segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Tudo ou nada

 Desde que o médico dissera aquelas palavras, elas continuaram ecoando na cabeça da advogada. Ela teria que voltar para o hospital em dois dias. Seus sinais vitais estavam cada dia mais fracos, tornando muito arriscado continuar em casa sem supervisão médica. Enquanto Andrew tomava banho, Jessica pensava que da próxima vez que estiver naquela casa, o parto já terá ocorrido e o destino de Mel já terá sido selado, e o dela mesmo, suas chances eram ainda menos promissoras do que  de sua caçula.

 A ruiva segurou o pingente do cordão que pertencera a sua irmã. Desde que Mel sobrevivesse, tudo ficaria bem. Andrew e Mel teriam um ao outro, Emma teria Bradley e sua irmãzinha, e ela reencontraria sua irmã mais velha. Como no Titanic... Jessica riu de sua própria morbidez e da lembrança da conversa com seu cunhado mais cedo.

Andrew saiu do banheiro e o quarto foi inundado com o cheiro do sabonete e desodorante do inglês.

"Ainda acordada?" Andrew perguntou ao ver a ruiva pensativa.

"Eu tenho demorado um pouquinho a pegar no sono."

"Quer que eu faça uma massagem?"

"Não, obrigada."

Andrew vestiu uma samba canção e deitou no seu lado da cama.

"Eu posso cantar uma música pra você dormir."

"Duvido." Jessica riu.

"Se fizer você dormir, eu canto."

"Não vou fazer você passar por isso."

"Tá dizendo que eu não canto bem?"

"Eu tô dizendo que talvez tenha tido um motivo de você não ter sido vocalista na banda com os seus irmãos."

"Ouch."

"Corta o drama. Você sabe que tem coisas piores do que ser um péssimo cantor."

"Péssimo?" Andrew arqueou a sobrancelha. 

"Sem ressentimentos, né?" Jessica deu um olhar travesso. 

"Vou deixar passar dessa vez." Andrew deu um beijo na sua mulher. 

Jessica deitou a cabeça em cima do peito do inglês, colocou a mão em cima da dele e acariciou sua palma com os dedos, de leve. 

"Eu te amo." Declarou, a ruiva. 

"Eu também te amo."

Eles ficaram assim por algum tempo, até a advogada decidir falar. 

"O doutor Fernandes disse que eu vou precisar internar depois de amanhã."

Andrew sentiu seu corpo tremer. Por que Jessica precisaria internar? Tinha alguma coisa errada com a sua mulher e a sua filha?

"Por quê?" 

"Ele não gostou do resultado dos meus exames da consulta de ontem. Disse que é a coisa mais prudente a fazer."

"E você vai ficar lá até quando?" 

"Até o parto."

Andrew segurou as lágrimas, ele precisava ser forte. 

"A Mel vai nascer. Eu tenho muita fé nisso. Ele disse que se precisar vai adiantar o parto e que ela tem muita chance porque já tem trinta semanas." Jessica subiu a mão e começou a alisar o braço do marido. "Eu não quero você triste."

"Eu não tô triste."

"Que bom. Não há motivos pra isso. Nós vamos ser pais de novo e eu tô muito feliz com isso. Eu sempre quis outro bebê."

"Eu sei."

"Você me fez uma mulher muito feliz." Jessica sorriu e apertou o queixo do marido. 

"Espero continuar te fazendo feliz."

"Tenho certeza que sim."

"Acho melhor irmos dormir agora."

"Tem razão. Amanhã você pode trazer a Emma com você depois da escola? Eu já falei com o Bradley e ele deu permissão."

"Claro."

"Obrigada. Então... boa noite."

"Boa noite."

Andrew apagou a luz e nenhum dos dois dormiu direito aquela noite. 

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