domingo, 19 de abril de 2020

Hands, touching hands, reaching out, touching me, touching you

Na noite de sexta-feira, os meninos da Igreja Católica Renascer se reuniram na casa de Moisés para baterem papo e assistirem a um filme. Os oito adolescentes estavam na sala de Moisés, de modo que, Heitor, Vinícius e Amanda estavam num sofá de frente à televisão. Daniel, Ruth, Guilherme e Emma estavam no sofá ao lado. E Moisés na poltrona.
Nenhum dos pais de Moisés estavam em casa, e a sala estava cheia de caixas de pizza, pipoca e refrigerante.
O filme escolhido foi Once. Daniel apertou o play e apagou a luz. A sala ficou um breu, iluminada somente pela tv.

O filme começou e todos estavam ainda em clima de dispersão, conversando e rindo por cima das falas. Porém, eventualmente, o filme foi prendendo a atenção da galera, e já não falava-se mais, salvo para fazer comentários sobre o próprio filme.
Guilherme tentava se focar no filme, mas o cheiro característico da ruiva estava inundando suas narinas e deixando-o louco. Era uma mistura de andiroba com hortelã, que não era lá o melhor cheiro do mundo. Ele conhecia várias pessoas muito mais cheirosas, sendo a Vanessa e a Luciana, duas delas. Porém o cheiro da ruiva tinha marcado tantos momentos bons e únicos na sua vida, que só de lembrá-los, dava um aperto em seu coração.


Ele virou os olhos com cuidado para dar uma espiadinha na ruiva. E lá estava ela, olhando com atenção a tela da tv. Seus olhos, refletindo as imagens do filme, assumindo um tom acinzentado, sua pele de porcelana e seu cabelo ruivo que já estava mais para o loiro. Ela vestia uma blusa social branca, que ia de encontro ao que ela costumava a usar quando não estava com as pessoas da igreja. Lembrava-o novamente da época em que eram namorados.
Ele queria poder tocar na ruiva. Era tão estranho pensar que um dia já tivera livre acesso a ela. Agora, a interação deles se resumia a breves cumprimentos aqui e lá.

Guilherme não sabe de onde tirou tamanha coragem, mas ele pegou a mão da ruiva e entrelaçou seus dedos, lá pro meio do filme, tentando não desviar os olhos da televisão. Ele chegou a prender a respiração quando trouxe a mão da menina para si, seu coração batendo a mil por horas, e o medo da rejeição rugindo como um leão dentro de si. Ele fechou os olhos, esperando o momento que a menina ia retirar a mão da sua, porém, para sua surpresa, isso não aconteceu.


E agora estavam de mãos dadas! Ele queria gritar, seu corpo vibrava como íons na presença de uma fonte elétrica. Ele chegou a dar um pequeno aperto na mão da ruiva, só pra ter certeza de que ela estava lá. E para sua felicidade, ela estava!

Podia parecer besteira, mas naquele momento ele se sentiu completo, como se ele tivesse segurando a coisa mais preciosa do mundo. Quantas vezes ele já tinha segurado sua mão e não valorizou? Não mais.
Guilherme olhou discretamente para os lados, para ver se alguém tinha notado o que estava acontecendo, mas ninguém parecia ter percebido nada.

A mão da menina era tão delicada sob a sua. Ele girou-a e observou suas veias azuis, sob a camada quase transparente de epiderme. Ele passou o polegar docemente sobre as veias da menina, redescobrindo o corpo dela.


Guilherme estava extasiado com a submissividade da mão da menina. Ele sabia que no fundo estava sendo bobo. Ele já teve muito mais apenas do que apenas aquela parte da garota. Ele chegou a tê-la por inteiro. Porém, a abstinência dela por tanto tempo, tinha feito que qualquer acesso a mínima parte dela tivesse consequências estratosféricas nele.

Então uma coisa que ele não esperava, aconteceu. Na cena que Glen e Markéta cantam falling slowly, por trás do piano, Emma chorou. Ela usou a mão livre para secar as lágrimas. Guilherme já tinha visto Emma chorando em outros filmes antes, mas não numa cena como aquela, puramente romântica.
Ele se perguntou o que estava se passando no coração da menina. Estaria ela bem? Estariam ela e o Channing bem?


Guilherme resistiu ao impulso de puxá-la inteira para si e de abraçá-la. Ele se reteve em apenas acariciar a sua mão, repetidamente.

Quando o choro da ruiva cessou, ela se virou  pra ele e deu um pequeno sorriso reconfortante.

No momento que o filme acabou, e os créditos finais começaram a rolar, Emma recolheu sua mão.

No final, Guilherme ofereceu levá-la para casa, mas a mesma disse que sua madrinha já estava indo buscá-la.

Então ele voltou para casa com Ruth, que tinha pedido para que ele a acompanhasse.

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