Fila do supermercado

Jean decidiu que sua enteada e ele passariam o recesso de carnaval em casa, apenas os dois, apesar de seus irmãos terem os convidado para passarem com eles em Cabo Frio. 

Após o surto por conta do anticoncepcional encontrado nas coisas da Geordie, Jean estava mais tranquilo e agindo quase que normal com a menina, exceto o fato, que estava obrigando-a passar quase o feriado inteiro só com ele, dando-lhe permissão, apenas, para sair com o namorado na terça de carnaval. 

JB chamou a menina para tomar café da manhã fora, para depois irem ao supermercado e comprarem algumas coisas para passarem o recesso. 

Os dois evitavam falar sobre o incidente do anticoncepcional, e tentavam se tratar como se nada tivesse acontecido, apesar da Geordie continuar trancando a porta do seu quarto todas as noites ao dormir. 

Jean odiava o novo hábito da menina, mas resolveu não incitar mais sua fúria, comentando e se mostrando incomodado pela porta trancada. Ele queria que os próximos dias fossem sobre eles se aproximando e estreitando laços. Talvez a inglesa até viesse a gostar mais dele. 

JB achou Cheryl uma gracinha, vestida com uma camisa grande demais para a sua pequena estatura, do time Saint Germain, que ia quase até seu joelho, um boné cinza, e um chinelo azul, que era tão pequeno, que mais parecia pertencer a uma criança de oito anos do que a uma adolescente. 

Durante o café da manhã, Jean encheu a Geordie de histórias de seus carnavais passados. Cheryl fingiu interesse e tentou fazer os comentários certos nos momentos certos, apesar de estar morrendo de tédio. Ela não via a hora de sua mãe e seu irmão voltarem para a casa para se ver livre da companhia constante do padrasto. 

Após o café, eles foram ao mercado, que ficava não muito distante dali. 

“Eu vou fazer vários pratos que você vai amar.” Jean falou para a menina, enquanto colocava vários itens das prateleiras do mercado no carrinho. 

Cheryl assentiu, sem muita animação. 

“Não faz essa carinha.” Ele apertou seu queixo. “Parece que não tá feliz de tá comigo.” Jean fez cara de ressentido. 

“Não é isso. Só tô com saudades da minha mãe.”

“Eu também tô com saudades, mas ela vai tá de volta logo logo. E pelo menos a gente tem um ao outro pra fazer companhia.” JB puxou a Geordie e a apertou contra o seu corpo. “Não é?” Ele fitou a menina. 

“Uhum.” Cheryl murmurou e aguardou que o padrasto a soltasse. 

“Acho que já peguei tudo. Quer alguma coisa ou podemos ir pra fila?”

“Podemos ir pra fila.”

E assim, os dois foram para a fila, que estava um pouco grande. 

Cheryl se apoiou no carrinho de compras, e começou a olhar alguns modelos de vestidos no celular. Jean apoiou o queixo na cabeça da Geordie e começou a opinar sobre os vestidos que ela estava vendo. Os comentários até que estavam engraçados, e a inglesa se viu um pouco mais relaxada na presença do padrasto. 

Tom estava com a Camila pegando itens para o churrasco que faria com a família no carnaval. Ao irem para o caixa pagar, Camila avistou Cheryl e um homem em uma das filas. Ele estava com o queixo apoiado na cabeça da menina, comentando alguma coisa, enquanto olhavam para o celular nas mãos da garota.

Camila olhou para o Tom, e ele parecia não ter visto a inglesa ainda. A modelo se perguntou se devia ou não ir atrás de Cheryl para testar a reação do namorado com a ex. 

Sem pensar muito, Camila foi em direção à fila da Geordie, e colocou o carrinho atrás dos dois.

“Cheryl?” Camila chamou a menina, e Tom arregalou os olhos, sem saber o que fazer. 

Jean e Cheryl olharam para trás. “Camila! Oi!” A inglesa abriu um sorriso, e logo o desfez ao ver Tom ao lado da modelo maior. 

“Tom? Quanto tempo!” Jean sorriu e estendeu a mão para o professor. 

“Verdade.” Tom apertou a mão do padrasto da ex à contragosto. 

“Vocês se conhecem?” Camila perguntou, fazendo-se de perdida. 

“Sim. Ele e a minha enteada já foram namorados.” Jean explicou, colocando a mão no ombro da inglesa. “E você é?”

“Camila.” A modelo de vinte e dois anos respondeu. 

“Minha namorada.” Tom complementou. 

O professor estava fervendo de raiva com a forma possessiva que Jean estava segurando a Geordie. A menina pareceu acanhada, olhando para baixo, e girando a pulseira no pulso.

“Você é um homem de muito bom gosto.” Jean elogiou de forma cortês. 

“Eu sei.” Tom respondeu sério. 

“Que mundo pequeno!” Camila falou alheia ao clima hostil que tinha se formado. “Eu e Cheryl trabalhamos juntas naquela campanha da Levis que eu te falei.” Camila falou para Tom. “Não sabia que ela era sua ex.” Ela mentiu. 

“Que grande coincidência.” Jean falou sorridente. “Já vi que você tem uma quedinha por modelos.” Ele brincou. 

“Pois é. Achou que eu tenho um tipo.” Tom falou sem tirar os olhos da Geordie. 

Camila deu um tapinha no braço do namorado. “Amor!” Ela se virou para a Cheryl. “Você recebeu as fotos?”

“Ainda não.” A inglesa respondeu. 

“Eu recebi as minhas. Eles enviaram por e-mail. Você deve ter recebido também. Eles fizeram fotos com várias modelos, mas só algumas que realmente vão aparecer na campanha. Eu vou ser uma delas!” Camila bateu palmas animada. “E é uma campanha internacional! Minhas fotos vão tá nas lojas do mundo inteiro! E no site! Imagina isso, ir para os Estados Unidos e ver um pôster meu numa loja Levis… que máximo!” Camila falou super entusiasmada. 

Tom odiava quando Camila jogava na cara de outras mulheres suas conquistas. Ele achava tão antifeminista. 

“Parabéns.” Cheryl sorriu, mostrando suas covinhas. “Isso realmente é uma coisa pra se orgulhar.”

O professor de francês se viu encarando e sorrindo de volta ao sinal daquelas covinhas. 

“Meus parabéns também. Você é muito linda e é claro que qualquer marca vai querer você estampada nos catálogos deles.” JB cumprimentou Camila. 

“Obrigada.” A modelo mais velha sorriu de orelha a orelha. “Ouviu, mô?” Ela cutucou Tom com o cotovelo. 

“Ouvi e concordo.”

“Ele é o meu maior fã.” Camila falou para Cheryl e o padrasto, e puxou a nuca do professor para um selinho. 

Cheryl desviou o olhar, enquanto Jean sorriu, observando o casal. 

Tom se afastou do beijo, vermelho de vergonha. 

“Eu tô com as minhas fotos aqui no celular. Querem ver?” Camila perguntou animada. 

“Claro. Fiquei até curioso.” Jean respondeu. 

Camila entregou o celular para Jean, e ele começou a passar pelas fotos, com Cheryl olhando do seu lado. “Essas fotos tão realmente muito boas. Você ficou bonita até com as calças feias!” O padrasto da Geordie comentou. 

Camila gargalhou. “Obrigada.”

“Verdade. As fotos ficaram muito boas.” Cheryl disse educadamente. 

“Obrigada. Quem sabe na próxima você também consegue, Cheryl.” Camila falou tentando soar simpática. 

“Com certeza. A minha enteada, sendo só uma adolescente, já recebe vários convites. Imagina quando for mais velha! Mas também, olha só esse rostinho.” Jean segurou o queixo da enteada. 

“Para.” Cheryl tirou a mão do padrasto do seu rosto, o fazendo rir. 

“Eu sou um pouco coruja, como deu pra ver.” JB se justificou. 

“É.” Camila falou, sem o mesmo bom-humor de antes. 

“Eu soube que o pessoal da sua turma tá combinando de fazer algo hoje à noite. Você deveria ir também, Cheryl.” Tom falou com a menina, numa tentativa de livrá-la um pouco da companhia do padrasto. 

“Posso?” A Geordie virou o rosto para cima para olhar o padrasto. 

“Claro que pode.” Jean concordou à contragosto. 

“Depois me conta como foi.” Tom falou para Cheryl, e esta, assentiu. 

Jean olhou para o lado e viu que já estava chegando a vez deles de passarem com as compras. “Nossa vez tá chegando. A gente se vê por aí.” Ele falou para o casal de namorados e apertou mais uma vez a mão dos dois. 

“Tchau.” Cheryl acenou e foi ajudar o padrasto a colocar as compras no caixa. 

Tom observou a Geordie disfarçadamente, até ela deixar o mercado com o padrasto. 

Quando terminaram de passar as compras, Tom e Camila foram empurrando o carrinho até onde o carro estava estacionado. 

“Então aquela menina é a sua ex?” Camila perguntou. 

“É.”

“Ela é bem nova…” Camila provocou. 

“É sim.”

“Não sabia que meninas cheirando a leite faziam seu tipo.”

Tom parou de andar com o carrinho e encarou a namorada com raiva. “Onde você quer chegar?”

“Nada.” Ela fez uma cara de inocente. “Só tô meio surpresa que você se interessou por uma adolescente que sai pra fazer compras com o padrasto.”

“Não só me interessei, como me apaixonei. Satisfeita? Mas não fique pensando que eu saí pegando e namorando várias novinhas adolescentes. Ela foi a única, e eu não me orgulho disso.”

“Calma, Tom! Ficou estressado por quê? Só falei que eu fiquei surpresa que sua ex é uma adolescentezinha miudinha. Não soa como você.”

“Acho que você ainda não me conhece muito bem.” O professor respondeu seco. 

“Ela é sua aluna?” Camila mordeu o lábio inferior, tentando conter a curiosidade.

“É. E novamente, eu não saio com alunas. Só foi ela.”

“Ela te seduziu?”

“Não… quer dizer, possivelmente. Ela teve uma fase que gostava de testar seu poder sobre as pessoas, então não duvido que também tenha feito isso comigo. Agora chega de falar nela.”

“Tá bom.”

Tom notou que Camila estava entristecida, e passou o braço por sua cintura, puxando-a para si. “Não fica chateada. Ela é passado. Agora eu só tenho olhos pra você.”

Camila sorriu. “E eu pra você.”