Megan sentiu uma dor excruciante. Ela queria matar a Lizzo, mas a dor era tão forte que aquilo teria que ficar para depois. Chris se aproximou dela correndo, muito preocupado:
- Você ta
bem? Deixa eu ver. – Ele solicitou, tirando a mão dela do rosto. – Caramba!
Isso ta bem feio. Vamos ter que ir pra enfermaria.
- Ta
sangrando?
- Um
pouco.
O QUÊ?
Megan perguntou aquilo achando que a resposta seria negativa. Ficou assustada
quando descobriu que estava errada.
- Filha da
p**a!
Chris
decidiu não chamar a atenção de Megan. Lizzo realmente tinha sido uma grande
filha da p**a.
- Vai
ficar tudo bem.
- Ta
doendo muito.
- Imagino.
Vamos ver isso. – Tentou acalmar o professor, sabendo, na verdade, que o pior
ainda estava por vir.
Os dois
entraram na enfermaria e encontraram Sandra, a enfermeira da escola, assistindo
tv. Ela prontamente se levantou e perguntou:
- O que
aconteceu?
- A Megan
levou uma bolada na cara.
- De
futebol?
- De
handball. – Ele fez uma careta.
- Ui.
- Eu to
desfigurada?
- Deixa eu
ver. Tira a mão. – Megan tirou a mão. – Misericórdia! Saiu do lugar!
- Meu
nariz saiu do lugar?
- Calma,
Megan. – Disse Chris, acariciando a mão da aluna. – É fácil colocar de volta no
lugar.
- Mas essa
p***a vai doer.
- Vai. –
Concordou o professor.
- É melhor
chamar o Carlisle pra pôr no lugar. Ela ainda vai ter que fazer raio-x. E botar
algo no olho.
- O que
tem o meu olho? Ficou roxo?
- Eu vou
chamar ele então.
- Enfermeira,
o que tem o meu olho?
- Estorou
uma veia.
- Como
assim estorou uma veia?
- Tem uma
poça de sangue no seu olho, querida. – Ela fez carinho na cabeça de Megan.
Megan
queria chorar de dor e de ódio. Obviamente, aquela baleia assassina tinha mirado
a bola na cara dela de propósito. Não havia necessidade de tanta força, ainda
que estivessem jogando handball. Ela nunca mais ficaria no gol. Nunca mais!
- Bom dia,
meninas. Já to sabendo o que aconteceu. Posso dar uma olhada? – Mais uma vez,
Megan tirou a mão do rosto. – Ok. Ta sentindo dor na cabeça?
- Muita.
Carlisle
colocou a mão na cabeça de Megan e ficou parado, concentrado, como se estivesse
analisando alguma coisa.
- Ok. –
Disse Carlisle por fim.
- É bom
fazer um raio-x, não? – Perguntou a enfermeira.
- Não,
não. Não será necessário.
- Seria bom
então receitar um pedido de ressonância ou tomografia pra mãe dela, você não acha?
Só pra descartar lesão interna grave.
- Isso
também não será necessário. Foi só uma bolada.
- Que
desconfigurou a minha cara.
- Vai
ficar tudo bem, Megan.
- Meu nariz
ta sangrando?
- Bem,
sangrou um pouquinho, pelo o que eu estou vendo, mas já parou. – Carlisle respondeu,
colocando as luvas. – Sandra, você pode limpar o sangue seco?
Sandra
resmungou algo e foi pegar o algodão e o soro.
- E o meu
olho?
- Estorou
algumas veias do seu olho direito.
- Foi mais
de uma?
- Pela
quantidade de sangue, foram umas duas, três. Acho que duas. – Concluiu o
professor, ao ver a reação de Megan.
- Ai! –
Gemeu a aluna, quando Sandra começou a limpar o seu nariz.
- To
fazendo com cuidado.
- Mas ta
doendo.
- Eu nem
estou passando no nariz.
- Mas ta
doendo.
- Pronto,
já foi.
- Agora
vamos colocar o seu nariz no lugar.
- Vai ter
anestesia?
- Não tem
anestesia na escola. E no seu caso, dá pra fazer sem anestesia.
- Mas aí
vai doer muito.
- É uma
dor rápida.
Os olhos
de Megan estavam cheios d’água. Ela não conseguiu mais evitar. Carlisle pegou
uma das mãos da aluna.
- Olha,
você pode apertar a minha mão o quanto você quiser. Você também pode segurar a
mão da Sandra.
- Ok, faz
logo isso. – Megan segurou com a sua mão livre a da enfermeira e fechou os
olhos. O psicólogo só com uma mão, colocou o nariz da ousada no lugar. A garota
mordeu os lábios com muita força para tentar conter a dor, que foi a pior que
sentiu na sua vida. Lágrimas saíram dos seus olhos.
- Pronto.
Já foi!
- Ta
doendo muito. – Falou a morena, chorando.
- Eu vou te
dar um analgésico agora pra dor, mas fica tranquila. O pior já passou. – Carlisle
se aproximou da enfermeira – Vou pedir pra comprarem um colírio específico pra
ela. O olho dela ta horrível.
- Eu
compro. – Se prontificou Sandra, que queria aproveitar a saída para comprar um
pão doce na padaria.
Carlisle fez
o pedido e entregou para a enfermeira, que foi em busca do remédio e do pãozinho
doce.
- Toma. –
Disse o professor, que se aproximou um pouco inquieto de Megan, oferecendo o
remédio e um copo de água.
- Pode
ficar com a água. – Respondeu a garota, pegando só o remédio e enfiando na
garganta.
- Uau.
Tudo bem. Mas você tem certeza que não quer uma água pra se acalmar?
- Não. To
de boa.
- Megan,
você ta sangrando um pouquinho... – Ele passou o dedo no lábio inferior para
indicar o local do sangramento.
- P*** que
pariu! Até a minha boca?
- Não tava
sangrando antes. Acho que foi você quem fez agora.
- Ah, não
reparei.
...
- Você
quer um papel?
- Não,
não.
...
- Você
também pode passar a língua. A saliva é boa pra cicatrizar.
- Não,
tudo bem. Melhor deixar assim mesmo pro sangue secar.
- Ok.
- Você
pode desligar a tv? Minha cabeça ta explodindo.
- Ah, sim.
Posso. – Ele desligou a televisão. – Mas então, quem fez isso com você?
- A Lizzo.
- E você
acha que foi por mal?
- Com
certeza!
- Mas por
que ela faria isso por mal? Vocês são brigadas?
- Sei lá,
eu nunca fiz nada pra essa garota. Vai saber. Inveja, não sei.
- Entendi.
- Eu
realmente nunca fiz nada pra ela. Nunca zoei ela, nem nada. Ela nem é da minha
turma. Malditas algemas.
- Eu acredito.
- Sei...
- Eu
realmente acredito.
- Que bom,
porque é a verdade. Eu não sou uma pessoa ruim. Eu sei que ela é obesa, mas
nunca falei isso pra ela.
- Ela
devia estar num mau dia, não sei. Que eu saiba, ela não tem nada contra você.
- Imagina
se tivesse...
- É
verdade... – Posso? – Ele perguntou, segurando um lenço na mão.
- Te incomoda
tanto assim?
- Pra
falar a verdade, me incomoda bastante. Está acumulando.
Megan
passou a língua no lábio inferior.
-
Obrigado.
- To toda bichada.
Carlisle abriu
um pequeno sorriso sem dentes.
- Resposta
errada! Você deveria ter dito que eu estou bem.
- Mas você
está toda bichada. – Megan fez uma careta – O que não significa que você esteja
feia.
- Eu sei
que eu to feia, mas eu nem ligo. Só não queria estar com dor. E to com nervoso
do meu olho também, mesmo sem ter visto. Não gosto de olho estourado. Me dá
nervoso.
- O
colírio que eu passei, vai fazer o seu olho voltar ao normal mais rapidamente.
- Que bom.
Mas ele vai ficar roxo?
- Talvez
inche um pouquinho, vamos ver. Mas o seu nariz certamente vai ficar roxo.
- Que
pena. – Ela fez uma cara triste. – Minha mãe vai ficar assustada quando me ver.
Acho que ela vai querer que eu tire um raio-x, faça ressonância, sei lá.
- Bem, seria
te expor a uma alta radiação desnecessariamente. “Confia em mim, eu sou enfermeira”.
- Ha-ha! Mas
ok, vou falar isso com ela.
- Diga sim.
– Concordou Carlisle, abaixando os olhos.
- Que foi?
- Ta
sangrando de novo.
- Daqui a
pouco para.
- Sim. –
Ele continuou olhando. De repente, o professor colocou a mão no rosto de Megan,
de maneira um pouco hesitante. Ele se inclinou, se aproximando da boca da garota
e quando chegou perto, colocou a língua no lábio inferior dela, lambendo o pouco
sangue que estava escorrendo. Ele encostou os dois lábios naquela mesma região
e deu um beijo cuidadoso lá. – Dói?
- Não.
A boca dos
dois encostaram e quando a língua de um tocou na do outro, Carlisle rapidamente
se afastou e foi para o outro lado da enfermaria. Antes que Megan pudesse
entender o que tinha acontecido, Sandra entrou na sala com o remédio. O
professor despreocupadamente, olhava um papel que estava em sua mão.
- Trouxe o
remédio?
- Trouxe.
- Ótimo.
Bem, Megan, você deve pingar duas vezes esse remédio, duas vezes por dia, de manhã
e à noite. Abre bem os olhos, que eu vou pingar agora.
Megan
ainda muito atordoada, abriu os olhos e Carlisle pingou o remédio no olho
direito.
- Pronto!
Eu vou falar pra Elizabeth te liberar das aulas de hoje pra você ir pra casa.
Não precisa também fazer a tarefa das algemas nesse período. Fica aí
descansando até alguém vir te buscar. Não deixe ela sair sozinha, Sandra.
- Tudo bem.
- Até
logo, meninas. Bom dia. – Se despediu o psicólogo, saindo apressadamente da sala.
- Tchau,
Carlisle. – Respondeu Sandra falsamente.
- Tchau. –
Respondeu Megan, sem compreender direito o que tinha acabado de acontecer.
E aquele foi o último dia do Carlisle com a treta.
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