sexta-feira, 18 de maio de 2018

Problemas de gente grande

Bradley chegou em casa do trabalho às 20:00 e estranhou não ter encontrado sua mulher em casa. Era uma quinta-feira, e sua esposa havia concordado que durante o último trimestre da gestação ela reduziria a carga horária de trabalho, então, por que ela não estava em casa ainda? Ele imediatamente discou o número do celular da mulher e ligou pra ela. A chamada caíra direto na secretária eletrônica.

- Estranho - Bradley pensou. Ele então resolveu ligar para o escritório dela, porém o telefone chamou e ninguém atendeu.
Bradley ficava cada vez mais preocupado. Ele pegou o interfone e chamou a portaria.

"Oi. Aqui é o Bradley do 603. Algum de vocês viu a minha mulher passar pela portaria hoje voltando do trabalho?"

"Deixa eu perguntar por aqui senhor Cooper." O porteiro respondeu. "Ninguém do turno da noite viu não senhor."

"Obrigado." Bradley agradeceu decepcionado com a resposta e desligou o interfone.

- Onde você está Jessica? - Bradley pensou inquieto.

Ele pegou o telefone e digitou o número dos Stones.

"Fala Bradley!" Jeff falou ao atender a ligação.

"Oi Jeff. A Jessica ta por aí?" Bradley perguntou indo direto ao assunto.

"Não. Por quê? Ela não chegou em casa ainda?" Jeff perguntou estranhando.

"Não, eu cheguei do trabalho e ela não tava aqui. Eu não sei o que fazer, já to imaginando o pior." Bradley falou com preocupação evidente na voz.

"Fica calmo. Já tentou a casa dos pais dela?" Jeff tentou contornar a situação.

"Não, é que ela não é de ir pra lá." Bradley falou cético.

"Eu sei que você não gosta dos pais dela, mas talvez eles possam te ajudar." Jeff ponderou.

"Tem razão, eu vou ligar. Manda um beijo pra Emma por mim." Bradley cedeu.

"Eu mando, me avisa quando achar a Jessica." Jeff pediu pois também havia ficado preocupado.

"Pode deixar."

Com isso Bradley terminou a ligação e foi ligar para os pais de Jessica.

"Alô." A voz áspera de Paulo ressoou do outro lado do telefone.

"Oi, é o Bradley." O professor de estatística se identificou.

"Pois não?" Paulo disse seco.

- Porque eu fui ligar pra ele! - Bradley pensou com raiva de si mesmo. "Eu to ligando pra saber se por acaso a Jessica ta com vocês." Ele falou inseguro e sem muita esperança.

"Só agora que você deu falta dela?" Paulo falou não surpreso com falta de responsabilidade do genro.

"Eu cheguei do trabalho agora." Bradley se defendeu, mas já se acalmando porque pela resposta de Paulo, Jessica provavelmente estava lá.

"E você não liga pra checar se está tudo bem com a sua mulher perto de dar a luz?" Paulo falou desafiante.

"Eu liguei na hora do almoço, mas não é como se eu pudesse ficar checando ela de cinco em cinco minutos." Bradley respondeu estressado, ele já tinha passado por tanta coisa naquele dia, que tudo o que ele queria era buscar Jessica e descansar.

"Sempre com uma desculpa diferente. Eu não devia ter deixado minha filha casar com um irresponsável como você. Se você acha que casamento é só morar na mesma casa, você está muito enganado." Paulo jorrou as palavras ríspidamente.

Bradley revirou os olhos enquanto apanhava a chave do carro para ir buscar a esposa.

"Ok. To indo aí buscar ela." Ele informou.

"Não se incomode, a Jessica não quer te ver." Paulo informou ao professor.

"Como assim não quer me ver?" Bradley perguntou deduzindo que provavelmente seria alguma nova manipulação por parte do sogro.

"Ela teve outro aborto." As palavras de Paulo tão diretas atingiram Bradley como um milhão de facas pontiagudas atingindo seu coração. Os olhos de Bradley se encheram de lágrimas, o nó na garganta o sufocava e tornava quase impossível tarefas simples como respirar e falar.


"Como a Jess ta?" Bradley conseguiu falar eventualmente com a voz arranhada.

"Arrasada... Fisicamente e emocionalmente." Paulo falou com tristeza na voz.

"Como foi que aconteceu?" Bradley perguntou confuso e desolado.

"A Octavia encontrou ela caída no chão do quarto de vocês em cima de uma poça de sangue. Ela tinha perdido tanto sangue que estava semi-consciente, não conseguia nem pedir ajuda ou se levantar. Se a Octavia não tivesse ido lá naquele momento, provavelmente não seria só a morte do bebê que você estaria lamentando."

"Ela estava bem... quando eu saí de casa ela e o bebê estavam bem." Bradley falou inconformado.

"Tudo está bem até não estar mais." Paulo falou duramente.

Bradley tirou o telefone do ouvido e deixou as lágrimas caírem. Ele colocou a mão na boca para não ser ouvido na outra linha. Ele queria tanto esse filho, e mais do que isso, ele queria tanto dar a Jessica esse filho.

"Eu vou pra aí ficar com ela."

"Já disse que ela não quer te ver, mas se você faz questão..." Paulo informou.

"É claro que eu faço questão. Chego aí em alguns minutos." Com isso Bradley desligou a ligação.

Ele foi no banheiro buscar alguns itens pessoais que Jessica poderia vir a precisar. Ele enfiou tudo desorganizadamente numa bolsa. Em seguida, Bradley foi no quarto pegar uma troca de roupa, foi aí que que ele notou uma enorme poça de sangue no chão, que ia se alastrando pelo quarto. Parecia até que havia ocorrido um assassinato naquele cômodo. Ver aquilo embrulhou o estômago do professor, ele quis sair rapidamente daquele quarto, e assim o fez, dirigindo-se direto à casa de seus sogros.

Quando chegou ao seu destino, ele bateu na porta freneticamente até que alguém abrisse. Foi Helen que atendeu a porta.

"Onde ela está?" Bradley perguntou assim que viu o rosto de sua sogra, Helen.

"No quarto dela." Helen respondeu.

"Quem é vivo sempre aparece." Paulo comentou quando viu Bradley.

"Vocês deveriam ter me ligado!" Bradleu falou acusadoramente. "Era a MINHA mulher e o MEU filho! Vocês não acham que eu merecia um pouco mais de consideração do que descobrir que a minha mulher teve um aborto quando eu cheguei em casa e não encontrei ela? Eu fiquei trabalhando apartado enquanto minha mulher tinha perdido nosso filho e estava quase morrendo. VOCÊS NÃO ACHAM QUE EU TINHA O DIREITO DE SABER?" Bradley bateu na mesa com força, transferindo toda a sua frustração naquele objeto de madeira.


"Olha como você se comporta na minha casa sr. Cooper. Se o senhor não foi avisado foi porque a própria Jessica não quis. Quando a Octavia encontrou minha filha no chão, ela pegou o telefone pra te avisar o que tinha ocorrido mas a Jessica não deixou. Você enche a boca pra falar que é o marido dela e que tem direitos, mas na verdade você é um marido de quinta, que não sabe as responsabilidades do que é ter e cuidar de uma família. Você já falhou com ela tantas vezes que até ela perdeu a fé em você."

"Ainda assim, era o meu filho..." Bradley argumentou chorando.

"Talvez se vocês não tivessem cometido nenhum adultério antes de casar, vocês não estariam sendo castigados desse jeito." Helen se intrometeu.

"Não, foram vocês que tiraram a nossa felicidade a força quando..."Bradley falou com tom acusativo.

"Ela nasceu cheia de problemas de saúde, você acha que foi coincidência?" Paulo rebateu.

"Eu acho que se vocês tivessem um pouquinho sequer de compaixão, não teríamos perdido ela. Vocês condenaram a filha de vocês a infelicidade quando fizeram isso."

"O único culpado aqui pela infelicidade da Jessica é você." Paulo falou com raiva.

"Tenho certeza que a Emily concordaria com isso." Bradley falou desafiador.

"Sai daqui seu insolente! Maridinho de m**a. Minha filha foi uma estúpida por ter se envolvido com você." Paulo ordenou cheio de ódio.

"Só saio daqui com a minha mulher junto." Bradley alertou e foi em direção do antigo quarto da esposa.

Quando Bradley se aproximou da porta, ele ouviu uma mulher cantarolando uma música de ninar não familiar a ele. Bradley reconheceu a voz como de Octavia, a madrinha de sua esposa. Ele achou aquilo estranho mas decidiu ignorar. Ele abriu a porta do quarto devagar e avistou Jessica deitada na cama com o olhar vazio. Ela encarava o nada e pareceu não notar a presença de Bradley. Sua cabeça estava apoiada no colo de sua madrinha Octavia, que alisava seu cabelo gentilmente enquanto cantava pra ela.


Octavia olhou para Bradley e voltou sua atenção a Jessica, sem quebrar sua doce canção.

Bradley automaticamente ficou assustado ao ver sua mulher daquele jeito. Ele conhecia Octavia e sabia que ela era a única pessoa da família a realmente se importar com Jessica. E ele devia a vida da sua esposa a ela naquele momento. Porém, Octavia parecia não ter notado que Jessica crescera, e que não era a menininha que ela um dia cuidara.

"Hum." Bradley forçou a tosse. "Você pode me dar um momento a sós com a Jess?" Bradley pediu.

Octavia assentiu.

"Vou estar no quarto ao lado." Ela avisou a afilhada saindo debaixo dela e beijando sua testa.

Jessica continuou imóvel.

"Cuidado com o que você vai falar pra ela." Octavia alertou Bradley. "Se precisar de mim, só gritar." Ela informou a afilhada e saiu do quarto.

"Oi amor. Eu vim pra cá assim que eu soube o que aconteceu." Bradley falou se aproximando da esposa e se sentando de frente a ela. "Eu sei que agora parece o fim do mundo, mas não é. O importante é que você está bem, o resto a gente consegue depois."

Bradley notou lágrimas inundando os olhos da esposa. Ele imediatamente cobriu o rosto da esposa com a mão e acariciou com o polegar, tão levemente, como se ela pudesse quebrar caso fosse aplicada alguma força.

"Eu queria tanto que você não sofresse mais. Seu pai tem razão, eu sou um marido inútil, não presto pra nada." Ele lastimou, fechando os olhos e tentando conter a frustração.

Ele sentiu a mão delicada de sua esposa encontrando a sua.

"Não diga isso." Jessica falou fraca.

Bradley levou sua mão aos seus lábios e deu um beijo.

"Por que você não mandou me avisar? Eu queria ter tado do seu lado no hospital." Bradley perguntou incomodado.

"Não teria mudado nada." Ela disse melancólica.

"Eu sei, mas esse tipo de coisa, o marido deveria ser o primeiro a ser notificado." Bradley argumentou.

Jessica não respondeu.

"Seus pais nunca vão me respeitar como seu marido enquanto você continuar correndo pra eles sempre que alguma coisa dá errado." Ele continuou.

"Eu não faço isso." Jessica protestou.

"Faz sim! Você já é uma mulher, e casada ainda por cima, mas ainda se comporta como uma criança que precisa dos pais pra tudo." Bradley colocou pra fora o que já estava guardado há algum tempo.

"Vai se f*** Bradley." Jessica tentou virar de costas pro marido mas não conseguiu por causa da dor intensa.

"Você ta bem?" Bradley perguntou preocupado.

"Aham." Jessica mentiu.

"Tem certeza?" Bradley não acreditara muito na resposta da esposa. Ele então, tirou a colcha que cobria a sua mulher e se deparou com a roupa dela manchada e ainda úmida de sangue.

"Jess, você ta sangrando!" Bradley falou com os olhos arregalados.

Jessica olhou pra baixo e colocou a mão em cima da parte da roupa que estava ensanguentada. "Não é nada, o médico disse que era normal sangrar um pouco depois da cesária. Depois vai parar sozinho." Jessica falou como se não fosse nada demais.

"Eu acho que você tinha que ter ficado no hospital pelo menos hoje. Você já perdeu tanto sangue, eu to preocupado em você perdendo mais ainda." Bradley disse perplexo com a imagem da esposa na cama, além da blusa suja de sangue, Jessica estava mais pálida do que nunca.

Jessica balançou a cabeça rejeitando a ideia. "Eu me sinto melhor aqui. E o médico disse que desde que eu permanecesse de repouso, não teria problemas." Ela retrucou.


Bradley encostou suas costas na cadeira pensativo, ele parecia estar imerso numa tristeza profunda. Jessica, então, levou a mão até o rosto do marido e alisou. "Eu queria que a gente não tivesse se conhecido." Jessica disparou, fazendo Bradley olhá-la surpreso.

"O que você ta falando?" Ele tirou a mão dela de seu rosto enojado.

"Seria melhor." Jessica deu de ombros.

"Você sempre tem que fazer essas coisas, né Jessica? A gente acabou de perder um filho e você me vem com uma dessas!" Bradley falou bravo se levantando do lugar.

"É o que eu acho." Jessica falou apática a mudança de humor de Bradley.

"Eu vou pra casa. Quando você lembrar que é casada e parar com a palhaçada, você me procura." Bradley disse com raiva e saiu do quarto.

Quando ele saiu ele se deparou com Octavia.

"O que aconteceu? Porque você gritou com ela?" Octavia perguntou preocupada.

"Porque ela me tira do sério!" Bradley respondeu sem querer entrar em detalhes, andando em direção a porta.

"Dá um desconto pra menina, ela acabou de perder o filho." Octavia a defendeu, andando atrás de Bradley.

"Eu também perdi p***! Mas ninguém parece ligar pra isso. Deus sabe o quanto eu queria aquele bebê!" Bradley começou a chorar.

"Eu sei disso, e a Jessica também. Por que você acha que ela não quis que te chamassem pro hospital? Pra não ter de lidar com a sua cara de decepção." Octavia falou como se o motivo fosse óbvio.

"Mas eu ia ficar sabendo de qualquer jeito." Bradley retrucou.

"Eu sei, mas ela quis adiar o momento. Imagina toda hora ter que te dar a notícia de que perdeu o filho de novo." Octavia explicou.

Bradley sentou no sofá refletindo as palavras que Octavia dissera.

"Tem alguma coisa de errado com a Jessica..." Bradley falou balançando a cabeça.

"Claro, ela acabou de perder o filho." Octavia só faltou falar o dã.

"Não, tem algo a mais..." Bradley falou ainda pensativo. "O médico disse que era normal sair sangue do curativo dela?"

"Não, e se começar a doer muito é pra dar paracetamol." Octavia respondeu.

"P***" Bradley se levantou e foi em direção ao banheiro.

"Ela ta sangrando?" Octavia o seguiu de novo.

"Tá." Bradley respondeu fuçando as gavetas do banheiro.

"O kit de primeiros socorros ta no armário de cima." Octavia informou.

"Eu tava procurando por isso." Bradley mostrou o cortador de unhas. "E eu vou levar a Jess de volta pro hospital." Ele informou e depois entrou no ex quarto de Jessica.

"Me dá sua mão." Bradley ordenou a esposa sentando de frente a ela.

"O quê? Por quê?" Jessica perguntou assustada.

Ele não respondeu, ele puxou a mão dela e aproximou o cortador para cortar suas unhas.

"O que você ta fazendo? Eu posso cuidar das minhas unhas so... Ai!" Jessica se queixou com raiva.

"Para de mexer a mão." Bradley disse segurando a mão dela firme e voltando a cortar o outro dedo.

"Você não ta achando que..." Octavia perguntou a Bradley e Jessica engoliu em seco.

Bradley não respondeu, ele continuou cortando as unhas de Jessica até que ficassem bem curtinhas.

Octavia colocou a mão na boca em choque, Jessica a olhou com os olhos atônitos.

"Terminando aqui, EU vou te levar pro hospital." Bradley informou.

"Não é o que você pensa... Eu só tava frustrada." Jessica tentou se justificar, as lágrimas rolando.


"Você ta frustrada e faz isso?" Bradley puxou a colcha por cima de Jessica, revelando a roupa agora ainda com mais sangue que antes.

"Jesus Cristo!" Octavia exalou.

"Não é normal Jessica!" Bradley falou exasperado.

"Desculpa." Jessica falou entre soluços. "Eu não queria piorar as coisas."

Bradley viu o estado de sua esposa e se acalmou por ela. "Não é sua culpa." Bradley se abaixou para beijar o rosto quase sem vida da esposa.

"Seria mais fácil se eu tivesse ido com ele." Jessica admitiu.

"Menina!" Octavia a repreendeu.

"Você ta falando isso porque você não ta pensando direito. Eu te amo, lembra? Como eu ia ficar sem você?" Bradley disse ternamente e depois a levantou com cuidado para os pontos dela não abrirem ainda mais.

"Você pode pegar as coisas dela e levar pro meu carro?" Bradley pediu a Octavia que o obedeceu prontamente.

"Se os pais dela perguntarem, diz que a Jess tava sentindo muita dor e que eu levei ela de volta pro hospital. Não mencione nada sobre o que realmente aconteceu." Bradley avisou a Octavia enquanto deixava a casa e ela assentiu.

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