segunda-feira, 8 de março de 2021

Decisions

Jessica, depois da reunião com dois de seus clientes, passou numa loja de produtos naturais e foi para o hospital. 

Chegando lá, Dr. Fernandes quis dar uma palavrinha com ela. 

"Jessica, eu preciso te deixar a par do que está acontecendo."

A advogada respirou fundo. Ela havia recebido a péssima notícia de que sua barriga de aluguel estava correndo risco de vida, caso decidissem dar continuidade à gestação, fazendo com que a ruiva tivesse que tomar a difícil decisão de interromper a gravidez. 

"O Rocco veio aqui com o namorado e disse que não vai permitir que nós realizemos o aborto. Ele convenceu a Bárbara de que a situação não é tão grave e que dá pra seguir com a gestação. Acho que tá oferecendo um bom dinheiro. Não sei quanto. Ela corre sérios riscos, Jessica. Tá fraca. Seu corpo não vai aguentar muito tempo."

O olhar da ruiva vagou, absorvendo as novas informações. Ela queria poder voltar o tempo e não ter feito nenhuma tentativa extra de ter um filho. Agora, a vida daquela pobre moça estava nas suas mãos. A ruiva não conseguiria lidar com o peso de ter causado a morte de alguém. 

"Jessica?" Dr. Fernandes chamou sua atenção. 

"Eu vou resolver isso. Obrigada por me contar o que tá acontecendo." A ruiva se levantou. 

Jessica se arrastou pelos corredores do hospital até o quarto de Bárbara. Ela deu três batidas na porta e entrou. 

Rocco e seu namorado estavam ali, conversando com Bárbara como se nada grave estivesse acontecendo. 

"Oi, dona Jessica!" Bárbara sorriu, amigavelmente. 

"Oi. Como você está?"

"Com um pouco de dor."

"Já avisou ao médico?" 

"Sim. Eles até me deram uma medicação, mas não tá fazendo muito efeito."

"Eu vou verificar isso." Jessica transferiu seu olhar de Bárbara a Rocco. "Rocco, posso dar uma palavrinha com você?" 

"Vamos lá." Rocco soltou a mão do namorado e seguiu a ruiva até o corredor. 

"Acabei de falar com o Dr. Fernandes." Jessica informou. 

"Nós também."

"Ela tá morrendo." A ruiva engoliu o bolo que formara em sua garganta. Ela não poderia chorar. 

"Que exagero."

"Não, não é! Ele disse que se a gente insistir com a gravidez, ela corre risco de vida."

"Correr risco de vida e estar morrendo são duas coisas bem diferentes. A nossa vida corre risco todos os dias."

"Mas não assim. Rocco, por favor, me escuta. Eu também queria esse bebê, muito, mas não vale arriscar a vida de alguém por isso."

"A vida da minha filha vale qualquer sacrifício."

"Filha?" Jessica perguntou confusa. 

"É uma menina."

Jessica tocou o coração involuntariamente e virou o rosto, para esconder as emoções. 

"A gente descobriu hoje. Seu médico não quis fazer o ultrassom, mas um outro daqui, aceitou fazer pra gente."

"Não importa." Jessica voltou a olhar para Rocco. 

"Como não? Ela é sua filha também. Você deveria ser mãe dela. Como você abre mão da sua filha assim? Não importa. Ela tem a mim pra defender e tomar conta da vida dela."

Kaique saiu do quarto de Bárbara e foi para o lado de Rocco para apoiá-lo. 

"O que tá acontecendo aqui?" Perguntou, Kaique."

"Jessica quer abortar nossa filha."

"Não é verdade!" Jessica protestou. 

"Quer sim! Você acabou de me dizer isso." Rocco rebateu. 

"Você vai ter que passar por cima da gente, antes de fazer alguma coisa contra a bebê." Kaique disse de forma ameaçadora. 

Jessica olhou para aqueles dois homens assustada. Ela não queria mais brigar. Estava fraca demais pra isso. 

Rocco percebeu que a ruiva não parecia bem e recuou. 

"Amanhã a gente discute esse assunto. Diz pra Bárbara que tivemos que ir."

Jessica assentiu e eles foram embora. 

A ruiva voltou para o quarto e se aproximou da moça. 

"O Rocco e o namorado dele tiveram que ir." Jessica avisou. 

"Que pena. Gosto muito quando eles tão aqui."

"Eu trouxe umas coisinhas pra você." Jessica entregou a sacola de compras. 

"Obrigada, dona Jessica. Não precisava."

Bárbara vasculhou as coisas da sacola e Jessica fitou o nada, pensativa. 

"Isso parece bom." Bárbara levantou o pote de geléia de pêssego. 

"Espero que goste."

"Claro que vou." Bárbara colocou a sacola na mesinha ao lado. 

"O Ricco me contou que é uma menina."

"É sim, dona Jessica. Parabéns. Ela vai ser linda que nem a senhora." Bárbara disse inocentemente, alienada a tudo que estava acontecendo ao seu redor. 

"Eu posso sentir sua barriga?" Jessica perguntou timidamente, como se não estivesse pagando uma fortuna para aquela mulher carregar seu filho, ou melhor, sua filha. 

"Claro, dona. Não precisa nem pedir."

Jessica levantou a camisa do hospital da mulher e alisou a protuberante barriga. Lágrimas brotaram nos seus olhos. 

Bárbara ficou quieta, tentando dar o máximo de privacidade à ruiva e à bebê, quanto possível naquele momento. 

Jessica inclinou o rosto e plantou um beijo na barriga da moça. 

Bárbara sentiu as lágrimas da ruiva molharem sua pele. 

A advogada começou a intercalar carícias com beijos na barriga daquela quase estranha. Ela não se virou nem quando a porta abriu. Depois sentiu uma mão no seu ombro e reconheceu o cheiro do seu namorado. 

"Oi, tudo bem?" Júlio César cumprimentou a moça. 

"Oi, seu Júlio. Tudo bem sim e o senhor?"

"Também." Júlio massageou o ombro da ruiva. 

"Descobriu que é uma menina." Bárbara disse, explicando o motivo de Jessica ter ignorado a entrada do namorado e estar com o rosto enterrado na sua barriga. 

"Que bom!" Júlio fingiu entusiasmo. "Amor, vamos comigo tomar um pouquinho de ar?" Ele perguntou carinhosamente. 

Jessica não respondeu. 

Ele pegou a mão e o braço da ruiva, e a colocou de pé.

"A gente já volta." Júlio avisou a moça e deixou o quarto com Jessica, que enxugava as lágrimas, enquanto era escoltada para fora. Ele levou-a até a entrada do hospital. 

Estava ventando e parecia que ia chover. Júlio observou sua namorada olhando para o horizonte, com o olhar vazio. 

"É uma menina." Jessica anunciou melancólica. 

"Sim, a Bárbara falou."

Silêncio. 

"O Rocco continua se recusando da gente fazer o aborto."

"Achei que você podia estar mudando de ideia... quanto ao aborto."

"Não." 

"Que bom."

Silêncio. 

"Eles disseram que eu não estou sendo uma boa mãe e que eu estou disposta a sacrificar minha própria filha." Ela desabou, finalmente se permitindo chorar. 

"Filhos da p***! Quero ver esses viados falarem essas m****s na minha frente. Falar m**** pra uma mulher indefesa é fácil. Quero ver falar pra alguém do tamanho deles."

"Eu não sei como fazer eles mudarem de ideia." Ela soluçou. 

"Não se preocupa com isso agora. Amanhã a gente resolve isso junto." Ele abraçou a ruiva e beijou sua cabeça. "Tudo bem?" Ele deu outro beijo. 

"Ok." Jessica concordou. 

Os dois permaneceram abraçados até o anoitecer. 


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