Pautas para o grêmio

O último tempo de aula acabou. Gosling recolheu as suas coisas e foi em direção à sala do Grêmio, passando por Emma no caminho.

"Não vai faltar a reunião, hein." Ele falou no ouvido da menina.

Emma vinha faltando as últimas reuniões do Grêmio, pois para ela, não havia muito o que se discutir após a peça do final do ano, tornando aquelas reuniões um pouco inúteis. É claro que tinha o momento da música e dos salgadinhos no final, mas até isso já não tinha mais tanta graça.

"É sério isso?" Emma perguntou, sem parar de andar.

"Claro. Você é a vice-presidente do Grêmio. Tem que tá presente nas reuniões." Gosling retrucou, e tirou alguns segundos para reparar nos seus olhos. Ele gostava tanto deles. Ele gostava tanto dela.

E do nada, um medo repentino de perdê-la tomou conta do menino. Ryan tentou chacoalhar o pensamento negativo e mórbido da cabeça. Bradley tinha assegurado que a doença só se manifestaria quando a menina tivesse cerca de 25 anos. Mas quão certo ele poderia estar desse prazo? E se o professor de estatística decidiu mentir para acalmá-lo? E 25 anos não era daqui a poucos anos?

"Não necessariamente."

"Hoje a gente vai tentar pensar em projetos pra esse ano. Você tem que tá lá pra me ajudar a vetar as ideias ruins." Ryan parou de andar e se pôs na frente da menina para olhá-la, dando seu característico olhar difícil de resistir.

"Você é chato." Emma reclamou e voltou a andar, empurrando o ombro do garoto ao fazer isso. 

"Eu chamei um garoto que tem a voz muito engraçada. Você vai gostar dele." Ryan falou indo para a sala do Grêmio com a Emma.

"O Billy?"

"Não. O Frankie."

"Nunca ouvi a voz dele."

"Você vai amar."

Os dois foram os primeiros a chegarem na sala.

"Sobre aquele nosso assunto." Ryan falou sem a confiança usual.

"Não vai mais precisar. Já tá resolvido." Emma respondeu, adivinhando o que o garoto estava se referindo. "Mas obrigada, de verdade. Eu sei a magnitude do que você ofereceu, e eu sou muito muito grata."

"Não foi nada."

"Foi sim." Emma avançou um passo para mais perto dele. Eles estavam a poucos centímetros de distância um do outro. "Eu queria que você tivesse lutado por mim, quando eu estava no meu melhor, não no pior."

"Eu sei. Não sou o melhor com essa coisa de timing. Às vezes a gente acha que tem todo o tempo do mundo, quando na verdade não passa de uma ilusão." Ele falou com lágrimas nos olhos.

"Você tá chorando?" Emma abriu um sorriso debochado.

"Não." Ele passou a mão pelo olho para secar as lágrimas, antes delas caírem. "É alergia."

"Alergia?" Emma falou sorrindo, no seu tom rouco.

Ryan sempre achou que a menina tinha um sorriso adorável, e em adição a ele, o modo como ela mordia os lábios, e o modo como comprimia os olhos quando estava desconfiada, eram seus atributos favoritos.

"É. Acho que não limparam bem o filtro do ar-condicionado. Vou reclamar isso com a Cinthia." Ele falou segurando o riso, porque estava na cara que era mentira.

"Pode até virar uma pauta da reunião do Grêmio." Emma sugeriu, aproximando o rosto do dele.

"Concordo." Ele acariciou seu rosto.

"Pedir pra demitir a equipe de manutenção." Ela falou, se inclinando ao seu toque.

"Justo." Ryan fitou seus lábios.

"E fazer uma greve dos alunos por conta da falta de limpeza nos filtros." Ela aproximou os lábios dos dele.

"Não poderia estar mais de acordo." Ryan respondeu, Emma riu, e ele a beijou.

Os dois se afastaram subitamente quando Frankie, o menino da voz engraçada, entrou na sala.

"Frankie, meu caro!" Ryan tentou disfarçar, forçando animação.

"Oi. Cheguei cedo?" Falou o garoto de voz estranha.

Quando os comes e bebes da pós-reunião encerrou, Ryan e Emma ficaram para recolher o lixo.

"Sobre o beijo... ele foi meio que de agradecimento." Emma falou cautelosamente, olhando para o garoto de rabo de olho.  

"Ah é?" Ryan perguntou cético. "Você agradeceu o Guilherme da mesma forma?"

"Ainda não."

"Mas vai?" Ele perguntou num tom brincalhão, não acreditando que a Emma beijaria o Guilherme para agradecê-lo.

"Tá querendo saber demais." Emma jogou um papel sujo no garoto.

Ele pegou com habilidade com a mão direita. "Vou levar essa sua reação como um não." Ele jogou o papel no saco de lixo.