sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

(Nice Dream)


Asa chegou em casa correndo e subiu diretamente para o seu quarto, sem falar direito com ninguém. Ele não conseguia parar de sorrir. Ele até tentou fincar seus lábios para baixo, mas rapidamente a tentativa de fazer uma cara triste se desfez para abrir lugar, mais uma vez, ao sorriso que não queria sair do seu rosto. Tentando liberar sua energia, comemorou o ocorrido mexendo os braços e dando um curto chute de felicidade. Vida longa ao cd The Bends do Radiohead, também conhecido como o melhor cd para amassos. Se ele tinha gostado do beijo que eles haviam dado na escola, imagina aquele dado no quarto dela, abençoado pelos pósteres colados na parede, inebriado pelo cheiro natural dela, naquele habitat que ele acreditava ter sido frequentado por poucos. E nossa, quanto tempo durou aquilo? O álbum tinha tocado praticamente todo. Ele sorriu de novo. O gosto do beijo continuava vívido na mente dele. Só de se lembrar do nervosismo que estava sentindo antes de ir para a casa dela, de fazer aquela proposta, da dúvida se deveria ou não levar o cd. Abençoado seja The Bends do Radiohead, melhor cd para amassos! As línguas deles pareciam que se movimentavam de acordo com o ritmo das músicas. Os lábios dela eram tão macios. Ela cheirava tão bem. Ela era tão bonita, tão legal, tão alternativa, tão abusada, tão criançona e, ao mesmo tempo, tão mulher. Ele, certamente poderia beijar ela por horas e horas.
"E ela não parou...", pensou Asa, sorrindo.
Quando perguntado sobre o sabor da tartelete, o garoto respondeu "duas de limões" e, sem perder tempo, abocanhou novamente a boca da garota, sem dar tempo dela dizer que já era o suficiente. Mas quando eles foram chamados para comer a tartelete, aí não tinha jeito. Bem, pelo menos, foi o que ele havia pensado, até ele subir de novo no quarto dela e não resistir. Foi direto para a cama da garota e voltou ao trabalho! Ela não negou, pelo contrário, aceitou bem. 


De repente, Asa se lembrou da parte em que o dente dos dois bateram e ele pediu, ao trocar de lado, desculpas. Ela só abriu um pequeno sorriso para ele, interrompido, rapidamente, pelo beijo que continuava. Que sorriso! E o nariz dela ficava tão bonito depois do beijo, tão vermelho, tão fofo. Ela era tão fofa, tão perfeita.
Como ele daria qualquer coisa para beijá-la de novo. Aquele provavelmente tinha sido o último beijo dos dois. Ele queria ter aproveitado mais, ter tido mais consciência sobre o beijo, durante o beijo. Os lábios dele começaram tão nervoso, tão tremidos e terminaram tão familiarizados, tão deslizantes. Ainda assim o beijo não era monótono. A cada momento ele se surpreendia, sentia sensações que até então nunca havia experimentado. Lembrou das mãos dele, uma posicionada no rosto dela e outra na cintura. Lembrou das mãos dela também. E quando começou a tocar...
Crystall entrou no quarto. Asa perguntou irritado:
"What you're doing here?"
"Esqueceu que eu to dormindo aqui agora? Eu hein! Você é muito mal humorado, sabia? Vai ser feliz!
O comentário da Crystall o fez rir, porque mal ela sabia que ele estava sentindo um nível de felicidade que ele não sentia há muito tempo. 
"Crystall, hoje, só hoje, eu te amo, ok?", ele deu um beijo no rosto da irmã.
"Eu hein! Ta doidinho mesmo. Eu também te amo! Agora sai da minha frente, que eu quero dormir!"
Asa abriu o caminho e deixou a irmã se deitar na cama dele. Aproveitou para se preparar para dormir. Quando chegou, Crystall já estava no quinto sono. Ele pegou seu walkman, seu cd do Radiohead, deitou no colchão inflável que sua mãe tinha acabado de comprar, e repassou novamente as lembranças, já mais vagas, na sua cabeça. Abençoado seja o álbum The Bends do Radiohead e os lábios de Rita juntos aos seus!

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