quinta-feira, 31 de agosto de 2023

After-party

Cheryl e Nadine estavam deitadas na cama, já tomadas banho e de pijama. Nadine apagou a última luz acesa, a da mesa de cabeceira, para poderem dormir.

Cheryl virou a cabeça para a parede, depois trocou a posição do travesseiro, mudou a posição do travesseiro de novo, virou o travesseiro, girou o travesseiro, até Nadine não aguentar mais. 

"Cheryl!" Nadine segurou o braço da menina quando viu que ela ia reposicionar o travesseiro de novo.

"Hã?" Cheryl perguntou como se tivesse sido despertada de volta à realidade.

"Qual é o problema com o seu travesseiro?" Nadine perguntou.

"Não sei... não tá encaixando minha cabeça."

"E ele se encaixava antes?"

Cheryl franziu o cenho, pensativa. "Não sei."

Nadine se encheu de compadecimento de novo.

"Você passou por uma noite muito difícil. Quer falar sobre isso?" Nadine acariciou o braço da inglesa, encorajando-a desabafar.

"Ele não me estuprou. Ele parou antes." Cheryl sentiu a necessidade de esclarecer. 

"Cheryl, eu encontrei você praticamente nua no banheiro." Nadine falou cética.

"Eu sei. How embarrassing." Cheryl abaixou o rosto, escondendo no travesseiro. 

"Você não tem que se envergonhar. O Vincent que tem. E muito."

"Eu sei que o que ele fez foi muito errado, mas acho que ele não fez por mal. Ele tava muito bêbado." 

"Um bêbado que comete um homicídio continua sendo culpado pela morte da vítima. Álcool não é desculpa e muito menos um álibi."

"I guess." A britânica virou de barriga pra cima e encarou o teto. "Ele pareceu muito arrependido depois, though."

"Acho que sim."

"Ele chegou a chorar depois que viu o que fez. Ele me ama."

Nadine teve a impressão que a Geordie estava falando aquelas coisas mais para si mesma do que para ela. Como se tentasse se convencer de que Vincent não tinha feito nada demais. 

"Quer tentar dormir um pouquinho?" 

"Tá bom." Cheryl se virou de frente para a amiga "Obrigada por tudo que você fez por mim hoje."

"Não precisa agradecer."

"Preciso sim. Você e o João foram incríveis."

"Da nada, querida." 

"Boa noite." Cheryl fechou os olhos. 

"Boa noite." Nadine também fechou os dela.

Nadine abriu os olhos rapidamente no meio da noite e ouviu Cheryl chorando baixo, virada para a parede. 

"Cheryl? Você tá bem?" Nadine perguntou preocupada. 

"Aye, pet. Pode voltar a dormir." Cheryl secou as lágrimas. 

"Fala comigo." Nadine tocou seu braço. "Pode fazer você se sentir melhor."

Cheryl se virou para amiga e não conseguiu mais conter as emoções. 

"Foi horrível, Nadine. Ele parecia uma pessoa completamente diferente." O rosto da inglesa estava vermelho e cheio de lágrimas, como se já estivesse chorando por muito tempo. 

Nadine puxou a Geordie para um abraço. A loira não sabia o que dizer para acalmá-la. Uma pena que o Vincent é um imbecil e essa m*** aconteceu com você, não parecia ser a melhor coisa, então ela se ateve ao simples clichê. "Você tá segura agora."

"Eu não entendo. Meu melhor amigo. Não entendo." Cheryl chorou mais.

Nadine não respondeu. Ela ficou fazendo carinho no braço da inglesa até ela se acalmar. 

Estava quase amanhecendo quando Cheryl finalmente pegou no sono. 

No dia seguinte, pela manhã, Vincent tocou a campainha. 

"Olá! A Cheryl tá no quarto dela. Pode ir lá." Joan disse sorridente ao menino. 

"Obrigado. Licença." Vincent entrou na casa. 

"Se tivesse chegado uns minutos antes teria encontrado a Nadine. Ela tava aqui agora há pouco." Joan acrescentou. 

"Pena que não vim mais cedo." Vincent respondeu por educação e bateu na porta do quarto da ex-modelo. 

Cheryl abriu a porta e arregalou os olhos quando viu o amigo. 

"Desculpa aparecer assim, mas eu precisava falar com você." Vincent explicou nervoso. 

"Eu tô cansada, Vincent." Cheryl falou segurando a porta. 

Vincent conseguiu ver o cansaço estampado no rosto da Geordie. 

"Não vai levar muito tempo. Eu juro."

A britânica estendeu a porta e foi para o canto do quarto. Vincent encostou a porta e ficou a metros de distância da menina. 

Cheryl estava tão linda, mesmo cansada. O cabelo solto, bagunçado na medida certa. Usava uma camisa branca estampada, grande demais para sua pequena estatura, e um short jeans. 

"Eu vim te pedir perdão." Vincent iniciou. "O que eu fiz foi imperdoável. Eu tô com nojo de mim mesmo pelo o que eu fiz com você... Eu odeio que eu machuquei a pessoa que eu menos queria fazer mal na vida."

Cheryl ouviu o amigo em silêncio, tentando assimilar suas palavras. 

"Eu faço o que for preciso pra ganhar o seu perdão e a sua confiança de novo." Vincent se aproximou e tentou segurar as mãos da menina, mas ela tirou de imediato e deu um passo para trás. 

"Você tá com medo de mim?" Vincent perguntou com lágrimas nos olhos. 

"Não. É que...tá tão recente." A inglesa engoliu em seco. 

"Eu posso me ajoelhar." O garoto se ajoelhou. "Aqui, pronto. Me perdoa, Cheryl! Eu bebi demais. Usei cocaína. Não tava em pleno controle de mim." Vincent falou em meio a lágrimas. 

O coração da Geordie amoleceu. Se Vincent fosse uma pessoa ruim, ele não se ajoelharia e imploraria pelo seu perdão, certo? 

"Você sabe que eu não gosto quando você usa cocaína."

"Eu sei. Eu não vou usar mais. Eu prometo." 

Cheryl se aproximou. "Levanta daí." Ela segurou os braços de Vincent e tentou o puxar para cima. "Você pesa quanto? Quinhentas toneladas?" A menina tentou melhorar o clima entre os dois. 

"Quase isso." Vincent respondeu aliviado com a tentativa da amiga e ficou de pé. 

Os dois se entreolharam por um instante. 

"Eu vou me denunciar." Vincent revelou. 

"O quê?"

"Eu tava lendo sobre isso. Eu não vou ser preso porque sou menor de idade. Mas devo cumprir uns serviços comunitários e ter que pagar uma fiança."

"Você tá louco? Vai pra sua ficha."

"Eu sei. Mas eu mereço ter a ficha suja."

"É uma coisa muito grave de se ter na ficha. Vai te atrapalhar em várias coisas." 

"Eu só quero pagar pelo o que eu fiz. Pra eu sentir que te dei um pouco de justiça."

"Eu não quero justiça."

"Eu quero."

"Se você fizer isso, eles vão me chamar pra depor, o que eu não quero, e as nossas famílias vão acabar sabendo o que aconteceu. Você acha que eles deixariam a gente ser amigo quando souberem o que aconteceu?" 

"Você ainda quer ser minha amiga?" Vincent perguntou surpreso. 

A inglesa assentiu com a cabeça. "Eu quero fingir que ontem não existiu."

Vincent abriu um meio sorriso de felicidade e incredulidade. "Obrigado. De verdade, muito obrigado." Ele se aproximou para abraçá-la, mas a menina se afastou. 

"Desculpa. Muito recente." Cheryl falou sem graça. 

"Tudo bem. Eu entendo. Te vejo na escola?" 

"Sure."

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