quarta-feira, 29 de março de 2023

Especial: O que esperar quando você está esperando - Capítulo V: Devaneios

Desde que se entendia por gente, Emma foi instruída pela igreja acerca dos pecados, os perigos do pecado e os frutos do pecado. 

Dentre os frutos do pecado, estavam os filhos bastardos, aqueles concebidos fora do casamento. De acordo com a doutrina da sua igreja, esses frutos, já nasciam marcados pela besta, pela natureza de sua concepção. Inevitavelmente, suas tendências seriam sempre inclinadas para o maligno. Essas crianças poderiam sim alcançar a salvação, mas teriam que se empenhar dez vezes mais que as crianças normais para derrotar suas verdadeiras essências.

Emma sempre achou que tudo isso não passava de um folclore cristão, mas era inegável o quanto ela se sentia diferente dos demais. Se alguém dissesse que certa coisa era errada, aí é que ela teria que fazer. Emma tinha uma atração mordaz pelo sombrio e pelo errado. Seus pais notaram isso na menina e tentaram se fazer de cegos, ignorando seu comportamento diversas vezes, até atingirem suas cotas.

Quando descobriu que era fruto do pecado, tudo pareceu fazer sentido e o folclore não pareceu tão fantasioso quanto antes. 

Jonathan era bonito e charmoso, mas o que realmente a atraíu, foi o fato que ele tinha idade para ser o seu pai e que já tinha sido amante da sua mãe biológica. Agora, ela carregava o fruto da sua maior traição no ventre.

No dia seguinte, Emma teria que ir para casa da sua mãe biológica para comemorar seu aniversário. Jessica, sem dúvidas, era a mulher que ela mais amava no mundo, e olhá-la nos olhos e fingir que nada estava acontecendo era um ato quase impossível de performar. Além disso, Emma tinha adquirido uma nova admiração, tanto por Bradley, quanto por Jessica, por tudo o que eles passaram para tê-la. Agora que estava numa situação similar, ela percebeu o quanto que eles provavelmente lutaram para dar a ela o simples direito de viver.

Retomando aos erros que Emma insistia em cometer. Esse último, como os outros, ela sabia que não deveria, mas acabou fazendo mesmo assim. 

Gosling apertou o corpo nu da menina contra si e sentiu a tensão de seus músculos.

"Tá arrependida?" Ryan fitou a menina de forma cautelosa.

Emma assentiu.

"Me fala o que tá na sua cabeça."

A menina não respondeu.

"Você acha que tá traindo o Channing?"

"Não. Só acho que... eu sei que o bebê não sente nada e não sabe nada do que tá acontecendo. Na verdade, eu vejo ele mais como um conceito do que como uma pessoa. Tipo, eu sei que ele existe e em oito meses eu vou ter um bebê, mas agora ele parece mais uma ideia ou uma previsão. Talvez porque eu ainda não vi ele. Mas, mesmo enxergando ele assim, eu não consigo deixar de achar que ele fica triste por eu tá tendo relações com alguém que não é o pai dele." Emma explicou, odiando a sensação de falar seus sentimentos em voz alta. "Eu sei, eu sou maluca."

"Não acho." Gosling falou sério. "Eu te entendo completamente."

"É?"

"Claro que sim. Mas Em, isso é coisa da sua cabeça. O bebê não liga com quem você tá tendo relações sexuais. Pelo menos não ainda. E além do mais, tenho certeza que ele vai querer a sua felicidade acima de tudo."

"Tem razão." Emma concordou.

"Tem mais alguma coisa te incomodando? Aproveita que hoje eu tô me sentindo inspirado." Ryan brincou.

Emma passou os dedos pelo antebraço do menino. "Eu queria muito que você tivesse me escolhido." Uma lágrima saiu do canto do olho da menina e ela secou rapidamente.

Ryan arregalou os olhos surpreso.

"Em..."

"Eu sei, você preferia a Ariana...  É que parte de mim acredita que se você tivesse me escolhido, ou melhor, se você tivesse ficado comigo quando eu terminei com o Guilherme pra ficar livre pra você, as coisas teriam sido diferentes e eu não estaria grávida agora."

"Você acha isso? A gente não era muito cuidadoso, então provavelmente a gente já teria três filhos e agora você estaria esperando o nosso quarto."

Emma espremeu os olhos, em reprovação.

Ryan riu. "Tudo bem, vou falar sério. De verdade, verdade mesmo, quando você terminou com o Guilherme eu nunca cogitei que foi porque você queria namorar comigo. Você sempre disse pra todo mundo que não queria nada sério e eu acreditei. Eu só fui saber depois de anos que você tava esperando um movimento da minha parte e eu me senti um lerdão."

"Eu só disse que não queria nada com você porque não queria parecer a idiota que queria algo sério enquanto você não."

"Então, depois que eu fui chegar nessa conclusão. Na hora eu realmente acreditei que você não queria nada comigo."

"Uau." Emma exclamou. 

"É." Gosling riu. "A gente é tão burro quando é jovem."

"Verdade."

Ryan tocou o rosto da menina e Emma inclinou ao seu toque. 

"Quanto a Ari, eu não vou mentir, eu gostava muito dela, mas nunca gostei mais dela do que de você." 

"Então por que você escolheu ela?" 

"Naquela aula do Carlisle eu me senti tão pressionado a escolher de uma hora pra outra uma das duas, que eu fui em quem eu achava que era a mais certa pra mim naquele momento. Não posso te dizer que me arrependo da decisão. Foi um namoro muito bom e eu fui muito feliz. Mas uma grande parte de mim ficou em pedaços por ter te perdido."

"Você ficou em pedaços porque queria as duas."

"Eu admito, nessa época, eu não queria ficar exclusivo. Só que você fala como se você tivesse ficado só comigo e não é verdade."

"Mas se eu tivesse que escolher, eu teria te escolhido sem nem pensar duas vezes. Mas agora deixa. O que passou, passou e é isso."

Emma se levantou e começou a se vestir. 

"Não vai embora, por favor." Ryan tentou segurar sua mão. "O que você quer que eu diga?" 

"Eu não quero que você diga nada."

"Você tá me punindo por uma coisa que aconteceu há anos."

"Eu não tô te punindo. Eu só tô lidando com muita coisa agora e não quero adicionar você a esse estresse."

"Mas eu não tenho que ser um estresse. Você fala de mim, mas você também tá se acovardando."

"Fala sério, Ryan."

"Eu tô dizendo pra você que eu quero um relacionamento sério e você se apega a primeira coisa do passado pra fugir. E sabe por quê? Porque você tem medo, assim como um dia eu já tive. Não somos tão diferentes assim."

"Você quer se comparar comigo? Eu vou ter um filho. É claro que eu tô com medo. Morrendo de medo, aliás. Eu não tô pronta pra ser mãe." Emma sentou na cama e começou a chorar. 

"Ei." Ryan se aproximou da menina e a puxou para si. "Vai todo mundo te ajudar. Você não vai passar por isso sozinha. Vai dar tudo certo. Eu prometo." Ele beijou sua cabeça.

"Eu não vou aguentar." Emma falou entre o choro. 

"Claro que vai. Eu já disse que você é forte."

"Não sou forte."

"É sim. Muito muito forte." Ryan apertou a menina com mais força. 

"Meus pais não vão mais falar comigo e minha dinda vai se matar de desgosto."

"Nenhuma dessas coisas vai acontecer. Seus pais vão acabar te perdoando, e sua dinda, nossa, se ela não se matou depois do divórcio com o Bradley, não vai ser agora que ela vai se matar. Sério, o que é pior do que perder o Bradley como marido? Hein?" Ryan chacoalhou a menina de leve e arrancou uma risada dela. "Eu não tenho razão? Eu odiaria ter que me divorciar do Bradley."

"Obrigada. " Emma sorriu e relaxou seu corpo no de Gosling.

Ryan abraçou a menina com força e descansou o queixo na sua cabeça, não preparado para vê-la partir.

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