sábado, 1 de abril de 2023

Especial: O que esperar quando você está esperando - Capítulo VII: O que esperar quando você não estava esperando?

 Fazia quase 10 minutos que Channing estava parado com o celular na mão em estado de choque. 

Emma. Grávida. 

Emma. Grávida.

Emma. Grávida. De um filho seu.

Channing seria pai.

Channing não queria ser pai. 

Channing só queria ser Channing.

Havia 1001 razões pelas quais Channing seria um pai horrível. A maior delas era que ele nunca quis ser pai, nunca quis ter um filho. Era legal o filho dos outros, mas seu próprio filho era outra história. Channing queria chorar, gritar, mas permanecia imóvel com a cabeça fervendo em um turbilhão de pensamentos. 



Sua vida havia acabado, tudo o que ele sonhava para si. Na verdade, Channing não tinha sonhos nem ambições, mas gostava da ideia de ser jovem e livre. Ele não conseguiria ser jovem e livre com um filho. A não ser que ele fosse um pai ruim, um pai ausente. Ele queria ser um pai ausente, mas ele tinha um pai ausente e refletindo sobre aquilo, pela primeira vez, doía saber disso. Os pais pouco falavam com ele ou se importavam com o que fazia ou deixava de fazer. No fundo, sentia certa inveja de como Emma era protegida. Não que ele quisesse o mesmo, mas proteção demais mostrava que a pessoa se importava e seus pais… Bem, eles se importavam pouco, muito pouco.

Como ser um bom pai sem ter tido um bom pai e querendo ser livre? 



Um pai com Emma. Emma seria uma péssima mãe. Não, Emma seria uma ótima mãe. Ela começari… Não, ela seria uma mãe ruim. Ela tentaria, mas não conseguiria, assim como ele. Que criança fadada ao fracasso! 

Por que justo com ele? Por quê?

Ele pensou em um bebê imaginário. Esticando a pequena mão para tocá-lo. Tudo perdido. Toda juventude. Todo o futuro jovem. Toda a liberdade. Porque se ele aproveitasse da liberdade, ele sempre se sentiria culpado. Sempre haveria a sensação de ter deixado algo para trás. 

Por isso Emma havia terminado com ele. Ela estava perdida, sem direção! Mas ela estava errada! Mais do que nunca, eles deveria estar juntos. Perdidos juntos. Olhando um para o outro sem saber o que fazer. Pensando no erro que haviam cometido e em como lidariam com aquilo. 

Channing não era contra aborto, mas sabia que Emma seria incapaz de fazer algo assim. Mas seria tão mais fácil… Ele nunca a convenceria, nunca. Ela cuspiria na cara dele. Diria com a sua voz rouca e um pavor na cara: “Channing?!” Toda a repreensão de uma vida. Channing imaginou tudo aquilo e se sentiu culpado. Não, não era culpa do bebê. Ele poderia dar uma vida confortável para o bebê. Os dois. Só não seriam bons pais. Mas tentariam. Falhariam, mas tentariam. E também acertariam.



O choro começou a explodir de Channing. Ele não queria ser pai. A ideia o deixava triste, mas o bebê sozinho o deixava triste. Channing odiava se sentir triste. Como Emma deveria estar se sentindo? Desamparada! Eles deveriam estar sofrendo juntos. Seria melhor para os dois, alguém para contar, alguém no mesmo barco, o mesmo bebê de dois jovens inconsequentes, sem um pingo de responsabilidade e sustentados pelos pais. 

Ele era um homem morto.

Mas Emma era uma mulher mais morta ainda. Sua dinda e seu dindo quando descobrissem… Eles acabariam com ela. Diriam coisas horríveis, chamariam ela de piranha, da rua, da vida. Olhariam-a com desprezo, com vergonha, como se ela fosse uma abominação. Filha do pecado, pecado teve… Ele tinha que estar lá para protegê-la e proteger o bebê. Emma era muita coisa, mas não era uma piranha. Não mere…

A não ser, a não ser… E se o filho não fosse seu? Emma saía com outros homens, ele era corno. E se ela terminou com ele, porque o filho não era dele e sim de outro? Piranha! Vadia! Melhor para ele e pior para a piranha e o otário. 

Que humilhação! A namorada grávida de outro. O terror de antes desapareceu e tudo nele era raiva, ódio.

Mas a vingança veio e era enorme.

Channing tinha que se certificar de que aquele filho não era dele. Ele enxugou as lágrimas, respirou fundo e pensou: “Se não for meu, estou livre. Tomara que não seja meu!”

Ele levantou mais tranquilo. Tinha quase certeza de que não era dele. Não fazia sentido ela terminar se fosse dele. Uma hora ele descobriria, então por que não contar antes? Ela poderia até querer terminar com ele, mas contaria, não carregaria aquilo sozinha. É, não era dele, não era dele.

Channing decidiu seguir sua rotina tranquilo. Estava atrasado para malhar. Tinha que malhar.

O restante do dia correu tranquilamente. Várias vezes o assunto reaparecia em sua mente, mas ele o expulsava com o máximo de vigor possível. 

Seus pais chegaram em casa, falaram rapidamente com ele, tudo de volta ao lugar, porque não era dele, ele sentia. Pediu sinais que confirmassem sua teoria e os recebeu ao não avistar bebê algum ou grávida no decorrer do dia. Ele estava a salvo. Tinha que confirmar, mas estava a salvo. Perguntaria duramente: “Eu só preciso saber a verdade. Você me deve isso! É meu?” “Não.” “Espero que tenha valido a pena ter me traído. Boa sorte!” E ele sairia vitorioso, pensou antes de dormir. 



Mas por que ele não se sentia assim? Por que agora antes de dormir a dor voltava, ele se lembrava do bebê imaginário e no fundo pensava: “Podia ser meu…”? Por que ele queria passar por isso com Emma? Por que ele queria provar para si que seria um bom pai? Por que ele se sentia em frangalhos ao pensar no filho sozinho, sofrendo? Por que ele pensava em Emma e o quanto a amava e que seria um privilégio tê-la como mãe de seu filho? Eles poderiam descobrir como ser pais juntos. A vida dele seria menos sozinha. Eles eram jovens. Tinham pais. Poderiam aproveitar a liberdade, deixar o bebê sob cuidado dos pais no dia em que quisessem ir a uma festa. O relacionamento deles não daria certo para sempre… Mas talvez no futuro. Os dois tendo um filho. A porta nunca estaria fechada definitivamente.

Aquela criança era dele? 

Channing fechou os olhos. Nem sentiu a lágrima descendo quando respondeu para si mesmo.

“Tomara que seja!”


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