domingo, 4 de abril de 2021

Do you get deja vu?

Não.

Aquilo não era um sonho, tampouco, um delírio. 

Eles haviam realmente se beijado.

Por muito tempo ele sonhou com aquele momento, com aquele beijo. Não, não teve fogos de artifícios e nenhuma música brega tocando no fundo. Para falar a verdade, o beijo tinha sido meio awkward, de fato, muito awkward, por n motivos. 

  1. Nenhum dos dois quis ceder na guerra pela dominância, tornando o beijo mais uma luta livre do que uma dança síncrona entre línguas. 
  2.  Teve saliva demais, o redor da boca de Jessica saiu encharcado e ele percebeu a ruiva limpando a baba dele do rosto com a mão depois. 
  3.  O braço dos dois colidiram, quando a caminho da nuca um do outro. 
  4.  A mão do advogado ficou, sabe-se lá porque cargas d'águas, percorrendo frenéticamente, a lateral da ruiva, num movimento bizarro de vai-e-vem, até ela colocar a mão em cima da sua para contê-lo (tá, ela acabou entrelaçando os dedos nos seus,mas até isso acontecer, foi humilhante). 
  5. Teve uma hora que Jessica deu um passo para frente, que o pegou de surpresa, e quase o fez perder o equilíbrio.

Ainda assim, aquele beijo, mesmo com suas imperfeições, o deixou sedento por mais.

George mal dormiu pensando na ruiva. Ele não era assim. Nunca se deixava afetar por nada, ainda mais por um beijo. Mas aquele não era um beijo de uma mulher qualquer. Era de Jessica. Sua parceira de trabalho e a mulher que ele passava horas de seus dias, implicando. Ela mais parecia sua irmã mais nova do que um interesse amoroso, já que ele,  certamente, não tratava suas namoradas, ficantes ou amantes, da mesma forma que tratava Jessica. Eles se viam tantas horas por dia, quase todos os dias da semana, durante anos, que todo o encanto que uma pessoa consegue plantar na cabeça do outro, se esvaíra há muito tempo.

Jessica dormiu inquieta. Ela sabia que linhas tinham sido cruzadas e tinha medo das consequências.

Era engraçado que aquele beijo havia lembrado-a de sua adolescência, quando as duas pessoas iam com muita sede ao pote, e acabavam se estabanando no caminho.

A ruiva veria George pela manhã no trabalho e estava curiosa com a vertente pós-beijo que seguiriam. Eles tinham algumas opções sobre como lidar com o ocorrido:

  1. Fingir que nada aconteceu e não falar sobre o assunto. 
  2. Fazer piadinhas sobre o dia anterior e acusar o outro de não saber beijar direito. 
  3.  ...

A terceira opção era preocupante e era essa que ela temia. 

No dia seguinte, Jessica chegou no escritório e foi direto para sua sala, mal cumprimentando a secretária. Já George, parou para perguntar se a ruiva havia chegado e depois também seguiu para sua sala.

Jessica se enterrou no trabalho que tinha por fazer. Sua profissão demandava que pilhas e mais pilhas de textos fossem lidos por dia com muita atenção, para não deixar detalhes cruciais escaparem. Ela estava focada na tarefa quando George entrou na sala.

George ponderou bastante antes de prestar uma visita à ruiva, até que chegou a conclusão de que queria outro beijo e que faria de tudo para consegui-lo.

"Oi." Jessica tentou soar o mais desprentensiosa possível. É claro que estava nervosa e sem graça pela noite anterior, mas ele não precisava saber. 

"Oi. Não vi você chegar." George nunca via a ruiva chegar, mas enfim, ele precisava puxar assunto.

"Eu cheguei primeiro, eu acho." Ela sempre chegava primeiro, mas George falou aquilo de não ter visto ela chegar, que bem, ela respondeu o que achou que tinha que responder.

"Muito trabalho?" Ok, ele certamente estava soando estranho, mas ele ainda precisava puxar assunto, falar sobre trabalho parecia o caminho certo a seguir.

"Muito." Jessica assentiu, que nem uma idiota.

A ruiva estava usando aqueles óculos de grau que o deixava louco. Nossa, ela era linda. Será que já podia cortar o papo furado e beijá-la de uma vez?

"Eu mandei uns relatórios pra você revisar." Ela completou.

"Ainda não vi." Mentira. Ele tinha visto. Por que então mentiu? Vai saber.

"Se você puder fazer isso ainda na parte da manhã, eu agradeço." Usualmente ela teria xingado George e mandado ele começar a checar a caixa de e-mails, mas lá estava ela sendo gentil.

"Pode deixar. Assim que sair daqui, eu faço isso pra você." Ele estava nervoso e agora estava agindo como um mordomo. Boa, George!

Jessica o olhou, esperando ele falar mais alguma. 

Não saia daqui sem beijar a Jessica, não saia daqui sem beijar a Jessica, não saia daqui sem beijar a Jessica,... Ele ficou repetindo isso na sua cabeça, como uma espécie de mantra.

George começou a andar em direção à ruiva, e ela observou seus passos, atentamente.

Quando já estava a poucos centímetros de distância, ele segurou seu rosto com as duas mãos e a beijou.

Jessica foi pega de surpresa com o movimento súbito do parceiro, porém correspondeu rapidamente. George ficou com a dominância, explorando a boca da ruiva com impaciência e com vontade. Ele estava tão entregue que já estava quase debruçado na ruiva, que, por sua vez, estava sentada na cadeira.

Quando o beijo acabou, George continuou dando beijos molhados pelo rosto da ruiva, até finalmente soltá-la.

"Então... nós...?" Jessica iniciou só porque sentiu que devia falar alguma coisa, ignorando a enorme quantidade de baba que o parceiro tinha deixado pelo seu rosto. 

"Não sei. Só precisava te beijar." Essa fora a coisa mais honesta que dissera o ano todo.

"Nós trabalhamos juntos, temos uma empresa, vale a pena?"

"Acho que não."

Jessica recebeu a informação surpresa, ela não sabia que ele responderia aquilo.

"Então é melhor parar por aqui. Agora faz o favor e vai ler os relatórios que eu te mandei. Faz mais de duas horas já e nem pra você olhar a p***a do seu e-mail."

George riu. Ele tinha estressado a ruiva e ela ficava muito fofa estressada.

"Vai se f***r." Jessica despejou com raiva, quando viu o cara-de-pau rindo, e voltou a olhar o monitor.

Aquela era a confirmação que George não sabia que precisava. Ele foi para trás da cadeira da ruiva e começou a massagear seus ombros.

"Eu quero te ver hoje."

"Vai trabalhar, George! É sério, a gente tem prazo!" Ela tirou a mão dele do seu ombro, abruptamente.

"Então diz que você vai pra minha casa hoje."

"Você tá achando que eu vou ser mais um dos seus milhares casinhos?"

George girou a cadeira da ruiva e fez com que ficasse de frente para ele e depois se ajoelhou para ficar da altura dela.

"Não. Eu quero que você seja a minha namorada."

"Como?"

"Eu acho que somos maduros o suficiente pra conseguir conciliar um relacionamento com o trabalho. E se não, f***-se! Eu quero você, e no momento, não consigo pensar em nada mais importante do que isso."

"Você não acha que é cedo demais?"

"Não. Você realmente não é uma mulher pra ter casinho, e se eu quero algo com você, vou ter que me comprometer. Eu quero me comprometer com você."

"É melhor a gente pensar um pouco sobre isso."

"Só se for você, eu não tenho nada o que pensar. E aí?" Ele segurou a mão da ruiva e começou a brincar com seus dedos. "Volta pra casa comigo?"

"Se você acha que eu vou fazer algo impuro com você, tá perdendo o seu tempo."

"Na verdade não. Eu só quero te beijar até os nossos lábios doerem e depois ficarem dormentes de tanto nos beijarmos. Também quero dormir agarrado com você, que nem aqueles casais feios do tumblr."

"Eles são feios mesmo." Jessica sorriu. 

"Aceita ser minha namorada e ir pra casa comigo essa noite?" George perguntou de forma galanteadora. 

"É assim que você conquista suas mulherzinhas?" Jessica apertou o rosto do advogado, de brincadeira. 

"Basicamente."

"Aceito." Jessica deu um beijo nos lábios de George, que estavam sobressaltados, por causa do seu aperto. "Agora, vai trabalhar!"

George roubou mais alguns beijos da ruiva antes de ir para sua sala. 

Curiosidades sobre o namoro:

  1. O namoro de George e Jessica durou apenas 2 dias e meio.
  2. Dentre os motivos para o término, estava o fato de George ser muito mulherengo, a ruiva ainda ser apaixonada por Bradley, os dois não saberem resolver os problemas sem discutir, além de serem muito ciumentos. 
  3. O fim do namoro não afetou o convívio dos ex-pombinhos. Na verdade, o relacionamento de dois dias é utilizado comumente como piada e deboche pelos dois. 
  4. Nenhuma alma ficou sabendo da tentativa falha de namoro, mas os funcionários notaram flertes por parte dos envolvidos, durante os dois dias. 
  5. O acontecimento abordado por essa notícia está situado cronologicamente depois da notícia: "Show me yours, I'll show you mine."
  6. Eles não consumaram este relacionamento. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário