sábado, 24 de abril de 2021

Dilemas e visitas

Estava difícil achar um lugar para estacionar. Bradley teve que parar o carro a duas quadras de distância do hospital.

"Foi o melhor que deu." Bradley puxou o freio de mão e desligou o carro. "Você tá preparada?"

"Pra ver minha dinda finalmente acordada? Claro!"

"Certo. Só pra ter certeza. O médico disse que ela tá um pouco confusa, então não estranhe se ela fizer ou falar alguma coisa incomum."

"Não vou."

"Tudo bem. Vamos lá."

Os dois se identificaram na recepção e foram até o quarto onde a ruiva estava internada. 

"Você quer entrar primeiro e ter um momento a sós com ela?" Bradley perguntou em frente à porta. 

"Acho melhor entrar nós dois juntos."

"Tem certeza? Acho melhor eu ficar esperando do lado de fora."

"Você não quer ver a minha dinda?" Emma perguntou estranhando a hesitação do padrinho. 

"Claro que não... É que sua madrinha pediu pra seu avô te trazer, não eu. Nenhum momento ela mencionou meu nome."

"E você acha que ela não quer te ver?" 

"Eu acho que você deve entrar sozinha. Qualquer coisa eu entro depois." Bradley explicou. 

"Tem certeza?" Emma perguntou um pouco decepcionada. 

"Tenho. Vai lá." Ele beijou a cabeça da afilhada. "Se precisar de mim, vou tá aqui no corredor."

"Tá bom." Emma concordou, derrotada. 

A menina bateu na porta e abriu. Jessica estava com o rosto vermelho, como se tivesse chorado há poucos minutos atrás. 

"Em!"

"Dinda!" Emma foi como um foguete em direção à madrinha e foi recebida com um grande abraço. 

"Meu amor." Jessica deu vários beijos na cabeça da afilhada. "Que saudade!" 

"Também."

"Deixa eu te ver." Jessica segurou o rosto da afilhada e analisou atentamente. "Nossa, como você cresceu! Vocês adolescentes mudam a cada semana. Haja fermento!" 

"Eu tô a mesma coisa." Emma enxugou as lágrimas que queriam deixar seus olhos. 

"Tá nada." Jessica apertou o rosto da afilhada. "Minha lindinha." Ela deu um beijo em cada bochecha. 

"E você, como tá se sentindo?" 

"Bem. Nem parece que fiquei dois meses em coma. Só tô sentindo um pouco de dor onde eles fizeram o corte da cesária."

"Mas você tá tomando remédio pra parar a dor?" Emma perguntou preocupada. 

"Sim, meu amor. Tá ajudando bastante, só que às vezes eu ainda sinto." Jessica levou a mão da menina ao rosto e alisou sua pele na dela. 

"E você já conheceu a Mel?" 

"Conheci. O Andrew trouxe hoje cedo."

"E o que achou?" 

"Ela é bem bonita."

"É sim. Todo mundo fala. O Andrew tá bem babão."

"Percebi."

Emma estranhou as respostas frias da ruiva. Por que será que sua madrinha não parecia animada com a sua tão sonhada filha? 

"Por que você tava chorando?" 

"Porque eu fiquei emocionada em te ver. Tava com saudades!" Jessica beijou a mão da afilhada. "Muita!" 

"Não agora, antes. Quando eu cheguei deu pra perceber que você tava chorando."

"Não era nada. Só sua dinda sendo boba."

"Me fala." Emma fez uma carinha de confusa que apertou o coração da ruiva. 

"Nem eu sei direito. Eu só tô me sentindo meio estranha."

"Estranha como?" 

"Não sei explicar. É como se muitas coisas tivessem acontecido nesse tempo que eu fiquei desacordada e agora eu tenho que correr pra não ficar pra trás."

"Quase nada aconteceu. A maior mudança foi a Mel, mas você já sabia dela, então..."

"Verdade. Foi como eu disse, só tô sendo boba."

"Eu não te acho boba."

"Às vezes eu acabo sendo, como agora. Mas vamos mudar de assunto. Como você tá?" 

"Eu tô bem. Estudando bastante pra não repetir matemática de novo. Meu dindo tá me ajudando também. Ele tem sido minha salvação."

"E como ele tá?" 

"Ele tava muito preocupado com você. Mal comia ou dormia. Mas depois que a gente soube que você tava fora de perigo, ele melhorou muito. Virou outro homem."

"Imagino..." Jessica respondeu pensativa. "E ele não quis vir com você? Quem que te trouxe pra cá?" 

"Meu dindo! Ele tá no corredor." 

"E por que ele não entrou?" 

"Ele quis dar um tempo pra gente primeiro. Eu posso chamar ele agora se quiser." 

"Pode chamar" 

Emma levantou da cama que estava sentada e foi até o corredor chamar o padrinho. 

"Dindo, minha dinda já sabe que você tá aqui. Ela pediu pra você entrar."

"Sério?" 

"Óbvio." Emma segurou a mão do padrinho e o levou para dentro do quarto. 

"Oi, Jessica." Bradley falou sem jeito da porta. Ver a ex-mulher finalmente acordada o emocionava mais do que gostaria de admitir. 

"Oi, entranho. Você vai ficar aí na porta ou vai me dar um abraço?" 

O professor foi pego de surpreso pelas palavras da ruiva.

"Ah sim, claro." Bradley andou até Jessica e abaixou para abraçá-la. 

Ela não cheirava mais como ela, mas sua cabeça continuava se encaixando perfeitamente no vão do pescoço da advogada. 

"Eu tô feliz que você veio." Jessica falou em meio ao abraço. 

"E eu feliz em ter vindo."

Emma se sentou na ponta da cama e observou seus padrinhos juntos. Era como se finalmente o mundo estivesse em ordem. 

Bradley não percebeu, mas seus olhos estavam cheios de lágrimas. 

"Você tá chorando?" Jessica perguntou quando o abraço chegou ao fim. 

"Eu sou meio mole."

Jessica tocou o rosto do ex-marido e Bradley teve que se esforçar para não inclinar sua cabeça ao seu toque. 

"Discordo."

"É que é muito bom te ver acordada. Eu não sei o que eu faria se algo acontecesse com você." Bradley admitiu chorando ainda mais. 

"Você tem dois padrinhos muito dramáticos." Jessica disse olhando para Emma e depois voltou a olhar Bradley. "Já passou. Eu tô aqui. Deus me deu mais esse livramento." Ela abriu um sorriso terno. 

"Tem razão." Bradley secou as lágrimas. 

"Agora me contem as novidades!" 

Bradley e Emma tentaram contar tudo de importante que havia acontecido enquanto a ruiva estava em coma. 

Jessica perguntou sobre os desenhos na parede e o professor explicou que Brian passara a tarde inteira fazendo para seu aniversário. 

Emma acabou contando sobre o garoto da escola que ela ficou sem mal conhecer e ganhou vários sermões tanto do padrinho quanto da madrinha (mais de Bradley porque ele conhecia o garoto e achava sua aparência e personalidade pouco agradáveis para sua preciosa filha/afilhada). 

Nenhum dos dois mencionou o breve namoro de Asa e Emma.

Jessica, no final, acabou perguntando sobre a bebê e se ela era realmente sua. Os dois ficaram surpresos ao descobrir que a ruiva possuía dúvidas quanto à filiação de Mel e confirmaram que a recém-nascida era sim sua filha. 

O coração da ruiva pesou. Ela queria tanto ser mãe de novo e não conseguia entender o porquê de não conseguir se alegrar com a bebê que seu marido levara para visitá-la mais cedo. E se nunca viesse a amá-la? Andrew a perdoaria se não conseguisse amar a própria filha? Ela se perdoaria? 

Naquele dia, a única coisa que impediu de que se cortasse, foi a falta de um objeto cortante no hospital. 

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