sábado, 16 de maio de 2020

Impactos

Sábado: 18 h 00 min.

Emma estava em seu quarto se arrumando. Ela havia marcado de encontrar Asa, para irem juntos à montanha-russa considerada uma das mais assustadoras do mundo.


A ruiva estava folheando seu exemplar semanal da revista mundo nerd e BAM, lá estava ela, a temida Trilhos da Vingança fazendo uma visita ilustre à Cidade Maravilhosa, apenas naquela semana.

A ruiva deu uma última olhada no espelho. Ela estava com sua camisa preta do Deep Purple e seu short jeans claro rasgado. Ela bagunçou um pouco o cabelo com a mão para dar um pouco mais de volume. Depois do último check-up, ela deu um beijo na madrinha e foi até o ponto de encontro que havia marcado com Asa.

Sábado: 18 h 45 min

Os dois caminharam juntos até chegarem no local da atração. Asa e Emma ficaram boquiabertos com o tamanho da fila.
Ela era quilométrica, indicando que gastariam no mínimo três horas ali. Contudo, apesar da fila gigantesca, o lugar estava muito animado, com música alta tocando, e vendedores ambulantes passando pra lá e pra cá.

"Vocês são os últimos da fila?" Emma perguntou para um casal que estava na frente deles.

"Somos. Chegamos quase agora também." Um garoto de cabelo preto espetado, aparentando uns 17 respondeu para a ruiva.

"E não vamos sair tão cedo! A gente achou que hoje estaria menos cheio que ontem, mas pelo visto, nos enganamos!" O garoto de franja disse extravagantemente.

"Esse povo deve ter acampado aqui, ela acabou de abrir!" Emma ainda não acreditava no tamanho daquela fila.

"Pode crer, menina! Tem gente que chegou com horas de antecedência." O moleque de cabelo espetado falou.

"Mas não faz sentido." Asa falou mais para ele do que para os outros.



"O que não faz sentido?" O garoto de cabelo espetado perguntou, finalmente notando a presença do britânico.

"Chegar mais cedo pra não enfrentar fila. Eles acabaram esperarando da mesma forma que a gente." Asa explicou.

"Ah, mas nem todo o mundo vai conseguir andar na trilhos hoje. Ela fecha meia-noite." O garoto de franja informou.

"Do jeito que tá, talvez nem a gente consiga." Emma já estava querendo ir embora. Ela nem queria andar tanto assim naquele brinquedo.

"Vira essa boca pra lá! Vai dar sim! Fingers crossed." O garoto de franja cruzou os dedos enfaticamente.

Emma assentiu. "A propósito, eu sou Emma e ele é o Asa."

"Asa?" O garoto de cabelo espetado riu.

"Ele não é daqui, ele é inglês." Emma explicou.

"Aaah que chique! Nunca vi um inglês pessoalmente antes!" O garoto de cabelo espetado sorriu animado. "Meu nome é Eric e ele é Diego, meu namorado."

"Prazer." Emma sorriu educadamente.

"Vocês são irmãos?" Diego perguntou apontando para Emma e Asa.

"Quase." A ruiva respondeu, ganhando um olhar de reprovação do britânico. "Mas se vocês virem a gente se beijando, não se espantem." Brincou, a ruiva.

"Ui, adoro!" Exclamou, Eric.

Sábado:  19 h 35 min

"Que foi Asa?"

Diego e Eric tinham saído da fila para comprar cachorro-quente, permitindo finalmente, a ruiva de dar atenção ao Asa.

"Que foi o quê?" O menino se fez de desentendido.

Emma se aproximou do menino e colocou os braços em volta do pescoço dele.

"Você ta muito quieto."

"Eu sou quieto" Asa se defendeu, colocando os braços em volta da menina, em retorno.

"Sim, mas você ta mais quieto do que o normal." A ruiva rebateu.



"Nada. Eu só..." Ele olhou para os lados procurando a melhor forma de dizer aquilo. "Eu só achei que não teria que te dividir com ninguém hoje."

Emma mordeu o lábio para tentar conter inutilmente o sorriso que se formava.

"Eu sou toda sua agora." Ela falou como se tivesse contando um segredo.

Asa pegou a deixa e colou seus lábios nos da ruiva, dando o beijo que os dois estavam ansiando.

Sábado:  20 h 00 min

Asa e Emma continuavam se beijando até o beijo virar pequenos selinhos um no outro, demonstrando seu fim, porém logo Asa reivindicou a boca da ruiva enfiando a língua dentro dela de novo.

Quando a fila voltou a andar, eles se separaram.

"Até que ta andando rápido." Asa comentou.

"Espero que a gente consiga ir antes das dez." Emma fez um coque mal feito no cabelo. "Sua mãe vai brigar se você chegar tarde né?"

Asa deu de ombros. "Um pouco."

Emma riu da calma de Asa. "A minha dinda vai me matar porque eu tenho que acordar cedo amanhã."

"Mas amanhã é domingo." Asa colocou as mãos no bolso.

"E eu tenho igreja cedo. Tá que não é cedo tipo escola, mas é cedo o suficiente pra eu precisar ser escoltada pra fora da cama." A ruiva tirou o celular do bolso de trás e digitou alguma mensagem a alguém. "Sábado é o único dia da semana que eu posso acordar depois das 10h."

"Deve ser chato isso." Asa queria ter um comentário melhor para fazer, mas ele não era lá muito bom em conversas.

"Podia ser pior, a gente podia ter aula sábado. Eu lembro quando meu dindo quis implantar isso na escola."

"E por que ele não implantou?"

"Porque uma pessoa muito convincente conseguiu persuadir ele em desistir. Dizem que ela costuma enfrentar filas gigantescas com um garoto extremamente tímido, mas que beija muito bem." Emma piscou pra ele e Asa ficou congelado sem saber como reagir.
"Viu o que eu disse!" A ruiva riu. "Mas eu gosto da sua timidez. Eu não mudaria isso em você."

Asa disfarçou o sorriso que tentava se formar em seu rosto.

"Me lembra meu irmão. Ele também é assim. Apesar de depois dele ter entrado na nossa escola, ele ta mais falante. Eu acho que ele gosta da Ariana."

Asa estava impressionado com a capacidade da ruiva de mudar de assunto.

"Ela não tem namorado?"

"Eu também tenho e aqui estamos." Emma brincou, porém o pequeno inglês não recebeu tão bem a brincadeira.

"Ah." Ele murmurou sem humor.

"Ei." Emma se aproximou do menino. "Eu tava brincando." Ela colocou o dedo na presilha da calça dele (que prende o cinto). "Eu não sou muito boa em perceber quando to cruzando uma linha que eu não deveria. Desculpa."

"Não precisa. Eu não fiquei ofendido."

"Bom. Porque não é qualquer um que eu chamo pra ficar horas na fila comigo só pra uma coisa que dura no máximo cinco minutos."

"Quatro."

"Quatro o quê?" A ruiva perguntou confusa.

"O percurso da montanha-russa dura quatro minutos, não cinco. Mais especificamente, três minutos e cinquenta e seis segundos." Asa informou, achando graça da cara que ela estava fazendo para ele.

"Você cronometrou?" Emma o olhou incrédula.

"Foi." Asa levou a mão ao bolso detrás. "Mas você também pode encontrar essa informação no panfleto." Ele entregou o exemplar para a menina.

Emma observou o anúncio da montanha-russa, que constava a informação dita por Asa, logo abaixo da foto da Trilhos da Vingança.

"Palhaço." Ela amassou o papel e colocou no bolso detrás do Asa.




Sábado:  21 h 00 min

"Eu não sei porque... Ela queria até ir pra Inglaterra visitar o túmulo da Eleanor Rigby. Os beatles tem tanta música melhor que essa." Emma colocou mais um punhado de pipoca na boca.

"Acho que sua madrinha deve se identificar com ela." Asa chutou. Ele também não conseguia entender o sucesso da música.

"Eu também acho! Sabia que um dia ela chamou nosso reverendo de father Mackenzie? Aí eu disse: Eleanor?" Emma zoou.

Asa riu. As piadas da Emma eram tão previsíveis, mas ele não conseguia deixar de achar graça nelas

Emma virou o saquinho de pipoca na boca pra terminar de comer o resto, sujando o rosto de migalhas e sal. Ela então, passou o braço para se limpar.

"Ainda ta sujo." Asa segurou o rosto dela e o limpou com as costas da mão.

"Obrigada. Eu não deveria ter virado de uma vez só, o final tava sal puro." Emma reclamou enquanto o garoto ainda tocava no seu rosto.

Asa não prestou atenção no que a ruiva dissera. Ele estava impressionado em como eles estavam tão próximos agora, que ele se sentia mais confortável em tocá-la assim. Emma parecia também interagir com ele sem ressalvas.

Ele subiu o olhar para os olhos da ruiva, e ela o observava esperando o próximo movimento dele.



Asa então aproximou o rosto do dela e a beijou. Emma realmente estava com um gosto bem salgado, mas isso não chegou a incomodar. A ruiva agarrou a nuca do garoto e o trouxe para mais perto, Asa abraçou sua cintura enquanto explorava a boca da menina.

Sábado - 22:30

"Seus olhos são tão azuis que parece até que ta com filtro do Instagram." Eric disse admirado para o menino.

Emma tinha saído para ir ao banheiro e aparentemente tinha se deparado com outra fila.

"Obrigado" Asa respondeu sem graça.

"Você faria o maior sucesso lá na rave." Eric continuou.

"Ele é muito novo, Eric!" Diego interviu, enciumado.

"Só se for de RG porque do jeito que ele tava pegando a nossa amiga...Me deu até um frio na pitanga!" Eric se tremeu teatralmente.

Asa tava doido para aqueles dois calarem a boca. Emma tinha que ter puxado assunto com eles!

"ADORO!" Diego bateu palmas.

Asa viu Emma chegando e respirou aliviado.

"Várias pessoas tão vomitando perto da saída." Emma revelou.

Asa pensou na nojeira que devia ta aquilo. Se não fosse pela ruiva, ele nunca iria para um programa daqueles.

"Tem um banco aqui perto, você pode ir pra lá e sentar um pouco. Você deve ta cansado." Emma disse preocupada.

"Não precisa, eu to bem." Asa mentiu, na verdade ele tava acabado.

"Tem certeza? Não quer ficar nem uns 15 minutos ali? Depois você volta." Emma tentou persuadi-lo.

"Vão os dois! A gente guarda o lugar de vocês!" Diego ofereceu.

"Sim, vocês guardaram os nossos também nas nossas saidinhas" Eric riu.

"Vamos então?" Emma perguntou para Asa e ele assentiu.

Os dois caminharam até um banco situado ao lado de uma árvore, que já estava ocupado por algumas pessoas. Asa se sentou e Emma se espremeu ao seu lado.

O britânico tentou resistir à vontade de colocar seu braço em volta da garota. Porém, eles já tinham passado por tanta coisa naquela noite, que ele esperava que a ruiva não se importasse com o aquele gesto, então, assim o fez.

Emma aninhou sua cabeça no seu pescoço, inalando o cheiro suave de Asa.

Run to the Hills do Iron Maiden terminou de tocar e começou Northern Downpour do Panic! At the Disco.

"Eu adoro essa música!" Emma começou a cantarolar no pescoço dele, fazendo um pouco de cosquinha nele.

"Não sabia que você gostava de música de emo." Asa brincou e Emma deu sua famosa risada rouca.

"Eu já fui muito emo." A ruiva revelou, pegando Asa de surpresa.



"Sério?"

"Não foi uma das minhas melhores épocas. Fico com urticaria só de lembrar da piadinha da Emma é emmo." A ruiva contou de forma descontraída e Asa amou o pequeno momento dos dois.

Sábado: 23 h 25 min

Faltava muito pouco para chegar a vez dos dois. A verdade era que quanto mais a vez deles se aproximava, mais a ruiva queria dar pra trás. A montanha-russa parecia infinitamente maior mais próximo da entrada.

"Será que alguém já morreu andando nela?" Emma perguntou como quem não queria nada.

"Agora que você me faz essa pergunta?" Asa riu.

"Eu só fiquei curiosa. Deixa eu pesquisar aqui se alguém já morreu na montanha-russa." Emma pegou o celular e abriu o Google.

"Honestamente, depois do tempo que eu gastei aqui, eu andaria nela mesmo que mil pessoais tenham morrido."

"Aqui!" Emma mostrou o visor do celular para o Asa.

"Um de milhares de pessoas. A estatística diria que ninguém morreu." Asa racionalizou.

"Diz isso pra família do Stanley." Emma guardou o celular.

"Se você tiver com medo a gente pode não ir..." Asa sabia que sempre que a menina se sentia desafiada, ela fazia qualquer coisa mesmo tendo medo. Ele lembrou de quando os dois apostaram jogar o jogo do copo.

"Eu não to com medo! Eu só fiquei com pena do moço."

"Sei."

Emma colocou os braços em volta da nuca de Asa.

"Você quando quer ser chato," Ela encostou a em seu boca no ouvido, "supera o nosso amigo Diego." Ela sussurrou.

"Achei que você tinha gostado deles." Asa cochichou de volta, automaticamente, abraçando ela de volta.

"No começo, depois de cinco horas juntos, eu vi que eles são meio enjoados." Emma admitiu.

"Só depois das cinco horas? Eu percebi isso no primeiro minuto!"

Emma riu da honestidade brutal do menino.

"Eu sou meio lenta pra perceber essas coisas."

"Percebi." Asa brincou.

Emma riu e depois se desvencilhou do garoto, ficando a alguns passos de segurança dele.

Sábado: 23 h 40 min

No final das contas, a montanha-russa não era lá tão radical assim, o que foi perfeito para a ruiva, que estava morrendo de medo do banco soltar igual ao pobre Stanley. Eles passaram a maior parte do percurso de volta até a casa do Asa discutindo quem tava com mais medo, falando mal dos gays e zoando as pessoas bizarras da fila.

"Entregue." Emma anunciou quando eles chegaram em frente à casa do menino.

Asa não gostou de como a Emma fez parecer que ele era uma criança que precisava ser acompanhado até em casa e ser entregue, apesar de ter sido literalmente o que ela fez.

"Obrigado." Todo o pudor que ele tinha conseguido perder na fila da montanha-russa, voltara de uma só vez, assim que ela disse a palavra 'entregue'.

"Não foi nada." Emma colocou a mão no bolso detrás. "Obrigada por ter me feito companhia hoje... Eu gostei muito."



"Eu também." Asa concordou ainda mais desconfortável por sentir o desconforto da menina.

"A gente se vê então." Emma falou depois de alguns segundos de silêncio constrangedor.

"Ok." Asa retrucou.

"Então... tchau." Emma se aproximou para dar o cumprimento de praxe dos cariocas, caracterizado pelos dois beijinhos no rosto. Assim que deu, ela percebeu que tinha acabado de deixar tudo ainda mais awkward. Entretanto, para a sua surpresa, assim que ela se afastou do segundo beijo, Asa segurou seu pulso e a manteve no lugar. Em seguida, ele colou seus lábios nos dela.

Ele abriu os olhos para observar sua reação e ao perceber que não havia nenhuma rejeição por parte da ruiva, ele segurou seu rosto, inclinou a cabeça e tornou a beijá-la.



A menina correspondeu o beijo com a mesma intensidade que lhe foi dado. Uma mão da menina estava na cintura do garoto e a outra estava com os dedos enterrados no cabelo do garoto, ora acariciando, ora puxando.

De repente, um barulho na porta fez os dois pularem para trás assustados.

"Asa, entra." Antonella ordenou séria.

O menino não reagiu, pois estava perplexo demais para isso. Ele só ficou encarando a mãe com os olhos arregalados.

"Agora!" Antonella berrou, acordando o menino do transe.

"Tchau." Asa disse para a Emma e entrou em casa.

Emma engoliu em seco. "Eu já tava indo... Boa noite." Emma se virou e saiu.

A menina chegou em casa tarde da noite. Ela mentiu para a madrinha que a mãe de uma amiga tinha levado-a para casa, já que ela mesma, não podia andar sozinha naquele horário.

Emma então, correu para o quarto e ficou repassando a noite inteira em sua mente confusa. Em seguida, ela foi tomar um banho para ir dormir.

No banheiro, seus olhos se arregalaram ao terminar de se despir.

"M***a!" Xingou a menina, segurando a calcinha encharcada na mão.



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