domingo, 17 de setembro de 2023

O representante da escola

Ryan estava pensativo com a missão que a diretora tinha lhe confiado. Visitar Emma em nome da escola. Parecia uma tarefa fácil, ele havia visitado a menina diversas vezes, porém nenhuma após o aborto. Até o momento a ruiva não tinha respondido nenhuma de suas mensagens, nem atendido nenhum de seus telefonemas, e olha que ele tinha mandado várias mensagens. 

Gosling estava muito preocupado com a saúde mental da menina. Emma, por mais que tentasse se fazer de forte, era frágil, e muito ligada a família. Perder um filho para ela, provavelmente equivalia a perder alguém da família. Ryan não tinha a menor ideia de quanto tempo o luto da garota duraria.  

Ryan também estava triste com a nuvem negra que a escola parecia estar carregando. A anorexia da Ariana, a tentativa de suicídio da Jane, o estupro da Cheryl e da Zegler, e entre outros acontecimentos que eram colocados debaixo do tapete, deixara Ryan se sentindo um pouco taciturno.  

Ryan se preocupava de ser o motivo da anorexia da Ariana. Todos estavam falando que era. O sentimento de culpa consumia o garoto. Foi errado traí-la com Cheryl, mas que garoto na situação dele teria conseguido resistir a Geordie? Ele sabe que alguns poucos teriam resistido, mas em sua defesa, seu relacionamento não estava forte para que fosse possível sustentar a força de vontade. 

Muitos também falavam sobre ele e a Margot, esperando que ele tomasse uma iniciativa com a loira. Toda vez que ele interagia com a menina, ele sentia uma vontade imensa de chamá-la para sair, tascar um beijo, ou algo do gênero. Porém, Emma era um impeditivo. A menina tinha deixado bem claro que sentia ciúmes da loira e que não queria que eles ficassem juntos, e como ir contra seus desejos? Aquilo era um grande dilema, porque ele sentia que tinha que ser fiel à menina, sem ao menos estar namorando com ela ainda. Talvez essa seria a prova de amor que a ruiva estaria precisando para aceitar seu pedido de namoro? Ou talvez ela simplesmente não ia aceitar porque não está pronta para namorar ninguém depois da perda do filho. 

Ser fiel a Emma sem namorá-la, e no momento, sem vê-la, seria mais fácil se não tivesse na mesma peça que Margot. Por que ela tinha que ser tão linda? Todos sempre colocaram o sorriso da Cheryl no pedestal, mas o sorriso da Margot também era muito bonito e digno de reconhecimento.  

Ser um gentleman estava ficando cada vez mais difícil. 

Bradley falara com o menino que veria com a ex-mulher se a visita poderia ser feita. Mais tarde o professor de estatística ligou, dando o sinal verde. 

Ryan se arrumou como se fosse conhecer os pais da namorada, porque afinal, ele gostaria que um dia eles fossem. Ele tocou a campainha do apartamento e Jessica atendeu. 

“Oi! Pode entrar!” Jessica disse educadamente. Atrás da ruiva, sentado no sofá, estava Bradley com Mel pendurada no seu ombro. 

“Oi, Ryan.” O professor cumprimentou sem sair do lugar. 

“Oi.” Ryan falou para os dois. “Como é que a Emma tá?” Ryan colocou, desconfortavelmente, as mãos no bolso da calça. 

“Fingindo que tá tudo bem. Ela não gosta que se preocupem com ela.” Jessica se virou para o ex-marido. “Não vai deixar minha filha cair, hein Bradley.” 

“Ela que gosta de ficar pendurada. Né macaquinha?” Bradley brincou com a menina e ela gargalhou. 

Jessica revirou os olhos. “Aceita alguma coisa? Água? Café? Suco? Chá?” 

“Não, obrigado.” Ryan agradeceu, se sentindo intimidado pela presença do ex-casal. 

“Eu assei uns biscoitos quase agora. Vamos pra cozinha fazer um lanchinho. Depois você vai e fala com a Emma.” Jessica disse, como se não fosse aceitar não como resposta. 

“Tá bom.” 

Ryan seguiu Bradley, Jessica e Mel para a cozinha. 

“O Andrew tá no quarto da Sadie lutando pra botar ela pra dormir.” Jessica informou, imaginando o que Ryan poderia estar se perguntando. Ela tirou os biscoitos do forno e colocou no centro da mesa. Gosling pegou um e mordeu um pedaço por educação. 

“Bradley, não! Ela não toma chá.” Jessica falou irritada. 

“Não vai fazer mal, foi só um golinho. Ela que pediu.” Bradley se defendeu, pegando um biscoito e comendo. 

“Espera o Bento crescer um pouquinho e vir pra cá. Eu vou desfazer tudo que vocês implantarem, que nem você faz com os meus filhos.” 

“Ele não vai vir pra cá tão cedo. Pelo menos não sem a gente. A Elizabeth tá bem superprotetora.” 

“Eu sei esperar.” Jessica respondeu e Bradley deu uma risada. A advogada voltou sua atenção ao menino. “Achei bem legal que a diretora mandou você visitar a Emma em nome da escola.” 

Ryan deu uma tossida de leve para limpar a garganta. “Sim. A diretora Cinthia é bem legal. Na verdade, eu já queria ter visitado a Emma, por conta própria, sabe? Mas fiquei com medo dela não tá pronta pra receber visita ainda. Parecia que ela não queria falar com ninguém. Ela nem atendeu minhas ligações.” 

“Eu não sei se ela vai gostar muito da visita, sendo bem sincera. Mas acho que pode ser bom ela ver alguém que não seja as pessoas dessa casa.” Jessica explicou. 

“Tomara.” Ryan terminou de beber seu suco. “Tava delicioso.” Ele falou educadamente. 

“Obrigada. Não quer comer mais?”  

“Não obrigado.” 

“Eu vou mostrar onde fica o quarto da Emma.” Jessica colocou sua xícara de café na mesa, e foi com o Ryan para o quarto da menina, passando pelos gêmeos no caminho. 

“Eu vou jogar essas pistolas no lixo.” Jessica avisou aos meninos que jogavam água um no outro com as pistolas de plástico. “Já falei que só pode brincar com isso lá fora.” 

“Não, por favor, não, mãe!” Theo e Levi imploraram. 

“Então guardem isso e vão pra cozinha lanchar. O dindo de vocês tá lá pra ajudar vocês se servirem.” 

“A gente vai guardar!” Levi falou preocupado. 

“Eu falei pra gente não pegar as pistolas!” Theo falou pra Levi enquanto corriam para guardar as pistolas de água. 

“Desculpa. Essa casa tá sempre um caos.” Jessica falou para o menino e parou em frente à porta do quarto da Emma. “Eu vou avisar que você tá aqui.” A advogada bateu na porta e entrou. 

“Em, seu amigo, Ryan, veio te visitar.” Jessica falou num tom suave. 

Emma estava sentada na cama com o livro de matemática aberto. “Pode mandar ele embora?” A menina perguntou fechando o livro. 

“Eu não posso fazer isso, filha. Ele já tá aqui.” Jessica se aproximou e passou a mão no cabelo da filha. “Fala com ele rapidinho. Acha que consegue?” Jessica fitou os olhos da filha e seu coração apertou vendo a tristeza dentro deles. 

Emma assentiu. 

“Vou falar pra ele entrar.” Jessica deu um beijo demorado na cabeça da menina. “Te amo.” 

A advogada saiu do quarto e disse para o garoto que ele podia entrar. 

Ryan assentiu e entrou. “Licença.” O menino falou sem graça. Ver Emma pela primeira vez, depois de tanto tempo, fez todos os seus sentimentos pela garota voltarem à superfície. Ele não sabia como tinha conseguido ficar tanto tempo longe dela. “Eu vim em nome da escola.” 

“Em nome da escola pra quê?” Emma falou friamente, do jeito que Ryan já estava esperando.  

“Pra ver como você tá.” 

“Eu tô bem.”

“Eu tava bem preocupado com você. Te mandei várias mensagens.” 

“Meu celular acabou a bateria e eu não carreguei mais.” 

O semblante de Ryan ficou melancólico. “Eu tô muito triste pelo que aconteceu. Você não merecia passar pelo que você passou.” 

Emma olhou para baixo e não respondeu. 

“Mas eu também acho que seria péssimo você ter um filho daquele cara. Ele é péssimo, Em. Você merece algo melhor. Muito melhor.“ 

“Eu acabei me apegando ao bebê.” 

“Eu sei.” Ryan sentou na sua cama e segurou sua mão. 

“Eu sinto falta da companhia dele. Eu sei que só foram cinco meses. Mas... é tão estranho... Ele tava comigo vinte e quatro horas por dia, todos os dias. Eu nunca tava sozinha. Agora eu sinto como se uma parte minha tivesse faltando." Uma lágrima caiu de seu olho e Ryan secou. 

"Eu te entendo perfeitamente."

"Eu nunca mais quero ter que perder um filho de novo. Foi horrível. Não sei como minha dinda conseguiu passar por isso tantas vezes."

"Se ela não tivesse passado, ela não teria a família que tem hoje. É uma família muito bonita."

"Eu sei."

"Às vezes eu acho que passamos por certas dificuldades pra gente saber dar valor quando formos recompensados lá na frente."

"Pode ser."

"Você tem que se cuidar e usar todos os métodos contraceptivos possíveis pra não engravidar de outro cara de novo, porque o próximo é meu."

"O quê?" Emma perguntou perplexa. 

"Eu não quero você grávida de outro cara de novo." Ryan falou calmamente. "E o próximo é meu. Vingando ou não."

Emma o olhou como se ele fosse louco. 

"Eu não tô dizendo que eu quero ter filho. Muito menos nos próximos anos. Mas se eu tiver, eu quero que seja com você." Ryan explicou. 

"Você tá falando coisas sem sentido."

"Eu só tô dizendo que mesmo que você não acredite, eu te vejo no meu futuro. E quando eu descobri que você tava grávida, eu me assustei porque eu fiquei com medo de você não ter mais espaço pra mim na sua vida. Nem naquele momento e nem no futuro. Eu não quero me sentir assim de novo."

"É melhor você ir embora. Obrigada pela visita." Emma se levantou da cama e esperou Gosling fazer o mesmo. 

"Tudo bem. Posso te ver de novo?" Ryan perguntou esperançoso, se levantando também. 

"Semana que vem eu vou voltar pra escola. Aí você me vê lá."

"Tá bom. Se cuida." Ryan beijou sua testa e saiu do quarto. 

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