segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Exit Wounds

O som das risadas da plateia ao vivo de friends constrastava amargamente com seu estado de espírito. O mundo era cruel e nada parecia fazê-lo mudar de ideia. Talvez um pouco o colo de sua afilhada. A presença dela em casa estava sendo crucial para sua recuperação. A quem ele estava enganando? Ele nunca se recuperaria daquele golpe, mas ao menos, tinham duas coisas que eram dele e que significavam mais do que tudo e elas estavam ali, quer dizer, uma delas estava, a outra estava na casa da mãe tomando banho de piscina no quintal da casa nova. Bradley assistia Ross discutir com Rachel por uma coisa sem sentido enquanto Emma digitava incessantemente no celular. Com quem ela estaria falando? Channing? Gosling? Guilherme? Ed? Edward? Jesse? Tinham tantos deles que estava parecendo a franquia de velozes e furiosos. Já estavam em qual filme mesmo? Nove? Dez? 

O episódio terminou e Emma continuava com a cara enfiada naquele maldito celular. 

"Com quem que você tanto fala?" 

"Com o pessoal da EBD." Emma usava o corpo do dindo como descanso de braço. 

"E o que vocês tem tanto pra falar?" 

"Nada importante, mas é muito engraçado." Emma respondeu sem tirar a atenção do telefone. 

"Não consigo entender a juventude de hoje."

"Você fala como se fosse um velho."

"Eu já tô velho."

"Você não tá nem na metade dos quarenta." 

"Eu me sinto velho."

"Bem, você não é."

"Você deveria cuidar melhor de mim, não vou durar pra sempre."

"Quanto drama..." Emma colocou o celular de lado, finalmente. 

"É verdade, Emma."

"O que você quer que eu faça?" Emma começou a pentear a barba do dindo com os dedos. 

"Que você fique comigo pra sempre."

"Mais alguma coisa?" 

"Que você me dê mais atenção."

"Eu já não dou?" 

"Não o suficiente. Eu tô carente."

"E a Jennifer não pode fazer isso?" 

"A gente terminou."

"O quê?" 

"É."

"Por quê?" 

"Porque eu sou um fracassado e um idiota."

"Ela disse isso?" 

"Não."

"Então como vo.. "

"Eu não podia ficar com ela de luto por outra."

"Dindo!"

Bradley escondeu o rosto na barriga da afilhada e deixou as lágrimas caírem livremente. A mão da sua afilhada afagando seu cabelo era reconfortante e pouco a pouco, foi se acalmando. O professor se sentia patético de chorar daquela forma pela sua ex-mulher casada e grávida do seu ex-melhor-amigo, mas o que ele podia fazer? A traição dos dois era uma ferida aberta que jamais se cicatrizaria, pelo menos, parecia que não. 

"Você tá melhor?" Emma perguntou depois de alguns minutos. 

"Tô. Desculpa pela cena grotesca." Bradley levantou a cabeça do colo da ruiva e limpou o nariz com as costas da mão. 

"Não achei nada disso."

"Você viu a mesa que eu mandei?" 

"Péssima."

"Estragou a sala?" 

"Transformou na sala mais feia que eu já vi."

"Pelo menos isso."

Bradley riu soturnamente. 

Quando Emma se aproximou para abraçá-lo, Bradley viu que tudo o que ele precisava estava ali e na piscina da casa nova de Andréia. 

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