sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Contos natalinos - O fantasma do Natal passado

Andrew estava sentado à mesa, segurando Asa em pé no seu colo, enquanto observava a família de Antonella reunida em diversos lugares do quintal da casa de sua sogra e seu sogro. Ele já havia desistido de procurar a mulher, que fugira dele e do filho o dia inteiro. Em um país estrangeiro onde quase ninguém falava sua língua, Andrew se sentiu muito sozinho, salvo a presença do filho que ainda não tinha completado nem 1 ano. A sogra de Andrew, Carlota, vendo que o genro estava só, pediu para seu marido, Enrico, levá-lo junto com o neto até um dos lagos daquela região, já que ela mesma não podia, por estar ocupada preparando a ceia. O professor, então, passou parte da sua tarde do dia 24 de dezembro com o sogro e seu filho dentro de um lago, o que foi bem desconfortável, já que eles não tinham intimidade e não conseguiam se comunicar. Teria sido melhor se estivessem apenas Asa e ele, mas, ainda assim, ficou grato pelo gesto.

Andrew foi desperto dos seus pensamentos com crianças chamando a sua atenção:

– Andrea? Andrea? Posso toccare Matteo? Per favore! – pediam um grupo de mais ou menos sete crianças. O professor as olhou sem entender o que elas pediam.

– They want to touch Matteo. – apareceu Sabina para o socorrer. Uma das poucas que sabia falar minimamente o inglês.

Oh! Sure! Be my guest. – Ele ergueu Asa na direção das crianças para que elas pudessem tocá-lo, mas se deteve no meio do caminho. – Wait, wash your hands first. How do I say that? Lavar mani!

– Lavatevi prima le mani, bambini! – traduziu Sabina.

As crianças pareceram desapontadas, mas foram correndo para o banheiro lavar a mão.

– Thanks for the help.

– Your welcome! – Ela sorriu e se levantou saindo de lá, o que foi uma pena para Andrew, mas ele entendia que ela era muito nova para passar o tempo com ele.

Ele olhou para Asa, que retribuía o olhar com olhos curiosos:

– I have a little dreidel, I made it out of clay / and when it’s dry and ready, oh dreidel I shall play. / Oh dreidel, dreidel, dreidel, I made it out of clay, / and when it’s dry and ready, oh dreidel I shall play. – Andrew cantarolou para Asa, balançando ele de um lado para o outro. O bebê sorria. – Who cares about Christmas when we have Hanukkah, right? Right? – Ele sorria para o filho, brincando com seus bracinhos – Oh, when the maccabees come marching in / Oh, when the Maccabees Come marching in / We want to shout and celebrate / When the maccabees come marching in / Oh, Judah Maccabee / We're marching in / Oh, Judah Maccabee / We're marching in / He was the leader of the Jews / Oh, Judah Maccabee / We're marching in.

As crianças voltaram todas alvoroçadas doidas para tocar no bebê.

– Ci laviamo la mano! Possiamo toccare? Possiamo toccare?

– Toccare sì. – Ergueu Asa na direção das crianças. Todas tocaram com muita alegria. Asa parecia se divertir com aquilo.

– Posso portare Matteo così possiamo giocare? Poi lo riporto indietro. – Pediu Giancarlo manhosamente.

– Non parlo italiano. – As crianças olharam para ele decepcionadas. Andrew, então, começou – Volare!

– Oh oh. – Cantaram as crianças em resposta.

“Weird”, Andrew pensou, rindo.

– Cantare!

– Oh, oh, oh, oh / Nel blu dipinto di blu / Felice di stare lassù.

– The rest I don't know.

– Ciao, Matteo. Ciao! Ciao, Andrea. – Se despediram as crianças começando a correr.

O professor não gostava muito da mania de toda a família da Antonella de chamar Asa de Matteo. Asa era o primeiro nome, portanto, era como deveria ser chamado, mas, a fim de não arrumar confusão, deixou as coisas como estavam. Felizmente, as únicas pessoas que insistiam em chamá-lo de Andrea eram as crianças, assim que descobriram a versão em italiano do seu nome.

– Once again, just you and me, buddy. – Andrew olhou ao redor inevitavelmente procurando Antonella. Viu ela junto de algumas pessoas tirando foto. O inglês reprovou sua atitude. Mesmo com raiva, nem ele, muito menos o filho merecia ser tratado com tanto desdém. Por mais que aos olhos dos familiares, a italiana dissimulasse que estava tudo bem, era fácil perceber que havia um problema, afinal, da última vez que foi ao país, Antonella não desgrudou dele por um segundo, levando-o para vários lugares, contando os pormenores de sua vida naquele vilarejo, enfim, estando junto.

O professor continuou brincando com Asa, trocou sua fralda quando ficou suja e contou algumas historinhas infantis que sabia de cabeça. Foi interrompido em uma dessas história com o aparecimento de Antonella. Antes que ele pudesse dizer alguma coisa, ela pediu de mau humor:

– Give me Asa.

– Why?

– Why? Because he’s my son.

“So now you remember…”

– Ok. – Ele entregou Asa para a mulher, que o levou embora para longe dele. Andrew queria gritar, mas segurou sua raiva para dentro. Ele estava muito magoado. Quando se deu conta, Antonella estava tirando fotos com alguns membros de sua família e o filho. Andrew era o único da lista de cônjuges vindo de outra família que estava sozinho. Tudo o que ele queria fazer era dormir. Nem se importava mais com a ceia, que só seria servida às 00:00. Aquilo era humilhação demais! Pouco tempo depois, Chiara, irmã mais velha de Antonella, sentou-se do seu lado.

– Are you ok?

– I’m wonderful. – Respondeu sarcasticamente.

– I’m sorry. My family really likes you. They just don't know how to communicate with you. I can be your translator if you like.

– Thank you. I’m fine, really.

– I know it's none of my business, but did you and Antonella fight?

– What did she say?

– She didn’t want to talk about it.

– We are fine. I'll talk to her later.

– You know… Antonella can be quite immature sometimes. – Andrew levantou os dois ombros em resposta. Ele não achava seguro falar sobre a mulher com Chiara. Ele sabia onde a lealdade dela naturalmente estava. – But she really loves you. She is also sad.

O professor queria que Chiara fosse embora. Preferia ficar sozinho do que escutar aquilo. Que Natal mais horrível. Estava pior que o Natal de 1989.

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 – Mother, cut this crap. You spend the whole year not caring about us, about your family, and, suddenly, on Christmas, you want to pretend that we're all together and happy? I'm sorry but I will not participate of this bullshit.

O Tannenbaum, O Tannenbaum

Wie treu sind deine Blatter!

– So go away! Go and see that bitch. You will not be missed.

O Tannenbaum, O Tannenbaum

Wie treu sind deine Blatter!

Andrew sorria abobalhadamente vendo sua mãe e seu irmão mais velho brigando.

– You less than anyone else should say that about my girlfriend.

– Matt, stop! – pediu Charles, nervoso.

– Get out of my house now, you son of…!

Du grunst nicht nur zur Sommerzeit,

Nein, auch im Winter, wenn es schneit.

– Son of what? Finish, mom. I wanna know.

Andrew se segurava para não rir. Aquilo era hilário.

– Man, you're a douchebag. – Gritou Charles.

– Stop laughing, Andrew. What is so funny about that? – pediu Steve baixinho, que antes tinha dado um chute nele debaixo da mesa.

O Tannenbaum, O Tannenbaum

Wie treu sind deine Blatter!

– Why are we even hearing this version of Oh Christmas Three? Is there a nazi here? – Andrew ria ainda mais. Ninguém além de Steve havia percebido suas risadas.

– Now only my beautiful children will remain. Go away, Matt. You were really diverging.

– Oh, mom, I could even care if you didn't look like a witch.

– You will get what you deserve a long time ago. – Levantou June, pronta para bater no filho com a escumadeira que pegou da mesa.

– Dude, there's blood coming out of your nose! – Gritou Steve.

Andrew colocou imediatamente o dedo no nariz e viu que, de fato, tinha sangue azul saindo do seu nariz. “I’m a smurf!”, pensou, rindo. Logo em seguida, sua cabeça caiu com tudo no prato que estava na sua frente, dando um susto em todos os presentes.

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Andrew teve um calafrio. Não! Definitivamente, aquilo não era pior que o Natal de 1989. Nenhum poderia ser. De fato, ele estava brigado com Antonella, mas não era o fim do mundo. Daqui a pouco eles se resolveriam. E agora ele tinha Asa, seu filho. Era seu primeiro Natal sendo pai. Ele não tinha mais 15 anos, portanto, não deixaria seu orgulho, ou seja lá o que fosse, afetar um dia tão importante na vida dele como pai e marido. Andrew se levantou da cadeira cansado de sentir autopiedade e foi com determinação resolver as coisas com Antonella, grato pelas duas coisas mais especiais de sua vida.

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