pegou Mel, falando: "Hora de dormir!"

- Oi, mãe! - Charles falou, tentando pausar a outra música que estava prestes a começar.

June fez um olhar de reprovação ao ver o que as duas crianças tinham feito em casa.