domingo, 10 de março de 2024

Convite de aniversário

Thiago bateu na porta do escritório da sua chefe e entrou. 

“Licença chefinha. Posso falar com a senhora um instante?” Thiago perguntou segurando uma pilha de papéis debaixo do braço. 

“Pode.” Jessica tirou o óculos de grau e fitou o garoto. Se fosse qualquer outro funcionário, Jessica falaria para ser breve e faria uma cara de desinteressada, mas não o menino. Ela conhecia seus pais e admirava o garoto por se submeter àquele trabalho, sendo ele tão rico quanto ela. 

“Eu vim trazer um convite.” Thiago se aproximou. 

“Convite? Você tá fazendo aniversário?” A ruiva perguntou com um sorriso no rosto. 

“Não. Você tá.” Thiago entregou o convite à ruiva. 

“Como?” Jessica pegou o convite da mão do menino e leu o conteúdo. “Venha comemorar o aniversário da excelentíssima Jessica Chastain com dj, open food e open bar, no pub in the zone, Copacabana, 22 de março às 19h.” A ruiva olhou para o garoto, confusa. “Quem é o responsável por isso?”

“Bom, eu tive a ideia e passei adiante. A galera se animou e fomos vendo onde seria legal fazer. Daí foi só pedir a benção pro George, porque se ele fosse contra babaria tudo, mas ele amou a ideia e até disse pra gente mandar a conta pra ele.” Thiago percebeu a expressão hesitante da ruiva. “Não precisa se preocupar. Não vai ser bem uma festa. É mais um happy hour com os funcionários daqui em comemoração ao seu aniversário. A gente vai pra lá direto do trabalho.”

“Eu não tô preocupada.” A advogada mentiu. “Só um pouco supresa em como você conseguiu convencer essas pessoas que me odeiam a comemorar o meu aniversário.”

“Elas não te odeiam. Muitos te admiram, sabia? Fora que ninguém dispensa comida e bebida grátis.”

Jessica riu. “Tudo bem. Agora, vem aqui e me dá um abraço.” Ela se levantou e abriu os braços para o garoto. 

Thiago foi ao seu encontro e envolveu sua cintura. 

“Obrigada pela festa. Eu sei que deve ter dado trabalho. Você é um menino muito especial.” 

Thiago fechou os olhos, respirando a essência da ruiva, e apertando-a de leve nos braços. Ele tinha tido um sonho erótico com a ruiva na noite anterior, assim como em outras noites, e precisou se controlar para não roçar sua pélvis na advogada. 

“Não foi nada.” Ele falou no seu pescoço. 

Jessica soltou o garoto e fitou seu rosto. “Desculpa a intromissão, mas você tem namorada?”

Thiago engoliu em seco. Será que seu sonho estava se realizando? “Não.”

“Você e a minha enteada se dariam muito bem. Você pode puxar assunto com ela na escola.”

“Tudo bem.”

“Obrigada mesmo por isso.” Jessica pegou o convite da mesa e deu mais uma olhada.

“Não foi nada. Só não queria que seu aniversário passasse em branco aqui pra gente.”

A ruiva balançou a cabeça e sorriu. “Seus pais tem muita sorte em ter você como filho. Você é um menino de ouro.”

“Obrigado.” Thiago respondeu sem graça. “É melhor eu voltar ao trabalho. Tenho que terminar de redigir esse processo.” O menino pegou de volta os papéis que tinha deixado na mesa da ruiva. 

“Tá bom. Vai lá.”

Jessica voltou a se sentar e Thiago abriu a porta para sair. 

“Me acompanha no fórum amanhã? Você pode me ser útil lá.”

“Claro.” Thiago sorriu e deixou a sala da chefe. 

Jessica deu mais uma olhada no convite e foi até a sala do George. 

“Pode me explicar isso?” Jessica colocou o convite na mesa de George. 

“Um convite pro seu aniversário. Mas se você continuar com essa atitude talvez eu te desconvide.” George falou debochado. 

“É sério, George! Como você foi deixar isso acontecer?”

“Não me olha assim. Isso tudo é coisa daquele garoto riquinho.”

“Mas era pra você impedir! Só que ao invés disso você não só concordou, mas financiou a coisa toda.”

“Eu achei uma boa ideia, o que eu posso fazer? Se achou ruim, reclama com o garoto, não comigo.”

“É claro que eu não vou reclamar com o Thiago. Ele fez com boa intenção.”

“E eu com má?” George riu. 

“Você me conhece… sabe que eu não gosto dessas coisas. E mais, todo mundo dessa empresa me detesta e mais queriam me ver morta do que comemorando outro ano de vida.”

“Eles te detestam, mas não querem te ver morta. Talvez só alguns.” Ele brincou. “E mesmo não gostando de você, eles tem muito a agradecer, porque graças a você que eles tem esse emprego, que paga bem, dá direito a um ótimo plano de saúde e eleva o currículo de qualquer um. Já que essa empresa só existe porque você foi louca o suficiente em querer abrir a própria empresa de advocacia sem praticamente nenhuma experiência no ramo.”

“E você mais louco ainda em aceitar a fazer parte.”

“Exato!” George riu. “Eu acho legal a gente fazer algo bacana e descontraído no seu aniversário. Ainda mais que eu imagino que no seu aniversário mesmo você deva passar só com o seu marido e os seus filhos.”

“Na verdade minha madrinha vai fazer um almoço no dia com os familiares e alguns amigos próximos. Eu já tava pra chamar você, sua mãe e a florzinha.”

“Obrigado. Minha mãe vai ficar muito contente com o convite. Acho que não existe alguém mais sua fã que ela. A Rose nem se fala. Tá sempre perguntando quando vai ver a tia Jessie de novo.”

“Eu também adoro as duas. Nem parecem que são suas parentes.” Jessica brincou. “Se você quiser levar mais alguém, fica a seu critério. Você não tava saindo com aquela advogada daquela empresa em Botafogo? Tiffany, não é?”

“A gente tem saído, mas por enquanto não é nada sério. Pra eu apresentar uma mulher pra minha mãe e pra minha filha tem que ser uma realmente muito importante pra mim.”

“Isso é bom, especialmente pra não confundir a cabeça da florzinha."

“Exatamente. Em falar nisso, você podia ir lá em casa com o seu marido e seus filhos passar um sábado com a gente. Minha mãe depois que meu pai morreu tem ficado muito sozinha, só tomando conta da Rose. E como quando vocês tão juntas vocês não param de falar, vai ser bom pra ela.”

“Claro, claro. Só me dizer qual sábado.”

“Você acha que seu marido vai aceitar? Ele não é muito meu fã.”

“Se ele não quiser ir pra sua casa, vocês vêm pra minha. Talvez a logística seja até melhor porque sair com quatro crianças e duas adolescentes não é nada fácil.”

“Consigo imaginar. E você tá melhor?”

“Como assim melhor?” Jessica perguntou confusa. 

“Acho que todo mundo da empresa conseguiu perceber seu péssimo humor. Você fez três pessoas chorar no espaço de uma semana. Isso das que eu fiquei sabendo." Ele também tinha percebido que a ruiva só estava indo com roupas de manga comprida para o trabalho, mas nunca mencionaria isso a ela. Os dois sabiam que George sabia, porém nunca falavam sobre o assunto. "É aquele problema ainda?”

“Sim, mas já tô melhor. Eu orei muito e entreguei pra Deus. Já decidi que dando tudo certo com o bebê, ele fica com o Bradley pra evitar problemas no meu casamento e no dele. Depois quem sabe, daqui a uns dois, três, quatro anos, eu e o Bradley consigamos dividir a guarda.”

“Você tem realmente medo de se divorciar de novo.” George constatou. 

“Mais que medo, eu tenho pavor. O que eu puder fazer pra salvar meu casamento e pra não afastar meus filhos do pai deles, eu vou fazer.”

“Uma sugestão pra você: Cárcere privado.” George brincou. 

“Não sei porque ainda perco tempo contando as coisas pra você.” Jessica pegou uma fini que estava na mesa do outro advogado e colocou na boca. “Tchau.” Ela disse mastigando a bala. 

“Tchau.” George riu e observou a ruiva sair.

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