sexta-feira, 29 de maio de 2020

Snowman/Boneco de neve

Londres, 02:54:

– [...], we approached the counter – continuou Antonella rindo sem parar, fazendo Andrew rir mais ainda, sem saber qual seria a conclusão da história – where there was a line with several people and one of the ladies said to my grandmother: “What a beautiful grandson!” – Agora lágrimas caíam de seus olhos de tanto rir. Ela colocou a mão livre na barriga, tentando recuperar o fôlego. – Then I, without thinking too much, took off... took off my shorts and panties. – A italiana se interrompeu mais uma vez, por causa das risadas – Oh my God, why am I telling you this? – Andrew gargalhava. – I took off my shorts and panties and said, "I'm a granddaughter!" – terminou ela, imitando a voz de uma criança estressada.



Nesse momento os dois se descontrolaram de rir. Algumas lágrimas também saíram no canto do olho do inglês. A história, de fato, era engraçada, mas a maneira como Antonella havia contado, deixou tudo ainda mais hilário. Quando pareceu que os efeitos risíveis da anedota tinham se dissipado, Andrew caiu na gargalhada mais uma vez, causando o mesmo resultado na namorada. Finalmente, eles se acalmaram, permitindo a italiana concluir:
– After that, I never let my dad cut my hair that short.
– And how did your grandmother react?
– My grandmother, the lady and the entire market were left without reaction. It was shocking even for Italians.
– Then you realized what you did and held your little hair thinking, "What have I done?"
– Exactly! – Antonella riu.
Os dois, então, pararam em frente às escadarias da igreja, já invadidos pela melancolia da despedida.
– Today was fun! – A loira disse olhando para Andrew.
– Yes, indeed.
– Thank you for waiting for the mass to end.
– It was worth it! – Ele emoldurou o rosto dela com as duas mãos e se inclinou para beijá-la. O beijo aconteceu lento e profundo. Ambos tinham gosto de vinho. Enquanto suas línguas se entrelaçavam gentilmente, Andrew, com um dos braços, levantou um pouco Antonella, que era muito baixa e obrigava-o a se curvar muito. As mãos da italiana desenhavam as costas do professor com movimentos delicados. Após um tempo, seus lábios selaram e ela passou carinhosamente o nariz no dele. Recompondo-se, ela olhou para o relógio da igreja, que estava atrás de Andrew, e tomou um susto com o horário.
– If the priest knows what time I arrived, he’ll kill me.
– You just need to confess tomorrow, so he’ll know that we did nothing that he wouldn’t approve it, except being late... and having a few drinks.
– This time. – Ela disse com um sorrisinho malicioso e, ao mesmo tempo, envergonhada.


– This time. – Ele retribuiu o sorriso malicioso, a beijando novamente. Agora suas línguas se entrelaçavam urgentes, quentes e molhadas. A doçura da boca de ambos era um deleite de sensações, prazeres guardados onde apenas um beijo seria pouco para saciar seus desejos secretos. Antonella, sentindo para onde aquilo poderia os levar, falou entre os beijos:
– I have to go.
– Now? – Protestou Andrew, aos beijos.
– Now! – Ela pontuou com um selinho curto.
– Alright. – Disse ele, vencido.
– Are you coming tomorrow? – Perguntou ela, já subindo as escadarias.
– Yes!
– Good, ‘cause I have a present for you. – Ela disse, se virando para ele, com os braços para trás.
– A present? Which present? – Ele perguntou surpreso e curioso.
– It's a surprise.
– Did you buy me a present?
– No! I made a gift for you!


– Did you paint a picture for me?
– It’s so boring being a painter, sometimes. – Ela disse bufando dramaticamente – But yes, I painted a picture for you.
– Is it a portrait of me? – Gritou ele para Antonella, que já estava terminando de subir as escadas.
– What? No!
– Is it a painting of the two of us?
– No!
– From my mother?
– From your mother? – Ela perguntou, levantando os braços, sem entender. – Why would I do a painting from your mother? I don't even know her well!
– So tell me what it is, at least.
– No! You'll have to wait and see. – Ela gritou de volta.
– Oh, c’omon! – Ele subiu rapidamente as escadas, pulando alguns degraus. – Why don't you show me now? – Perguntou ele, ao alcançar a italiana.
– Well, I still need to varnish and you know that I can't take anyone to my room.
– No one will know. Everyone is sleeping now.
– There are still some details to finish.
– Please! You know I'm curious!
Antonella olhava para ele com cara de dúvida, sem saber o que fazer, mas acabou cedendo a vontade do namorado. A verdade era que ela estava doida para mostrar o quadro que tinha feito.
– Look, I'm going to let you in, but no sex, okay?
– No sex. Got it!
– Not even a silly hand! – Alertou ela, apontando o dedo para Andrew. – We're going to be in God's house.
– I know how to control myself. – Ela olhou para ele cética. – I swear!
Antonella, então, estendeu o braço para Andrew, que agarrou a sua mão, e os dois entraram na igreja. Ela fechou a porta devagarinho, para não fazer barulho. Depois segurou novamente a mão do namorado e o levou para o fundo do templo mal iluminado por velas. Eles chegaram até um corredor cheio de salas fechadas, onde no final havia uma escada. Ela o liderou escadas acima até um outro corredor cheio de novas salas fechadas.
– Here are the dorms. – Ela sussurrou, puxando Andrew até uma das portas, localizada perto do fim do claustro. Finalmente, os dois soltaram as mãos, enquanto a italiana abria a porta. Andrew estava ansioso, pois era a primeira vez que iria conhecer a habitação em que a namorada passava boa parte do tempo. Para ele, quartos revelavam a parte íntima da personalidade de uma pessoa, por isso, adorava conhecê-los. Antonella abriu a porta do quarto e acendeu a luz, falando em voz baixa:
– I'll have to fix it later. It can't be messy.
Como esperado, pelo fato de Antonella morar numa igreja, o quarto era pequeno e clean. As paredes eram brancas, assim como os lençóis da cama. Havia também um armário, um criado-mudo e uma mesa de madeira. No geral, o quarto era bem organizado e limpo, fora algumas roupas espalhadas em cima da cama e a mesa, que estava repleta de objetos. As paredes não eram adornadas com pinturas, ao contrário do que se pensaria de um quarto de uma pintora. A única coisa que tinha era um crucifixo pendurado acima da cama. A italiana, então, começou a juntar as roupas bagunçadas rapidamente, enquanto Andrew reparava em cada detalhe do cômodo.
Em cima do criado-mudo, estavam um abajur rosa, uma vela perfumada e uma bíblia com um terço dentro. Já na parede adjacente à cama, havia uma janela tapada por parte do cavalete de Antonella, que estava coberto por um pano branco. Ao lado, se encontravam uma luminária e alguns quadros virados, encostados na parede. Andrew ficou curioso para ver as pinturas, mas decidiu voltar a sua atenção para a mesa, que ficava na parede de frente para a cama. Lá estava concentrada a maior parte da bagunça do quarto, ou seja, o lugar com mais informações a oferecer. A mesa tinha algumas manchas de tinta e em cima dela tinham várias tintas, pincéis, maquiagem, perfume, fotos, revistas, livros, cds (alguns dados por Andrew), discos, walkman, fone de ouvido e um rádio. Na cadeira, a toalha branca de Antonella pendurada. O inglês passou a mão pelos discos e viu as capas dos singles “Something”, dos The Beatles; “Bette Davis Eyes”, da Kim Carnes; e “American Pie”, do Don McLean.
– What do "Something", "Bette Davis Eyes" and "American Pie" have in common? – Perguntou Andrew, intrigado com a seleção de músicas contrastantes de Antonella.


– They’re good songs. – Respondeu ela, terminando de ajeitar a cama. – “Something” is the sexiest Beatles song.
– Do you think so?
– Absolutely!
– I never thought about that. But why did you only buy singles instead of full albums?
– For the same reason that the world revolves: money. – Falou ela, abraçando-o por trás.
– And how do you listen to these records? I didn't see a record player around here.
– Rose has a record player and sometimes she lends it to me. Anyway, I prefer to listen to music on my walkman, ‘cause there’s no risk of complaining.
– Do they supervise your room a lot?
– Yes! We can't lock the doors, so there's no way to stop them from seeing.
– At least, your room has curtains. – Respondeu ele olhando alguns cds italianos de Antonella que estavam em cima da mesa. – Your room is very interesting. It has a lot of things to see, despite being small.
– I'll fix it all later. Can I show you the painting?
– Oh, yes, the painting! Sorry, I got distracted by your beautiful mess.
– That’s okay! So I'm going to turn on the lamp and turn off the lights so we don’t attract any attention, okay?
– Ok! – Respondeu Andrew, agora ansioso, se posicionando em frente ao cavalete de Antonella.
– Very well! Are you ready to see it? – Ela foi para a frente de Andrew, tapando o cavalete.
– Yes.
– I won’t say what it is. I want to know if you can find out.
– Ok.
– You're quite monosyllabic when you're nervous, aren't you?
– Yes.
– Some details are missing, okay?
– You said it.
– Okay! – Ela disse, tirando o pano de cima da pintura e saindo da frente logo em seguida. Andrew se aproximou, franzindo a testa, tentando entender do que se tratava. Poucos segundos depois, seus olhos se arregalaram e sua boca abriu um pouco, surpreso com a descoberta. Uma coisa que o inglês odiava fazer em público era chorar, pois para ele era sinal de fraqueza e muita vulnerabilidade. Quando criança, todo mundo da sua família o zoava por ser chorão, igual ao pai. Na adolescência, começou a ficar cada vez menos sentimental, algo que manteve em sua vida adulta. Entretanto, ao ver a pintura de Antonella e compreender do que se tratava, seus olhos começaram a lacrimejar. Ao mesmo tempo que ele queria se obrigar a não pensar naquilo, seu olhar não conseguia desviar da tela.


A italiana, por sua vez, não conseguia ver muito bem a reação de Andrew, já que ele estava de costas para ela. Tentando entender o que estava passando na cabeça do namorado, ela se posicionou ao lado dele e se deu conta de que seu queixo estava tremendo. Ela quis tocá-lo, mas se deteve, esperando que ele dissesse algo antes. Finalmente, as lágrimas não conseguiram ficar mais presas nos olhos do inglês e caíram torrencialmente. Ele mordeu os lábios, tentando controlar a emoção que o invadia. Minutos depois, Antonella tocou seu ombro, sem dizer nada. Ele imediatamente falou:
– It’s perfect!
– The painting has relief. If you want, you can touch it. – Ela disse, após um tempo.
Andrew passou o dedo pela pintura, admirando os detalhes.
– Sorry if I sounded nosy. – Falou ela, sem jeito. – Actually, it wasn’t my intention to make a present for you. I was just very moved by your short story, so I ended up putting everything that I felt on the screen. It is my subjectivity.
– I really loved it, seriously! It’s very beautiful and, at the same time, very sad. I have never received a present as beautiful as this one. Thank you! – Ele entrelaçou a mão na dela fortemente, ainda olhando para a pintura. O quarto estaria completamente escuro, se não fosse a luz da luminária os iluminando e iluminando o quadro. A mão de Andrew fazia confidências que os lábios ainda não tinham coragem de dizer.

Tradução



Londres, 02:54:

– [...], nos aproximamos do balcão – continuou Antonella rindo sem parar, fazendo Andrew rir mais ainda, sem saber qual seria a conclusão da história – onde havia uma fila com várias pessoas e uma das senhoras disse para a minha avó: “Que neto lindo!” – Agora lágrimas caíam de seus olhos de tanto rir. Ela colocou a mão livre na barriga, tentando recuperar o fôlego. – Aí eu, sem pensar muito, tirei... tirei meus shorts e minha calcinha. – A italiana se interrompeu mais uma vez, por causa das risadas – Ai meu Deus, por que eu estou contando isso? – Andrew gargalhava. – Eu tirei meus shorts e minha calcinha e disse: “Eu sou uma neta!” – terminou ela, fazendo uma voz de criança estressada.
Nesse momento os dois se descontrolaram de rir. Algumas lágrimas também saíram no canto do olho do inglês. A história, de fato, era engraçada, mas a maneira como Antonella havia contado, deixou tudo ainda mais hilário. Quando parecia que os efeitos risórios da anedota tinham se dissipado, Andrew caiu na gargalhada mais uma vez, causando o mesmo resultado na namorada. Finalmente, eles se acalmaram, permitindo a italiana concluir:
– Depois disso, eu nunca mais deixei meu pai cortar meu cabelo curtinho, tipo de homem.
– E como a sua avó reagiu?
– Ela, a senhora e o mercado inteiro ficaram sem reação. Aquilo foi chocante até para um italiano.
– Aí na hora você se deu conta do que fez e segurou seus cabelinhos pensando: “O que foi que eu fiz?”
– Foi isso mesmo! – Antonella riu.
Os dois, então, pararam em frente às escadarias da igreja, já invadidos pela melancolia da despedida.
– Hoje foi divertido! – A loira disse olhando para Andrew.
– Foi sim.
– Obrigada por ter esperado a missa acabar.
– Valeu a pena! – Ele emoldurou o rosto dela com as duas mãos e se inclinou para beijá-la. O beijo aconteceu lento e profundo. Ambos tinham gosto de vinho. Enquanto suas línguas se entrelaçavam gentilmente, Andrew, com um dos braços, levantou um pouco Antonella, que era muito baixa e obrigava-o a se curvar muito. As mãos da italiana desenhavam as costas do professor com movimentos delicados. Após um tempo, seus lábios selaram e ela passou carinhosamente o nariz no dele. Recompondo-se, ela olhou para o relógio da igreja, que estava atrás de Andrew, e tomou um susto com o horário.
– Se o padre souber que horas eu cheguei, ele vai querer me matar.
– É só você se confessar amanhã, que ele vai saber que a gente não fez nada que ele não aprovaria, a não ser chegar tarde... e beber um pouco.
– Dessa vez. – Ela disse com um sorrisinho malicioso e, ao mesmo tempo, envergonhada.
– Dessa vez. – Ele retribuiu o sorriso malicioso, a beijando novamente. Agora suas línguas se entrelaçavam urgentes, quentes e molhadas. A doçura da boca de ambos era um deleite de sensações, prazeres guardados onde apenas um beijo seria pouco para saciar seus desejos secretos. Antonella, sentindo para onde aquilo poderia os levar, falou entre os beijos:
– Eu tenho que ir.
– Agora? – Protestou Andrew, aos beijos.
– A-go-ra – Ela pontuou com beijos curtos.
– Tudo bem. – Disse ele, vencido.
– Você vem amanhã? – Perguntou ela, já subindo as escadarias.
– Venho!
– Que bom, porque eu tenho um presente para você. – Ela disse, se virando para ele, com os braços para trás.
– Presente? Que presente? – Ele perguntou surpreso e curioso.
– É uma surpresa.
– Você comprou um presente para mim?
– Não! Eu fiz um presente para você!
– Você fez um quadro para mim?
– É tão sem graça ser pintora, às vezes. – Ela disse bufando dramaticamente – Mas sim, eu fiz um quadro para você.
– É um retrato meu? – Gritou ele para Antonella, que já estava terminando de subir as escadas.
– O quê? Não!
– É uma pintura de nós dois?
– Não!
– Da minha mãe?
– Da sua mãe? – Ela perguntou, levantando os braços, sem entender. – Por que eu faria uma pintura da sua mãe? Eu nem conheço ela direito!
– Então me fala do que é, pelo menos.
– Não! Vai ter que esperar. – Ela gritou de volta.
– Ah, fala sério! – Ele subiu rapidamente as escadas, pulando alguns degraus. – Por que você não me mostra logo? – Perguntou ele, ao alcançar a italiana.
– Falta envernizar e você sabe que eu não posso levar ninguém para o meu quarto.
– Ninguém vai saber. Está todo mundo dormindo agora.
– Falta ainda alguns detalhes para finalizar.
– Por favor! Você sabe que eu sou curioso!
Antonella olhava para ele com cara de dúvida, sem saber o que fazer, mas acabou cedendo a vontade do namorado. A verdade era que ela estava doida para mostrar o quadro que tinha feito.
– Olha, eu vou deixar você entrar, mas nada de sexo, ok?
– Nada de sexo. Entendido!


– Nem mão boba! – Alertou ela, apontando o dedo para Andrew. – Vamos entrar na casa de Deus.
– Eu sei me controlar. – Ela olhou para ele cética. – Eu juro!
Antonella, então, estendeu o braço para Andrew, que agarrou a sua mão, e os dois entraram na igreja. Ela fechou a porta devagarinho, para não fazer barulho. Depois segurou novamente a mão do namorado e o levou para o fundo do templo mal iluminado por velas. Eles chegaram até um corredor cheio de salas fechadas, onde no final havia uma escada. Ela o liderou escadas acima até um outro corredor cheio de novas salas fechadas.
– Aqui são os dormitórios. – Ela sussurrou, puxando Andrew até uma das portas, localizada perto do fim do claustro. Finalmente, os dois soltaram as mãos, enquanto a italiana abria a porta. Andrew estava ansioso, pois era a primeira vez que iria conhecer a habitação em que a namorada passava boa parte do tempo. Para ele, quartos revelavam a parte íntima da personalidade de uma pessoa, por isso, adorava conhecê-los. Antonella abriu a porta do quarto e acendeu a luz, falando em voz baixa:
– Depois eu vou ter que arrumar. Não pode ficar nada bagunçado.


Como esperado, pelo fato de Antonella morar numa igreja, o quarto era pequeno e clean. As paredes eram brancas, assim como os lençóis da cama. Havia também um armário, um criado-mudo e uma mesa de madeira. No geral, o quarto era bem organizado e limpo, fora algumas roupas espalhadas em cima da cama e a mesa, que estava repleta de objetos. As paredes não eram adornadas com pinturas, ao contrário do que se pensaria de um quarto de uma pintora. A única coisa que tinha era um crucifixo pendurado acima da cama. A italiana, então, começou a juntar as roupas bagunçadas rapidamente, enquanto Andrew reparava em cada detalhe do cômodo.
Em cima do criado-mudo, estavam um abajur rosa, uma vela perfumada e uma bíblia com um terço dentro. Já na parede adjacente à cama, havia uma janela tapada por parte do cavalete de Antonella, que estava coberto por um pano branco. Ao lado, se encontravam uma luminária e alguns quadros virados, encostados na parede. Andrew ficou curioso para ver as pinturas, mas decidiu voltar sua atenção para a mesa, que ficava na parede de frente para a cama. Lá estava concentrada a maior parte da bagunça do quarto, ou seja, o lugar com mais informações a oferecer. A mesa tinha algumas manchas de tinta e em cima dela tinham várias tintas, pincéis, maquiagem, perfume, fotos, revistas, livros, cds (alguns dados por Andrew), discos, walkman, fone de ouvido e um rádio. Na cadeira, a toalha branca de Antonella pendurada. O inglês passou a mão pelos discos e viu as capas dos singles “Something”, dos The Beatles; “Bette Davis Eyes”, da Kim Carnes; e “American Pie”, do Don McLean.
– O que Something, Bette Davis Eyes e American Pie têm em comum? – Perguntou Andrew, intrigado com a seleção de músicas contrastantes de Antonella.
– São músicas boas. – Respondeu ela, terminando de ajeitar a cama. – “Something” é a música mais sexy dos Beatles.
– Você acha?
– Com certeza!
– Eu nunca parei para pensar nisso. Mas por que você só comprou os singles em vez dos discos completos?
– Pela mesma razão que o mundo gira: dinheiro. – Falou ela, abraçando-o por trás.
– E como você escuta esses discos? Eu não vi nenhuma vitrola por aqui.
– A Rose tem uma vitrola que, às vezes, ela me empresta. De qualquer maneira, eu prefiro ouvir música no walkman, porque não tem risco de reclamarem.
– Eles checam muito o seu quarto?
– Sim! A gente não pode trancar as portas, então não tem como impedir de verem.
– Pelo menos, seu quarto tem cortinas. – Respondeu ele olhando alguns cds italianos de Antonella que estavam em cima da mesa. – Seu quarto é muito interessante. Tem muita coisa para ver, apesar de ser pequeno.
– Eu vou arrumar isso depois. Posso te mostrar a pintura?
– Ah é, a pintura! Desculpa, eu me distraí com a sua linda bagunça.
– Tudo bem! Então eu vou acender a luminária e apagar as luzes para não chamar atenção, ok?
– Ok! – Respondeu Andrew, agora ansioso, se posicionando em frente ao cavalete de Antonella.
– Muito bem! Está pronto para ver? – Ela foi para a frente de Andrew, tapando o cavalete.
– Sim.
– Eu não vou falar o que é. Quero ver se você consegue descobrir.
– Ok!
– Você é bem monossilábico quando está nervoso, não?
– Sim.
– Estão faltando alguns detalhes, ok?
– Você falou.
– Ok! – Ela disse, tirando o pano de cima da pintura e saindo da frente logo em seguida. Andrew se aproximou, franzindo a testa, tentando entender do que se tratava. Poucos segundos depois, seus olhos se arregalaram e sua boca abriu um pouco, surpreso com a descoberta. Uma coisa que o inglês odiava fazer em público era chorar, pois para ele era sinal de fraqueza e muita vulnerabilidade. Quando criança, todo mundo da sua família o zoava por ser chorão, igual ao pai. Na adolescência, começou a ficar cada vez menos sentimental, algo que manteve em sua vida adulta. Entretanto, ao ver a pintura de Antonella e compreender do que se tratava, seus olhos começaram a lacrimejar. Ao mesmo tempo que ele queria se obrigar a não pensar naquilo, seu olhar não conseguia desviar da tela.
A italiana, por sua vez, não conseguia ver muito bem a reação de Andrew, já que ele estava de costas para ela. Tentando entender o que estava passando na cabeça do namorado, ela se posicionou ao lado dele e se deu conta de que seu queixo estava tremendo. Ela quis tocá-lo, mas se deteve, esperando que ele dissesse algo antes. Finalmente, as lágrimas não conseguiram ficar mais presas nos olhos do inglês e caíram torrencialmente. Ele mordeu os lábios, tentando controlar a emoção que o invadia. Minutos depois, Antonella tocou seu ombro, sem dizer nada. Ele imediatamente falou:
– É perfeito!
– A pintura tem relevo. Se quiser, pode tocar. – Ela disse, após um tempo.
Andrew passou o dedo pela pintura, admirando os detalhes.
– Desculpa se eu soei intrometida. – Falou ela, sem jeito. – Na verdade, não era a minha intenção fazer um presente para você. Eu só fiquei muito mexida com o seu conto e acabei descontando na tela. É uma subjetividade minha.
– Eu amei, de verdade. É muito bonito e, ao mesmo tempo, muito triste. Eu nunca recebi um presente tão bonito quanto este. Muito obrigado. – Ele entrelaçou a mão na dela fortemente, ainda olhando para a pintura. O quarto estaria completamente escuro, se não fosse a luz da luminária os iluminando e iluminando o quadro. A mão de Andrew fazia confidências que os lábios ainda não tinham coragem de dizer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário