sábado, 15 de dezembro de 2018

Grupo II

- É a sua vez! [ela sorriu]
- Ah é! [lembrou ele, que estava distraído] Se uma bola de cristal pudesse contar a verdade sobre você, sua vida, o futuro ou qualquer outra coisa, o que lhe perguntaria?
- Ush! Sei lá! É tanta coisa que eu gostaria de saber... [falou ela pensativa] Ah, já sei! Acho que eu perguntaria se no final da minha vida eu estaria satisfeita comigo mesma e com a minha vida.
- E se a resposta da bola fosse não?
- Não sei. [disse ela franzindo a testa] Acho que eu ficaria muito triste e repensaria toda a minha vida e meus sonhos.
- É uma pergunta muito pesada, acho, pra ser feita no final da vida. Acho que essa pergunta deve ser feita de tempos e tempos durante o decorrer da vida. Você não precisa de uma bola pra isso. O que eu quero realmente dizer é que você jogaria sua pergunta fora!
- Você acha? [disse ela ofendida, abrindo a boca num meio sorriso, meio boquiaberta]
- [ele piscou para ela] Agora a pergunta desse grande mestre entendedor da vida seria: [ele fez uma pausa dramática] Deus existe?
- Ah, que pergunta previsível. [ela revirou os olhos]
- Essa pergunta é muito importante pra mim.
- Você acha que você mudaria muito dependendo da resposta?
- De personalidade não, mas eu me sentiria completamente perdido e vazio.
- Eu também acho que não mudaria muito também, mas seria um pouco desconcertante se não existisse nenhum Deus.
- É. Eu não gosto nem de pensar numa coisa dessas... Melhor até ir pra próxima! Vamos lá: Há algo que há muito tempo deseja fazer? Por que ainda não fez? [ela instantaneamente ficou vermelha e soltou um riso sem graça] O que foi?
- Nada! Pensei em algo completamente aleatório.
- Normalmente a primeira coisa que vem na mente é a mais sincera.
- [ela continuou rindo sem graça] É, mas isso não é uma boa resposta pra pergunta. [ela bebeu uma taça de água] Bem, eu gostaria de fazer diferença na luta feminina. Lutar mais, sabe? Agora o porquê eu não fiz... Bem, eu não sei... Acho que não é tão fácil assim, mas talvez seja só eu dando mais uma desculpa pra minha passividade.
- Eu não te acho passiva. Eu acho que pra sua idade até que você faz muito.
- Obrigada de verdade, mas eu acho que poderia fazer muito mais. E você?
- Bem, eu gostaria de escrever um livro, mas eu não faço, porque acho que o conteúdo seria muito autoajuda trash ou muito presunçoso.
- É engraçado que a gente só se deprecia, né?
- Não! Apesar disso, eu sei que eu sou maravilhoso. [disse ele convicto]
- [ela sorriu] Qual é a maior conquista que conseguiu em sua vida?
- Família. E a sua?
- Ir bem no SAT.
- Foi uma conquista e tanto também! E você ainda tem muito para conquistar... [ela sorriu novamente para ele] O que mais valoriza em um amigo?
- Companheirismo.
- Companheirismo.
- Fácil essa! Vamos ver a outra... Qual é sua lembrança mais valiosa? Uuuuuuh...
- Mais valiosa? Nossa, essa é muito difícil.
- Verdade!
- Bem, [disse ele pensativo] eu não sei se é a mais valiosa, mas é uma das mais valiosas para mim. Quando a minha mãe ficou muito doente, eu não entendia direito as coisas. Me disseram que era só uma gripe e eu acreditei. Quando descobriram que não tinha mais jeito, minha mãe decidiu um dia sair da cama e ir passear comigo. Eu me lembro que a gente brincou bastante, mas que depois ela ficou bem cansada e nós voltamos pra casa. Quando a gente chegou, meu pai estava com muita raiva, porque ela não ficou de repouso. Ela foi pra cama e eles conversaram. Depois eles me chamaram e eu fiquei com medo de ouvir alguma notícia ruim, mas a minha mãe começou a falar animadamente, como se tudo estivesse bem. Eu deitei na cama junto com ela e meu pai ficou sentado. Ela me contou uma história para dormir e eu fiquei ouvindo enquanto o meu pai mexia no meu cabelo e ela no meu braço. [contou ele absorvido em suas lembranças] E foi isso!
- Isso foi bem íntimo. Me desculpa.
- Tudo bem! Eu contei, porque eu me senti confortável e é sempre bom lembrar... Mas olha, não é muito difícil um momento se tornar valioso pra mim. Eu contei esse, porque foi mais substancial, mas tem outros mais sem graça, sem nenhuma beleza aparente... E o seu?
- A minha é tão boba e superficial... [ela disse desconfortável] Foi quando eu ganhei um prêmio por um artigo que eu escrevi.
- Não tem nada de superficial nisso.
- Eu não sei se é a mais valiosa, sabe? Mas eu sei que eu me senti muito feliz naquele dia. [ela disse sem graça]
- É um grande feito!
- Qual é a próxima? [ela quis mudar de foco]
- Qual é sua lembrança mais dolorosa? Nossa, as perguntas estão bem mais profundas agora.
- É mesmo!
- Não precisa contar, se quiser.
- Eu conto! Você já se abriu tanto... Bem, a morte do meu vô foi bem dolorosa, mas uma das mais dolorosas foi quando eu escutei o meu pai dizendo pra minha mãe que não a amava mais e a cara que ela fez de quem tinha levado um soco no estômago.
- Ele disse isso na sua frente?
- Ele não sabia que eu tava vendo. Nem a minha mãe, na verdade! Ele tava de costas pra mim, mas o rosto da minha mãe eu conseguia ver muito bem.
- É difícil mesmo.
- Olha, a sua que você não precisa contar. Acho que a resposta anterior já valeu por essa também.
- Eu conto! Não a mais dolorosa, mas uma dolorosa. Eu fiquei muito triste quando o meu pai me renegou como filho.
- Ai, Fulano, eu queria te ninar, de verdade. [falou ela bem tristinha]
- [ele riu] Não precisa! Eu já superei muita coisa. E outra, eu sou muito feliz hoje em dia, de verdade. Não tenho nada pra reclamar. Eu amo a minha família, meu emprego. Me sinto muito completo.
- Você merece!
- Obrigado [ele sorriu] Você também.
- Vamos aumentar esse astral! Próxima pergunta: [disse ela animada] Se você soubesse que vai morrer... [ela se desanimou e revirou os olhos. Isso o fez rir] daqui a um ano de maneira repentina, mudaria algo em sua maneira de viver? Por quê?
- Com certeza!
- Por quê?
- Porque eu não me obrigaria a ter responsabilidades que não me levariam a nada. Só iria querer ficar com os que eu amo fazendo as coisas que eu gosto.
- Eu também mudaria, pelo mesmo motivo. Eu tentaria fazer tudo o que eu quisesse, mas que não tive coragem antes.
- Essa foi uma pergunta bem clichê. Acho que boa parte das pessoas dariam as nossas respostas.
- Verdade! Faz a próxima então.
- O que significa a amizade para você?
- Muita coisa.
- Muita coisa. [ele sorriu]
- Pergunta chata, resposta chata. A próxima é: que importância tem o amor e o afeto em sua vida?
- Muito grande.
- Muito grande. [eles riram]
- Compartilhem, de forma alternada, cinco características que consideram positivas em seu companheiro.
- Eu começo?
- Você começa.
- Sua bondade.
- Inteligência.
- Hmmmm... você se importa com as pessoas.
- Eu te acho uma boa amiga.
- Obrigada! Eu te acho muito família. Dá pra ver que você é muito apegado a eles.
- Eu gosto da sua preocupação com causas sociais.
- Eu te acho fofinho.
- Sério?
- Sério!
- Obrigado! Eu gosto que você é alto astral, mas não pra qualquer um.
- Eu gosto da sua timidez. Acho que foi a última!
- E eu gosto da sua calmaria.
- Foi fácil essa.
- Foi sim!
- Sua família é próxima e carinhosa? Acha que sua infância foi mais feliz que a dos demais?
- Sim, mas não carinhosa de fazer carinho fisicamente. Eu acho que o carinho é mais simbólico, de preocupação, de brincadeira, união. E sobre a segunda pergunta, com certeza não.
- Minha família no geral não é muito próxima, principalmente a por parte de pai. A gente só se vê normalmente em ocasiões muito especiais. E eu também não acho que minha infância foi melhor que a dos outros, apesar de ter sido uma boa infância. Acontece que eu me sentia muito sozinha às vezes por ser filha única.
- Verdade! Eu também sou filho único. Sei como é.
- Pois é!
- E como se sente em relação a sua mãe?
- Eu amo a minha mãe. Somos muito próximas. A gente não tem uma relação de amigas, sabe? É de mãe e filha mesmo e eu gosto disso. Ela é a coisa mais importante pra mim.
- A minha também era a coisa mais importante pra mim. Eu sinto falta dela, mas eu acredito que ela está num lugar melhor e que um dia vamos nos encontrar. Eu tenho muita fé nisso.
- Vão sim.
- Falei muito da minha mãe hoje...
- Você não gosta de falar dela?
- Não sei... Eu me sinto um pouco estranho, porque quando eu falo, parece que tudo foi tão recente, apesar de não ter sido.
- Desculpa por te fazer falar dela.
- Não! Eu acho importante falar. É estranho, mas é bom também. E não foi você que me fez falar, foram as perguntas.
- Mas você ta aqui por minha causa.
- E eu to me divertindo muito. [ela sorriu] Terminamos o grupo II.
- Grupo III agora?
- Grupo III!

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