sábado, 30 de maio de 2020

A teoria do multiplayer vidente


Ao perceber que Crystall estava dormindo no seu colo, John a carregou até a cama para que ela pudesse dormir mais confortavelmente. No quarto, Asa estava, como sempre, deitado, ouvindo música no seu walkman. Ele disse “good night”, mas o menino pareceu não escutá-lo, então John saiu assim mesmo.
Passando pelo quarto de Joy, se deparou com Antonella sentada no chão, lendo um livro para a filha. Ele entrou no ambiente e deu um beijo na cabeça da mulher, que levantou o rosto e abriu um pequeno sorriso, sem mostrar os dentes. O inglês, então, foi escovar os dentes para se preparar para dormir. Vinte minutos se passaram e a italiana entrou no quarto do casal, completamente exausta. Acontece que Joy, naquele dia, chorou a tarde inteira com cólica. Com isso, a professora de Artes teve que levar todo mundo para o médico, já que não podia deixar os filhos sozinhos em casa. Voltando, ainda teve que preparar o jantar e a aula que daria no dia seguinte, uma vez que, segundo ela mesma, a diretora estava fazendo de tudo para tirá-la da escola, por não achar Artes uma matéria importante. Antonella jogou o livro que estava lendo para Joy na mesa de cabeceira e foi para a suíte escovar os dentes. John, que estava deitado, deu uma olhada no livro e viu escrito em letras garrafais “O pinguim e a naninha, por Andrew Butterfield”. Aquilo foi a gota d’água para ele. Já não bastava ter que aguentá-lo a todo momento, por causa das rebeldias precoces de Asa, e saber que sua mulher o via todo o dia no trabalho, agora o homem queria se infiltrar na sua casa como pseudoescritor?! Aquilo era demais!
Assim que Antonella saiu do banheiro, John comentou sarcasticamente:

“So now we only have his books to read here in this house?”

Seriously, John?”, perguntou uma Antonella mais cansada do que indignada.


“I just want to understand, why, of all children's books we have here at home, did you choose exactly his book to read for our daughter?”

“Because, John, most of the children's books we have at home he gave it to us. We almost never bought a children's book.”

“What about the books we received as a gift? ‘Cause I'm almost sure that we have other options for books to read to our children, which were not written by your ex-husband.”


“I don't think you heard me. I said that most of the children's books we have here at home he gave it to us.”

“And the minority that he didn't give, why don't you read those books?”

“Because I already read these books.”


“And you can't read it again? For Christ sake, she's a baby. She won't know if you're repeating a book."

“You know what?”, ela perguntou cansada, pegando o livro de Andrew e rasgando ele todinho. “I want a divorce.”, disse ela, jogando o livro no chão e saindo do quarto, logo em seguida.

John arregalou os olhos, assustado com o que tinha acabado de ouvir. Asa, no quarto ao lado, terminava de ouvir “Love Will Tear Us Apart”.

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