Andrew
estava sentado à mesa, segurando Asa em pé no seu colo, enquanto observava a
família de Antonella reunida em diversos lugares do quintal da casa de sua sogra
e seu sogro. Ele já havia desistido de procurar a mulher, que fugira dele e do
filho o dia inteiro. Em um país estrangeiro onde quase ninguém falava sua
língua, Andrew se sentiu muito sozinho, salvo a presença do filho que ainda não
tinha completado nem 1 ano. A sogra de Andrew, Carlota, vendo que o genro
estava só, pediu para seu marido, Enrico, levá-lo junto com o neto até um dos
lagos daquela região, já que ela mesma não podia, por estar ocupada preparando
a ceia. O professor, então, passou parte da sua tarde do dia 24 de dezembro com
o sogro e seu filho dentro de um lago, o que foi bem desconfortável, já que eles
não tinham intimidade e não conseguiam se comunicar. Teria sido melhor se estivessem
apenas Asa e ele, mas, ainda assim, ficou grato pelo gesto.
Andrew
foi desperto dos seus pensamentos com crianças chamando a sua atenção:
– Andrea? Andrea? Posso toccare Matteo? Per favore! – pediam um grupo de mais ou menos sete crianças. O professor as olhou sem entender o que elas pediam.
– They want to touch Matteo. –
apareceu Sabina para o socorrer. Uma das poucas que sabia
falar minimamente o inglês.
– Oh! Sure! Be my guest. – Ele ergueu
Asa na direção das crianças para que elas pudessem tocá-lo, mas se deteve no
meio do caminho. – Wait, wash your hands first. How do I say that? Lavar mani!
–
Lavatevi prima le mani, bambini! – traduziu Sabina.
As
crianças pareceram desapontadas, mas foram correndo para o banheiro lavar a
mão.
–
Thanks for the help.
–
Your welcome! – Ela sorriu e se levantou saindo de lá, o que foi uma pena para
Andrew, mas ele entendia que ela era muito nova para passar o tempo com ele.
Ele
olhou para Asa, que retribuía o olhar com olhos curiosos:
– I have a little dreidel, I
made it out of clay / and when it’s dry and ready, oh dreidel I shall play. / Oh
dreidel, dreidel, dreidel, I made it out of clay, / and when it’s dry and
ready, oh dreidel I shall play. – Andrew cantarolou para Asa, balançando ele de
um lado para o outro. O bebê sorria. – Who cares about Christmas when we have
Hanukkah, right? Right? – Ele sorria para o filho, brincando com seus bracinhos
– Oh, when the maccabees come marching in / Oh, when the Maccabees Come
marching in / We want to shout and celebrate / When the maccabees come marching
in / Oh, Judah Maccabee / We're marching in / Oh, Judah Maccabee / We're
marching in / He was the leader of the Jews / Oh, Judah Maccabee / We're
marching in.
As
crianças voltaram todas alvoroçadas doidas para tocar no bebê.
– Ci laviamo la mano!
Possiamo toccare? Possiamo toccare?
–
Toccare sì. – Ergueu Asa na direção das crianças. Todas tocaram com muita
alegria. Asa parecia se divertir com aquilo.
–
Posso portare Matteo così possiamo giocare? Poi lo riporto indietro. – Pediu
Giancarlo manhosamente.
–
Non parlo italiano. – As crianças olharam para ele decepcionadas. Andrew, então,
começou – Volare!
–
Oh oh. – Cantaram as crianças em resposta.
“Weird”, Andrew pensou, rindo.
– Cantare!
– Oh, oh, oh, oh / Nel blu dipinto di blu / Felice di stare lassù.
– The rest I don't know.
–
Ciao, Matteo. Ciao! Ciao, Andrea. – Se despediram as crianças começando a
correr.
O
professor não gostava muito da mania de toda a família da Antonella de chamar
Asa de Matteo. Asa era o primeiro nome, portanto, era como deveria ser chamado,
mas, a fim de não arrumar confusão, deixou as coisas como estavam. Felizmente,
as únicas pessoas que insistiam em chamá-lo de Andrea eram as crianças, assim
que descobriram a versão em italiano do seu nome.
–
Once again, just you and me, buddy. – Andrew olhou ao redor inevitavelmente
procurando Antonella. Viu ela junto de algumas pessoas tirando foto. O inglês
reprovou sua atitude. Mesmo com raiva, nem ele, muito menos o filho merecia ser
tratado com tanto desdém. Por mais que aos olhos dos familiares, a italiana
dissimulasse que estava tudo bem, era fácil perceber que havia um problema,
afinal, da última vez que foi ao país, Antonella não desgrudou dele por um
segundo, levando-o para vários lugares, contando os pormenores de sua vida
naquele vilarejo, enfim, estando junto.
O
professor continuou brincando com Asa, trocou sua fralda quando ficou suja e contou
algumas historinhas infantis que sabia de cabeça. Foi interrompido em uma
dessas história com o aparecimento de Antonella. Antes que ele pudesse dizer
alguma coisa, ela pediu de mau humor:
–
Give me Asa.
–
Why?
– Why? Because he’s my son.
“So now you remember…”
–
Ok. – Ele entregou Asa para a mulher, que o levou embora para longe dele.
Andrew queria gritar, mas segurou sua raiva para dentro. Ele estava muito magoado.
Quando se deu conta, Antonella estava tirando fotos com alguns membros de sua
família e o filho. Andrew era o único da lista de cônjuges vindo de outra
família que estava sozinho. Tudo o que ele queria fazer era dormir. Nem se
importava mais com a ceia, que só seria servida às 00:00. Aquilo era humilhação
demais! Pouco tempo depois, Chiara, irmã mais velha de Antonella, sentou-se do
seu lado.
–
Are you ok?
–
I’m wonderful. – Respondeu sarcasticamente.
– I’m sorry. My family really
likes you. They just don't know how to communicate with you. I can be your
translator if you like.
– Thank you. I’m fine, really.
– I know it's none of my
business, but did you and Antonella fight?
– What did she say?
– She didn’t want to talk
about it.
– We are fine. I'll talk to
her later.
– You know… Antonella
can be quite immature sometimes. – Andrew levantou os dois ombros em resposta.
Ele não achava seguro falar sobre a mulher com Chiara. Ele sabia onde a
lealdade dela naturalmente estava. – But she really loves you. She is also sad.
O
professor queria que Chiara fosse embora. Preferia ficar sozinho do que escutar
aquilo. Que Natal mais horrível. Estava pior que o Natal de 1989.
.
.
.
– Mother, cut this crap. You spend the whole year not caring about
us, about your family, and, suddenly, on Christmas, you want to pretend that
we're all together and happy? I'm sorry but I will not participate of this
bullshit.
O Tannenbaum, O Tannenbaum
Wie treu sind deine Blatter!
– So go away! Go and see that
bitch. You will not be missed.
O Tannenbaum, O Tannenbaum
Wie treu sind deine Blatter!
Andrew
sorria abobalhadamente vendo sua mãe e seu irmão mais velho brigando.
– You less than anyone else should
say that about my girlfriend.
– Matt, stop! – pediu Charles,
nervoso.
– Get out of my house now, you
son of…!
Du grunst nicht nur zur
Sommerzeit,
Nein, auch im Winter, wenn es
schneit.
– Son of what? Finish, mom. I
wanna know.
Andrew
se segurava para não rir. Aquilo era hilário.
– Man, you're a douchebag. – Gritou
Charles.
–
Stop laughing, Andrew. What is so funny about that? – pediu Steve baixinho, que
antes tinha dado um chute nele debaixo da mesa.
O Tannenbaum, O Tannenbaum
Wie treu sind deine Blatter!
– Why are we even hearing this
version of Oh Christmas Three? Is there a nazi here? – Andrew ria
ainda mais. Ninguém além de Steve havia percebido suas risadas.
– Now only my beautiful
children will remain. Go away, Matt. You were really diverging.
– Oh, mom, I could even care
if you didn't look like a witch.
–
You will get what you deserve a long time ago. – Levantou June, pronta para
bater no filho com a escumadeira que pegou da mesa.
– Dude, there's blood coming
out of your nose! – Gritou Steve.
Andrew
colocou imediatamente o dedo no nariz e viu que, de fato, tinha sangue azul saindo
do seu nariz. “I’m a smurf!”, pensou, rindo. Logo em seguida, sua cabeça caiu
com tudo no prato que estava na sua frente, dando um susto em todos os
presentes.
.
.
.
Andrew
teve um calafrio. Não! Definitivamente, aquilo não era pior que o Natal de
1989. Nenhum poderia ser. De fato, ele estava brigado com Antonella, mas não
era o fim do mundo. Daqui a pouco eles se resolveriam. E agora ele tinha Asa,
seu filho. Era seu primeiro Natal sendo pai. Ele não tinha mais 15 anos,
portanto, não deixaria seu orgulho, ou seja lá o que fosse, afetar um dia tão
importante na vida dele como pai e marido. Andrew se levantou da cadeira
cansado de sentir autopiedade e foi com determinação resolver as coisas com Antonella,
grato pelas duas coisas mais especiais de sua vida.
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