terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Mother!

 *Essa conversa foi traduzida*


“Você parece feliz, meu filho!”, June disse ao sentar no banco.


Ela e o filho estavam caminhando pelo calçadão de Ipanema, mas resolveram dar uma parada para descansarem, ou melhor, para ela descansar.


“Asa conseguiu alta do psicólogo”, Andrew falou feliz.


“É mesmo? Que maravilha! Acho essa coisa de psicólogo muito desnecessária”.


“Ele precisava, mãe”, Andrew falou sério dessa vez.


“Não gosto de gente que fica mexendo em problema, mas é o que eu penso, é o que eu penso. Na minha época não tinha nada disso e vivíamos melhor do que vocês vivem hoje”.


O professor preferiu não contrariar a mãe. Estava feliz demais para estragar esse momento discordando de June e comprovando seu argumento.


“Ele ainda vai frequentar o psicólogo, mas em uma frequência menor; é mais pra desabafar, caso ele precise, só que agora vai ser de 2 em 2 meses”.


“Então não teve alta”.


“Teve sim! Ele não é obrigado a fazer essa visita, mas o psicólogo achou melhor. Disse que todo mundo deveria ter contato com um psicólogo”.


“Já falei o que acho sobre isso, mas pelo menos ele vai menos vezes agora… Você e seus irmãos, por exemplo, não precisaram ir para um psicólogo só porque seu pai e eu nos separamos e ficaram bem”.


“Mas com o Asa é diferente, fora que nós não colocamos o Asa lá por causa do divórcio, apesar de que teria sido melhor se tivéssemos feito isso”.


“Então por que ele foi então?”


Andrew não queria falar sobre aquilo de novo.


“Ah, mãe, foi porque… Bem, é um assunto complicado!”


“Está escondendo coisas da sua mãe?”


“Não, mãe, o problema é que você já sabe. Você só… se esqueceu…”


“Maldita doença!”


“Acontece, mãe. Na verdade, você está muito melhor do que todos nós achávamos que você estaria a essa altura. Você está muito bem”.


“Não me sinto a mesma”.


“Pra mim você é a mesma de sempre”, mentiu o filho.


“Bem, eu não me sinto assim”, June falou olhando concentrada para o mar. “Já falei que você é um filho da p**a hoje?”


“Não, mãe, não falou”.



“Pois você é um filho da p**a, sempre foi! Está vendo? Estou perdendo o jeito!”


“Resolvido agora”.


Os dois ficaram quietos até Dona June quebrá-lo mais uma vez.


“Você está casado com quem agora? Você teve tantas mulheres, é difícil acompanhar”.


“Tive não!”, Andrew falou na defensiva. “Estou casado com a Jessica, a  ruiva”.


“Aaah, sim, aquela ruiva, sei, sei… E o que aconteceu com a que veio antes dela?”


“A Antonella?”


“A Antonella foi a última antes da Jessica?”


“Foi, mãe! Falei que não tive quase mulher”.


“Oficialmente”.


“É, oficialmente”, ele sorriu. “Sobre a Antonella, ela está bem, acabou de ter bebê”.


Andrew já tinha dado aquela informação, mas ele não gostava de relembrar constantemente à mãe de que ela estava esquecida.


“Ela casou de novo?”


“Casou, se divorciou e agora está morando junto do pai da última filha dela, a recém-nascida”.


“Acabou que ela se deu mal também, não foi só você”.


“Eu agora estou bem. Reconquistei a minha família”.


“Você nunca deixou de ter uma”.


“Eu sei, mas você entendeu o que eu quis dizer… Em relação à mulher e filhos”.


“Eu já fui mais com a cara da sua mulher e seus filhos são muito mal educados! A melhor é a que puxa o cabelinho, mas é muito aparecida. No outro dia seu filho me chamou de leitoa!”


Disso ela lembrava.


“Eu sei, desculpa! Vou tentar dar um jeito nisso. É que eles ainda são muito novos, estão sem filtro”.


“Se fosse meu filho já teria levado uma surra! Você e seus irmãos ficaram rebeldes eventualmente, mas quando eram crianças e falavam o que não deviam, eu já pegava a corda”.


“Ele disse leitoa de uma maneira carinhosa”.


“É, então eu vou te chamar de corno e vamos ver se você vai achar carinhoso. A imagem de uma leitoa é algo muito feio”.



“Eu vou mandar ele te pedir desculpas”.


“Andrew, sei que minha memória não está lá essas coisas; sei que você sempre foi um dos mais sensíveis dos seus irmãos; sei até que você teve um namorado, mas, filho, desde que você teve aquele casamento pavoroso com a Antonella, você ficou frouxo. Quando você se prende a uma, fica frouxo com tudo, com a mulher, com os filhos, com as pessoas. Tem que parar com isso!”


“Eu nunca tive um namorado”.


“Foi a isso que você se prendeu?”


“Foi”.


“Honestamente, eu odeio a Antonella”.


“Você amava a Antonella”.


“Eu entendia as escolhas dela, até porque eu fiz escolhas parecidas, mas estou tomando partido, porque você é o meu filho e o que ela fez, você carrega até hoje”.


Aquilo comoveu Andrew, até porque ele sempre havia se incomodado dela nunca ter tomado o seu partido na época.


“Culpa minha por ser frouxo. Deveria ter lidado com mais dignidade”.


“Eu deveria ter te batido mais pra você não ficar deitando para os outros, ainda mais na época em que você era gay e drogado”.


Ela também não se esquecia de que ele havia sido drogado.


“Eu nunca fui gay”.


“Você estudou num colégio só pra garotos, é óbvio que você já se envolveu com homem”.


“Você estudou num colégio só pra garotas!”


“Aí é que tá!”


“Mãe, você já namorou mulher?”, Andrew parecia chocado.


“Claro que não! Eu tenho lá cara de quem namoraria mulher? Mas já dei meus beijinhos, isso eu já fiz”.



“Mãe!”


“Só tinha mulher, eu estava na puberdade, queria que eu fizesse o quê?”


“Justo”.


June riu.


“Só não conte para os seus irmãos”.


“Não vou contar”.


“Eu só quero que você seja feliz”.


“Eu sei. E eu sou”.


“Você deveria voltar para a Inglaterra, é o seu lugar. Você seria mais feliz lá”.


“Agora é impossível! Meu trabalho é aqui, a vida dos meus filhos é aqui, a Jessica trabalha aqui”.


“Queria que vocês estivessem lá”.


“Eu também, me desculpa!”


Os dois ficaram em silêncio mais uma vez.


“Acho muito estranho que antes da Jessica você só tenha se relacionado seriamente com a Antonella”.


“Eu tive meus casinhos”.


“Mas nenhum significativo”.


“Bem, teve um que pra mim foi significativo”.


“A Charlotte?”


“Charlotte foi na faculdade. Não, foi uma daqui do Brasil”.


“Vocês namoraram?”


“Não exatamente, mas eu a amei muito”.


“E o que aconteceu?”


“Várias coisas. Ela era jovem, queria ficar no casual”.


“Uma Marianne”.


“Não dá para comparar ela com a Marianne. Ela era completamente superior”.


“Nome”.


“Isaura”.


“Nome feio”.


“Mas era linda”.


“Então você se envolveu com a tal Isaura, que era jovem… Quantos anos?”


“21”.


“De 21 anos, mas ela queria algo casual, enquanto você queria algo sério”.


“A princípio eu queria casual também, mas a Isaura era muito… Ela me intrigava”.


“E aí?”


“E aí que depois ela parou de só me intrigar, ela passou a ser mais coisas”.


“E?”


“E aí eu queria passar muito tempo com a Isaura e assumir a Isaura, só que não deu”.


“Porque ela não queria o mesmo que você”.


“Porque… Porque não dava. Ela já tinha alguém”.


“Ela tinha namorado?”


“A família dela já tinha planos”.


“Não estou conseguindo acompanhar”.


“Não deu certo, é isso que você precisa saber. Eu até falei pra ela que nós podíamos tentar, poderíamos ficar junto, mesmo que a família dela acabasse descobrindo e não gostasse, mas ela não quis, pensou na mãe”.


“E aí vocês terminaram?”


“Sim, aí nós terminamos. Mas sabe, mãe? Uma parte minha se arrepende de não ter batido o pé e tentado. Acho que faltou proatividade da minha parte, eu deveria ter tirado a escolha da mão dela e dito que a queria. Eu fiquei muito ligado no futuro e acabei pensando em opções que me dessem um futuro”.


“Para que o futuro seja como a gente deseja, precisamos cuidar do presente. Você deveria ter focado nela no presente, porque talvez assim vocês teriam um futuro”.


“Mas no final, eu tô feliz agora. Eu não fiz uma má escolha. Eu só queria ter aproveitado mais a Isaura a ponto de me enjoar dela”.


“O que aconteceu com ela?”


“Morreu num acidente de avião”.


“Aaaah, foi aquela que antes de morrer no acidente de avião estava dando o c* para o piloto?”


“Essa mesmo! E sabe o que é mais bizarro?”


“O quê?”



“O piloto era eu”.


“Uau, que orgulho!”


Andrew moveu a cabeça em agradecimento.


“Você sabe que eu também bem que me lembro da primeira vez que eu dei o c* para o seu pai? Foi assim, eu estava esquentando a água para o chá…”


“Para, mãe, por favor”.


“Aí o seu pai me perguntou: ‘Cagou hoje, June?’”


“Já chega, eu já entendi”.


“Aí eu falei sem entender: ‘Nossa, que bom que você perguntou, porque agora percebi que não caguei nada hoje, Efrayim’…”


“Sério mãe, mãe!”

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