quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Sacrifício

Emma estava sentada na mesa da sala estudando o quarto módulo do seu curso online de mitologia grega. O porquê escolheu estudar essa matéria, ela não sabia. A menina só precisava tirar a cabeça de certas coisas e focar sua mente num lugar seguro e sem ameaça. Mitologia grega parecia um bom lugar para começar. 

O ano de 2023 tinha sido uma montanha-russa, e pelo visto, 2024 não ia ser muito diferente. 

Seu celular, que estava em cima da mesa, acendeu mostrando uma nova mensagem de Ryan. Ele dizia que estava falando sério e que não o descartasse. O que ela respondeu com: Você é muito novo. E em seguida com: Muito obrigada pela oferta mesmo assim. Significa muito. O que Ryan retrucou com: Tenho medo de te perder pra sempre. No qual Emma respondeu com: Você não vai. E em seguida: Agora foca na Margot. Ela é muito bonita pra você deixar escapar. E Ryan então finalizou com um: Eu sei kkkk

Emma amava Ryan, aquilo era um fato. Entretanto, acima de tudo, queria vê-lo feliz, e ela sabia que estava num momento que não conseguiria fazer nenhum homem feliz. Gosling que sempre foi um garoto para cima e animado, precisava de alguém que cultivasse isso nele, e não o contrário. 

Abrir mão de Ryan não foi tão difícil, porque, verdade seja dita, tinha um homem que ela amava mais que todos os homens(tirando o Bradley e o Jeff), e ele estava, naquele momento, dormindo no sofá, ao som da tv ligada. 

Ela tentou voltar sua atenção para mitologia grega, mas já era tarde demais, seus pensamentos já tinham sido tomados por quem mais tentava evitar em pensar. 

Evitava porque odiava como se sentia em relação ao inglês. Totalmente submissa a um sentimento que não podia existir. Porque era errado. Muito errado. 

Apesar de, por vezes, não transparecer, sua dinda também amava o Andrew. Não tanto quanto ela, é claro. Mas isso porque era difícil de amar alguém do jeito que a menina o amava. 

Emma lembrava do beijo que Andrew deu, quando percebeu que a menina estava triste porque iria perder seu bebê. 

Sim, tinha sido apenas um selinho, mas foi o suficiente para aquele gesto ficar remoendo na sua cabeça, e por algumas horas, ela não pensou tanto na perda. 

Ela pensou nele. 

E por uma semana, toda vez que a menina cruzava com o professor pela casa, seu coração batia mais forte. 

Poderia ser cômico, se não fosse trágico, o quanto que ele a afetava com tão pouco. 

E se já não bastasse, o professor ainda estava sacrificando tanta coisa por ela. Seu orgulho, sua virilidade, e de certa forma, sua estrutura familiar, só pra que um dia ela pudesse vir a ser mãe. 

Tá certo que outros meninos também ofereceram se sacrificar para ajudá-la, e ela era extremamente grata a todos eles. Porém, eles provavelmente só fizeram aquilo por serem jovens demais, e não saberem o real peso do que estavam oferecendo. 

E no entanto, Andrew sabia. 

“Qué compá futa?” Mel perguntou com seu carrinho de feirinha divertida da fisher price. 

“Eu acabei de comer uma maçã.” Emma mentiu para a irmã. 

“É di gaça, toma!” Mel ergueu a mãozinha com um cacho de uva de plástico. 

Emma ficou tocada com a fofura da irmã. “Eu brinco com você.” Ela levantou da cadeira e sentou no chão com Mel. “Quais frutas você tem pra vender?”

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