Cada um com a sua preocupação…

 Asa foi na cozinha pegar um copo d’água. Após tirar a garrafa da geladeira, se deparou com Jane atrás dele.

“Não queria te dar um susto”.

“Você não me deu”.

“Asa… Posso te perguntar uma coisa?”

“Pode”.

“O pessoal da escola está achando que estamos juntos?”

Asa ficou sem graça. Não estava esperando essa pergunta.

“Hã… Bem… Tem algumas pessoas que estão falando… Mas acho que é só para fazerem fofoca. Acho que ninguém acredita nisso de verdade verdade”.

“Entendi”, Jane respondeu refletindo.

“Quem te contou isso, desculpa perguntar?” Asa estava desconfiando de Crystall. Provavelmente tinha sido ela. Quem mais seria?

“Eu li no blog na notícia sobre a sua amiga e a briga com o Eric”.

“Verdade, ela fez um comentário sobre isso”.

“Sim”, Jane concordou. “Você e o Eric se resolveram?”

“Sim, sim. Obrigado por perguntar”. Era mentira, mas ele não achou apropriado falar a verdade e enchê-la com problemas dele. “Você está lendo o blog então?”

“Eu estava sem ler há bastante tempo, mas agora que estou prestes a voltar, senti que precisava me atualizar. Ver se aconteceu algo grande”.

“Aconteceram algumas coisas”.

“É sim. Nicola ganhou um presente do Vincent, Ryan foi rejeitado, um orgasmo antigo da Cheryl, Margot tem avó, Cheryl tem 5 anos e escreve iniciais de namoro no tronco da árvore, Kimberley emotiva com viagens, sua irmã faz natação, você é homofóbico. É, algumas coisas”.

“É”, Asa concordou sem jeito.

“Te ofendi? Desculpa, não quis te ofender”.

“Não, claro que não”.

“Eu não te achei homofóbico, achei o Eric sem… precipitado”.

“Olha, está todo mundo focado na Margot agora”.

“Claro”, Jane respondeu, começando a roer a unha. “É que eu só queria… eu só queria não voltar… em fevereiro, sabe? Eu queria voltar no meio do ano. Eu já vi a matéria que vocês ainda vão aprender”.

“Eu acho que sei o que você quer fazer, mas não acho que iria funcionar. Independentemente de quando você voltar, as pessoas vão comentar. Olha, isso vai ser assunto para, no máximo, dois dias e olhe lá. Depois as pessoas vão focar em outra coisa”.

“Sim”, Jane concordou, continuando a roer a unha. “Sua sala que vai comentar por mais tempo”.

“Não se preocup…”, Asa se deteve quando a mãe entrou na cozinha para pegar um copo d’água também. Vendo que não estava falando nada de mais, continuou “Minha turma é muito parada. O pessoal não é muito de comentar nada não”.

“Que bom”, a morena falou sem entusiasmo.

Antonella jogou uma água no copo e saiu da cozinha dando uma olhadela para os dois.

“Acho que a sua mãe não gostou da nossa conversa”.

“Não, minha mãe só está com cara de cansada por causa do bebê”.

“Tudo bem, Asa! Obrigada pelas informações. Não quero mais tomar o seu tempo”.

“Você não está tomando o meu tempo de maneira alguma. E Jane, olha: quando você voltar, nós vamos te proteger”.

“Obrigada, mas é que…”, ela olhou para baixo “Podem acabar achando que somos um casal e eu não queria isso. Não quero que as pessoas comentem nada sobre mim”.

“Olha, eu acredito que elas vão comentar, nós dois andando juntos ou não. Mas eu estou saindo com a Ana para todos os efeitos, então acho que depois devem parar”.

“Quem é Ana?”

“Da sua turma.”

“Você fala com a Ana?”

“Bem… A gente passou a se falar, porque ela ficava perguntando de você para mim, aí uma coisa passou a levar a outra e agora estamos saindo”.

“Legal! A Ana é bem gente boa mesmo”.

“Sim, ela é”.

Os dois ficaram em silêncio. Jane olhava para a sua mão, que parecia que tinha começado a tremer. Asa teve vontade de segurar aquela mão, não por uma questão de carinho, mas para fazê-la parar de tremer. Só não fez, porque poderia ser mal interpretado e também porque tinha quase certeza de que a mãe voltaria para a cozinha.

“Mais alguém perguntou de mim?”

“Algumas pessoas. Quer saber quais foram?”

“Não”.

“Oka…”

“Meu irmão perguntou?”

“Sim, ele pergunta sobre você. A Joanne também”.

“Legal”, Jane saiu disparada da cozinha, deixando Asa confuso. 

O garoto finalmente tomou seu copo d’água e estava indo guardar a garrafa, quando ouviu Jane voltar para a cozinha e falar:

“Ah, Asa, valeu!”

Ele fez um leve gesto com a cabeça e a garota saiu mais uma vez do cômodo. Asa então guardou a garrafa na geladeira e quando estava prestes a sair da cozinha, sua mãe entrou:

“Asa, precisamos conversar”.

Lá vamos nós…