sábado, 9 de novembro de 2019

Happy Red-day!

E lá estava ela, sentada num banco de uma praça, não tão longe de casa, observando os pombos se movimentando e incomodando alguns pedestres. Se sentindo cansada e esgotada de tantas lágrimas que derramara naquela manhã.

A manhã de seu aniversário trazia consigo lágrimas e um vazio ainda maior que o normal. Seus pais fizeram uma ligação via skype a milhares de quilômetros de distância para lhe desejar parabéns.

De que valiam aquelas felicitações à distância, se ela não podia sentir o carinho e o calor das pessoas que ela mais amava no mundo?

Fora patético, mas ver os dois dentro de uma tela não grande o suficiente para poder se enxergar os detalhes de seus rostos, fez a menina começar a chorar. Lágrimas de extrema saudade que sentia de seus pais.

"Por que vocês tão demorando tanto pra voltar? Não me interessa comemorar nada sem vocês!" Emma disse num tom acusador que encheu o coração de seus pais de culpa e também um certo tipo de orgulho.

"Calma minha filha, a gente vai voltar pra casa o mais rápido possível. Só precisamos resolver uns assuntos finais. Agora, fecha os olhos e respira." Comandou seu pai, preocupado que sua filha fosse engasgar com as próprias lágrimas.

Emma obedeceu e logo abriu os olhos e tornou a fitá-los.

"Não deixe que a nossa ausência estrague seu dia, está bem, minha aurora?" Seu pai a chamava assim como referência aos seus cabelos naturalmente loiros que lembravam o reluzir do sol e a semelhança física que ela tinha com a princesa da Disney.

"Como se isso fosse fácil." Emma pensou de volta a realidade.



Voltando do mercado, Ed confiria se havia comprado tudo que estava na lista de compras. "Ovos - check, farinha - check, óleo - check, açúcar mascavo - check."

Ao atravessar a rua que dava em frente a pracinha ele avistou Emma, sentada no banco sozinha com um caderno na mão rabiscando alguma coisa concentrada. Ele não tinha intimidade nenhuma com ela, mas tinha recebido uma notificação do xiglute sobre seu aniversário, e indagou o que estaria ela, fazendo naquela praça sozinha. De alguma forma, ele achou sensato ir até ela e desejar feliz aniversário. Não custava nada e ela poderia apreciar o gesto.
O ruivo se aproximou um pouco sem jeito e acanhado.

"Oi, Emma."

Emma levantou seu olhar do caderno para o garoto sardento à sua frente. (Não que ela fosse menos diferente).

"Oi." Ela respondeu com a voz mais rouca que o normal, resultado da intensa crise de choro que tivera naquela manhã.

"É seu aniversário hoje, não é? Parabéns." Ed abriu os braços e ficou esperando ela se aproximar. Emma, finalmente entendeu a dica e colocou o caderno do lado e se levantou para receber seu abraço de aniversário. Ed cheirava a pantene, não era um cheiro ruim, só achava engraçado um homem que tinha esse cheiro.

O término do abraço foi tão awkward quanto o início do mesmo.

"E o que você ta fazendo sozinha?" Ed perguntou curioso, depositando as mãos no bolso da calça.

"Eu resolvi sair pra pegar um ar. Respirar um pouco, você sabe como o meu dindo é, ele pode ser um pouco sufocante." Emma se explicou, colocando as mãos sobre a testa para proteger os olhos da claridade do sol que vinha por trás de Ed.

"Eu imagino já a cena." Ele imaginou o tratamento de Bradley com a menina no aniversário e riu.

"É por aí mesmo que você deve ter imaginado." Emma também riu, porque apesar de sufocante, o gesto era fofo e realmente engraçado.

"E o que você tava desenhando? O lago?" Ele sabia que não era da sua conta, mas small talks não era seu forte.

Emma o olhou confusa, então Ed apontou para o lápis e o caderno que ainda estavam no banco. Ela olhou pra trás seguindo a direção de seu dedo, e entendeu ao que ele estava se referindo.

"Ah. Eu não estava desenhando. Quer dizer, mais ou menos. Eu tava traçando a estrutura química da Cobalamina."

Ed a olhou como se ela tivesse falado mandarim.



"Vitamina B12." Emma explicou.

"E por que você tava desenhando a fórmula da Cola..."

"Cobalamina" Emma o corrigiu, achando um pouco de graça.

"Isso."

"Porque é uma das minhas estruturas preferidas, eu amo as ligações triplas do carbono com o sulfato de nitrogênio e as pontes de oxigênio que ela tem na ramificação final. É a estrutura preferida do meu pai também."  Emma disse a última parte com certo pesar.

"Está tudo bem?" Ed perguntou sentindo que havia algo de errado com a menina.

"Sim, só com um pouco de saudade." Emma coçou levemente o nariz com as costas do dedo.

"Seus pais não estão aqui." Ed disse como finalmente tivesse se dando conta daquilo.

"Hun, hun." Emma balançou a cabeça. "Eles disseram que vão voltar em janeiro, então, nada deles no meu aniversário ou no natal." Emma falou sarcasticamente.

"Mas pelo menos você tem seus padrinhos." Ed tentou contornar a situação.

"É o que todo mundo diz. Eu amo eles, mas não são meus pais. De qualquer forma, eu não sei porque eu ainda coloco tanta expectativa neles, eu claramente não sou tão importante." Emma desabafou, a vida inteira, ela havia trocado pouquíssimas palavras com Ed, mas naquele momento, o ruivo parecia ser a pessoa perfeita para depositar suas frustrações.

"Impossível." Ed negou abrindo um sorriso amigável.

"Como?"

"Emma, você é a pessoa mais amada que eu conheço. É impossível que alguém não te ame, principalmente os seus pais." Ed explicou.



Emma o observou, instigada.

"O que foi?" Ed perguntou confuso e meio intimidado com o olhar da outra ruiva.

"Nada. O que é isso?" Emma perguntou se referindo ao saco de compras que ele estava segurando.

"Ah, isso? São umas coisas que minha mãe mandou comprar. Acontece que hoje não é só o seu aniversário, mas também o da minha tia, e minha mãe vai fazer cupcake de amêndoas com cobertura de butter cream pra festa." Ed explicou.

"Humm parece delicioso... Eu devo ta te atrasando, é melhor você voltar logo com as compras."

Ed olhou para o relógio e confirmou o que Emma falara.

"É, é melhor eu ir mesmo." O ruivo concordou.

"Deseja parabéns à sua tia por mim, quer dizer, é melhor não, ela nem sabe quem eu sou." Emma se corrigiu.

"Eu vou mandar o seu parabéns, e vou dizer que uma amiga desejou." Ed disse sensatamente.

"Ok." Emma concordou.

"É melhor você ir pra casa também. Não vai querer perder horas preciosas do seu aniversário nessa praça."

"Tem razão." Emma pegou o caderno e o lápis do banco e colocou dentro da sua bolsa. "Meu dindo vai me matar quando eu voltar, eu não avisei que ia sair."

"Você quer que eu te acompanhe e diga que foi minha culpa?" Ed não sabe poque ofereceu aquilo, quando ele percebeu já tinha saído da boca dele.

"Não precisa, eu me entendo com ele depois. E você também tem que ir pra casa, pra sua mãe poder começar a fazer os cupcakes."

"Verdade. Então, até segunda." Ed deu outro abraço na aniversariante.

"Até." Ela respondeu ao desvencilhar-se do ruivo.



Segunda-feira, na escola, Ed levou um cupcake que sua mãe tinha feito para Emma.





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