– [...], we approached the counter –
continuou Antonella rindo sem parar, fazendo Andrew rir mais ainda, sem saber
qual seria a conclusão da história – where there was a line with several people
and one of the ladies said to my grandmother: “What a beautiful grandson!” –
Agora lágrimas caíam de seus olhos de tanto rir. Ela colocou a mão livre na
barriga, tentando recuperar o fôlego. – Then I, without thinking too much, took
off... took off my shorts and panties. – A italiana se interrompeu mais uma
vez, por causa das risadas – Oh my God, why am I telling you this? – Andrew
gargalhava. – I took off my shorts and panties and said, "I'm a
granddaughter!" – terminou ela, imitando a voz de uma criança estressada.
Nesse momento os
dois se descontrolaram de rir. Algumas lágrimas também saíram no canto do olho
do inglês. A história, de fato, era engraçada, mas a maneira como Antonella
havia contado, deixou tudo ainda mais hilário. Quando pareceu que os efeitos risíveis
da anedota tinham se dissipado, Andrew caiu na gargalhada mais uma vez,
causando o mesmo resultado na namorada. Finalmente, eles se acalmaram, permitindo
a italiana concluir:
– After that, I never let my dad cut
my hair that short.
– And how did your grandmother
react?
– My grandmother, the lady and the
entire market were left without reaction. It was shocking even for Italians.
– Then you realized what you did and
held your little hair thinking, "What have I done?"
– Exactly! –
Antonella riu.
Os dois, então,
pararam em frente às escadarias da igreja, já invadidos pela melancolia da
despedida.
– Today was
fun! – A loira disse olhando para Andrew.
– Yes, indeed.
– Thank you for waiting for the mass
to end.
– It was worth
it! – Ele emoldurou o rosto dela com as duas mãos e se inclinou para beijá-la. O
beijo aconteceu lento e profundo. Ambos tinham gosto de vinho. Enquanto suas línguas
se entrelaçavam gentilmente, Andrew, com um dos braços, levantou um pouco
Antonella, que era muito baixa e obrigava-o a se curvar muito. As mãos da
italiana desenhavam as costas do professor com movimentos delicados. Após um
tempo, seus lábios selaram e ela passou carinhosamente o nariz no dele. Recompondo-se,
ela olhou para o relógio da igreja, que estava atrás de Andrew, e tomou um
susto com o horário.
– If the priest knows what time I
arrived, he’ll kill me.
– You just need to confess tomorrow,
so he’ll know that we did nothing that he wouldn’t approve it, except being
late... and having a few drinks.
– This time. –
Ela disse com um sorrisinho malicioso e, ao mesmo tempo, envergonhada.
– This time. –
Ele retribuiu o sorriso malicioso, a beijando novamente. Agora suas línguas se
entrelaçavam urgentes, quentes e molhadas. A doçura da boca de ambos era um
deleite de sensações, prazeres guardados onde apenas um beijo seria pouco para
saciar seus desejos secretos. Antonella, sentindo para onde aquilo poderia os
levar, falou entre os beijos:
– I have to go.
– Now? – Protestou
Andrew, aos beijos.
– Now! – Ela
pontuou com um selinho curto.
– Alright. –
Disse ele, vencido.
– Are you
coming tomorrow? – Perguntou ela, já subindo as escadarias.
– Yes!
– Good, ‘cause
I have a present for you. – Ela disse, se virando para ele, com os braços para
trás.
– A present?
Which present? – Ele perguntou surpreso e curioso.
– It's a surprise.
– Did you buy me a present?
– No! I made a gift for you!
– It’s so boring being a painter,
sometimes. – Ela disse bufando dramaticamente – But yes, I painted a picture
for you.
– Is it a
portrait of me? – Gritou ele para Antonella, que já estava terminando de subir
as escadas.
– What? No!
– Is it a painting of the two of us?
– No!
– From my
mother?
– From your mother? – Ela perguntou,
levantando os braços, sem entender. – Why would I do a painting from your
mother? I don't even know her well!
– So tell me what it is, at least.
– No! You'll have to wait and see. –
Ela gritou de volta.
– Oh, c’omon! –
Ele subiu rapidamente as escadas, pulando alguns degraus. – Why don't you show
me now? – Perguntou ele, ao alcançar a italiana.
– Well, I still need to varnish and
you know that I can't take anyone to my room.
– No one will know. Everyone is
sleeping now.
– There are still some details to finish.
– Please! You know I'm curious!
Antonella
olhava para ele com cara de dúvida, sem saber o que fazer, mas acabou cedendo a
vontade do namorado. A verdade era que ela estava doida para mostrar o quadro
que tinha feito.
– Look, I'm going to let you in, but
no sex, okay?
– No sex. Got it!
– Not even a silly hand! – Alertou
ela, apontando o dedo para Andrew. – We're going to be in God's house.
– I know how
to control myself. – Ela olhou para ele cética. – I swear!
Antonella,
então, estendeu o braço para Andrew, que agarrou a sua mão, e os dois entraram
na igreja. Ela fechou a porta devagarinho, para não fazer barulho. Depois segurou
novamente a mão do namorado e o levou para o fundo do templo mal iluminado por
velas. Eles chegaram até um corredor cheio de salas fechadas, onde no final
havia uma escada. Ela o liderou escadas acima até um outro corredor cheio de novas
salas fechadas.
– Here are the
dorms. – Ela sussurrou, puxando Andrew até uma das portas, localizada perto do
fim do claustro. Finalmente, os dois soltaram as mãos, enquanto a italiana abria
a porta. Andrew estava ansioso, pois era a primeira vez que iria conhecer a
habitação em que a namorada passava boa parte do tempo. Para ele, quartos
revelavam a parte íntima da personalidade de uma pessoa, por isso, adorava
conhecê-los. Antonella abriu a porta do quarto e acendeu a luz, falando em voz
baixa:
– I'll have to fix it later. It
can't be messy.
Como esperado,
pelo fato de Antonella morar numa igreja, o quarto era pequeno e clean. As
paredes eram brancas, assim como os lençóis da cama. Havia também um armário,
um criado-mudo e uma mesa de madeira. No geral, o quarto era bem organizado e
limpo, fora algumas roupas espalhadas em cima da cama e a mesa, que estava
repleta de objetos. As paredes não eram adornadas com pinturas, ao contrário do
que se pensaria de um quarto de uma pintora. A única coisa que tinha era um
crucifixo pendurado acima da cama. A italiana, então, começou a juntar as roupas
bagunçadas rapidamente, enquanto Andrew reparava em cada detalhe do cômodo.
Em cima do
criado-mudo, estavam um abajur rosa, uma vela perfumada e uma bíblia com um
terço dentro. Já na parede adjacente à cama, havia uma janela tapada por parte
do cavalete de Antonella, que estava coberto por um pano branco. Ao lado, se
encontravam uma luminária e alguns quadros virados, encostados na parede. Andrew
ficou curioso para ver as pinturas, mas decidiu voltar a sua atenção para a
mesa, que ficava na parede de frente para a cama. Lá estava concentrada a maior
parte da bagunça do quarto, ou seja, o lugar com mais informações a oferecer. A
mesa tinha algumas manchas de tinta e em cima dela tinham várias tintas,
pincéis, maquiagem, perfume, fotos, revistas, livros, cds (alguns dados por
Andrew), discos, walkman, fone de ouvido e um rádio. Na cadeira, a toalha branca
de Antonella pendurada. O inglês passou a mão pelos discos e viu as capas
dos singles “Something”, dos The Beatles; “Bette Davis Eyes”, da Kim Carnes; e “American
Pie”, do Don McLean.
– What do
"Something", "Bette Davis Eyes" and "American
Pie" have in common? – Perguntou Andrew, intrigado com a seleção de
músicas contrastantes de Antonella.
– They’re good songs. – Respondeu
ela, terminando de ajeitar a cama. – “Something” is the sexiest Beatles song.
– Do you think so?
– Absolutely!
– I never thought about that. But
why did you only buy singles instead of full albums?
– For the same reason that the world
revolves: money. – Falou ela, abraçando-o por trás.
– And how do you listen to these
records? I didn't see a record player around here.
– Rose has a record player and
sometimes she lends it to me. Anyway, I prefer to listen to music on my
walkman, ‘cause there’s no risk of complaining.
– Do they supervise your room a lot?
– Yes! We can't lock the doors, so
there's no way to stop them from seeing.
– At least,
your room has curtains. – Respondeu ele olhando alguns cds italianos de
Antonella que estavam em cima da mesa. – Your room is very interesting. It has a lot of things to see,
despite being small.
– I'll fix it all later. Can I show
you the painting?
– Oh, yes, the painting! Sorry, I
got distracted by your beautiful mess.
– That’s okay! So I'm going to turn
on the lamp and turn off the lights so we don’t attract any attention, okay?
– Ok! –
Respondeu Andrew, agora ansioso, se posicionando em frente ao cavalete de
Antonella.
– Very well! Are you ready to see it?
– Ela foi para a frente de Andrew, tapando o cavalete.
– Yes.
– I won’t say what it is. I want to know
if you can find out.
– Ok.
– You're quite monosyllabic when
you're nervous, aren't you?
– Yes.
– Some details are missing, okay?
– You said it.
– Okay! – Ela disse,
tirando o pano de cima da pintura e saindo da frente logo em seguida. Andrew se
aproximou, franzindo a testa, tentando entender do que se tratava. Poucos
segundos depois, seus olhos se arregalaram e sua boca abriu um pouco, surpreso
com a descoberta. Uma coisa que o inglês odiava fazer em público era chorar,
pois para ele era sinal de fraqueza e muita vulnerabilidade. Quando criança,
todo mundo da sua família o zoava por ser chorão, igual ao pai. Na adolescência,
começou a ficar cada vez menos sentimental, algo que manteve em sua vida
adulta. Entretanto, ao ver a pintura de Antonella e compreender do que se
tratava, seus olhos começaram a lacrimejar. Ao mesmo tempo que ele queria se
obrigar a não pensar naquilo, seu olhar não conseguia desviar da tela.
A italiana,
por sua vez, não conseguia ver muito bem a reação de Andrew, já que ele estava
de costas para ela. Tentando entender o que estava passando na cabeça do
namorado, ela se posicionou ao lado dele e se deu conta de que seu queixo
estava tremendo. Ela quis tocá-lo, mas se deteve, esperando que ele dissesse
algo antes. Finalmente, as lágrimas não conseguiram ficar mais presas nos olhos
do inglês e caíram torrencialmente. Ele mordeu os lábios, tentando controlar a
emoção que o invadia. Minutos depois, Antonella tocou seu ombro, sem dizer
nada. Ele imediatamente falou:
– It’s perfect!
– The painting has relief. If you
want, you can touch it. – Ela disse, após um tempo.
Andrew passou
o dedo pela pintura, admirando os detalhes.
– Sorry if I sounded nosy. – Falou ela,
sem jeito. – Actually, it wasn’t my intention to make a present for you. I was
just very moved by your short story, so I ended up putting everything that I
felt on the screen. It is my subjectivity.
– I really loved it, seriously! It’s
very beautiful and, at the same time, very sad. I have never received a present
as beautiful as this one. Thank you! – Ele entrelaçou a mão na dela
fortemente, ainda olhando para a pintura. O quarto estaria completamente
escuro, se não fosse a luz da luminária os iluminando e iluminando o quadro. A
mão de Andrew fazia confidências que os lábios ainda não tinham coragem de
dizer.
Londres, 02:54:
– [...], nos
aproximamos do balcão – continuou Antonella rindo sem parar, fazendo Andrew rir
mais ainda, sem saber qual seria a conclusão da história – onde havia uma fila
com várias pessoas e uma das senhoras disse para a minha avó: “Que neto lindo!”
– Agora lágrimas caíam de seus olhos de tanto rir. Ela colocou a mão livre na
barriga, tentando recuperar o fôlego. – Aí eu, sem pensar muito, tirei... tirei
meus shorts e minha calcinha. – A italiana se interrompeu mais uma vez, por
causa das risadas – Ai meu Deus, por que eu estou contando isso? – Andrew
gargalhava. – Eu tirei meus shorts e minha calcinha e disse: “Eu sou uma neta!”
– terminou ela, fazendo uma voz de criança estressada.
Nesse momento os
dois se descontrolaram de rir. Algumas lágrimas também saíram no canto do olho
do inglês. A história, de fato, era engraçada, mas a maneira como Antonella
havia contado, deixou tudo ainda mais hilário. Quando parecia que os efeitos
risórios da anedota tinham se dissipado, Andrew caiu na gargalhada mais uma
vez, causando o mesmo resultado na namorada. Finalmente, eles se acalmaram, permitindo
a italiana concluir:
– Depois
disso, eu nunca mais deixei meu pai cortar meu cabelo curtinho, tipo de homem.
– E como a sua
avó reagiu?
– Ela, a
senhora e o mercado inteiro ficaram sem reação. Aquilo foi chocante até para um
italiano.
– Aí na hora
você se deu conta do que fez e segurou seus cabelinhos pensando: “O que foi que
eu fiz?”
– Foi isso
mesmo! – Antonella riu.
Os dois, então,
pararam em frente às escadarias da igreja, já invadidos pela melancolia da
despedida.
– Hoje foi divertido!
– A loira disse olhando para Andrew.
– Foi sim.
– Obrigada por
ter esperado a missa acabar.
– Valeu a
pena! – Ele emoldurou o rosto dela com as duas mãos e se inclinou para beijá-la.
O beijo aconteceu lento e profundo. Ambos tinham gosto de vinho. Enquanto suas
línguas se entrelaçavam gentilmente, Andrew, com um dos braços, levantou um
pouco Antonella, que era muito baixa e obrigava-o a se curvar muito. As mãos da
italiana desenhavam as costas do professor com movimentos delicados. Após um
tempo, seus lábios selaram e ela passou carinhosamente o nariz no dele. Recompondo-se,
ela olhou para o relógio da igreja, que estava atrás de Andrew, e tomou um
susto com o horário.
– Se o padre
souber que horas eu cheguei, ele vai querer me matar.
– É só você se
confessar amanhã, que ele vai saber que a gente não fez nada que ele não
aprovaria, a não ser chegar tarde... e beber um pouco.
– Dessa vez. –
Ela disse com um sorrisinho malicioso e, ao mesmo tempo, envergonhada.
– Dessa vez. –
Ele retribuiu o sorriso malicioso, a beijando novamente. Agora suas línguas se
entrelaçavam urgentes, quentes e molhadas. A doçura da boca de ambos era um
deleite de sensações, prazeres guardados onde apenas um beijo seria pouco para
saciar seus desejos secretos. Antonella, sentindo para onde aquilo poderia os
levar, falou entre os beijos:
– Eu tenho que
ir.
– Agora? – Protestou
Andrew, aos beijos.
– A-go-ra –
Ela pontuou com beijos curtos.
– Tudo bem. –
Disse ele, vencido.
– Você vem
amanhã? – Perguntou ela, já subindo as escadarias.
– Venho!
– Que bom,
porque eu tenho um presente para você. – Ela disse, se virando para ele, com os
braços para trás.
– Presente?
Que presente? – Ele perguntou surpreso e curioso.
– É uma
surpresa.
– Você comprou
um presente para mim?
– Não! Eu fiz
um presente para você!
– Você fez um
quadro para mim?
– É tão sem
graça ser pintora, às vezes. – Ela disse bufando dramaticamente – Mas sim, eu
fiz um quadro para você.
– É um retrato
meu? – Gritou ele para Antonella, que já estava terminando de subir as escadas.
– O quê? Não!
– É uma
pintura de nós dois?
– Não!
– Da minha
mãe?
– Da sua mãe? –
Ela perguntou, levantando os braços, sem entender. – Por que eu faria uma
pintura da sua mãe? Eu nem conheço ela direito!
– Então me
fala do que é, pelo menos.
– Não! Vai ter
que esperar. – Ela gritou de volta.
– Ah, fala
sério! – Ele subiu rapidamente as escadas, pulando alguns degraus. – Por que você não me mostra logo? –
Perguntou ele, ao alcançar a italiana.
– Falta envernizar
e você sabe que eu não posso levar ninguém para o meu quarto.
– Ninguém vai
saber. Está todo mundo dormindo agora.
– Falta ainda
alguns detalhes para finalizar.
– Por favor!
Você sabe que eu sou curioso!
Antonella
olhava para ele com cara de dúvida, sem saber o que fazer, mas acabou cedendo a
vontade do namorado. A verdade era que ela estava doida para mostrar o quadro
que tinha feito.
– Olha, eu vou
deixar você entrar, mas nada de sexo, ok?
– Nem mão
boba! – Alertou ela, apontando o dedo para Andrew. – Vamos entrar na casa de
Deus.
– Eu sei me
controlar. – Ela olhou para ele cética. – Eu juro!
Antonella,
então, estendeu o braço para Andrew, que agarrou a sua mão, e os dois entraram
na igreja. Ela fechou a porta devagarinho, para não fazer barulho. Depois segurou
novamente a mão do namorado e o levou para o fundo do templo mal iluminado por
velas. Eles chegaram até um corredor cheio de salas fechadas, onde no final
havia uma escada. Ela o liderou escadas acima até um outro corredor cheio de novas
salas fechadas.
– Aqui são os
dormitórios. – Ela sussurrou, puxando Andrew até uma das portas, localizada
perto do fim do claustro. Finalmente, os dois soltaram as mãos, enquanto a
italiana abria a porta. Andrew estava ansioso, pois era a primeira vez que iria
conhecer a habitação em que a namorada passava boa parte do tempo. Para ele, quartos
revelavam a parte íntima da personalidade de uma pessoa, por isso, adorava
conhecê-los. Antonella abriu a porta do quarto e acendeu a luz, falando em voz
baixa:
Como esperado,
pelo fato de Antonella morar numa igreja, o quarto era pequeno e clean. As
paredes eram brancas, assim como os lençóis da cama. Havia também um armário,
um criado-mudo e uma mesa de madeira. No geral, o quarto era bem organizado e
limpo, fora algumas roupas espalhadas em cima da cama e a mesa, que estava
repleta de objetos. As paredes não eram adornadas com pinturas, ao contrário do
que se pensaria de um quarto de uma pintora. A única coisa que tinha era um
crucifixo pendurado acima da cama. A italiana, então, começou a juntar as roupas
bagunçadas rapidamente, enquanto Andrew reparava em cada detalhe do cômodo.
Em cima do
criado-mudo, estavam um abajur rosa, uma vela perfumada e uma bíblia com um
terço dentro. Já na parede adjacente à cama, havia uma janela tapada por parte
do cavalete de Antonella, que estava coberto por um pano branco. Ao lado, se
encontravam uma luminária e alguns quadros virados, encostados na parede. Andrew
ficou curioso para ver as pinturas, mas decidiu voltar sua atenção para a mesa,
que ficava na parede de frente para a cama. Lá estava concentrada a maior parte
da bagunça do quarto, ou seja, o lugar com mais informações a oferecer. A mesa
tinha algumas manchas de tinta e em cima dela tinham várias tintas, pincéis,
maquiagem, perfume, fotos, revistas, livros, cds (alguns dados por Andrew),
discos, walkman, fone de ouvido e um rádio. Na cadeira, a toalha branca de
Antonella pendurada. O inglês passou a mão pelos discos e viu as capas dos
singles “Something”, dos The Beatles; “Bette Davis Eyes”, da Kim Carnes; e “American
Pie”, do Don McLean.
– O que Something,
Bette Davis Eyes e American Pie têm em comum? – Perguntou Andrew, intrigado com
a seleção de músicas contrastantes de Antonella.
– São músicas
boas. – Respondeu ela, terminando de ajeitar a cama. – “Something” é a música
mais sexy dos Beatles.
– Você acha?
– Com certeza!
– Eu nunca
parei para pensar nisso. Mas por que você só comprou os singles em vez dos discos
completos?
– Pela mesma
razão que o mundo gira: dinheiro. – Falou ela, abraçando-o por trás.
– E como você
escuta esses discos? Eu não vi nenhuma vitrola por aqui.
– A Rose tem
uma vitrola que, às vezes, ela me empresta. De qualquer maneira, eu prefiro
ouvir música no walkman, porque não tem risco de reclamarem.
– Eles checam
muito o seu quarto?
– Sim! A gente
não pode trancar as portas, então não tem como impedir de verem.
– Pelo menos, seu
quarto tem cortinas. – Respondeu ele olhando alguns cds italianos de Antonella que estavam em
cima da mesa. – Seu quarto é muito interessante. Tem muita coisa para ver,
apesar de ser pequeno.
– Eu vou arrumar
isso depois. Posso te mostrar a pintura?
– Ah é, a
pintura! Desculpa, eu me distraí com a sua linda bagunça.
– Tudo bem! Então
eu vou acender a luminária e apagar as luzes para não chamar atenção, ok?
– Ok! –
Respondeu Andrew, agora ansioso, se posicionando em frente ao cavalete de
Antonella.
– Muito bem!
Está pronto para ver? – Ela foi para a frente de Andrew, tapando o cavalete.
– Sim.
– Eu não vou
falar o que é. Quero ver se você consegue descobrir.
– Ok!
– Você é bem monossilábico
quando está nervoso, não?
– Sim.
– Estão
faltando alguns detalhes, ok?
– Você falou.
– Ok! – Ela disse,
tirando o pano de cima da pintura e saindo da frente logo em seguida. Andrew se
aproximou, franzindo a testa, tentando entender do que se tratava. Poucos
segundos depois, seus olhos se arregalaram e sua boca abriu um pouco, surpreso
com a descoberta. Uma coisa que o inglês odiava fazer em público era chorar,
pois para ele era sinal de fraqueza e muita vulnerabilidade. Quando criança, todo mundo
da sua família o zoava por ser chorão, igual ao pai. Na adolescência, começou a
ficar cada vez menos sentimental, algo que manteve em sua vida adulta. Entretanto,
ao ver a pintura de Antonella e compreender do que se tratava, seus olhos
começaram a lacrimejar. Ao mesmo tempo que ele queria se obrigar a não pensar naquilo,
seu olhar não conseguia desviar da tela.
A italiana,
por sua vez, não conseguia ver muito bem a reação de Andrew, já que ele estava
de costas para ela. Tentando entender o que estava passando na cabeça do
namorado, ela se posicionou ao lado dele e se deu conta de que seu queixo
estava tremendo. Ela quis tocá-lo, mas se deteve, esperando que ele dissesse
algo antes. Finalmente, as lágrimas não conseguiram ficar mais presas nos olhos
do inglês e caíram torrencialmente. Ele mordeu os lábios, tentando controlar a
emoção que o invadia. Minutos depois, Antonella tocou seu ombro, sem dizer nada.
Ele imediatamente falou:
– É perfeito!
– A pintura
tem relevo. Se quiser, pode tocar. – Ela disse, após um tempo.
Andrew passou
o dedo pela pintura, admirando os detalhes.
– Desculpa se
eu soei intrometida. – Falou ela, sem jeito. – Na verdade, não era a minha
intenção fazer um presente para você. Eu só fiquei muito mexida com o seu conto
e acabei descontando na tela. É uma subjetividade minha.
–
Eu amei, de verdade. É muito bonito e, ao mesmo tempo, muito triste. Eu nunca
recebi um presente tão bonito quanto este. Muito obrigado. – Ele entrelaçou a
mão na dela fortemente, ainda olhando para a pintura. O quarto estaria
completamente escuro, se não fosse a luz da luminária os iluminando e iluminando
o quadro. A mão de Andrew fazia confidências que os lábios ainda não tinham
coragem de dizer.
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