domingo, 26 de abril de 2020

Amor de mãe


Chris sabia que Samantha estava no seu direito, mas ele não gostava do como ela se expressava. Para falar a verdade, até ele tinha ficado um pouco desconfortável, mas o que fazer se o filho via Sam como sua figura materna e teimava em chamá-la de mãe? Precisava sentar com ele e dizer que ela não era sua mãe repetidas vezes? Aquilo devia deixar o menino confuso, uma vez que todos naquela família podiam se dirigir a ela daquela maneira, menos ele. Isso fez com que Enzo começasse a esboçar um semblante triste, provavelmente por se sentir excluído e rejeitado. Logo o seu raio de sol, que antes sempre estava sorridente, mas que agora ficava cabisbaixo, principalmente quando via Samantha. Chris nunca se imaginou amando tanto dois seres humanos. Ele nunca quis ser pai, mas o destino assim o fez e agora ele se sentia tão realizado. Samantha havia tentado explicar inúmeras vezes para o pequeno que a mãe do menino era Emily, mas ele não parecia entender. Essa informação já seria confusa para uma criança normal, imagina para um garoto com síndrome de down?! "A Emily ficaria mal se soubesse que ele me considera mãe e não ela. Eu fiz o certo! Tem que explicar a ele a verdade, afinal ele tem mãe!" Chris sabia disso, porém por que não deixar Enzo chamar Samantha e Emily de mãe? Corrigí-lo parecia muito cruel. Naturalmente, o menino considerava Emily mais uma espécie de prima, do que uma mãe. A própria garota parecia não fazer muita questão do reconhecimento que era seu por direito. Só teve uma vez que........................ Bem, melhor deixar essa anedota para outra ocasião. O importante é que Em não era uma boa mãe, no geral, o que deixava Enzo só com o pai, que se desdobrava ao máximo para compensar a falta da figura materna. Samantha tampouco expressava uma espécie de carinho em relação ao filho de Chris, o que era frustrante para os dois. Esse era outro ponto que ele não se sentia muito no direito de cobrar da mulher, já que nem com os filhos biológicos ela era muito carinhosa. O professor teve sua linha de raciocínio bruscamente cortada ao terminar de estacionar o carro na garagem da escola e avistar seu amigo Tom chegando.
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Samantha acordou sobressaltada. Ela olhou para o lado e viu Chris dormindo tranquilamente ao seu lado. Tentando não fazer barulho, ela foi rapidamente até o quarto de Enzo para ver se o garoto estava bem. Ele já estava gripado há 3 dias e não tinha apresentado melhora. O médico, segundo o professor de Educação Física, disse que não havia com o que se preocupar, era só tomar os remédios receitados que o menino logo, logo, melhoraria. Entretanto, Sam não conseguiu ficar tranquila ao ver o garoto tão abatido e dormiu pensando nisso. Assim que ela entrou no quarto dele, ouvi seu ronco. Provavelmente, o nariz estava entupido, o fazendo respirar pela boca. Ela chegou perto da cama e aproximou o dedo do nariz de Enzo, confirmando suas suspeitas. Samantha ficou tão agoniada vendo a cara de desconforto do filho de Chris, que decidiu acordá-lo para que ele fizesse nebulização. Os pequenos olhos cansados do menino abriram e olharam a mulher. Ele não falou nada. Ela colocou a máscara nele e o posicionou em seu colo. Ele continuava olhando para ela, que retribuía o olhar séria. A empresária, enfim, perguntou baixinho: "Você está bem?", mas ele só continuou olhando para ela com uma cara bem cansada, de quem não tinha quase dormido. Samantha se arrependeu de tê-lo acordado, por imaginar que ele havia demorado a pegar no sono, então começou a balançá-lo clamamente para ver se seus olhinhos se fechavam novamente. Ela tocou em seu coração e percebeu que ele estava bem acelerado. A nebulização, naturalmente, já acelerava os batimentos. Talvez isso não fosse bom para um menino com síndrome de down, logo com possível pré-disposição a problemas cardíacos. "Esse médico deve ser um louco! Como ele falou para o Christopher que o Enzo pode fazer nebulização?", pensou Sam. Já sem confiar em nenhuma palavra que o doutor havia dito, a mãe de Jane, Jamie e Joane decidiu levá-lo ao hospital. Ela trocou de roupa rapidamente, fez um coque e saiu, deixando um bilhete para Chris, caso ele acordasse e procurasse o garoto.
Chegando no hospital, descobriu que a gripe de Enzo havia evoluído para uma pneumonia e que ele precisaria ficar internado. Samantha, depois de muito pensar, decidiu não ligar para Chris no momento, já que o marido aparentava cansaço, devido ao trabalho e às obrigações em casa. Ligaria de manhã, se o menino ainda não tivesse sido liberado.
Samantha ficou ao lado de Enzo, que dormia, segurando sua mão a noite inteira. De vez em quando, ele abria os olhos e a encontrava o encarando. Ela sorria para ele e fazia carinho no seu cabelo. Ele, então, fechava os olhos e voltava a dormir. Com o dia quase nascendo, retiraram a máscara do garoto, que antes respirava com a ajuda de um respirador. Ele parecia bem melhor. Dessa vez, sorria de volta para Samantha, quando ela sorria para ele. A médica passou uma série de antibióticos para o menino, já que ele ainda não estava curado, e alertou a ela para sempre ter cuidado com os resfriados e/ou as gripes do filho, uma vez que sua saúde era mais frágil e, portanto, mais sucetível a agravamento.
Chegando em casa, se deu conta que todos continuavam dormindo, pois era sábado e ninguém precisava acordar cedo. Sam botou o garoto na cama e disse, fazendo um pouquinho de cosquinha nele (o suficiente para fazê-lo rir, mas não perder o ar): "Você quase me deu um susto hoje, seu safadinho!". Ele riu e depois tossiu um pouquinho. "Agora trate de dormir!" Ela beijou a testa dele e esperou o garoto pegar no sono. Demorou mais do que ela estava esperando, pois ele estava muito risonho e brincalhão. Ele fechava os olhos, fingindo que estava dormindo, e de repente, abria, mostrando que estava acordado, rindo da reação de Samantha, que mostrava a língua para ele e fazia caretas. Assim que finalmente ele dormiu, ela viu as horas no relógio e percebeu que já estava na hora de trabalhar. Infelizmente, alguns sábados ela trabalhava e naquele, tinha uma reunião marcada para às 8h com um possível parceiro para os hotéis Dornan do Japão, Tunísia e Tailândia. Antes de sair, encontrou com Dora, babá de Enzo e empregada da casa. Ela contou rapidamente que o garoto estava com pneumonia e pediu para a moça avisar a Chris quando ele acordasse. Também mostrou os remédios que havia comprado e explicou o horário de cada um, pedindo para que ela entregasse a receita para o marido também. Dora assentiu e viu sua patroa sair. Assim que Samantha fechou a porta, a doméstica falou:
- Essa daí finge, mas ama que só!

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