segunda-feira, 10 de abril de 2023

Especial: O que esperar quando você está esperando - Capítulo X: Recaída

Bradley deixou a filha no apartamento de Jonathan para ela passar a tarde lá.

Emma tocou a campainha, mas ninguém atendeu. Ela começou a bater na porta e chamar o nome do inspetor, porém nenhuma resposta.

Uma senhora saiu do apartamento da frente para ver quem estava gritando.

"Você é filha do homem que mora aí?" A senhora perguntou.

Emma olhou para a senhora desconfortavelmente e negou. "Não. Sou uma amiga."

"Não pensa em ter amigos da sua idade?" A senhora perguntou atrevidamente.

A ruiva-aloirada balançou a cabeça. "É complicado."

"Imagino... Ele fez muito barulho ontem à noite. Ele gritava e parecia que tava quebrando todas as coisas do apartamento. Meu filho quase chamou a polícia. Estávamos com medo dele tá agredindo alguém."

Emma arregalou os olhos espantada.

"Você é tão bonita. Tem que tomar cuidado com quem anda." A senhora parou o olhar nos olhos da ruiva. "Você tem olhos muito bonitos. Nem parece que é brasileira. Parece mais uma gringa." A senhora sorriu. 

"Obrigada." Emma respondeu sem graça. 

"Olha, se você precisar de alguma coisa, pode bater na minha casa. Eu tenho um filho que mora comigo, mas ele é um rapaz muito bonzinho e trabalhador."

"Vou lembrar disso. Obrigada."

"De nada, querida. Prazer em conhecê-la." A senhora acenou.

"Prazer."

A senhora voltou para dentro de seu apartamento. Emma respirou fundo pensando no que a senhora dissera. Jonathan tinha bebido, não havia dúvidas. Emma pegou a cópia da chave do apartamento que o inspetor tinha deixado com ela e destrancou a porta.

A cena a sua frente era de uma verdadeira catástrofe. Jonathan estava largado no chão, perto do sofá. Tinham diversas coisas quebradas, com cacos de vidros espalhados por tudo, e várias garrafas de bebidas deixadas pelos cantos.

Emma encostou a porta e se aproximou de Jonathan para ver se ele respirava, quando se certificou que sim, olhou em volta perplexa com o estado da casa.

Ela, então, começou a recolher as garrafas de bebida e entornou seus conteúdos na pia. Quando terminou de esvaziar todas as garrafas, levou-as para fora do apartamento. Ao voltar para dentro, pegou uma vassoura e começou a varrer os vidros quebrados, tirando os pedaços grandes com a mão e os menores com a vassoura.

Ela sentiu seu estômago revirar e vomitou no balde de lixo que tinha pegado para agrupar os itens quebrados que não tinham mais conserto.

Se sentindo fraca, de repente, a ruiva ficou ajoelhada no chão com o balde na mão, tentando recuperar as forças para levantar. Quando se sentiu um pouco mais forte, ela se apoiou no chão para levantar e acabou cortando a mão com o vidro.

"M***a." Emma xingou e foi até o banheiro lavar o corte. Ela pensou em como sua dinda fazia, intencionalmente, aquele tipo de ferida e sentia prazer naquilo. Emma apertou o corte para sair mais sangue, sentindo a dor aguçar, e depois balançou a cabeça se dando conta do que estava fazendo.

Ela se olhou no espelho e temeu seu reflexo. Com a mão boa, abriu a torneira e jogou água no rosto, e fez uma compressa, com uma toalha de rosto, para estancar o sangue da outra mão. Depois pegou o listerine, que estava em cima da pia, e fez um bochecho para tirar o gosto de vômito da boca.

Emma voltou para a sala, terminou de varrer o vidro e ouviu Jonathan chamar seu nome.

"Emma? Emma, me perdoa!" Jonathan começou a chorar.

A ruiva se agachou do seu lado. "Por que você foi beber? Você tava indo tão bem."

"Eu fiquei muito mal com a notícia do nosso bebê. Eu tentei ser forte, eu juro que tentei."

"Mas nosso bebê tá vivo ainda. Você tá mal por uma coisa que nem aconteceu. E mesmo que aconteça, você pode ter outro filho com outra mulher no futuro."

"Eu não quero filho com outra mulher. Eu só quero filho com você. Eu te amo, Emma." Jonathan falou como uma criança mimada.

"Nem sempre a gente tem o que a gente quer. Na verdade, na maioria das vezes, a gente não tem o que a gente quer. Você tem que aprender a lidar melhor com as suas frustrações."

"Você tá assim porque você não queria esse filho."

"Não pense que tá sendo fácil pra mim. Não, eu não queria esse filho, mas eu acabei desenvolvendo um instinto materno por ele." Ela abriu aspas ao falar materno. "Ou o que seria pra mim um instinto materno. Só que eu decidi que não vou ficar de luto por ele enquanto ele estiver vivo. E quando a hora chegar, eu vou lidar com a perda dele, assim como eu tô lidando com ter herdado o problema da minha dinda, e que pra ter um filho vivo, vou ter que passar pela perda de vários. Mas por acaso você me viu bebendo e dando uma de o iluminado com a minha casa? Não, não viu."

Jonathan tentou falar, mas Emma interrompeu. 

"E mais, para de falar que me ama. É impossível alguém amar outra pessoa em tão pouco tempo." Emma virou o rosto e viu o peixe dela imóvel no chão. "Você matou o Padre-Peixe?" A menina levantou irritada e pegou ele do chão. 

"Ele me lembrava a você." Jonathan explicou. 

"E você mata meu peixe?" Emma abriu a boca do peixe com o mindinho e tocou seus dentinhos. 

"Você já queria matar ele!" Jonathan se defendeu. 

"Eu sei... mesmo assim... se fosse pra você matar, eu teria matado do meu jeito."

"É sério que a gente tá discutindo isso?"

"Eu tinha pensado em mortes legais." Emma disse chateada com a situação. 

Jonathan levantou do chão e foi até a menina. "Olha, desculpa. Eu compro outro peixe e você pode matar do jeito que você quiser." Ele tocou seu braço. 

"Mas o novo peixe não vai ser padre." Emma falou na defensiva. 

"A gente bota pra fazer um curso. Ele vai virar padre em um mês." 

"Eu vou pensar." Emma se acalmou. 

"Tudo bem. Depois você me diz."

"Promete pra mim que vai tentar não beber, pelo menos enquanto nosso filho ainda tá vivo? Eu quero que ele tenha uma boa impressão da gente." 

Jonathan olhou para a menina tocado com as suas palavras. "Claro. Eu prometo."

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