quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Olho por olho...

Aaron foi mandado para a direção pelo professor Jack. Chegando na sala de Elizabeth, que é antes da do diretor, o aluno a encontrou séria e pensativa, tanto que ela nem notou sua presença lá. Aaron tossiu, para chamar atenção dela.
- To entrando. - Disse ele se dirigindo para a sala do diretor.
- Não pode! - Respondeu ela seriamente num tom meio mecânico. - O diretor está ocupado.
Aaron levantou as sobrancelhas rapidamente e sentando na cadeira em frente à Elizabeth falou:
- Então pelo visto eu vou ter que ficar aqui. - E bateu as mãos em suas pernas.
- Você pode ficar no pátio se quiser e quando o diretor estiver desocupado, eu te chamo. - Aconselhou Elizabeth com os olhos perdidos.
- É que eu prefiro a vista daqui. - Aaron disse de maneira flertadora.
- Aqui nem tem vista. - Continuou Lizzie monotonamente.
- Eu quis dizer você. - Aaron falou mais seriamente.
- Ah! - E pela primeira vez naquela conversa ela realmente olhou pra ele - Bem, se você quiser ficar, não tem problema, só não me atrapalhe, ok?
- Certo!
Ela se levantou e começou a guardar uns papéis numa gaveta. Depois, se sentou e começou a fazer uma planilha no computador, levando em conta uns valores que estavam escritos em diversos recibos. Enquanto isso, Aaron a olhava atentamente. E ela sabia disso. A verdade é que Elizabeth não queria estar fazendo aquilo naquele momento. Ela gostaria de voltar a pensar e refletir sobre os seus assuntos, mas com Aaron ali, ela não podia, por isso tinha que aparentar estar fazendo alguma coisa. Com o passar dos minutos, aquela compenetração de Aaron voltada à ela começou a incomodá-la, então ela olhou pra ele seriamente, mas mudou de feição rapidamente ao notar que ele a olhava com as sobrancelhas levemente enrugadas. Sem entender, ela perguntou meio preocupada:
- Algum problema com a minha cara?
- Eu estou tentando entender ela... - Respondeu Aaron ainda compenetrado. - Meu pai é cirurgião plástico, então ele sempre me ensinou como um rosto harmônico deveria ser...
- E o meu não é? - Perguntou a coordenadora ofendida.
- Seu rosto parece que 2+2=16; sua estrutura óssea é muito forte, quase masculina, dependendo do ângulo e da sua expressão; seus olhos são meio juntos, tudo é muito desarmônico, mas estranhamente é o que cria a harmonia do seu rosto. É tudo bem fascinante, mas ao mesmo tempo intrigante.
Elizabeth estava estranhando tudo aquilo. Ela não sabia se aquilo era uma cantada ou se ele realmente estava a analisando sem segundas intenções. Ela também não sabia se ele a estava elogiando ou a estava ofendendo.
- E você só notou tudo isso agora?
- Sabe quando você vê uma pessoa diversas vezes, mas nunca a enxerga realmente... até um dia? - Perguntou ele direcionando seu olhar para os olhos dela. Ela olhou para os olhos dele também, mas rapidamente desviou o olhar e voltando a atenção para o computador, disse:
- Você é estranho.
Os dois ficaram em silêncio de novo. Às vezes ela olhava Aaron de soslaio e via que ele ainda estava olhando para ela. Numa das vezes, viu que ele olhava para seus lábios. Instintivamente, ao notar isso, ela passou a língua neles. Aaron então comprimiu sua boca. Ela continuou digitando. Ele engoliu em seco e continuou olhando para ela. Quando voltou a olhar para ele, Elizabeth percebeu que agora seu olhar era predatório. Ela imaginou o que ele estava pensando e começou a digitar as teclas com mais força. Ele, então, fechou os olhos, abriu um pequeno sorriso de canto e jogou a cabeça pra trás. Ela fechou mais as pernas e seguiu digitando. A porta da direção abriu e os dois se sobressaltaram. Aaron se ajeitou na cadeira e Elizabeth colocou o cabelo pra trás e continuou digitando. Andréia saiu da sala com Bradley vindo logo atrás.
- Aaron está esperando pra falar com você. Ele foi expulso de sala. - Disse Lizzie sem tirar os olhos da tela do computador.
Bradley respirou fundo, como se estivesse cansado, e disse:
- Vamos, entre!
Aaron deu mais uma olhada em Elizabeth, que não o fitou de volta, e entrou na sala do diretor. A porta se fechou. Andréia, então, se sentou no lugar onde estava Aaron e começou:
- Difícil...
- Nem me fale... - Respondeu a coordenadora com os olhos arregalados e respirando fundo.


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