terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Virose de natal

Ficar doente era horrível, principalmente no Natal.

Cheryl começou a se sentir mal dia 23, piorando consideravelmente dia 24. O médico disse que ela estava com uma virose, provavelmente a mesma que estava assolando o Rio de Janeiro naquele período. E não tinha muito o que fazer, analgésico para amenizar os sintomas, repouso e muito líquido. 

Jean e sua família alugaram um casarão em Búzios para passarem o natal juntos. Todos os familiares festejavam a véspera do Natal no espaço requintado externo da casa, onde a piscina estava situada, enquanto a Geordie estava de cama. A menina até tentou por um momento descer e socializar com os parentes do padrasto, mas logo voltou para o quarto, sentindo seu corpo inteiro doer. 

Todos ficaram com bastante dó da garota, pois via-se na cara dela, que a garota sempre sorridente, não estava nada bem. 

Joan subia de tempos em tempos para verificar o estado da filha. 

“How is she?” JB perguntou para a esposa, sentando ao seu lado, quando ela voltou da milésima viagem ao quarto da menina. 

“Same. I think she should try to eat something, but she doesn’t want to. She said her stomach is a bit funny and she might throw up if she eats.”

“I think l’ll make her a soup or something. Try to get her some nutrients in.” Jean sugeriu. 

“I’ll do it. You enjoy the party and your family.” Joan tentou se levantar, mas seu marido segurou seu braço. 

“No. I’ll do it. You already do so much for us. Let me do this one.”

“I don’t mind.” Joan retrucou. 

“But I do. Take this opportunity to talk with my family. They think you don’t like them very much.” 

“I don’t know how to talk with them.” Joan olhou para baixo. 

“Just try it, ok? For me.” Ele encarou os olhos da esposa. 

“Ok.” Joan concordou à contragosto. 

“Thank you.” Ele beijou sua mão e levantou para preparar a sopa. 

Depois de pronta, o padrasto da menina subiu com a comida para o quarto onde a Geordie estava. 

Ele abriu a porta com cuidado, e viu Cheryl encolhida debaixo da coberta. A menina parecia estar morrendo de dor e ele ficou mal que estivesse se sentindo daquela maneira. 

“Trouxe comida.” Jean avisou, colocando a sopa em cima da mesa de cabeceira e sentando na extremidade da cama. 

“Não tô com fome.” Cheryl falou sem olhá-lo. 

“Mas como você espera ficar boa sem se alimentar?” Jean perguntou carinhosamente. “Vem. Se senta um pouquinho pra comer.” Ele puxou o braço da menina para ajudá-la a se sentar. 

“Eu tô enjoada.” Cheryl protestou. 

“Eu sei. Mas faz um esforço pra comer. Eu fiz essa sopa especialmente pra você.” Jean pegou o prato e mexeu um pouco a sopa com a colher para ajudar a esfriar. “Abre a boca.”

“Eu posso comer sozinha.” Cheryl estendeu a mão para pegar o prato da mão dele. 

“Nada disso. Eu dou pra você.”

“Mas…”

“Eu quero cuidar de você.” Jean interrompeu a menina. “Posso?”

Cheryl não respondeu. Só ficou encarando o padrasto. 

“Abre a boca. Você vai ver que a sopa tá gostosa.”

Cheryl abriu a boca e seu padrasto começou a alimentá-la. 

“Sabe o que isso me lembra? Me lembra de quando eu era criança, e ficava doente… minha mãe sempre fazia uma sopa pra mim, com os legumes que ela encontrava na geladeira. Essa era a única circunstância que ela fazia sopa lá em casa. Quando eu ou meus irmãos ficávamos doentes. Acho que é por isso que hoje em dia eu não sou muito chegado a sopa… Engraçado como são as coisas.” Ele riu. 

“Você ama caldo verde.” A inglesa limpou o canto da boca com o dedo. 

“Só quando tem muito bacon e linguiça. O que não é nada saudável.” Ele brincou e ganhou um pequeno sorriso da menina. 

“Eu sinto que eu tô estragando o natal de todo mundo.”

“Claro que não. A gente tá preocupado com você, mas tá todo mundo se divertindo lá embaixo.”

“Minha mãe não tá.” Cheryl argumentou. 

“Mas isso não tem nada a ver com você. Ela que não gosta de interagir com a minha família.”

“Não é que ela não gosta de interagir com eles. É que a minha mãe é tímida.” 

“Eu comprava essa desculpa nos primeiros anos de casado. Agora eu só acho que ela não faz questão mesmo.”

“Ela faz questão, só que ela é introvertida. Ela queria ser sociável, assim como você é, mas ela não consegue.”

“Eu sei... Eu vou tentar ser mais compreensível em relação a isso.”

“Good.” Cheryl falou satisfeita. 

JB deu a última colherada de sopa para a Geordie, levando a outra mão ao seu queixo, caso o líquido entornasse. 

“E aí? Achou a sopa boa?” Jean colocou o prato, agora vazio, de volta à mesa de cabeceira. 

Cheryl assentiu enquanto terminava de engolir. 

JB riu. “Que bom.” 

“Obrigada pela sopa.”

“Não foi nada. Como você tá se sentindo?” Ele tocou seu rosto para checar sua temperatura. 

“Meu corpo inteiro dói.” A inglesa reclamou. 

“Eu acho que você tá com febre.” Jean abriu a gaveta integrada à mesa de cabeceira, e pegou o termômetro. “Coloca pra gente ver sua temperatura.” Ele entregou o termômetro para a menina e ela obedeceu. “Eu queria poder fazer alguma coisa pra fazer você se sentir melhor. Eu odeio ficar doente e só consigo imaginar como você tá se sentindo.” Ele afastou o cabelo da inglesa do rosto. 

“Você já tá fazendo.” Cheryl respondeu cansada. 

O termômetro apitou. 

“38,6.” Jean informou. “Vou pegar um analgésico pra você tomar e daqui a pouco você vai tá se sentindo melhor.” Ele a olhou com pena. 

Cheryl assentiu e voltou a se deitar na cama. 

JB saiu e voltou com o remédio e um copo de água. 

“Peguei a novalgina de 1g que é a mais forte.”

“Eu tomei uma dessas mais cedo e não ajudou em praticamente nada.” Cheryl choramingou, pegando o remédio da mão do padrasto e engolindo junto à água. 

“Mas agora vai ajudar.” Ele não sabia se realmente iria, mas pelo menos torcia que sim. “Eu também trouxe uma pomada que ajuda nas dores. Eu posso fazer uma massagem nas suas têmporas pra ajudar na dor de cabeça.” Jean ofereceu. 

“Não precisa.” A menina voltou a deitar. 

Jean sentou do seu lado e fitou o seu rosto triste e cansado. “Cheryl, deixa de ser teimosa. Não precisa ficar com medo. Eu só quero que você fique bem. De verdade. Deixa eu fazer a massagem. Eu juro que vai ser só isso. Uma massagem nas têmporas pra te ajudar na dor de cabeça. Nada mais.” Jean falou, praticamente implorando. 

“Não é isso. Eu só acho que não vai adiantar.” Cheryl falou conflituosa. Ela não gostava de ficar sozinha com o padrasto, mas ao mesmo tempo, estava com tanta dor, que tudo o que queria era não sentir mais dor. 

“A gente tenta. Pior não vai ficar.”

“Tá bom.” A inglesa concordou. 

“Minha mãe usava essa pomada em mim quando eu era criança e realmente ajudava. Funciona pra dor no corpo também. Depois vou pedir pra sua mãe passar nas suas costas. Posso ligar a televisão e botar um filme de Natal? Acho que vai ajudar a distrair a sua mente da dor e fazer você sentir que tá vivenciando um pouco o natal. A não ser que a luz da tv te dê mais dor de cabeça. Aí é melhor não ligar.”

“Pode botar o filme.” Cheryl concordou. “Mas sem ser aqueles romances cheesy natalinos.” A Geordie acrescentou. 

“Esses são os que mais tem.” Jean riu. 

“Eu quero um de crianças aventureiras salvando o Natal. Ou um de alguém aprendendo o verdadeiro significado do Natal.”

“Um do Disney plus, você quer dizer.” O padrasto da menina brincou. 

“Isso.” Cheryl riu. 

Jean passou pelo catálogo de filmes do Disney Plus. “O que acha desse? Um herói de brinquedo? Ele se enquadra nos seus requisitos.”

“Hummm. Pode botar.”

“Não senti muita firmeza. Posso botar mesmo?” Ele brincou.

“Pode.” A menina revirou os olhos e sorriu. 

JB deu play no filme e se ajustou na cama, colocando um travesseiro no seu colo para a garota deitar em cima. Ele passou os dedos no remédio e começou a fazer a massagem, enquanto assistia o filme com a enteada. De todos os momentos do dia, aquele estava sendo o seu preferido. 

O filme era divertido e os dois riam das mesmas partes, mas, infelizmente, por volta da metade do filme, a mãe da menina apareceu, pedindo para revezar com o marido. 

Quando Jean abriu a porta para sair, a Geordie falou da cama. 

“Eu tô me sentindo bem melhor… obrigada.”

“De nada.” JB deu um meio sorriso e voltou para a festa.

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