quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Ex-namorados

Tom virou o rosto e fixou os olhos na Geordie ao seu lado. Ela fitava o nada, parecendo estar perdida em pensamentos.

"Tá pensando em quê?"

"Hum?" Cheryl o encarou, franzindo a testa, claramente sem ter ouvido uma palavra que o professor havia dito.

"No que você tá pensando?"

"Nada demais."

"Não me parece nada." Tom passou os dedos pelo braço da menina, de leve.

"Acho que tô só surpresa. Não achei que isso fosse acontecer de novo."

"Sério?" 

"Você achava?" Cheryl arqueou as sobrancelhas. 

"Bom, eu sabia que eu queria, mas não tinha certeza se você ia aceitar."

Cheryl abaixou o olhar, sem graça. 

"Como vão as coisas?" Tom mudou de assunto, tentando dissipar o desconforto da menina. 

"Tudo na mesma. E você? Como vai a sua procura pela companheira ideal?"

"Uma m***a." Tom riu. 

"Por quê?" Cheryl perguntou preocupada. 

"Porque em todas elas eu acho um grande defeito que não consigo lidar."

"Tipo?"

"Tipo nenhuma delas ser você."

"Ah, tá bom."

"Bem que eu queria tá mentindo." Tom se remexeu na cama e voltou a fitar o teto. "Teve uma noite que eu tava com uma mulher muito gostosa no bar..."

Cheryl fitou as mãos, desconfortavelmente. 

"Ela era muito linda e eu tava doido pra transar com ela. Eu comecei a agir sutilmente no começo e segurei a mão dela. Quando eu vi a mão dela na minha e vi que não era a sua foi como um balde de água fria. Eu quase desisti de pegar ela."

"Quase." Cheryl repetiu, sarcasticamente. 

"Geralmente, ex-namoradas não costumam passar na cabeça dos homens nessa hora. Você passa na minha o tempo todo."

"Isso só tá acontecendo porque a gente terminou há pouco tempo. Com o tempo, não vai acontecer mais."

"Pode ser. Mas você tá com todos esses garotos e não pensa em mim nem por um segundo."

"Eu não sou de pensar em outros caras quando eu tô com um."

"Você fala como se fosse uma escolha consciente. Eu penso em você porque claramente ainda não consegui te esquecer, mas você parece que me superou completamente."

"Eu não estaria na sua cama se eu já tivesse te superado."

"Isso é verdade." Tom deu um sorriso esnobe e se inclinou, dando um selinho com força na Geordie. "Senti falta dessa sua boca linda." Ele falou de forma sexy e deu outro selinho. 

"Você não pode ficar me excitando e ter seu jeito comigo toda vez."

"Não?" 

"Não. Você tem que achar uma mulher pra casar. Além disso, já tô quase comprometida."

"Com o Edward?" 

"Sim."

"Eu não diria que vocês tão quase comprometidos."

"Pra mim a gente tá. Acho que agora é só questão de tempo. A não ser que eu tenha interpretado os sinais errado."

"Nunca pensei que ele faria seu tipo."

"Também não." Cheryl riu. "Acho engraçado que têm algumas coisas que nunca passaram pela sua cabeça, aí alguém fala e você começa a imaginar."

"Foi assim que aconteceu com você?" 

"Basicamente."

"Tá gostando dele?" 

"Não vou falar sobre isso com você."

"Por que não?" 

"Porque é estranho!" 

"Não acho. A gente terminou. Não é nada estranho."

Cheryl deu um olhar desconfiado ao ex. 

"É sério. Não vou ficar com ciúmes. Fico feliz que você esteja se envolvendo com garotos mais da sua faixa etária. Eu me sinto culpado às vezes por ter feito você perder tantos anos com um homem velho e cheio de manias e expectativas inconcebíveis pra uma menina da sua idade."

"Nonsense." 

"Você pode discordar agora, mas com o tempo você vai acabar concordando comigo."

Cheryl não soube o que dizer e resolveu responder sua pergunta anterior. "Então, sobre o Edward, acho ele fofo e intenso. É um cara que eu facilmente poderia me apaixonar."

"Não era você que achava ele esnobe?"

"Ainda acho!" Cheryl riu. "Mas tem algo nele que não sei descrever exatamente. Ele às vezes soa muito triste, pessimista e com baixa autoestima. Ele também, sempre que pode, fala da mãe e isso quebra meu coração. Têm umas perdas que são insuperáveis e eu fico triste por ele e por todos que tiveram que perder os pais tão cedo."

"Isso realmente é muito triste."

"Se eu namorar com ele, eu quero conseguir fazer ele feliz, e talvez, fazer ele se esquecer pelo menos um pouco dos problemas."

"Eu tenho certeza que vai. Ele vai ser um cara de muita sorte." Tom se ajeitou na cama para conseguir olhar melhor o rosto da Geordie. "Posso fazer uma pergunta um pouco indiscreta?"

"Lá vem." 

"Por que você não quis transar com o Edward? Seja sincera, por favor."

"Eu quero."

"E por que não ainda?"

"Por vários motivos... a gente ainda não ficou sozinho."

"Mas isso resolve-se rápido."

"E nós vamos resolver."

"Tem alguma coisa a ver com o que aconteceu?"

Cheryl arregalou os olhos, surpresa ."NÃO!"

"Não precisa ficar na defensiva. Eu só quero me certificar que você tá bem."

"Eu tô bem."

"E que você não tá lutando sozinha."

"Não estou."

"Cheryl!"

"Eu não tô traumatizada, ok? Naquela época eu só surtei porque foram as primeiras vezes depois daquilo. Não vai mais acontecer."

"Mas você tem medo que aconteça?"

"Não."

"Tudo bem. Me dá um abraço?"

Cheryl se aproximou e deitou a cabeça no peito do ex. Tom envolveu o corpo da menina protetoramente num abraço e beijou sua cabeça.

"Eu tenho medo que me olhem diferente." A inglesa enxugou uma lágrima que caiu de seus olhos.

"Ninguém vai. O que aconteceu não define quem você é. Você é uma menina linda, confiante, engraçada, atrevida, mimada, estressada, carinhosa, empática, que fala palavrão que nem um marinheiro, sensível, delicada, sagaz, astuta, fofa, de coração gigante e de ótimo senso de humor. Essas coisas que definem você. Ninguém vai ficar te olhando pensando no que aconteceu por causa de um babaca, há mais de um ano."

"É que eu odeio a ideia de ser vítima. Eu prefiro levar a culpa pelo que aconteceu do que ser vítima."

"Você foi vítima de uma adversidade, mas isso não te torna uma vítima. Dá pra ver a diferença?"

"Acho que sim."

"Então não precisa ficar triste." Tom deu outro beijo em sua cabeça.

"Você acha que tem chance de eu entrar em pânico na minha primeira vez com o Edward?"

"O segredo é olhar nos olhos dele. Não uma olhadinha rápida, é pra olhar mesmo. Aí você vai pegar mais confiança e a chance de acontecer alguma coisa é menor. Beija ele, olha nos olhos, se sentiu nervosa, busca os olhos dele de novo. Não deixa a luz toda apagada, e se precisar, faz ele falar alguma coisa porque escutar a voz de quem você é familiarizada também ajuda. No mais, é só manter a calma e fazer o que você faz sempre porque você é muito boa no que faz." Ele deu uma piscada de olho e a morena riu.

"Obrigada."

"Estou sempre às ordens."

"Sabe uma coisa que eu reparei?"

"O quê?"

"Que quando você tava citando minhas qualidades, em nenhum momento você citou inteligente."

"E?"

"Idiota."

Tom gargalhou. "Tava brincando. Eu te acho inteligente, só fugiu da minha mente na hora."

"Sei."

"Eu juro!"

"Aham." 

Cheryl se levantou e começou a se vestir.

"Já tá indo?" Tom perguntou decepcionado.

"Prometi pro meu padrasto que ia jantar em casa." Cheryl explicou abotoando o sutiã.

"Tudo bem."

A Geordie terminou de colocar a última peça de roupa e foi até o professor. "Obrigada por hoje. Você foi incrível." Ela deu um beijo no seu rosto.

"Não foi nada." Ele respondeu timidamente.

"Foi sim, ok? Me leva até a porta?"

"Vamos lá."

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