quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Proposal

Não havia frase que definisse melhor aquela situação do que "Essa festa virou um enterro". Antonella olhava fixamente para Paulo segurando a netinha nos braços. Os olhos do velho homem diziam tanta coisa, carregavam tanta tristeza, tanta dor que nem o melhor dos pintores conseguiria dar conta de representar tal cena. A verdade era que todo mundo parecia que estava tentando segurar o choro. A chegada de Mel na casa trazia um significado maior do que a alegria de um recém-nascido. Carregava também o significado de falta, pois Jessica não estava lá. E ninguém sabia quando ela iria voltar. E se ela iria voltar. A espera era cruel. Era cruel, porque poderia significar tanto vida quanto morte. Jessica poderia ficar naquele hospital cerca de 5, 6 anos para depois partir. Antonella estremeceu. Paulo olhou para ela. Ela desviou o olhar.

Antonella viu Asa com a cara toda vermelha de quem estava dando o seu melhor para não chorar, "brincando" com Crystall que estava igualmente vermelha. Aquilo era demais. Ela precisava sair de lá pelos seus filhos. Andrew e o restante que a desculpasse. A italiana foi até o quarto de Asa, deu dois toques na porta e entrou:

- Andy, eu já vou.

- Já vai também? - Ele perguntou, terminando de alcançar algo de cima do armário. Ao ver que não era o que ele queria, jogou para o alto e ajeitou a blusa.

- Sim, senão vai ficar tarde.

- Tudo bem. - Disse, limpando as mãos nas calças - Gostou da sua afilhada?

- Siiiim, ela é linda. Ela é pequena, mas parece muito saudável.

- Sim, sim. 

Antonella olhou ao redor do quarto e percebeu que várias coisas de Andrew estavam lá.

- Ué, você tá dormindo aqui?

- Sim, sim. Eu deixei o quarto pros meus pais. A cama de lá é mais confortável.

- Ah, sim. Fez bem, fez bem.

- ...

- Mas olha, eu to muito feliz por você. Agora que você tá com uma bebê em casa, não vai mais dormir. 


- É verdade, é verdade, mas já to preparado.

- Que bom! E olha, pode contar comigo pro que precisar. 

- Obrigado. E obrigado por ter vindo.

- Que nada! Eu tinha que conhecer a minha afilhadinha linda. Ela é linda demais. 

- Obrigado.

Antonella deu um rápido abraço em Andrew e se virou para sair do cômodo, mas parou assim que ouviu a voz do ex-marido chamando o seu nome. Ela se virou para ele e viu o inglês parecendo estar sofrendo de uma grande dor.

- Antonella... Desculpa te pedir isso. É que eu não tenho mais pra quem pedir e... Bem... É que seria bom pra Mel... Já que ela é prematura, como você sabe... Que ela recebesse o leite... Antonella, será que você poderia amamentar a Mel pra mim?

A última frase foi demais para Andrew. Ele tentou se segurar o dia inteiro. Era para ser um dia feliz e parte dele estava em êxtase por finalmente poder levar a sua filhinha para casa, mas outra parte estava destruída. Mesmo assim, tentou ser forte e segurar o choro. Ele tinha que ser forte por Asa, Emma, Paulo e Bradley. Tinha que ser forte também pelo seu pai, que parecia estar sofrendo e até mesmo por Crystall, que havia perdido toda a sua vitalidade naquele dia. Mas tinha que ser forte, principalmente, por Mel e Jessica (e Asa de novo nessa lista), que contavam com ele. Quem o ajudava nessa tarefa e estava sendo primordial era sua mãe. Se ele estava tendo que ser forte por toda aquela gente, June estava sendo forte por ele. Só a maturidade o fez entender o amor incondicional que sua mãe sente por ele e pelos filhos. Se ela critica as noras, é por amor, por achar que os filhos merecem o melhor (ainda que Pam e Gugu sejam ótimas). Se ela enche o saco, é por amor, porque mostra que ela liga. Pena que ele só havia entendido isso agora que ela estava doente e ele morando longe. Mas isso é outro sofrimento. June segurou todas as pontas junto com ele. Matt também ajudou bastante, principalmente com as crianças e Emma. Se Andrew esmorecia, June estava lá para falar alguma bobagem, fazer alguma pergunta, seja lá o que fosse. Isso fez com que Andrew conseguisse aguentar tudo sem derramar uma lágrima. Ele queria muito chorar pela chegada da filha e pela mulher, mas aquilo poderia desencadear um choro em série, então ele se segurou. Só que naquele momento, vendo Antonella na sua frente, perguntando se ela poderia fazer o papel que só caberia a Jessica... Aquilo foi demais. Andrew finalmente explodiu.
Antonella o abraçou fortemente, segurando as lágrimas:

- Claro! Sempre!

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