sábado, 12 de dezembro de 2020

Adoptaticia (Amendobobo)

Ato de rebeldia

Diminuir dor

Seguir em frente

Crescer

Feita para perdão

Adoptaticia

Eram tantas coisas que martelavam sua cabeça que estava praticamente impossível conviver consigo mesma. Ela amava seus padrinhos, mas amava seus pais mais, afinal, eram seus pais, não eram?

Seu mundo caía aos pedaços na sua frente e ela não podia fazer nada, a não ser assistir de camarote a destruição. Ninguém podia ajudá-la, por mais que quisessem, a não ser que alguém tivesse uma porção mágica para transformar seus pais adotivos em seus pais biológicos e seus pais biológicos em padrinhos de novo.

Andrew, doce Andrew. 

É claro que ele queria seu bem, mas a sua proximidade era tóxica. Como ela conseguiria dormir a noite sabendo que estava apaixonado pelo marido de sua própria mãe. Ela se sentia enjoada, ela queria vomitar.

Emma levantou a tampa do vaso e vomitou.

Ato de rebeldia.

Seria o suficiente, deveria bastar.

Era tão fácil encomendar um prostituto assim como era fácil encomendar uma pizza. Aquele parecia ser decente e até lembrava o outro.

É, seria ele.

O professor de inglês tentou convencê-la do contrário. - Você se arrependerá - ele disse, sem se dar conta de quantas coisas a menina já se arrependia.

Diminuir dor

Enganar seu padrinho para dormir fora de casa foi tão fácil como tomar doce de criança.

Emma foi até o hotel combinado e bateu na porta do quarto antes de entrar. Lá estava ele. Josh.

Seguir em frente

"Oi." Emma disse nervosa.

"Senhorita Jean?

"Pode me chamar só de Jean."

"Prazer em conhecê-la, eu sou o Josh, mas pode me chamar do que você quiser."

"Josh tá ótimo."

"Desculpa. Eu tô surpreso. Você é linda."

"Geralmente suas clientes são feias?"

"E bem mais velhas."

"Deve ser chato."

"A gente se acostuma. Então, como é que vai ser? Você pagou pela noite. Se você quiser conversar antes da gente começar, eu sou um bom ouvinte."

"Você costuma conversar antes?"

"Têm muitas mulheres que conversam antes."

"Não sabia."

"Que tal você falar o que tá te afligindo enquanto eu faço uma massagem nos seus pés?"

"Como você sabe que tem algo me afligindo?"

"Tá estampado no seu rosto que tem algo rolando com você. E também, você é bonita demais pra precisar dos serviços de alguém como eu." Josh pegou a mão da menina, fez ela se sentar e depois tirou seus sapatos.

"Eu descobri que sou adotada."

"Que m***a."

"Minha madrinha, que é minha mãe tá com uma gravidez de risco e se corta de tempos em tempos. Meu padrinho, que é meu pai tá só existindo, vagando pela casa com dor de cotovelo. Meus pais que são meus pais adotivos mudaram de país e me deram a escolha de ir com eles, mas eu neguei e agora acham que eu não amo eles o bastante. Meu irmão me odeia. Eu tô apaixonada pelo marido da minha mãe e também transei com o filho dele."

"Eu queria dizer que escuto isso todos os dias, mas eu estaria mentindo."

"Imagino." Emma deu uma risada amarga.

"Mas ser adotada não é o fim do mundo. Você só ganhou outra mãe e outro pai."

Crescer

"Eu sei. Mas não é bem assim, é? Eu sinto que perdi os meus pais verdadeiros. Eu amo tanto eles." Emma começou a chorar.

"Ei, não chora." Josh se levantou e secou as lágrimas da menina com as costas da mão. "Seus pais verdadeiros sempre souberam que você não era biologicamente deles e sempre te amaram mesmo assim. Isso não vai mudar porque agora você descobriu a verdade. Você que tá muito agarrada nessa coisa de sangue. Seus pais nem pensam nisso. Você é a filha deles e pronto."

"Eu queria que eles soubessem que são as coisas mais importantes pra mim."

"Então fala! O que te impede?"

"Eu também amo meus padrinhos."

"E qual é o problema?"

"Eles me querem como filha deles e eu não quero ser, mas também não quero magoá-los."

"Você não precisa ser filha deles se não quiser."

"Mas eles vão ficar tristes."

"Você é daquelas que quer agradar todo o mundo?"

"Só os meus pais, meus padrinhos e o meu padrasto."

"O que você é apaixonada?"

"Sim, mas não quero ser mais."

"Tenta conhecer outros caras."

"Já tentei. Mas nenhum é como ele. Nenhum."

"Eu espero poder fazer você esquecer dele um pouco hoje."

"Eu também."

Josh beijou Emma.

Beijar Josh era bom. Ele tinha um bom hálito e uma boa barba. Lembrava um pouco a do Andrew.

Emma aprofundou o beijo e Josh tirou a roupa de baixo da menina.

A ruiva despiu Josh e recebeu a língua dele de volta na sua boca e seus dedos na sua intimidade.

Emma continuou beijando Josh e quando se deu conta estava chorando.

"Você quer que eu pare?"

Emma não conseguiu responder e apenas assentiu.

Josh se afastou e esperou os novos comandos da menina.

"Eu não quero mais. Pode ir embora." Emma falou quando sua voz voltou.

"Tem certeza?"

"Sim. Por favor."

"Tá bom." Josh colocou a roupa depressa. "Não quer nem dormir sem fazer nada? Eu faço carinho enquanto você dorme."

"Não. Pode ir."

Josh assentiu e saiu.

Emma ficou horas deitada imóvel na cama. Depois ela se levantou e saiu batida.

Ela abriu a porta de casa, depois a do quarto, se agachou na cama e sussurou para não acordar a pessoa ao lado.

"Dinda! Dinda!"

"Emma?" Jessica perguntou sonolenta.

"Me coloca pra dormir?" Emma chorava. Jessica levantou de imediato e levou a menina para a sala.

"O que aconteceu, meu amor?" Jessica pegou sua menina nos braços e a abraçou como se fosse a coisa mais preciosa do mundo. 

"Eu briguei com a Saoirse. Ela tá com raiva." Emma não parava de chorar.

"Vai ficar tudo bem. Vocês vão se resolver."Jessica afagava a cabeça da sua menina carinhosamente. 

"Ela é minha única amiga. Eu não tenho mais ninguém."

"Isso não é verdade."

E com isso, Jessica levou Emma para o quarto para se trocar.

A advogada colocou a afilhada na cama e alisou seu rosto.

"Eu não quero que você pense no que aconteceu. Fecha os olhos e vai dormir." Jessica alertou.

"Dorme comigo? Por favor." Emma implorou.

"Claro, meu amor. Eu só vou avisar ao Andrew pra ele não ficar preocupado de não me ver mais na cama."

"Não! Eu não quero ficar sozinha."

"É só um minuto, Emma."

"Por favor." Emma puxou o braço da madrinha, trazendo ela em direção à cama.

"Tá bom, tá bom."

Jessica se posicionou ao lado da menina e colocou seu braço em volta dela.

"Você me ama, dinda?"

"Mais do que a minha vida." Jessica beijou sua cabeça. 

Feita para perdão

"Eu também te amo." Emma puxou sua dinda mais para si. 

"Você tá bem?"

"Melhorando. Canta pra mim?" 

"Claro."

Jessica começou a cantar baixinho, fazendo carinho na afilhada até ela pegar num sono. 

"Gosto muito de te ver, leãozinho

Caminhando sob o sol

Gosto muito de você, leãozinho

Para desentristecer, leãozinho

O meu coração tão só

Basta eu encontrar você no caminho

Um filhote de leão, raio da manhã

Arrastando o meu olhar como um ímã

O meu coração é o sol, pai de toda cor

Quando ele lhe doura a pele ao léu

Gosto de te ver ao sol, leãozinho

De ter ver entrar no mar

Tua pele, tua luz, tua juba

Gosto de ficar ao sol, leãozinho

De molhar minha juba

De estar perto de você e entrar numa 

(...)"

Aquela voz e aquela presença tão familiar era tudo o que a menina precisava para ficar em paz. 

Adoptaticia


Nenhum comentário:

Postar um comentário