sexta-feira, 9 de abril de 2021

Emma e o último livro

Megan sentiu uma dor excruciante. Ela queria matar a Lizzo, mas a dor era tão forte que aquilo teria que ficar para depois. Chris se aproximou dela correndo, muito preocupado:

- Você ta bem? Deixa eu ver. – Ele solicitou, tirando a mão dela do rosto. – Caramba! Isso ta bem feio. Vamos ter que ir pra enfermaria.

- Ta sangrando?

- Um pouco.

O QUÊ? Megan perguntou aquilo achando que a resposta seria negativa. Ficou assustada quando descobriu que estava errada.

- Filha da p**a!

Chris decidiu não chamar a atenção de Megan. Lizzo realmente tinha sido uma grande filha da p**a.

- Vai ficar tudo bem.

- Ta doendo muito.

- Imagino. Vamos ver isso. – Tentou acalmar o professor, sabendo, na verdade, que o pior ainda estava por vir.

Os dois entraram na enfermaria e encontraram Sandra, a enfermeira da escola, assistindo tv. Ela prontamente se levantou e perguntou:

- O que aconteceu?

- A Megan levou uma bolada na cara.

- De futebol?

- De handball. – Ele fez uma careta.

- Ui.

- Eu to desfigurada?

- Deixa eu ver. Tira a mão. – Megan tirou a mão. – Misericórdia! Saiu do lugar!

- Meu nariz saiu do lugar?

- Calma, Megan. – Disse Chris, acariciando a mão da aluna. – É fácil colocar de volta no lugar.

- Mas essa p***a vai doer.

- Vai. – Concordou o professor.

- É melhor chamar o Carlisle pra pôr no lugar. Ela ainda vai ter que fazer raio-x. E botar algo no olho.

- O que tem o meu olho? Ficou roxo?

- Eu vou chamar ele então.

- Enfermeira, o que tem o meu olho?

- Estorou uma veia.

- Como assim estorou uma veia?

- Tem uma poça de sangue no seu olho, querida. – Ela fez carinho na cabeça de Megan.

Megan queria chorar de dor e de ódio. Obviamente, aquela baleia assassina tinha mirado a bola na cara dela de propósito. Não havia necessidade de tanta força, ainda que estivessem jogando handball. Ela nunca mais ficaria no gol. Nunca mais!

- Bom dia, meninas. Já to sabendo o que aconteceu. Posso dar uma olhada? – Mais uma vez, Megan tirou a mão do rosto. – Ok. Ta sentindo dor na cabeça?

- Muita.

Carlisle colocou a mão na cabeça de Megan e ficou parado, concentrado, como se estivesse analisando alguma coisa.

- Ok. – Disse Carlisle por fim.

- É bom fazer um raio-x, não? – Perguntou a enfermeira.

- Não, não. Não será necessário.

- Seria bom então receitar um pedido de ressonância ou tomografia pra mãe dela, você não acha? Só pra descartar lesão interna grave.

- Isso também não será necessário. Foi só uma bolada.

- Que desconfigurou a minha cara.

- Vai ficar tudo bem, Megan.

- Meu nariz ta sangrando?

- Bem, sangrou um pouquinho, pelo o que eu estou vendo, mas já parou. – Carlisle respondeu, colocando as luvas. – Sandra, você pode limpar o sangue seco?

Sandra resmungou algo e foi pegar o algodão e o soro.

- E o meu olho?

- Estorou algumas veias do seu olho direito.

- Foi mais de uma?

- Pela quantidade de sangue, foram umas duas, três. Acho que duas. – Concluiu o professor, ao ver a reação de Megan.

- Ai! – Gemeu a aluna, quando Sandra começou a limpar o seu nariz.

- To fazendo com cuidado.

- Mas ta doendo.

- Eu nem estou passando no nariz.

- Mas ta doendo.

- Pronto, já foi.

- Agora vamos colocar o seu nariz no lugar.

- Vai ter anestesia?

- Não tem anestesia na escola. E no seu caso, dá pra fazer sem anestesia.

- Mas aí vai doer muito.

- É uma dor rápida.

Os olhos de Megan estavam cheios d’água. Ela não conseguiu mais evitar. Carlisle pegou uma das mãos da aluna.

- Olha, você pode apertar a minha mão o quanto você quiser. Você também pode segurar a mão da Sandra.

- Ok, faz logo isso. – Megan segurou com a sua mão livre a da enfermeira e fechou os olhos. O psicólogo só com uma mão, colocou o nariz da ousada no lugar. A garota mordeu os lábios com muita força para tentar conter a dor, que foi a pior que sentiu na sua vida. Lágrimas saíram dos seus olhos.

- Pronto. Já foi!

- Ta doendo muito. – Falou a morena, chorando.

- Eu vou te dar um analgésico agora pra dor, mas fica tranquila. O pior já passou. – Carlisle se aproximou da enfermeira – Vou pedir pra comprarem um colírio específico pra ela. O olho dela ta horrível.

- Eu compro. – Se prontificou Sandra, que queria aproveitar a saída para comprar um pão doce na padaria.

Carlisle fez o pedido e entregou para a enfermeira, que foi em busca do remédio e do pãozinho doce.

- Toma. – Disse o professor, que se aproximou um pouco inquieto de Megan, oferecendo o remédio e um copo de água.

- Pode ficar com a água. – Respondeu a garota, pegando só o remédio e enfiando na garganta.

- Uau. Tudo bem. Mas você tem certeza que não quer uma água pra se acalmar?

- Não. To de boa.

- Megan, você ta sangrando um pouquinho... – Ele passou o dedo no lábio inferior para indicar o local do sangramento.

- P*** que pariu! Até a minha boca?

- Não tava sangrando antes. Acho que foi você quem fez agora.

- Ah, não reparei.

...

- Você quer um papel?

- Não, não.

...

- Você também pode passar a língua. A saliva é boa pra cicatrizar.

- Não, tudo bem. Melhor deixar assim mesmo pro sangue secar.

- Ok.

- Você pode desligar a tv? Minha cabeça ta explodindo.

- Ah, sim. Posso. – Ele desligou a televisão. – Mas então, quem fez isso com você?

- A Lizzo.

- E você acha que foi por mal?

- Com certeza!

- Mas por que ela faria isso por mal? Vocês são brigadas?

- Sei lá, eu nunca fiz nada pra essa garota. Vai saber. Inveja, não sei.

- Entendi.

- Eu realmente nunca fiz nada pra ela. Nunca zoei ela, nem nada. Ela nem é da minha turma. Malditas algemas.

- Eu acredito.

- Sei...

- Eu realmente acredito.

- Que bom, porque é a verdade. Eu não sou uma pessoa ruim. Eu sei que ela é obesa, mas nunca falei isso pra ela.

- Ela devia estar num mau dia, não sei. Que eu saiba, ela não tem nada contra você.

- Imagina se tivesse...

- É verdade... – Posso? – Ele perguntou, segurando um lenço na mão.

- Te incomoda tanto assim?

- Pra falar a verdade, me incomoda bastante. Está acumulando.

Megan passou a língua no lábio inferior.

- Obrigado.

- To toda bichada.

Carlisle abriu um pequeno sorriso sem dentes.

- Resposta errada! Você deveria ter dito que eu estou bem.

- Mas você está toda bichada. – Megan fez uma careta – O que não significa que você esteja feia.

- Eu sei que eu to feia, mas eu nem ligo. Só não queria estar com dor. E to com nervoso do meu olho também, mesmo sem ter visto. Não gosto de olho estourado. Me dá nervoso.

- O colírio que eu passei, vai fazer o seu olho voltar ao normal mais rapidamente.

- Que bom. Mas ele vai ficar roxo?

- Talvez inche um pouquinho, vamos ver. Mas o seu nariz certamente vai ficar roxo.

- Que pena. – Ela fez uma cara triste. – Minha mãe vai ficar assustada quando me ver. Acho que ela vai querer que eu tire um raio-x, faça ressonância, sei lá.

- Bem, seria te expor a uma alta radiação desnecessariamente. “Confia em mim, eu sou enfermeira”.

- Ha-ha! Mas ok, vou falar isso com ela.

- Diga sim. – Concordou Carlisle, abaixando os olhos.

- Que foi?

- Ta sangrando de novo.

- Daqui a pouco para.

- Sim. – Ele continuou olhando. De repente, o professor colocou a mão no rosto de Megan, de maneira um pouco hesitante. Ele se inclinou, se aproximando da boca da garota e quando chegou perto, colocou a língua no lábio inferior dela, lambendo o pouco sangue que estava escorrendo. Ele encostou os dois lábios naquela mesma região e deu um beijo cuidadoso lá. – Dói?

- Não.

A boca dos dois encostaram e quando a língua de um tocou na do outro, Carlisle rapidamente se afastou e foi para o outro lado da enfermaria. Antes que Megan pudesse entender o que tinha acontecido, Sandra entrou na sala com o remédio. O professor despreocupadamente, olhava um papel que estava em sua mão.

- Trouxe o remédio?

- Trouxe.

- Ótimo. Bem, Megan, você deve pingar duas vezes esse remédio, duas vezes por dia, de manhã e à noite. Abre bem os olhos, que eu vou pingar agora.

Megan ainda muito atordoada, abriu os olhos e Carlisle pingou o remédio no olho direito.

- Pronto! Eu vou falar pra Elizabeth te liberar das aulas de hoje pra você ir pra casa. Não precisa também fazer a tarefa das algemas nesse período. Fica aí descansando até alguém vir te buscar. Não deixe ela sair sozinha, Sandra.

- Tudo bem.

- Até logo, meninas. Bom dia. – Se despediu o psicólogo, saindo apressadamente da sala.

- Tchau, Carlisle. – Respondeu Sandra falsamente.

- Tchau. – Respondeu Megan, sem compreender direito o que tinha acabado de acontecer.

E aquele foi o último dia do Carlisle com a treta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário