sexta-feira, 17 de março de 2023

Especial: O que esperar quando você está esperando - Capítulo IV: A concessão

Jonathan deu um jeito na casa para receber Emma, que viria passar a tarde com ele. Bradley tinha liberado a menina de ir para sua casa duas vezes por semana. Era para o inspetor se sentir grato, mas ele estava odiando se sentir a mercê dos familiares da Emma, e diga-se passagem, ele odiava todos eles, menos a Elizabeth. A Elizabeth parecia bacana. 

O orgulho de um homem é muito atrelado à capacidade de prover pela sua família. Jonathan queria ter condições de sustentar Emma e seu filho, mas mesmo que conseguisse, sempre seria porque alguém da família dela o ajudou, e isso o frustrava. Sem contar as aulas de inglês humilhantes que tinha que ter com o Andrew várias vezes na semana.

O inspetor tinha encontrado outro grupo de apoio para que pudesse descarregar suas frustrações sem que Jessica ficasse sabendo de tudo o que acontecia em sua vida. Ele comentou no grupo que estava feliz como não era há anos e que seu filho lhe dera um novo senso de propósito, tornando a renúncia à bebida mais fácil. Mas que ao mesmo tempo, a família da mãe do seu filho, o viam como um inseto e que isso acabava com a sua autoestima e o fazia querer beber. No final do encontro, ele recebeu muitos cumprimentos de que daria tudo certo.

O inspetor colocou comida para o Padre-Peixe e aguardou a menina chegar.

Emma tocou a campainha e Jonathan a cumprimentou com um beijo.

"Como você tá?" Jonathan perguntou, sentando com a menina no sofá.

"Bem. Acho que o meu dindo descobrir acabou sendo pra melhor."

"Não sei se foi não. Achei um absurdo ele limitar suas vindas aqui pra duas vezes na semana. Eu sou o pai do seu filho e não posso nem cuidar de vocês."

"Dá um tempo pra ele. Na verdade, meu dindo tem sido bem legal e compreensivo. Ele tem me ouvido e levado as minhas vontades em consideração. Em outros tempos, ele não me deixaria vir aqui nenhum dia da semana."

"Santo Bradley." Jonathan debochou. Ele estava cansado de ver todo mundo glorificar Bradley. Anos atrás, Jessica o fazia parecer como se fosse uma espécie de imaculado. Ver Emma se referindo a ele da mesma forma trazia velhas feridas de volta. Ele nunca seria bom o suficiente perto do Bradley.

"O que você quer dizer com isso?"

"Esquece."

"Você parece que tá com ódio gratuito pelo meu dindo."

"É que enquanto você morar com ele, a gente vai sempre ter que dançar conforme a música da sua família. E depois que o bebê nascer? Ele vai acabar criando o nosso filho como dele, e o pior de tudo, você vai deixar."

"Eu tô lutando pra que isso não aconteça, mas não ajuda muito que seu emprego depende da minha família."

"Eu sei. Eu sou um fracassado. Não posso oferecer nada pra vocês."

"Eu não disse isso." Emma tocou o rosto do inspetor. 

"Tudo bem. Eu que tô com baixa autoestima." Jonathan acariciou a barriga da menina. "Eu tava com saudades de vocês."

"Você me vê na escola todos os dias." Emma riu. 

"Não é o suficiente. Nunca é o suficiente." Jonathan beijou a menina. 

"Lembra do que você me prometeu da última vez que eu vim aqui?" Emma disse quando o beijo chegou ao fim. 

"Pra não engordar o Padre-Peixe?"

"Também, mas não é isso. Você disse que ia me ensinar a tocar violão."

"Hoje?" Jonathan deitou no sofá, se fazendo de cansado.

"Sim!" Emma chacoalhou o braço do inspetor.

"Tá bom, pessoa insistente. Vou pegar o violão." Ele se levantou, foi pegar o violão e entregou para a menina.

"Tô pronta." Emma começou a tocar uns acordes aleatórios.

"Essa primeira aula vai ser de como segurar um violão porque claramente você não sabe."

"Como se segura então?"

"Eu já vou te falar. Essa é a aula." Jonathan riu.

"Mas eu vou aprender outras coisas hoje, né? Porque o bebê tá crescendo rápido e não dá pra perder um dia de aula só com essa besteira." Emma reclamou.

Jonathan riu. "Te amo." O inspetor se inclinou e deu um selinho na menina. "Agora vamos pra aula. Primeira lição: Postura!"

Jonathan ficou um pouco mais de uma hora ensinando a Emma a segurar o violão de forma correta e explicando os princípios do instrumento. Após isso, eles ficaram conversando no sofá. 

"Quer fazer o que agora? Ver filme?" O inspetor sugeriu à menina. 

"Eu faço a pipoca e você escolhe o filme?" 

"Não é melhor o contrário?"

"Não." Emma deu um beijo no Jonathan e levantou para fazer a pipoca.

Depois da pipoca pronta, os dois se sentaram no sofá e Jonathan deu play no filme.

"Nossa, Emma, quanta manteiga." Jonathan falou, ao colocar a pipoca na boca.

"A manteiga é que dá gosto!" Emma retrucou, enchendo a boca de pipoca.

"Essa pipoca gordurosa não te enjoa, né?" Jonathan perguntou num tom brincalhão.

"Não." Emma balançou a cabeça rindo e pegou mais pipoca do balde.

Quando o balde de pipoca chegou até a metade, com praticamente só a Emma comendo, Jonathan tirou da mão dela.

"Chega de dar manteiga pro meu filho."

"Mas... " Emma começou a protestar e Jonathan interrompeu.

"Mas nada. Eu vou pegar o outro aperitivo que preparei pra você." Jonathan deu pause no filme, saiu da sala e voltou com um pote de cenoura que ele tinha cortado mais cedo. "Pode comer à vontade."

"Sério?"

"Muito." Jonathan voltou a sentar do lado dela e  retomou o play.

"Podia pelo menos ter deixado eu terminar minha pipoca." Emma reclamou e obedeceu o inspetor.

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