quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

Duas semanas

Joan foi com o filho mais novo, Gary, para a Inglaterra visitar seus filhos e seus netos. Cheryl implorou para ir junto, mas foi vetada por conta das aulas "cruciais" que perderia na escola. Na verdade, a menina sentiu que sua mãe só não deixou que fosse junto por intervenção do padrasto, que vinha falando no ouvido da mãe sobre o rendimento escolar da Geordie.

Por consequência, uma das coisas que mais temia aconteceu. A inglesa passaria duas semanas sozinha com o padrasto em casa.

JB era como uma bomba-relógio. Por vezes, inofenciovo e até amável, outras, um predador latente e sádico.

Os dois primeiros dias com o padrasto foram mais tranquilos do que esperava. Ele a deixou em paz, e não a incomodou, salvo, para chamá-la para comer. Eles chegaram até a assistir o jornal da noite juntos, civilizadamente, cada um num sofá separado, comentando as notícias de tempos em tempos.

O clima começou a ficar ruim entre os dois quando a modelo disse que dormiria na casa de Kimberley nos próximos dois dias.

"Não gosto de você dormindo fora o tempo todo. O que os pais da Kimberley não vão pensar? Devem achar que você é maltratada em casa e que por isso não gosta de ficar aqui." Jean balançou a cabeça. "Não gosto nada nada disso."

"Eles não pensam em nada disso. Eles sabem que as meninas da nossa idade gostam de dormir nas casas umas das outras. É normal. Você nunca se importou com isso antes. Por que tá se importando agora?" Cheryl perguntou num tom desafiador.

"E quem me garante que você tá indo dormir mesmo na casa da Kimberley? Quem me garante que você não tá indo passar a noite com o seu namorado?"

Cheryl queria dizer que se ela quissse passar a noite com o namorado, ele não tinha nada a ver com isso, mas quis evitar uma discussão ainda maior.

"Se você não acredita na minha palavra, liga pra mãe da Kimberley."

Jean soltou o ar que estava prendendo com força, tomado pela raiva. "Não precisa. Eu acredito em você."

"Good." Cheryl se virou e foi para o seu quarto.

Os dias na casa da Kimberley foram bons e calmos. Se pudesse, a Geordie estenderia sua estada para um ou dois dias a mais, porém, não quis testar a passividade e a paciência do padrasto.

A menina não voltou para a casa logo após a escola, mas passou a tarde com o Edward.

Ao entrar pela porta da sala, a Geordie achou a casa silênciosa demais. Àquela altura, seu padrasto já devia ter voltado do trabalho, e geralmente, ele deixava a televisão ligada.

Cheryl passou pelo corredor e foi para o seu quarto, dando de cara com JB sentado na cama, com uma cara desolada, e segurando sua caixa de anticoncepcional.

"Boa noite." A modelo falou, como se não fosse estranho o fato de ter encontrado o padrasto na sua cama.

"Há quanto tempo? Diz pra mim há quanto tempo você tem tomado isso?" Jean se levantou e amassou a caixa do anticoncepcional com a mão. "Me diz!" Ele gritou cheio de ódio. "Você tem dado por aí? Eu sabia! Eu sabia! Eu tentava me convencer que não. Que nada acontecia nessas viagens, nessas noites foras. Mas não... você não é mais a minha garotinha. Eu fui um idiota. Você já é uma mulher, e uma que tem dado pra todo mundo!" JB começou a revirar o quarto da menina, bagunçando todos os seus objetos, bem como as suas roupas. "Cadê as camisinhas? Devem ter várias por aqui. Onde tão?”

Cheryl ficou em estado de choque olhando a cena que Jean armara, vendo as suas coisas voando pelo quarto, sem conseguir se mexer. 

"Eu sei que tem alguma aqui. Eu sei. Você não me engana mais." Ele continuou procurando pelo infame pacote de camisinha, abrindo todas as gavetas e tirando tudo o que tinha dentro delas. "Cadê a sua mochila? Me trás ela aqui."

Cheryl continuou olhando, sem reação. 

“Agora!” Ele gritou mais alto. 

Desperta do transe que estava, a britânica pegou a mochila e levou para o padrasto. 

JB começou a tirar os itens de dentro, pegando um maço de cigarro no processo. "Sempre carregando essa m***a!" Ele tacou o maço na parede e fungou o ar perto da menina. "Sabia! Ta cheirando a tabaco."

Jean jogou a mochila, agora vazia, no chão e sentou na cama, segurando a cabeça com as mãos, e começou a chorar. 

"É pra cólica." Cheryl falou baixo.

Ele se virou para a menina confuso. "O quê?"

"O anticoncepcional… não era pra não engravidar. Era pra ajudar nas cólicas. Eu tinha cólicas muito forte antes de começar a tomar anticoncepcional, e a ginecologista receitou ele pra mim."

"Então você não tá fazendo sexo?"

Cheryl balançou a cabeça em negativa. "Não."

"Que alívio!" Jean sorriu. "Nossa, que alívio Cheryl!" Ele se levantou e foi até a menina. "Você não sabe o peso que tirou do meu coração!" JB passou a mão pelo cabelo da inglesa. "A ideia de um homem qualquer tocando em você é repugnante. Tenho ânsia só de pensar."

"Isso não deveria ser da sua conta. Você não deveria ligar pra isso."

"Eu ligo pra tudo relacionado a você."

Cheryl engoliu o choro. "Entendi." Ela foi para a sala e sentou no braço do sofá com os braços cruzados, secando uma lágrima teimosa que caiu.

JB a seguiu até a sala. "Eu sei que você tá chateada. Pode deixar que eu arrumo seu quarto todinho depois." Ele beijou a sua cabeça. "Vou preparar o nosso jantar."

Cheryl ficou alguns minutos parada, olhando a televisão, sem prestar atenção. 

Depois, ela foi para o quarto, fechou a porta, pegou um cigarro de maconha, acendeu, jogou as coisas espalhadas da cama no chão, encostou a cabeça no travesseiro e levou o cigarro aos lábios. 

Mais tarde, Jean foi para o quarto da Geordie chamá-la para jantar. O cheiro de maconha estava forte, mas ele pareceu não ligar. 

“O jantar tá pronto.” JB avisou da porta. 

Cheryl apagou o cigarro e seguiu o padrasto até a mesa de jantar. 

Os dois se serviram e começaram a comer sem trocarem nenhuma palavra. 

“Eu vou dormir na Nicola amanhã.” A inglesa quebrou o silêncio. 

“É vingança?” Jean perguntou, cortando a carne. 

“Entenda como quiser.”

“Cheryl!” JB deu um soco na mesa. 

“O que você fez… tá errado. Você não se dá conta disso? Minha vida sexual it’s none of your business! E se você tivesse encontrado uma camisinha nas minhas coisas? O que você faria?”

“Você me disse que você não faz sexo.” As veias da testa de Jean saltaram para fora. “Você mentiu?”

“Não menti… mas isso não deveria ser da sua conta! Isso diz respeito à mim, aos meus pais, e no máximo, à minha ginecologista! Não a você.”

“Você é minha enteada.”

“Exato! Por isso mesmo certos boundaries deveriam ser respeitados.”

“Você tá estressada. Conversamos amanhã.”

“Amanhã eu vou tá na Nicola, já disse.”

“Depois de amanhã então.”

“Ainda vou ver quantos dias eu vou ficar lá. Boa noite.” Cheryl pegou o prato de comida, e saiu da mesa. 

Na hora de dormir, Cheryl levou horas arrumando a bagunça que o padrasto tinha feito. Quando terminou de arrumar, ela encarou a porta do quarto pensativa, e então, trancou. 

A inglesa sabia que não conseguiria dormir aquela noite, e ligou para o celular do Edward numa tentativa de distração. 

“Hey, are you in bed already?” Cheryl perguntou. 

“Not yet. How are you?”

A Geordie soltou um suspiro. “I’m ok.”

“Are you really?” Edward estranhou a entonação da garota. 

“Yeah. Just missing you.”

“I miss you too.”

“Can I ask you something?”

“Of course. What?”

“Can you play something for us?”

“Right now?”

“Yeah. I could use a beautiful melody right now.”

“Are you really ok?” Edward perguntou preocupado. 

“Forget me request. Good night, Edward.”

“Cheryl!” Edward tentou chamá-la, mas ela já tinha desligado. 

No dia seguinte, Jean já estava na cozinha preparando o café, quando a Geordie foi para lá. 

“Você dorme de porta trancada agora?” Jean questionou, virando o omelete na frigideira. 

“Como é que você sabe? Tentou entrar no meu quarto enquanto eu dormia?”

“Eu queria ver se você tinha uma tesoura.”

“Tem uma bem aqui na cozinha.”

“Se você passar mal e desmaiar? Como faz com a sua porta trancada?” Jean colocou o omelete num prato e entregou para a menina. 

“Por mim, você pode até me deixar morrer lá dentro.” Cheryl olhou para o prato de comida com desprezo. “Não tô com fome. Até.” Ela colocou o prato em cima da pia. Depois foi para a sala, pegou sua mochila, que estava em cima do sofá, seu maço de cigarro e a chave, de cima da mesa, e foi embora.

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